Não nascemos para ler, nem para escrever. Ler é o milagre da comunicação na solidão. Ler não é só ler. (...) Ler é não regressar.. (...) É o silêncio a barafustar connosco e a dizer baixinho na solidão: eu também, eu também. (...) Viver é aprender a escrever e recusar querer só passar por esta vida. (...) Escrever é a bengala da memória humana, o computador é precisamente o contrário, é a autorização do esquecimento. A escrita é o pacemaker dos passados, o que nos permite não repetir o que nunca quisemos fazer e deu errado. (...) Não fomos feitos para ler nem escrever, é certo, e por isso não há nada de destino nesta coisa de querer ler ou escrever. Mas foi por nos habituarmos a ler e a escrever, que nos tornamos no que somos.
(Patrícia Portela, in Jornal de Letras nº 1264, Março 2019)
Sem comentários:
Enviar um comentário