02 novembro 2019

bucolidades

Ainda as nozes não estão bem secas e a azáfama colectiva se concentra na apanha da castanha. Os Soutos, sacudidos pelas chuvas e ventos deste Outono, libertam os Ouriços sem resistência e os Castanheiros são, assim, despojados das suas vestes. Os chãos, caminhos e carreiros revestem-se deste verde-castanho bonito e fofo, transformando a paisagem para quem passa como eu. Pelos Soutos, durante dias e dias, pessoas curvadas e de mãos calejadas, já insensíveis à dor dos picos dos Ouriços, buscam e rebuscam a castanha. Dizem-me que há muita e boa. Eu já as provei, mas só daqui a uns dias ou semanas é que vou poder verificar a sua qualidade.
A aldeia fica sempre bonita nesta altura. O ar bucólico do seu abandono, o fumo que se eleva dos chupões e lareiras e os cheiros que viajam com os ventos, agradam-me e atraem-me. Ir à aldeia, percorrendo as estradas nacionais e municipais, através dos tons quentes outonais é um prazer que, com alegria, repito ano após ano.
Gosto sempre de cá vir.


Distraído, só por acaso reparei nesta tabuleta pendurada à porta do cabanal do Tio Malguinhas. De boa memória, velho e rijo amigo que trabalhou toda a vida na lavoura e só a morte, traiçoeira quando regressava a casa montado no seu macho, o impediu de fazer mais quando já contava para cima de nove dezenas de anos.

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