Os deuses condenaram Sísifo a rolar incessantemente uma rocha até o alto de uma montanha, de onde tornava a cair por seu próprio peso. Pensaram, com certa razão, que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança. (Camus, in O Mito de Sísifo)
Através desta metáfora, Albert Camus desenvolve neste seu livro uma reflexão sobre o absurdo e a negação da morte. Através de Sísifo, que nega os Deuses e aceita o seu destino, vivendo até à exaustão, Camus escreve sobre o desejo de esgotamento da vida, de conhecimento profundo da existência humana, consciente de todos os riscos, liberdade suprema de encarar o absurdo (morte) sem nostalgia e sem reservas.
A leitura deste ensaio filosófico não é fácil e obriga a uma atenção suplementar. Depois de alguma resistência inicial, consegui terminar a sua leitura. A determinado momento a reflexão dedica-se ao símbolo, enquanto elemento existêncial. Sem qualquer conhecimento prévio, eu diria até com alguma surpresa, essa sua reflexão encaixa na perfeição naquilo que ando a maturar, há algum tempo, sobre estas questões simbólicas. Transcrevo duas passagens em particular, cuja leitura me vai obrigar a reflectir e a reescrever, ou seja, trabalho acrescido para os próximos dias...
Um símbolo pertence sempre ao domínio do gerado, por mais precisa que seja a sua tradução, nenhum artista é capaz de lhe restituir mais do que o movimento: nunca pode ser traduzido palavra por palavra. De resto, não é mais difícil de compreender do que uma obra simbólica.
(...)
Um símbolo, com efeito, supõe dois planos, dois mundos de ideais e de sensações, e um dicionário de correspondências entre um e outro. É o léxico mais difícil de estabelecer. Mas tomarmos consciência desses dois mundos postos em contacto é situarmos-nos no caminho das suas relações secretas.
(Albert Camus, 2016:119 e 121)
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