29 junho 2022

lugar do fim do mundo

Nos últimos dias tive a oportunidade de conhecer o lugar que os antigos (antes da viagem de Colombo, em 1492) consideravam o fim do mundo. Pensavam eles ser o lugar mais a oeste do mundo até então conhecido. Falo do Cabo de Finisterra, ou em galego, Fisterra.
Para além de todo o misticismo anímico deste lugar, da fé e da perseverança dos peregrinos caminhantes que consideram que só aqui termina a sua peregrinação a Santiago de Compostela, Fisterra é um pequeno e sossegado lugar, plantado à beira mar, protegido a Norte por um monte e com uma bonita enseada. Tem um pequeno porto piscatório e vive essencialmente do cluster do turismo religioso. Tem uma praça junto ao porto com um anfiteatro de restaurantes e esplanadas que servem as dezenas, centenas ou milhares de turistas/peregrinos/caminheiros que por aí passam todos, ou quase todos os dias.
Gostei de lá estar, do sossego e do ritmo mais lento e tranquilo que pude perceber na vida dos locais. Gostava de viver e pertencer a uma comunidade assim. Vou regressar com mais tempo.



26 junho 2022

a aposta

A transição para o ecossocialismo requer um planeamento democrático, orientado por dois critérios: a satisfação das necessidades reais e o respeito ao equilíbrio ecológico do planeta. São as próprias pessoas - uma vez livres da propaganda e da obsessão consumista fabricadas pelo mercado capitalista - que decidirão, democraticamente, quais são as verdadeiras necessidades. O ecossocialismo é uma aposta na racionalidade democrática das classes populares.
Michael Lowy, in Revista Ecossocialismo nº 1 - Maio a Agosto 2022, página 49.

25 junho 2022

as horas do dia

Cada vez que viajo e que visito a Galiza mais convencido fico de que, deste lado da fronteira, fazem melhor uso das horas dos seus dias do que nós, portugueses. Estes finais de tarde, apesar do clima instável, ocupando demoradamente as esplanadas, os bancos de jardim, os bares e cafés, transmitem-me civilidade e tranquilidade. Claro que muitos serão turistas e veraneantes, mas há nisto muito de ethos, talvez até de identidade galega e eu gosto muito de aqui estar.

(na rua, ocupando o tempo até ser hora de jantar)

24 junho 2022

por terras da Galiza

Aproveitando o fim-de-semana maior do que o habitual, viajámos quase directamente da festa do S. João no Porto para Santiago de Compostela. Viagem tranquila, com paragem em Valença para visitar o forte e almoçar, seguimos para Norte até à cidade dos peregrinos caminheiros. Encontrámos uma cidade quase sem trânsito e com pouco movimento de pessoas nas ruas. Sem sabermos chegamos no dia de San Xoan, também aqui celebrado e também aqui feriado. É verdade que está a chover, quer dizer, a cair uma morrinha certinha que parece que nos atinge vinda de todas as direcções. Estamos instalados num pequeno hotel no centro histórico, o carro estacionado na garagem e a pé podemos percorrer todas as ruas e ruelas pedonais deste casco urbano. De facto, percebe-se a cada instante, a cidade dedica-se ao turismo religioso globalizado e esses peregrinos invadem todos os recantos destas ruas. Para o bem e para o mal, está a chover, o que liberta alguma densidade de pedestres e nós pudemos deambular mais à vontade. Esperemos que amanhã o dia esteja melhor para podermos passear, sem chuva e sem os seus guardas.

23 junho 2022

dia de S. João, outra vez

O dia amanheceu com o céu a verter-se completamente sobre a Invicta e arredores, mas à medida que as horas foram passando o céu foi secando e clareando, deixando apenas o nublado necessário para deixar em suspenso aqueles que se preparam para festejar o santo tão popular.
Deambulei pela baixa da cidade, nomeadamente, pelas ruas entre os Aliados e as Fontaínhas e pude constatar a agitação e o burburinho que a cada passo se percebe para montar os espaços do arraial: restaurantes, cafés, esplanadas, bairros, ruelas, ilhas, casas, prédios. A azáfama generalizada por estas bandas e, com certeza, pelo resto da cidade, percebe-se no rosto das pessoas com quem me cruzo. Depois, reparo nos turistas que, por contraste, calmamente observam e absorvem toda esta parafernália e agitação, talvez, sem perceberem muito bem o que se passa ou vai passar.
Depois deste grande hiato de tempo sem poderem festejar o seu santo, a festa de hoje será memorável, ainda que o céu resolva voltar a despejar-se sobre a cidade. Viva o S. João!

21 junho 2022

meio enchido

(aos olhos do meu filho, com um português muito mal tratado e pejado de inverdades)


(excerto do teste de Português, dia 26 de Maio de 2022)

a quem possa interessar...

Mais logo, pelas 18 horas, no salão nobre da Junta de Freguesia do Bonfim, amigos e colegas vão apresentar estes dois livros. Lá estarei.

16 junho 2022

epitáfio por antecipação

O meu filho teria 7 ou 8 anos quando proferiu uma declaração, clara, acertiva e pragmática, que lhe poderá servir um dia, espero, muito mais tarde e bem depois da minha existência. Em modo sugestivo e para memória futura, registo duas variações possíveis desse momento maior e de afirmação da sua ontogenia.

Aqui jaz quem
desde tenra idade
teve por ambição
ser reformado
...como os avós!

Aqui jaz em paz
quem, desde menino,
teve por vontade
ser jubilado
...tal qual os avós!

01 junho 2022

trinta anos


Recordo bem o dia, os momentos e a conquista que significou para mim. Foi nos primeiros dias de Maio de 1992 que consegui, sim consegui, tirar a carta. Bem sei que por estes dias e neste mundo de vésperas de cataclismos que nos ameaçam extinguir, esta ambição, esta vontade, é um absoluto crime anacrónico, mas à época era mais do que um rito de passagem. Eu já conduzia desde, talvez os meus 15 ou 16 anos. A minha mãe deixava-me conduzir a velhinha R12 rua acima, rua abaixo e, por vezes, sem o conhecimento deles, dava a volta ao bairro e arredores. Um certo dia, uma colega professora do meu pai, na escola, perguntou-lhe se eu já tinha a carta, pois cruzara-se comigo algures em Valadares. Escusado será referir o espanto do meu pai...
Enfim, habilitado a conduzir há trinta anos e continua a ser um prazer entrar num automóvel e conduzi-lo. Se há prazer na vida é conduzir e aquilo que espero são mais, muitos mais, quilómetros de estrada e de caminho na vida. Como gosto de encruzilhadas que me levam a um lugar, a uma paisagem, a um recanto, desconhecidos e deslumbrantes.
A imagem de mim na carta de condução, que aqui reproduzo, tem bem mais de trinta anos. Imberbe e sonhador, o mundo seria meu. Erro e ignorância pura. Não foi. Aquilo que entretanto já vivi e, porque estou a falar de condução, já conduzi... os milhares de quilómetros percorridos. Conheci o país e um pouco mais além. E quase sempre que viajei de avião para longe, não deixei de conduzir. Aliás, onde puder ir de carro, resisto às alternativas.
Por aqui estar a registar isto, a vontade é sair e ir dar uma volta, mas o combustível está muito caro e devo refrear estes instintos prejudiciais ao bem comum.
Adeus.