"Antropologia é vida, diz-nos Ingold, convidando-nos a pensar desde uma epistemologia inclusiva que nos 'deveria' obrigar a pensar a realidade conjugada num gerúndio incompleto, processual e circunstancial. Afinal, durante o trabalho de campo (em rigor, em qualquer investigação que implica relação entre pessoas) há pessoas que se encontram e que tentam fazer sentido uma da outra sem que necessariamente tudo caiba dentro das categorias de entendimento comuns. [...] Os textos académicos 'matam' os sujeitos como pessoas de carne e osso, objectivando-os e adjectivando-os segundo grelhas que reduzem tanto de tanta vida e de tanta coisa que fica para contar e que é merecedora de ser contada. [...] Falar menos de alguém porque é de um lugar, de uma cultura, de uma sociedade e falar mais com alguém que também faz um lugar, uma cultura e uma sociedade. E falar a partir de uma possibilidade de tornar essoutros, que muitas vezes nos chegam diluídos em categorias analíticas, em interlocutores de carne e osso que tornam os antropólogos tão humanos quanto eles, tão humanos quanto nós."
Humberto Martins, in prefácio de exercícios de antropologia narrativa, 2022 - pp. 11 e 12.
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