O antropólogo franco-brasileiro Júlio Sá Rêgo dedicou-se a percorrer as serras do Norte de Portugal e os trilhos e caminhos do pastoreio de cabras e ovelhas. O resultado desse esforço é este pequeno livro que, aproveitando este final de Verão à beira-mar, li de um fôlego só. Por ambientes que reconheço e me são familiares, este trabalho deverá ser entendido, acima de tudo, como um grito de alerta para a situação precária e, nalguns contextos, em vias de extinção destas raças ovinas e caprinas, assim como do modo de vida de muitos indivíduos e suas famílias. O despovoamento do interior do país resulta também desta triste realidade, desconhecida da maioria da população. A quem se interesse por estes universos, reais e anti-distópicos, aconselho a sua leitura.
"Populações rurais têm a consciência dessa sua relação com o ambiente, elas o habitam, enquanto populações urbanas apenas o ocupam. A cidade vive em dicotomia com o ambiente que se torna um mero receptáculo de vidas ocupadas e de infra-estruturas acimentadas; no rural a consciência é de que as trajectórias de vida estão interligadas ao ambiente. [...] O vínculo com o lugar é uma das especificidades da identidade camponesa." (páginas 120 e 121)
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