29 dezembro 2024

por terras de Miranda


Hoje, numa maratona de ida e volta com mais de 500 quilómetros, fui a Genísio, Miranda do Douro, ao lançamento deste livro, de autoria do amigo Basileu Pires, natural dessa pequena aldeia do planalto mirandês, e no qual participei escrevendo o prefácio, texto ao qual dei o título de "construir comunidade". Cheguei a tempo de participar no almoço "de la Matância de l Cuchino", encontrei amigos de longa data que só a espaços encontro, participei no lançamento e fiz-me à estrada de regresso à Invicta. Para memória futura, fica esta selfie junto da fogueira que arde desde o Natal e vai assim permanecer até aos Reis, quando já estávamos de saída.

(Da esquerda para a direita) Luis Vale, Henrique Manuel Pereira, Carlos d'Abreu e Pe. Alfredo Soares

28 dezembro 2024

Palestina?

 

Este artigo encontrei-o no número actual do jornal de Letras. Por considerar que, não só está bem escrito, de forma clara e acessível, como é pedagógico na sua letra e finalidade. Ainda que possa ser considerada "apenas uma perspectiva sobre o assunto", parece-me bastante lúcido e equidistante de qualquer fundamentalismo ou favorecimento de qualquer parte envolvida no processo. Por isso o digitalizei (da forma possível...) e aqui partilho. Para ler e guardar.

27 dezembro 2024

disforia e avatar

"A mitologia irrealista que sempre tem alimentado as representações identitárias nacionais, celeremente se transferiu para outros horizontes externos, embora mais próximos. A nossa integração europeia foi feita soba mesma fantasia de excecionalidade, antes associada aos sonhos imperiais, revestindo agora a camisola do "bom aluno" europeu. O nosso "europeísmo" revelou um excesso de paixão e um défice de reflexão estratégica. Quisemos fazer parte do "pelotão da frente" do euro, sem discutir as regras do jogo.
E aqui nos encontramos, talvez no período mais crítico desde o Ultimato britânico (1890), em estado de permanentes espera e expectativa. Continuando sem incluir organicamente o nosso território como parte essencial dessa liberdade mínima, sem a qual um povo perde o direito a existir como realidade histórica.
Essa disforia nacional, em que a própria noção de identidade se dispersa para um exterior distante, agravou-se com a passagem hodierna a um processo de auto-identificação alucinadamente simbólico. A actual elite considera-se hoje forte por ter representantes em lugares chave das Nações Unidas ou da União Europeia, mas perante o perigo de uma guerra que poderá destruir existencialmentne o país, limita-se a seguir aquilo que as ordens alheias ditam, sem um pingo de hesitação e ainda menos de reflexão.
No passado, a nossa disporia era física e real. Durante mais de meio milénio lutámos por uma dimensão imperial, enfraquecendo, por vezes, a retaguarda. Hoje, a nossa disforia é da ordem da febre digital. Portugal transformou-se num avatar, que oferece descuidadamente o seu corpo físico às balas, ao serviço do crepuscular império dos outros."
Viriato Soromenho-Marques, in jornal de Letras nº 1414, Dezembro 2024.

20 dezembro 2024

novo desafio


É claro que é um desafio auto-imposto. Ninguém me obriga a ser idiota e andar sempre à procura de mais lenha para me chamuscar. Assim, assiná-lo aqui também o início, à data de ontem, 19 de Dezembro de 2024, das filmagens desta nova aventura pessoal. Criei um podcast ao qual dei o nome de "Novas Conversas Rurais", pretendendo que possa ser um espaço de conversa e reflexão sobre as alterações que as paisagens rurais têm sofrido nas últimas décadas. Os novos usos do e no rural, naquilo que são novos processos e rotinas, hábitos e consumos emergentes nesses territórios. Irei ao encontro daqueles que são os protagonistas e agentes dessa mudança na vida das comunidades, teórica e empiricamente perceptível.
Se tudo decorrer como previsto, a publicação nas plataformas habituais (YouTube, Facebook, etc.) do primeiro episódio, acontecerá no dia 1 de Janeiro de 2025 e à periodicidade de um episódio por mês.

16 dezembro 2024

pão

Posso começar por afirmar ou declarar que o pão foi, é e será o elemento mais elementar ou estrutural da dieta alimentar de qualquer povo, cultura ou comunidade. Bem sei que pode existir, num qualquer recanto deste mundo, alguma comunidade que não conheça pão, mas isso não diminui ou prejudica a minha afirmação.
Assim, eu me confesso: não existe nenhum outro alimento que me saiba tão bem como o pão. Pode ser pão e mais alguma coisa, mas também pode ser apenas pão. Sabe-me bem e sacia-me. Só que, para mal dos meus pecados, fui aconselhado a não o comer e ando, por estes dias, numa luta estapafúrdia para o evitar. Neste momento, só o abocanho ao pequeno-almoço: um molete fresco, ou torrado, com manteiga. Não sei quanto tempo aguentarei assim, pois apesar de teimoso, não há nada que saiba melhor e, de tão básico e simples que é o pão, é-me doloroso não o ingerir livremente, como sempre fiz.

primeira vez


Acabou de sair, pelo menos na sua versão desmaterializada, o novo número da revista Antropologia Portuguesa (nº 41), e nela, pela primeira vez, consta um texto meu. Ainda que sendo uma recensão a uma obra de Arjun Appadurai: Razão Agrícola à Sombra do Capitalismo de Subsistência - Uma Ontologia Rural da Índia Ocidental, publicado pela HAU Chicago, em Agosto de 2024, significou a minha primeira colaboração nesta revista.
Para quem possa estar interessado, deixo aqui o link para o pdf do meu texto
e o da revista completa

04 dezembro 2024

certezas necrológicas

Recordo o meu avô paterno, o avô João, a ler os jornais que lhe chegavam às mãos, trazidos pelos filhos, netos ou outros familiares. Com toda a calma e soletrando baixinho todas combinações frásicas, ele que apesar de quase analfabeto, sabia ler, devorava qualquer papel que encontrasse lá por casa. Se não fosse um jornal, poderia ser uma bula de um qualquer remédio, mas aquilo que mais o detinha eram secções de necrologia dos jornais e convém relembrar que, naquele tempo e ao contrário de hoje, essas secções ocupavam mais espaço e muita tinta.
Hoje, nas deambulações quotidianas, apercebi-me de um ajuntamento, talvez de três ou quatro senhoras de idade avançada, que olhavam e comentavam a fotografia de mais uma pessoa que deixou de respirar e, isso, fez-me reflectir de que é um facto que dou comigo, agora, a olhar com relativa atenção para esses anúncios e para os rostos e nomes daqueles que vão falecendo e são anunciados nos jornais e, principalmente, expostos nas montras do comércio local. Em cada localidade há sítios específicos, leia-se lojas, onde sabemos que iremos encontrar essas novidades. Para além do implícito e obrigatório voyeurismo, poderá isto ser um sintoma de idade e da consciência crescente de que um dia, cada vez mais próximo, será a vez da minha fotografia e nome aparecerem assim escarrapachados, desnudados e indefesos. Eu não quero e, se for feita a minha vontade, jamais se saberá que eu já cá não estou.

02 dezembro 2024

inacreditavelmente desconhecido

No mesmo texto que aqui citei, há dias, de Valter Hugo Mãe, encontrei referência a um livro de Julio Llamazares, autor perfeito desconhecido para mim, chamado "Trás-os-Montes - Uma Viagem Portuguesa". Valter Hugo Mãe, na sua crónica, escreveu: "Julio Llamazares, desaparecido há décadas das nossas livrarias. Llamazares, autor de um incrível Trás-os-Montes, sim, os nossos, pelos quais se apaixonou". Um sobressalto. Mas quem é este homem? Que livro será este? Como é possível existir um livro com este nome/título e eu nunca ter sabido? Nunca me ter cruzado com sua referência. Enfim.
Não tardei a pesquisar no todo poderoso Google e, para novo sobressalto, fico a saber que existe uma tradução da Difel. Pondo mãos ao teclado, começa a minha incessante busca por tal livro. A Difel já não existe, a tradutora não sei quem é, a solução parecia ser tentar a versão original em castelhano, mas eis então quando, insistindo na busca, me aparece o livro em português no OLX. Num clique mandei mensagem ao seu "dono" e logo manifestei o meu interesse. Paguei no mesmo dia os vinte euros que me solicitou, por transferência bancária, e depois foi só aguardar que o espécime chegasse. Último sobressalto, o livro estava como novo. Aliás, desconfio que nunca foi lido, sequer folheado.
Um achado, mas pensando bem, vou tentar encontrar o original em castelhano.

vamos LER