Mal acabado de parar o carro em frente a casa, depois de uma noite inteira a ordenar listas, nomes e certidões para os processos eleitorais que se avizinham, estou à conversa com um amigo com quem a espaços convivo. Somos abordados por um casal de idosos que, num tom sofrego, nos questionam se algum de nós tem carro. Não alcançando desde logo aquela abordagem, com algum receio dizemos que sim. A explicação vem logo de seguida:
- Sabe, eu estou muito mal. Os senhores podiam levar-nos à urgência? É que não temos carro e eu não consigo chegar lá a pé... - diz-nos a senhora, visivelmente incomodada com uma qualquer dor.
- Concerteza, vamos lá. - Respondo eu, surpreso pelo pedido.
Durante o curto percurso e já quase a chegar ao hospital, resolvo aconselhá-los para, em situações semelhantes, chamarem uma ambulância. Só que a sua resposta foi completamente esclarecedora:
- Mas nós não temos telefone. Ainda tentamos ir ao café, mas já estava fechado.
- Pois. - Digo eu desarmado. - Assim é mais difícil.
Lá chegamos à porta da urgência e os deixámos. Agradeceram a amabilidade e já no regresso o meu amigo diz-me que acabáramos de fazer a nossa boa acção do dia (noite).
Despedimo-nos no mesmo sitio.
Na manhã seguinte, e tal como faço diariamente, abro a porta traseira do carro para pousar a pasta e dou de caras com um nota de 20 euros cuidadosamente pousada (mas visível) no chão do outro lado do carro. A boa acção da noite anterior afinal foi uma prestação de serviço e, por sinal, bem paga. Obrigado.
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