28 junho 2011

jeirinhas

Nasceu em 1933 na vila de Vimioso no seio de uma família de lavradores. Filho de pai sapateiro e porque a vida era difícil, já rapazote emigra com o resto da família para o Brasil. Por lá se fez homem e casou. Em 2003 e depois de mais de cinquenta anos a trabalhar em comércios de S. Paulo, regressou para Portugal e para Bragança, onde sempre manteve uma casa.
Conheci-o nessa altura e tornamo-nos amigos. Com ele partilhei alguns bons momentos e também algumas discussões azedas. O jeirinhas, assim o tratava, ficou preso a um presente de um passado bem longínquo e nunca conviveu bem com a realidade dos dias de hoje. Era um saudosista de Salazar e do modo de vida associado à terra, da qual, curiosamente, ele próprio fugiu.
Neste momento final, recordo vários episódios daquilo que com ele partilhei, como aquele dia em que havendo um jogo de futebol na televisão ele me convidou para ir a casa dele para assistir ao jogo com ele. Como estava calor resolvi ir comprar uma garrafa de Gin e um pack de Água Tónica para bebermos durante o jogo. Ele não conhecia a bebida e, então, lá estive a preparar dois Gin-Tónicos bem gelados e com bastante limão. Ele, muito desconfiado, lá provou o Gin, mas logo fez cara feia e se arrepiou todo, dizendo: "- Caralho, mas que merda é esta, que até leva o Diabo de tão amarga?" - pois claro, o Jeirinhas gostava era de tudo bem docinho e não quis beber aquilo... Diabético de longa data, os olhos caím-lhe por doces e bolos; chegava a colocar a fruta ao sol para amadurecer mais depressa, para ficar mais quente e para ser mais doce.
O Jeirinhas gostava muito de rir e será essa a recordação que vou guardar dele, a de um amigo que nos queria sempre em sua casa a comer e a beber e, depois, sempre que possível, a rir de boca cheia. Até sempre amigo.

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