Um impulso do Shawn perante o topónimo levou-nos de Rebordelo até à Bouça e daí até à Torre de Dona Chama. Mal nos afastámos do cruzamento da Bouça, determinadas memórias de há vinte, trinta ou até mais anos invadiram-me o cérebro e, assim, não pude deixar de viajar no tempo e recordar aquela recta, a outra curva, a velha e estreita ponte de pedra e a sombra fresca onde tantas vezes parei para demonstrar e minha indisposição momentânea.
Relembro as dezenas, provavelmente centenas de viagens entre Gaia e Vila Boa e Vila Boa e Gaia, utilizando sempre e sempre a nacional 206, estrada que liga a Póvoa de Varzim às imediações da cidade de Bragança, mais concretamente à Mosca, onde entronca na nacional 15. Dessas mesmas viagens recordo com especial nostalgia aquelas que fazia na época de Natal - e agora ao escrever os olhos humedecem... - apenas com o meu pai, deixando em Gaia ou Delães a restante familia, sendo que o meu irmão Daniel ficava sempre num pranto por não o deixarem viajar também. Épicas essas viagens, em que eu viajava no banco da frente e tudo, o que para um miúdo de dez ou doze anos era uma promoção à condição adulta. Mas aquilo que mais gostava dessas longas viagens de cerca de cinco horas, era poder questionar o meu pai acerca dos locais por onde iríamos passar - e a seguir que terra é?
O percurso entre a Torre de Dona Chama e Vila Boa era sempre muito ansiado, pois utilizando o relógio, em prata, de bolso que o meu pai usava sempre no bolso direito das calças, para controlar, eu questionava-o acerca do tempo que demoraríamos até à próxima aldeia, e depois até à seguinte e assim sucessivamente até chegarmos ao destino. Curioso, e grandioso para uma criança como eu era, como o meu pai acertava sempre, ao minuto, essas distâncias o que me deixava extremamente satisfeito e orgulhoso da velocidade a que o meu pai percorria, na sua R12, aquelas distâncias.
Depois de tantos anos sem ter circulado por essa estrada nacional, cheguei à conclusão ou ao entendimento que um dia, talvez num futuro próximo, irei revisitar todos esses lugares da minha memória, levando agora comigo as minhas crianças que experimentarão assim a verdadeira dimensão de uma viagem nacional, sem recorrer a esses túneis da velocidade que nos fazem chegar a todo o lado mais depressa e nos impedem de conhecer o país. Assim farei.
(Vila Boa, 4 de Agosto de 2011)
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