Mês de todos ou quase todos regressarem aos locais de origem e onde cada um representa a sua condição de pessoa em permanente movimento, entre a ruralidade de um pequeno país e a urbanidade de uma qualquer capital europeia. Sendo impossível verificar cada uma das situações e aceitando, desde logo, que cada situação apresentará particularismos, poderemos encontrar algumas configurações recorrentes das diferentes experiências colectivas de diáspora. Desde logo, a manutenção de um território de memória, mais ou menos mitificada, da terra natal, depois, a negação do país e cidade hospedeiros como locais de acolhimento definitivo, logo e consequentemente, a concepção do local de origem como local de futuro retorno. Por tudo isto, se percebe o investimento material, simbólico e imaginário e a consciência de pertencer a uma comunidade, normalmente, a terra de origem.
A relação que cada indivíduo estabelece com a sua terra natal resulta sempre de um processo negocial e os discursos produzidos acerca da terra natal têm que ser abordados a partir da identificação dos seus diferentes produtores. Aqui talvez seja oportuno fazer referência à noção de saudade para ilustrar as possíveis interacções. Durante as décadas de 60 e 70 do século vinte, sabendo dos enormes movimentos migratórios que deslocou milhares de portugueses, o Estado português contribuiu, considerando os emigrantes como parte da nação, para a manutenção de um estilo de vida que se centrava na relação com o lugar de origem. Esse discurso ideológico integrava a palavra saudade, que centralizava simbolicamente os sentimentos que ligavam os emigrantes à pátria. Todos os emigrantes portugueses, enquanto residentes no estrangeiro, dão forma, através de diferentes práticas e representações, ao lugar mítico do seu desejo que é a terra natal, onde periódica e ciclicamente retornam e vivem. Assim, a terra de origem apresenta-se numa comunidade imaginada, onde se vive mesmo quando ausente a viver num outro local.
O momento do regresso para as férias de Verão serão, como podem todos adivinhar, o grande momento, por todos ansiosamente aguardado. As férias são marcadas, na grande maioria dos casos, para o mês de Agosto e segundo o calendário de festividades agendadas, sejam familiares (casamentos, baptizados, comunhões), ou da comunidade (festividades religiosas e/ou civis). Cada período de férias na aldeia contempla uma actividade social intensa e, talvez também por isso, haja sempre a sensação de que o tempo, esse tempo passa depressa demais. A viagem é também um espaço/tempo de relevância para todos. Normalmente, obedecendo a um esquema pré-definido, rigoroso e repetitivo, todos sabem de antemão as horas de partir e de chegar, os locais de paragem para as necessidades fisiológicas, para abastecimentos e alimentação. Ano após ano, viagem após viagem, cristalizam-se percursos e lugares de paragem. A performance da viagem é tema de conversa para os membros da comunidade de emigrantes, tanto à chegada a Portugal, como depois, quando regressam às suas comunidades de acolhimento. Saber quantas horas cada um levou a chegar, que percurso fez, o trânsito e os imprevistos são disputas para horas e horas de confraternização e de copos. A viagem é o tempo da transformação identitária e que os viajantes passam da sua condição de imigrantes – residentes numa terra com a qual mantêm relações de identificação e pertença fracas – para a condição de emigrantes – residentes provisórios numa terra com a qual estabelecem elos de identificação e de pertença.
Esta pequena reflexão acerca das vidas repartidas por diferentes e distantes lugares, não é mais do que um registo empírico daquilo que podemos encontrar em tantos e tantos lugares da região transmontana. Meu querido mês de Agosto, a vontade e o querer de cada um desses indivíduos e famílias que transformam as suas vidas num eterno ir e vir e ir e vir… sempre com a esperança de um dia, num qualquer futuro, poderem vir e não terem que ir.
A relação que cada indivíduo estabelece com a sua terra natal resulta sempre de um processo negocial e os discursos produzidos acerca da terra natal têm que ser abordados a partir da identificação dos seus diferentes produtores. Aqui talvez seja oportuno fazer referência à noção de saudade para ilustrar as possíveis interacções. Durante as décadas de 60 e 70 do século vinte, sabendo dos enormes movimentos migratórios que deslocou milhares de portugueses, o Estado português contribuiu, considerando os emigrantes como parte da nação, para a manutenção de um estilo de vida que se centrava na relação com o lugar de origem. Esse discurso ideológico integrava a palavra saudade, que centralizava simbolicamente os sentimentos que ligavam os emigrantes à pátria. Todos os emigrantes portugueses, enquanto residentes no estrangeiro, dão forma, através de diferentes práticas e representações, ao lugar mítico do seu desejo que é a terra natal, onde periódica e ciclicamente retornam e vivem. Assim, a terra de origem apresenta-se numa comunidade imaginada, onde se vive mesmo quando ausente a viver num outro local.
O momento do regresso para as férias de Verão serão, como podem todos adivinhar, o grande momento, por todos ansiosamente aguardado. As férias são marcadas, na grande maioria dos casos, para o mês de Agosto e segundo o calendário de festividades agendadas, sejam familiares (casamentos, baptizados, comunhões), ou da comunidade (festividades religiosas e/ou civis). Cada período de férias na aldeia contempla uma actividade social intensa e, talvez também por isso, haja sempre a sensação de que o tempo, esse tempo passa depressa demais. A viagem é também um espaço/tempo de relevância para todos. Normalmente, obedecendo a um esquema pré-definido, rigoroso e repetitivo, todos sabem de antemão as horas de partir e de chegar, os locais de paragem para as necessidades fisiológicas, para abastecimentos e alimentação. Ano após ano, viagem após viagem, cristalizam-se percursos e lugares de paragem. A performance da viagem é tema de conversa para os membros da comunidade de emigrantes, tanto à chegada a Portugal, como depois, quando regressam às suas comunidades de acolhimento. Saber quantas horas cada um levou a chegar, que percurso fez, o trânsito e os imprevistos são disputas para horas e horas de confraternização e de copos. A viagem é o tempo da transformação identitária e que os viajantes passam da sua condição de imigrantes – residentes numa terra com a qual mantêm relações de identificação e pertença fracas – para a condição de emigrantes – residentes provisórios numa terra com a qual estabelecem elos de identificação e de pertença.
Esta pequena reflexão acerca das vidas repartidas por diferentes e distantes lugares, não é mais do que um registo empírico daquilo que podemos encontrar em tantos e tantos lugares da região transmontana. Meu querido mês de Agosto, a vontade e o querer de cada um desses indivíduos e famílias que transformam as suas vidas num eterno ir e vir e ir e vir… sempre com a esperança de um dia, num qualquer futuro, poderem vir e não terem que ir.
(adaptado de artigo enviado para a Revista Almocreve - Carção, 2011)
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