A casa de Al-Adhamiya já não está habitável. Já não se pode dormir lá nem esquadrinhar os seus recantos. O caminho mais curto que conduz até ela é o da minha infância. Sem ela, já não vejo ali nada. Um cão errante e tinhoso uiva à cara dos seus antigos proprietários, que se ausentaram e depois morreram, que foram expulsos, que fugiram, que envelheceram e desapareceram. Por todo o lado, as casas souberam sempre dar lições aos seus habitantes. A cada momento, extraio dos seus azulejos a minha fome e a minha nudez, as minhas metamorfoses e o meu abandono. Escrevo, faço livros, mas regresso sempre ali e deixo esta casa imiscuir-se nos meus assuntos. Em cada romance, ela é a essência da minha agonia. Seja, digo a mim própria, voltarei a levantar-me e restaurarei as minhas fortificações para voltar a ela. (Alia Mamdouh in Le Monde Diplomatique, edição portuguesa, Setembro 2011)
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