Ao olhar para as previsões ou antevisões daquilo que será a taxa de desemprego nos próximos anos em Portugal, vêm-me à memória imagens da notícia do encerramento do Gaia Hotel. Nessa peça jornalística eram entrevistados alguns dos funcionários, agora sem função. Um desses testemunhos foi uma senhora que admitia a miséria da sua posição e a tristeza que lhe ia na alma por ficar sem emprego, mas afirmava que o que mais lhe custava era deixar os colegas, pois gostava muito de trabalhar com eles. Não sei se consciente ou inconscientemente, esta ex-funcionária na simplicidade e franqueza de suas palavras referiu-se à enorme relatividade da sua miséria de posição face à grande miséria de condição, que é estar ou ser desempregado em Portugal. Muito triste.
---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
30 março 2012
27 março 2012
tranquilidade
Gosto muito de aqui vir, ou melhor, sempre que aqui tenho que vir - e é sempre pela pior das razões - por algum problema de saúde daqueles que me rodeiam, sento-me nesta esplanada, sossegada, envolvida por velhas e frondosas árvores, pelo chilrear dos pássaros, longe da agitação da rua e com vistas para o edifício do hospital. O contraste é para mim abismal, pois no mesmo instante que aqui estou, tranquilo e com saúde, para lá das paredes e janelas que avisto, perscruto sofrimentos atrozes, adivinho a angústia de veredictos variados e sei da agonia das horas do fim. Mas aqui estou bem, muito bem. Aqui leio e aqui escrevo, sempre. Mas quero ir-me embora rápido, não por mim, mas por aqueles que sofrem e me fizeram aqui vir.
viver assim
Tarde estranha a de ontem. Enfiado em casa e tentando cumprir datas de entregas de textos, estive às voltas com artigo sobre as novas ruralidades para publicação espanhola. Acompanhou-me sempre um som bem alto que, de espaços a espaços, ia trocando, o que me permitiu não perceber qualquer outro ruído e manter-me focado no que fazia. Eis senão, quando estava absorvido por um qualquer raciocínio e não troquei de cd, deixando-me ficar em total silêncio, ouvi clara e distintamente um som vindo da casa ao lado e percebi que a minha vizinha estava a ter um prolongado e estridente orgasmo. Eram 16 horas e à minha volta pessoas a fazer sexo. Bonito. Só é pena eu não. Não escrevi mais. Saí.
26 março 2012
ideia romântica...
No Jornal Público de ontem (Domingo), lido já muito tarde e já 2ª feira, encontrei uma entrevista a Francisco Avillez, um dos mais conceituados economistas agrários portugueses que, entre outras e muitas coisas interessantes, diz que o nosso mundo rural, actualmente, depende muito pouco da agricultura e no futuro dependerá menos. Afirma também que inverter este estado actual é muito difícil. Concorda com o cadastro das terras abandonadas e entende-o como decisivo nas áreas florestais, mas tem dúvidas quanto ao projecto de as entregar a quem as queira trabalhar. A este propósito diz:
"Não há maneira nenhuma de resolver o problema dos fogos sem conhecer um bocadinho melhor o território. Aproveitar áreas abandonadas, nomeadamente as que são do Estado, e eu não sei quais são, acho que é uma boa ideia. Não sei quais são os resultados práticos disso. O retomar a actividade agrícola, de que toda a gente fala, mostra que muitas vezes o que existe é uma ideia quase romântica do que é a agricultura. Depois, há o choque com a realidade. Depois de passarem lá algum tempo, apercebem-se de que aquilo é muito mais duro, excepto em sectores específicos..."
"Não há maneira nenhuma de resolver o problema dos fogos sem conhecer um bocadinho melhor o território. Aproveitar áreas abandonadas, nomeadamente as que são do Estado, e eu não sei quais são, acho que é uma boa ideia. Não sei quais são os resultados práticos disso. O retomar a actividade agrícola, de que toda a gente fala, mostra que muitas vezes o que existe é uma ideia quase romântica do que é a agricultura. Depois, há o choque com a realidade. Depois de passarem lá algum tempo, apercebem-se de que aquilo é muito mais duro, excepto em sectores específicos..."
19 março 2012
dezanove de março...
Ao contrário do que seria expectável ser dito, ou neste caso escrito, não me parece nada que tenha sido ontem. Este ano rendeu muito. Foi um ano muito extenso. Um ano bonito e muito preenchido. Ainda bem.
13 março 2012
novos registos
Finalmente informatizei completamente o meu acervo bibliográfico. Tarefa que iniciei no início do mês de Fevereiro e terminei por estes dias. Agora que tudo está devidamente registado, numerado e catalogado, sempre que adquirir um novo livro, será muito mais simples incluí-lo. A grande conclusão a que cheguei é que não tenho tantos livros como pensara e que tenho uma bibliografia de ciências sociais muito razoável e com tendência para crescer. Aliás, ainda tem, certamente, uma larga margem de crescimento. Tantos e tantos que ainda faltam por cá. Bem, mas nos últimos tempos chegaram mais meia-dúzia desses, a saber:
- Antunes, João Lobo (2012), A nova medicina, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Pereira, Paulo Trigo (2012), Portugal: dívida pública e défice democrático, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Estanque, Elísio (2012), A Classe Média: ascensão e declínio, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Fernandes, Hirondino (2012), Bibliografia do Distrito de Bragança - série escritores, jornalistas, artistas (volume I), Bragança, Câmara Municipal de Bragança;
- Fernandes, Pêra (2008), O sumo das pedras de Bragança, Bragança, Junta de Freguesia de Santa Maria;
- André, Susana (2010), Mitos Urbanos e Boatos, Lisboa, A Esfera dos Livros;
- Baudrillard, Jean (2011), A Sociedade de Consumo, Lisboa, Edições 70;
- Antunes, João Lobo (2012), A nova medicina, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Pereira, Paulo Trigo (2012), Portugal: dívida pública e défice democrático, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Estanque, Elísio (2012), A Classe Média: ascensão e declínio, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Fernandes, Hirondino (2012), Bibliografia do Distrito de Bragança - série escritores, jornalistas, artistas (volume I), Bragança, Câmara Municipal de Bragança;
- Fernandes, Pêra (2008), O sumo das pedras de Bragança, Bragança, Junta de Freguesia de Santa Maria;
- André, Susana (2010), Mitos Urbanos e Boatos, Lisboa, A Esfera dos Livros;
- Baudrillard, Jean (2011), A Sociedade de Consumo, Lisboa, Edições 70;
10 março 2012
"a semântica das atitudes"
A edição do mês de Março do jornal Le Monde Diplomatique saiu ontem, dia 9, com cara lavada, outro papel e, digo eu, melhor aspecto. Ainda quase não li nada, mas dando seguimento ao meu inconsciente hábito de ler os jornais e revistas de trás para a frente, encontrei e li, na última página, um texto do escritor Mário de Carvalho, o que me deixou por si só satisfeito e a dizer para com os meus Fechos Eclair, que botões não transportava, que já valera a pena comprar o jornal deste mês. Pronto, já nem precisaria de ler mais nada...
Gostaria aqui de transcrever todo o texto, mas como o novo layout do blogue não publica as fotografias num formato legível, nem me vou dar ao trabalho de o digitalizar. Apesar das tiradas que aqui reescrevo e descontextualizo, aconselho vivamente a sua leitura do princípio ao fim.
"Qualquer negociante de secos e molhados ou vendedor de electrodomésticos profere impunemente a sua galegada. Desde que seja riquíssimo. Os ricos não se contentam só com o acatamento. Querem servilismo. Exigem veneração. Chão lambido. Têm-no garantido. Meia dúzia de economistas oficiosos - sempre os mesmos - aprestam-se ao culto público de «os Mercados» com o fervor genuflectido duma adoração ao Espírito Santo."
"Tudo são apelos ao conformismo e à submissão, convites à obediência e ao redil. O povo, quando presente é constituído em populaça. A ralé sempre fez o jeito às contra-revoluções. (...) Com os da ralé pode a ganhuça bem. É travesti-los de consumidores. O consumidor por natureza é dócil. «Para ver já a seguir. Não saia daí». Já o cidadão tende a complicar. É antipático e incómodo. Toma distâncias e faz escolhas. Há que silenciá-lo, ridicularizá-lo ou desacreditá-lo.
"Como pode uma economia colonial saudável funcionar sem escravos? Coisa de otários."
07 março 2012
um processo
Ler muito para depois escrever;
Escrever para depois reler;
Reler para depois reescrever;
Ou seja,
Ler muito será bem escrever.
Escrever para depois reler;
Reler para depois reescrever;
Ou seja,
Ler muito será bem escrever.
06 março 2012
slowfood
Um destes dias algo na rede me chamou a atenção para este nome. Nunca ouvira falar desta coisa - coisa porque não sabia rigorosamente nada acerca de..., mas bastou-me uma rápida consulta no google (detectou 10.600.000 resultados em 0,40 segundos para o termo slowfood) para ficar logo curioso e interessado em saber mais sobre. Na página de busca as apresentações dos resultados, podemos ler:
"...é um movimento internacional que reúne pessoas apaixonadas por gastronomia, celebra o alimento de qualidade e o prazer da alimentação..."
"...com o objectivo de promover uma maior apreciação da comida..."
"...is a eco-gastronomic that was founded to counteract fast food and fast life..."
Parti à descoberta e foi uma completa surpresa, não só pela filosofia da organização, ou movimento como se auto-definem, como também pela dimensão e seu crescimento, contando actualmente com mais de cem mil membros espalhados por todo o mundo e apoiantes em cerca de cento e cinquenta países. Foi fundada em 1986 pelo jornalista italiano Carlo Petrini com o objectivo de promover uma maior apreciação da comida, melhorar a qualidade das refeições e uma produção que valorize o produto, o produtor e o meio ambiente. Acreditam, os seus membros, que todos têm o direito fundamental ao prazer de comer bem e optaram para lema "bom, limpo e justo" e para logótipo, só podia, um caracol. Sem ser ingénuo, pois julgo alcançar o seu propósito político ou ideológico, devo dizer que tudo, ou quase tudo nesta associação, me agrada.
Ena pá, como eu gosto de estar à mesa e ficar por lá. É tão bom. Vamos lá dar força ao movimento. Não custa nada e pode saber muito bem.
Ena pá, como eu gosto de estar à mesa e ficar por lá. É tão bom. Vamos lá dar força ao movimento. Não custa nada e pode saber muito bem.
(para conhecer o movimento clicar no título deste texto)
04 março 2012
01 março 2012
Estás bem?
Num encontro fugidio, perguntei-lhe se estava bem. A desculpa de um atraso para um compromisso impediu a devida e merecida atenção. Resta este sentimento de culpa. Repito: que estejas bem.
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