(capa revista nº 0 de 1981)
Não
percebo porque é que deixaram de publicar a Revista Brigantia. É que já desde
2008-2009 não sai nenhum número e, por mais que questione e procure respostas,
ninguém me dá qualquer justificação minimamente razoável para este longo
interregno. Desapareceu, extinguiu-se, ou melhor, extinguiram-na, desistiram
dela?!...
Nos
últimos meses tenho conversado e questionado alguns dos intervenientes que
julgo terem alguma responsabilidade pela sua existência e publicação e aquilo
que tenho conseguido são não-respostas, ou seja, a negação da sua extinção, por
um lado, e a desresponsabilização, por outro lado. Inaceitável e a dúvida
persiste: Porquê?
Numa
destas últimas semanas, o Jornal Nordeste trazia-nos uma pequena notícia,
assinada por Marisa Santos, acerca de uma reunião da Assembleia Distrital de
Bragança (ADB), proprietária da revista, e da vontade desta em manter a
Brigantia. Muito bem, terão pensado muitos dos leitores e diria eu, se me
limitasse às letras gordas, mas a verdade é que a actual ADB parece não
compreender a importância e o valor de uma publicação como a Brigantia e, ao
contrário do que afirma o presidente da ADB, não “é preciso prestigiar a Brigantia”, pois ela sempre foi uma revista
com prestígio e reconhecida, não só pelas comunidades da região, como por
inúmeros investigadores, estudantes e estudiosos, em Portugal e no estrangeiro,
que a ela recorriam não só como fonte de informação e conhecimento, como também
enquanto acervo de um saber multidisciplinar acerca da região, e também como
espaço para publicação da produção académica ou outra. Mesmo em tempos mais
recentes, com uma edição muito intermitente e sem qualquer regularidade, a
revista mereceu a referência em inúmeros estudos, investigações e publicações.
Não saber ou não ter consciência disto é não merecer o legado recebido daqueles
que, concerteza, com maior dificuldade conseguiram construir este projecto.
Relembro as palavras iniciais, escritas pelo seu mentor e dinamizador, o Dr.
Belarmino Afonso, no volume I - No 0 de 1981: "Brigantia é uma revista nova. (...) Tentará veicular tudo o que é
reflexo do trabalho criador do homem das terras nordestinas. O social ou o
económico, o religioso e o artístico, o arqueológico e o etnográfico, bem como
outros campos da cultura regional, são aspectos complementares da realidade
cultural humana que é necessário analisar. (...) Mais do que um simples registo
documental, pretende criar um espaço de vida e reflexão." A triste
realidade da revista, nos seus últimos anos de publicação e por
responsabilidade desta ADB, é que perdeu essa vivacidade - veja-se a diminuição
de números de revistas publicadas por ano - e adquiriu um carácter eminentemente
monográfico e dedicado à efeméride.
É
por ter consciência dessa sua condição precária e considerar que, apesar de
tudo, não só há espaço editorial, como haverá sempre conteúdos e receptividade
por parte de diferentes "públicos" e "autores", que
considero inaceitável que se deixe desaparecer a única publicação cultural,
digna desse nome e com cerca de trinta anos de existência. Importa aqui uma
referência aos vários projectos editoriais que foram surgindo na região e que,
numa outra dimensão e num outro universo, foram, são e serão sempre mais-valias
para o reconhecimento da região transmontana.
É
lamentável e triste que a ADB, enquanto sua proprietária, constituída pelos
autarcas eleitos na região e que tanto investem anualmente em iniciativas de
caracter etnográfico, recreativo e cultural, muitas vezes iniciativas de valor
duvidoso, não consiga dispender a verba relativamente pequena necessária para a
regularidade editorial da Brigantia.
Olhando
para a história desta revista podemos verificar como durante muito tempo foram
editados entre dois a quatro números por ano e que, à medida que nos aproximamos
do presente, esse número passou a um único anual. O último volume correspondeu
a dois anos (2008 e 2009). Mas a questão central, quanto a mim, não é o número
de revistas publicadas, mas sim o formato e o modelo de gestão, ou se
preferirem, de propriedade da mesma. Concerteza, na época em que foi lançada a
revista - 1981, faria todo o sentido a proprietária da mesma ser a ADB, mas
actualmente não me parece que esse seja o melhor modelo de gestão, pois,
parafraseando o actual presidente da ADB, não será a revista, mas sim a própria
ADB quem precisa de credibilidade; não será a revista Brigantia mas sim a ADB
quem sofre de anacronismos...
Não
se percebe o desinteresse dos ilustres membros da ADB pela revista. Não se
percebe porque deixaram de contribuir com a sua parte para a sua edição. Assim
como não se percebe que, tendo havido financiamento para a publicação, ela não
se concretizasse.
Mais do que ficar calado ou proferir gratuitas
criticas, importa-me alertar as consciências e contribuir positivamente para
que a revista ressurja. Assim sendo e tal como já sugeri anteriormente, há que
procurar novas formas de financiamento, novas parcerias, novas colaborações,
novos formatos de edição. Uma segunda vida para a Brigantia precisa-se para que
possa "ser um encontro de pessoas
com perspectivas diferentes, mas enriquecedoras de uma única realidade cultural
de que somos portadores conscientes." (Belarmino Afonso em 1981).
(texto enviado para o Jornal Nordeste)
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