13 maio 2012

um arraial minhoto



Num ambiente que quando muito poderia considerar-se rurbano, que é como quem diz, um ambiente rural de aproximação a um espaço urbano, pude experimentar uma noite de sexta-feira diferente...
Largo da Igreja e centro cívico da localidade apinhado de gente vinda de todas as redondezas, coreto e torre sineira devidamente iluminados e decorados, por todo lado barracas de farturas, pipocas e outras doçarias, ao longe e num campo que se estende em frente à igreja, a luz e o som dos carrinhos de choque, carrocéis e afins. À medida que a noite cai, este espaço vai ganhando cada vez mais vida e a concentração da gente em frente a um enorme palco, indica que o momento grande do arraial ainda está por vir. A curiosidade e a ansiedade, e para alguns a impaciência, vão crescendo. É perceptível. Os mais velhos, que chegaram primeiro vão-se encostando onde podem ou escolhendo os lugares estratégicos para uma observação não-participante. Os mais novos, aos pares ou em grupos maiores, também se vão aproximando, constituindo uma massa crescente de festeiros. Ao olhar com mais atenção também posso perceber o cuidado e o preparo para vir à festa. A sua festa.
A noite promete. Do lugar onde me encontro a observar, sinto-me igualmente observado e um corpo estranho a todo o ambiente. O cheirinho a farturas que permanentemente o vento me traz ao nariz, associado ao desconforto do estômago, leva-me a querer ir lá busca uma. Não posso, ainda.
Finalmente, os artistas chegam e num aparato, algures entre o pimba e o xunga, sentados num carocha descapotável que rasga pelo meio da "multidão" e acenando ao público, que não retribui os cumprimentos... A apresentadora não cala uma elegia ao grande sucesso da dupla -Marcelo e Alex - e tudo é feito com grande sonoridade, mas sem grande entusiasmo ou adesão do público que permanece estranho ao que assiste. Pelo meio de uma enorme neblina colorida e com um estridente som exótico, a dupla certaneja entra em palco, precedida por um potente trio de bailarinas brasileiras que de imediato se desnudam e, assim, chamam a atenção ao que se passa no palco. O que se passou a seguir foi mau demais para aqui ser relatado e recordado. Um espectáculo muito mau, sem qualidade e acima de tudo desonesto, pois tudo era playback e aquela gente pagou um valor, independentemente de elevado ou não, por uma farsa e, ainda por cima, sem qualquer qualidade. Por exemplo, a determinado momento, perto do fim da actuação, quiseram apresentar os membros da banda. Ao nome de cada um, respondiam com um pequeno solo. Que desastre... Instrumentos desligados, outros desafinados, outros não sabiam tocar e, para cúmulo, o líder da banda nem o nome de alguns dos seus músicos sabia... Ficou tudo registado e eu incomodado por saber esta gente aldrabada.
Estamos no mês de Maio, mas aquilo que presenciei remeteu-me de imediato para os meus ambientes rurais do mês de Agosto, mês, por excelência, de todas as festas e arraias. É verdade, não cheguei a comer nenhuma fartura.

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