Nunca fui pessoa para grandes euforias ou grandes entusiasmos para receber presentes. Não me recordo de sentir grandes expectativas em relação às datas especiais de previsíveis surpresas e ofertas. Sem querer melindrar todos(as) aqueles(as) que me têm mimado, não sou pessoa que receba muitos presentes; acho que nunca fui.
Gosto muito de presentear aqueles e aquelas que gosto e que de alguma forma quero bem, mas também gosto muito, mesmo, de me presentear e comprar para mim aquilo que mais gosto. Não sou esquisito e opto quase sempre, pois dá-me certo prazer, pelas mesmas coisas. Por nunca estar à espera desses mimos, sempre que alguém me oferta algo é uma surpresa e sabe bem, sentimo-nos queridos e estimados. Saber que alguém, num determinado momento, pensou em nós e associou algo à nossa pessoa... Foi o que me aconteceu por estes dias. Sempre bom.
---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
22 novembro 2012
19 novembro 2012
mediascape: os desistentes
Das notícias que hoje encontrei na imprensa e nos noticiários televisivos, gostaria de destacar esta do Jornal Público e que diz que os emigrantes portugueses de hoje estão a desistir de Portugal e a pedir naturalização nos países de acolhimento. De facto, esta é uma nova atitude, pois mesmo admitindo que muitos daqueles que, durante várias décadas e gerações, partiram em busca de uma vida melhor longe da pátria nunca regressaram, não há registo que esses portugueses algum dia tenham desistido da sua nacionalidade. Nacionalidade essa que compreende um conjunto de identidades pessoais que, por sua vez, se sentem, ainda que involuntariamente, parte de uma comunidade, no caso nação e, em particular, Portugal. É também enquanto membros dessa nação que aprendemos a construir um sentido de diferença para com os outros, para com os estrangeiros, com os quais permanentemente nos comparamos. José Manuel Sobral (que ainda há poucos dias, aqui referi, a propósito do seu ensaio acerca da identidade nacional), afirma que: «Ser-se português não implica partilhar uma qualquer essência ou substância inefável, mas tão-só reconhecer-se a si e a outros como tais, e a outros como diferentes, estrangeiros. As caracterizações ou representações do que era ser-se português nunca terão sido algo de homogéneo e ainda hoje o não são.»(2012:33)
O facto de haver indivíduos que declaradamente escolhem outra nacionalidade é algo significativo e justificará uma análise mais cuidada e um estudo mais aprofundado, pois para além de romper com as lógicas e circuitos tradicionais dos movimentos migratórios, implica um conjunto de questões simbólicas e identitárias, e será, a médio ou longo prazo, uma questão de Estado, na medida em que será a própria sobrevivência da nação que poderá estar em risco. A desistência de uma nacionalidade significa também a desqualificação dessa nação. Em cada um dos casos é a dignidade de Portugal que está em questão. Cada desistência significa que o outro é melhor que nós e em última análise, esse outro passará a ser «nós» e vice-versa.
Este é mais um sintoma - e espero que não passe disso - do mal estar social que em Portugal e nalguns países da União Europeia se sente, consequência directa das políticas gravosas e erráticas que os governos europeus optaram na resposta à actual crise. Um dia, num futuro que eu não adivinho, haverá quem possa reflectir sobre este momento histórico e, ainda que postumamente, fazer justiça e repor a verdade, para que as nacionalidades possam garantir os índices de civilidade e a qualidade de vida mínima para os seus cidadãos poderem e quererem estar e ser nacionais.
13 novembro 2012
mediascape: o odioso
Para o ministro Pedro Mota Soares responsável por essa coisa chamada Segurança Social, os idosos são abandonados pelos seus familiares e depositados nas instituições sociais. Para o ministro, os familiares desses idosos deverão ser perseguidos e responsabilizados, pois a culpa por não poderem tratar dos seus familiares mais velhos, é única e exclusivamente deles. Agora e segundo este novo paradigma, só quem demonstrar que não tem capacidade financeira para cuidar dos mais velhos, poderá recorrer às instituições do Estado. A mesma conversa, o Estado só servirá aqueles que realmente necessitam... Neste caso não é só a questão social que preocupa, mas sim e principalmente, preocupa-me a tentativa descarada de desresponsabilizar o Estado de uma das suas principais e fundamentais funções. Inadmissível.
Este é mais um exemplo daquilo que este governo com celeridade está a fazer ao Estado Social. Esvaziá-lo de sentido e serventias aos portugueses, para então depois entregar aos privados, através de pomposas cerimónias e invocando a necessidade de uma prestação de serviço público com qualidade, esses mesmos serviços e prestações sociais. Este ministro, em apenas um pouco mais de um ano de desempenho, conseguiu já o lugar invejado de ministro do ódio social. Parabéns.
Delães
Gosto sempre de regressar a esse lugar e, desconfio, regressarei sempre até ao meu fim. Mas à medida que o tempo vai passando, essas revisitações tornam-se cada vez mais nostálgicas e carregadas de memórias de outro tempo em que lá tudo tinha uma outra dimensão, outro cheiro e outra afectividade. Tudo está agora vazio, sem forma, sem afecto, sem reconhecimento. Nada ou quase me leva lá, apenas e quase só essa memória de rostos, de odores e de momentos vividos. Não importa, voltarei sempre.
11 novembro 2012
ao espelho...
(em actualização)
http://esquerda.net/fotogalerias/viii-conven%C3%A7%C3%A3o-do-bloco-de-esquerda/25416
Fotografia retirada de:
http://www.jn.pt/Storage/JN/2012/big/ng2214575.JPG
Fotografia retirada de:
http://convencaobloco.tumblr.com/
10 novembro 2012
intervenção
Venho aqui falar-vos da parte interior do nosso território nacional. Falo das comunidades que, apesar de serem também Portugal, têm sido historicamente relegados para uma condição sub-alterna que desde sempre cumpriram as suas obrigações para com a nação e a nação jamais, pouco ou nada, retribuiu. É uma das maiores e crónicas injustiças em Portugal, a descriminação negativa e bem negativa dos territórios do interior.
Territórios, comunidades e indivíduos que estão habituados, há gerações, a procurarem vida bem longe de casa.
Territórios, comunidades e indivíduos que estão habituados, e agora mais do que nunca, a verem os serviços públicos encerrarem : dos CTT aos tribunais, das escolas aos centros de saúde e valências hospitalares.
As políticas de austeridade, impostas por este governo afectam, sem dúvida, todos os portugueses e todas as portuguesas, mas afectam sobremaneira e com maior violência aqueles que, não por acaso, fazem ou tentam fazer vida no interior.
Os cortes financeiros, o desinvestimento público, o encerramento de serviços públicos e a não promoção da produção nacional eliminam postos de trabalho, desencorajam o investimento privado e extinguem as actividades económicas tradicionais locais.
O Bloco de Esquerda deverá, terá de assumir esta luta como prioritária. A defesa incondicional do investimento público na saúde, na justiça , na segurança social e na educação. A Escola Pública! - de forma a reestruturar, dentro do possível, o todo do território nacional.
O próximo ano será um ano importante, pois pelo menos teremos as eleições autárquicas e aqui, o Bloco de Esquerda não deverá hesitar em dedicar o melhor que tem em si e de si nesse processo. A capacidade de intervenção dos activistas do Bloco de Esquerda nas autarquias não deve ser desvalorizada ou sequer relativizada; sendo essencial e até estruturante, deverá ser valorizada e até reforçada com uma política autárquica forte que lute contra o desgoverno globalizante e que nos atira ou remete para uma condição jamais experimentada por nós.
Bem sei o esforço que a estrutura do BE tem feito para reflectir e debater as questões relacionadas com a interioridade, nomeadamente nas jornadas da interioridade e também na comissão nacional autárquica, mas o apelo é que esse esforço seja crescente, seja maior, que traga a si a qualidade de cada região.
Camaradas,
Fica o alerta, fica o apelo para que as nossas ideias, os nossos ideais e o nosso projecto político futuro possa também nas autarquias ter lugar.
Obrigado.
(Intervenção do distrito de Bragança)
Francisco Louçã
Hoje quando iniciar a VIII Convenção do Bloco de Esquerda, o Francisco deixará de ser o Coordenador do partido e abandona todos os cargos políticos que até hoje desempenhou. Bem sei, ele já o disse e repetiu, que não vai abandonar o partido nem a luta por uma solução alternativa de esquerda, mas é indiscutivelmente uma perda de monta para o BE. Conheci o Francisco algures em 2004 e à medida que me fui envolvendo no movimento e participando nos diversos fóruns, tive a oportunidade de o ir conhecendo e reconhecendo as suas qualidades enquanto lider, enquanto membro de uma equipa e enquanto comunicador. Foram vários os momentos em que privámos e conversámos acerca de diversos assuntos. O Francisco é um excelente ouvinte. É indesmentível o poder da sua imagem e personalidade junto da sociedade e eu pude testemunhar, por todo o país, o carisma e a empatia que provoca nas pessoas. Não acredito no culto da personalidade, nem que haja pessoas insubstituíveis, mas substituir o Francisco vai ser um desafio para todos os activistas do BE e também para mim. Confesso que tenho dúvidas em relação ao momento escolhido para haver esta mudança e confidencio que preferia que ele se mantivesse no cargo.
(10 de Novembro, a caminho de Lisboa)
VIII convenção do bloco de esquerda
A caminho de Lisboa, aproveito para pensar naquilo que poderá acontecer nestes dois dias em que vamos estar reunidos em Convenção. É um momento dificil para a sociedade em geral e para o partido em particular. Experimentamos, pela primeira vez, uma mudança de liderança, ainda por cima num processo de substituição de um dos lideres e fundadores do partido que marcaram a sua evolução, depois e também porque os últimos resultados eleitorais foram efectivamente derrotas para o BE.
Vou participar nesta convenção enquanto delegado eleito pela moção A, da qual sou subscritor e defensor. Faço parte da lista da moção A candidata à Mesa Nacional, orgão para o qual tenho feito parte desde 2009, mas desta vez não serei eleito, pois para além de previsiveis surpresas a moção B elegeu uma percentagem considerável de delegados, o que na votação inviabiliza a minha eleição. Mas isso não será relevante, até porque tendo aceite integrar a lista, demonstrei disponibilidade para ocupar o lugar, mas a não eleição libertar-me-á de várias responsabilidades.
Em relação à Convenção não tenho grandes expectativas, pois é mais do que conhecida e pública a composição da próxima liderança. Apoio esta solução, não por ser paritária ou por ser "bicefala", mas por ser protagonizada por dois elementos descomprometidos com as correntes fundadoras do movimento. Aliás, sem qualquer tipo de sectarismo, sabendo que o BE é já muito maior do que a soma dos seus partidos e movimentos fundadores, não compreendo nem aceito a cativação do partido por parte dessas, agora, correntes. Está na hora de alterar essa relação de forças. Para bem do colectivo. Veremos.
08 novembro 2012
uma identidade nacional
Foi com relativa surpresa que vi o nome de José Manuel Sobral associado a esta colecção de Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Mas também não sei porquê é que estranhei esta colaboração. Em todo o caso, o José Manuel Sobral, doutorado em Antropologia e que, nos últimos tempos, se tem dedicado às questões gastronómicas, aparece aqui com uma interessante reflexão acerca da formação e reprodução da identidade nacional portuguesa. O autor defende que a melhor forma de analisar as identidades colectivas, como as nacionais, consiste no estabelecimento da sua genealogia. Neste ensaio, a História encontra-se sempre presente, através da reconstituição selectiva de momentos e conjunturas marcantes na construção das formas de identificação significadas pelos nomes Portugal - um Estado, que haveria de ser descrito e vivenciado como pátria ou nação - e Portugueses - o nome colectivo dos seus habitantes.
Já o desfolhei e será com curiosidade que o lerei nas próximas horas. Ainda assim, não hesito desde já em recomendar a sua leitura.
Já o desfolhei e será com curiosidade que o lerei nas próximas horas. Ainda assim, não hesito desde já em recomendar a sua leitura.
07 novembro 2012
mediascape: a ignóbil
Ontem, Ana Lourenço na SICN teve três convidados para falarem acerca do Estado Social. Um desses convidados era Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Português. Eu, curioso, estive atento, mas logo às primeiras palavras de tal individualidade, não aguentei e mudei de canal. Lembro-me de ter feito um qualquer comentário no Twitter. Insuportável era o seu discurso. Mas hoje, as reacções a esse momento vieram de todo o lado e eu, para confirmar aquilo que tinha sentido, fui então rever, agora na íntegra e com mais atenção, a intervenção dessa boa samaritana.
Como é possível haver ainda gente a pensar e a raciocinar desta forma. Parece coincidência mas não é por acaso que é agora, neste contexto social e político, que esta gente de merda tem coragem para falar assim. Que discurso bolorento, que anacronismo. Esta sujeita vive num país espectacular, onde não há miséria e onde a civilidade é marcada por uma caridade aos pobres que existem por aí. O seu discurso, a sua postura e a sua atitude são ignóbeis. Racista de classe que, ao mesmo tempo, precisa dessas classes desfavorecidas e miseráveis para justificar a sua miserável existência. Intolerável. Nojo.
Confirmem no vídeo...
a estima
Assim de repente e sem o auxílio de qualquer dicionário, estimar significa querer bem, gostar ou preservar, conservar. As pessoas estimam-se ou não entre elas. Nas vidas quotidianas e dos lugares comuns, partilhados pelos rostos que se vão cruzando, a estima é um elemento simpático e cortês. Frequentemente as pessoas trocam cumprimentos e a cortesia desses encontros fugidios, ainda que assíduos e rotineiros, obriga-as, no momento final desse diálogo, a reforçar a estima que nutrem umas pelas outras, produzindo num curioso pretérito perfeito: - Estimei em vê-lo!
06 novembro 2012
o poder dos livros
"A melhor forma de combater os fascistas religiosos, sejam eles evangélicos, como nos Estados Unidos e no Brasil, judeus, muçulmanos ou hindus, é através da alegria - do sexo, da música, do vinho e dos rojões.
Além dos livros, claro. Os Americanos teriam feito mais pela libertação dos afegãos se tivessem despejado sobre o país não bombas, mas livros. (...) Os livros realmente mudam o mundo. A boa literatura é sempre subversiva. Todos os totalitarismos temem os livros."
José Eduardo Agualusa na LER nº118.
05 novembro 2012
mediascape: the cloud
Nota Prévia
Nova rubrica no apurriar. Proponho-me destacar aqui a notícia diária, disponibilizada pelos media que particularmente me atraia os sentidos, numa perspectiva particular e de consciência social, neste mundo difuso e de vertiginosas heterogeneidades. Como título surgiu-me a palavra mediascape, cujo conceito é da autoria de Arjun Appadurai (2004) e refere-se
à distribuição da capacidade electrónica para produzir e disseminar
informações. O seu aspecto mais importante é que fornecem vastos e complexos
repertórios de imagens, narrativas e etnopaisagens a espectadores de todo o
mundo. (…) As linhas divisórias entre as paisagens realistas e ficcionais que
vêem estão esbatidas. (…) Tendem a ser explicações centradas na imagem, com
base narrativa, de pedaços da realidade, e o que oferecem aos que as vivem e as
transformam é uma série de elementos, a partir dos quais podem formar vidas
imaginadas, as deles próprios e as daqueles que vivem noutros lugares. (Appadurai,
2004:54)
A ver vamos se consigo ser assíduo, pois pontual não posso prometer ser. Acontecerá quando puder, conseguir ou me apetecer.
The Cloud
A notícia chegou-me bem cedo, através da rádio e dizia, citando o Diário de Notícias, que o Governo se prepara para entregar a privados a gestão e manutenção das bases de dados públicas nacionais (defesa, saúde, segurança, etc.) como forma de conseguir cortar na despesa pública. Esse estudo encomendado e tutelado pelo ministro Miguel Relvas foi desenvolvido no âmbito do Grupo de Projecto para as Tecnologias de Informação e Comunicação (GPTIC) e contempla três cenários possíveis, dos quais o mais "vantajoso" para o Estado será uma solução tecnicamente nova, a «Cloud Computing», gerida, claro está, por uma empresa privada.
Não sendo conhecedor destes processos, conheço minimamente o conceito enquanto utilizador. Desde logo tenho dúvidas quanto à novidade tecnológica, pois de novo nada tem e já várias empresas disponibilizam aos seus clientes e utilizadores esse espaço virtual e desmaterializado, onde podemos armazenar informação e aceder a ela, a qualquer momento e em qualquer local, através da internet. Depois, o bom senso avisa-me para os perigos duma solução deste tipo: Que tipo de informação pretende lá colocar? Quem vai ter acesso a essa informação? Qual o nível de segurança? A própria concentração de tamanha e tão variada informação parece-me contra-producente, pois para além da questão económica, qual a vantagem de centralizar num só "espaço" e numa só empresa toda a informação? Os níveis de conhecimento devem manter-se isolados e diferenciados. Questões de Estado e informações relativas aos seus cidadãos devem pertencer ao Estado e só. Um Estado soberano e de direito não pode entregar ao desbarato informação vital, apenas porque a sua manutenção e gestão tem custos.
Esta notícia revela também o desespero do governo que a todo o custo quer desfazer o Estado e transformá-lo em algo, isso sim, novo e desconhecido. Idiotice.
A nuvem é e será sempre apenas e só uma metáfora eficaz e bonita.
04 novembro 2012
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