03 fevereiro 2014

António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva

Numa aldeia remota de Trás-os-Montes, reuni com um grupo de convivas que sob o pretexto da amizade e da fraternidade, reúnem periodicamente à mesa e alarvemente saboreiam o melhor que há na gastronomia local. Convidado e sem saber do que se tratava e para o que ia, fui surpreendido pela qualidade dos produtos cozinhados e completamente esmagado pela qualidade cultural e tertuliana desse encontro. Não ia preparado para a dimensão e profundidade das palavras que acompanharam o repasto. Um dos assuntos que mais me fascinou foi a reflexão acerca da dimensão humana e intelectual de alguns dos mais ilustres pensadores e autores portugueses.
Por se falar de António Vieira, o padre, enquanto grande vulto do século XVII, da sua obra, da sua vida e da sua coragem, referiu-se o nome de Bartolomé de Las Casas e da sua obra mais conhecida - Brevíssima Relação da Destruição das Índias - onde o autor faz a descrição dos horrores cometidos pelos espanhóis nas descobertas e conquistas realizadas no século XVI pelo continente americano. Obra de referência para os espanhóis que a consideram única, desconhecendo por absoluto a similaridade da obra do português que pouco tempo depois experimentou algo de semelhante nas terras de Vera Cruz. António Vieira será, poucas dúvidas restam, um dos maiores autores da língua portuguesa de todos tempos e foi com ele que surgiu a ideia de quinto império, enquanto crença messiânica e que legitimou o movimento autonomista português em relação à coroa espanhola. Para Vieira os impérios seriam: Assírios, Persas, Gregos e Romanos, aos quais se acrescentaria um quinto, o império português.
Depois, e numa vertiginosa viagem pelo tempo, chegamos ao século XX e a Fernando Pessoa que na Mensagem retoma o tema iniciado por António Vieira e se refere aos cinco impérios, diferindo da escolha de Vieira e identificando o império Grego, o Romano, o Cristianismo e a Europa do Renascimento e das Luzes. A estes, Fernando Pessoa acrescenta um quinto império, o cultural.
Mais tarde e ainda durante o século XX Agostinho da Silva ao reflectir sobre essa crença, transforma o quinto império no império do Espírito Santo, afirmando-se como um cavaleiro do Espírito Santo. 
Esta viagem pelo imaginário lusófono e pela obra destes autores, levam-me de imediato a querer ir revisitar algumas leituras e a descobrir outras tantas. Para o tempo que aí vem.

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