Nos longos serões à lareira, abrigados das terríveis geadas e procurando aquecer os ossos antes de enfrentar o desconforto da cama, conversava-se acerca de tudo; daquilo que nos dizia respeito, mas também acerca daquilo que nada era nosso. Aproveitando a presença de alguns familiares e vizinhos, desfiava-se conversa, trocavam-se informações importantes sobre as coisas do lugar, coscuvilhava-se sobre a sorte e o azar dos outros e contavam-se histórias, factos ou ficções, de um tempo passado que só a memória dos mais velhos alcançava.
Uma dessas histórias que repetidamente fui ouvindo relatava acontecimentos dos meados do século XX. Pelos vistos por essa época as mulheres da aldeia e de muitas outras povoações desfizeram-se, se não de todo, pelo menos de grande parte do seu ouro e prata. Sem grandes hesitações ou dúvidas ofertaram-no a Nossa Senhora de Fátima que por esse tempo andou em peregrinação por terras de Trás-os-Montes.
Foi em Junho de 1949, entre os dias 1 e 17, que aconteceu essa peregrinação da imagem da Senhora por toda a diocese de Bragança, depois de ter feito igual viagem pela diocese da Guarda. A Igreja organizou e preparou com os maiores cuidados e pormenores essa visita. Através dos seus elementos (organizações, párocos e religiosos(as)) foi passando a mensagem ao povo. Também através do seu principal órgão de comunicação, o Jornal Mensageiro de Bragança, ia dando instruções acerca dos percursos, das datas e horas das cerimónias, assim como dos comportamentos apropriados para os leigos e devotos da Senhora.
(JMB - 1/5/1949)
(JMB - 10/5/1949)
Estes dois recortes retirados do Jornal Mensageiro de Bragança, exemplificam muito bem a atitude da Igreja naquela ocasião. Num tempo em que a esmagadora maioria da população da diocese vivia numa miséria atroz, a Igreja, passeando a sua "Mãe", sempre rica e oponente, não hesitou, com o seu discurso pedinte e ganancioso, retirar o pouco e o nada dessa gente temerosa. Enfim, outros tempos.
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