06 outubro 2015

mediascape: déjà vu palestiniano

Um vez mais, sempre mais, cada vez mais, as notícias de confrontos entre Israelitas e Palestinianos que se eternizam, chegam-nos via TV, mas na verdade já estamos tão familiarizados com tais imagens que já relativizamos esse drama político, cultural e religioso que aparenta não ter solução. Voltam a morrer pessoas, Palestinianos, claro.
Há pouco menos de cem anos, eram as potências europeias, saídas vitoriosas da grande guerra que negociavam a administração desses territórios. Era a coroa inglesa o jogador principal desse tabuleiro da geopolítica mundial e quem determinava as políticas para o Médio Oriente. Durante a década de vinte do século XX, Winston Churchill, enquanto ministro das colónias, foi um dos principais actores dos destinos da Palestina.

Na sua biografia "Churchill: A Life" de Martin Gilbert (1991:328), podemos conhecer parte desse processo:
Quanto à Palestina, disse Churchill a Abdullah (emir), enquanto fosse permitida a entrada dos Judeus, «os direitos da população não judaica existente seriam rigorosamente mantidos». Abdullah aceitou estas garantias, mas os Árabes locais, não; numa petição a Churchill eles avisaram que se a Grã-Bretanha não prestasse atenção ao seu clamor por um fim da imigração judaica, «então talvez a Rússia, ou mesmo a Alemanha, leve um dia a sério o seu brado». O objectivo dos sionistas, alertavam os Árabes, era estabelecerem um reino judaico na Palestina «e gradualmente controlarem o mundo».
Os Árabes pediram a Churchill a abolição do princípio da pátria judaica, o estabelecimento de um governo nacional «eleito pelo povo palestiniano» e a cessação da imigração judaica até que estivesse instalado um governo palestiniano. Churchill respondeu-lhes que não estava em seu poder deferir o seu pedido «nem, mesmo que estivesse no meu poder, seria esse o meu desejo», e acrescentou: «Além disso, é manifestamente justo que os judeus que se encontram espalhados por todo o mundo possam ter um centro nacional e uma Pátria, onde alguns deles possam ser reunidos. E onde poderia isto ser, senão nesta terra da Palestina com a qual ao longo de três mil anos eles estiveram íntima e profundamente associados?» A Palestina podia sustentar «um número de pessoas muito superior ao do presente»; os Judeus iriam trazer uma prosperidade da qual beneficiariam todos os habitantes; não seriam despojados nenhuns árabes. Um governo próprio com a possibilidade de uma maioria judaica, iria levar tempo. «Todos nós já teremos desaparecido desta terra, também os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos, antes que isso seja plenamente conseguido.»
Aos Judeus da Palestina, cuja delegação ele recebeu logo a seguir aos Árabes, Churchill referiu-se ao sionismo como «um grande acontecimento no destino do mundo» e desejou-lhe sucesso para vencer as «sérias dificuldades» que se apresentam no seu caminho. «Se eu não acreditasse no vosso mais alto espírito de justiça e idealismo», disse ele, «e em que o vosso trabalho irá efectivamente conferir bênçãos a toda a região, eu não teria as grandes esperanças que tenho de que eventualmente a vossa obra será cumprida.»
Churchill plantou uma árvore no local da futura Universidade Hebraica no monte Scopus. «A esperança da vossa raça ao longo de tantos séculos será gradualmente realizada aqui», disse ele, «não só para vosso próprio benefício mas também para benefício de todo o mundo». Mas os habitantes não judaicos não devem sofrer. «Cada passo que se dê deverá portanto ser para o benefício moral e material dos Palestinianos, todos, Judeus e Árabes por igual». «Se isso for feito, a Palestina será feliz e próspera; a paz e a concórdia reinarão sempre; ela converter-se-á num paraíso, numa terra de leite e mel na qual os sofredores de todas as raças e religiões encontrarão o descanso depois das suas provações». 

Sem comentários: