Vale dos Caídos, nas imediações de Madrid, é o altar da extrema-direita espanhola, onde se presta o culto a Franco e a Primo Rivera. É igualmente o símbolo máximo e paradigmático das históricas cisões na sociedade espanhola, que se traduz num contencioso permanente que chegou aos nossos dias. Acontece que o governo socialista de Pedro Sánchez, não só quer exumar os restos mortais do ditador Franco que se encontram sepultados nesse local, como pretende transformar o Vale dos Caídos num memorial às vítimas da Guerra Civil e do franquismo, assim como criar uma Comissão de Memória, com a vigência de dois anos e com a finalidade de apurar a verdade do que ocorreu, contribuir para o esclarecimento das violações de direitos humanos e das graves infracções cometidas durante a Guerra Civil e o franquismo. Tarefas, todas elas, de difícil concretização, pois as feridas abertas nesse período negro da história de Espanha ainda não estão saradas e, seja por omissão, seja por ocultação, nunca houve um verdadeiro ajuste de contas com o passado.
A este propósito, hoje no jornal Público, o seu director - Manuel Carvalho, e em editorial, escreve que "a exumação do cadáver de Franco e as melhores formas de matar a simbologia extremista do Vale dos Caídos" demonstra como "a Espanha continua a debater-se com os vírus que originaram o franquismo e que, ainda hoje, persistem em perturbar o seu metabolismo nacional", enraizados na sociedade através de um radicalismo de direita e em instituições como a Igreja.
Manuel Carvalho tem razão quando afirma que não basta apagar os lugares da memória para que esta seja erradicada do presente, mas também será verdade que sem esses lugares de memória, será bem mais difícil, geracionalmente, perpetuar essas memórias. Só podemos e devemos desejar que o PSOE seja, finalmente, bem sucedido neste seu propósito.
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