Agora que foi conhecida a constituição do Governo resultante das eleições legislativas de 6 de Outubro e depois de toda a confusão com as negociações entre os partidos para a constituição da "geringonça 2.0" e respectiva especulação jornalística e opinativa, venho a terreiro para manifestar o meu agrado, primeiro, com o resultado das eleições e, segundo, a não constituição de qualquer geringonça que excluísse algum dos partidos da esquerda. Não percebi a dúvida e o espanto por o PS não ter querido um compromisso apenas com o BE. Se o fizesse iria deixar com toda a liberdade o PC e PEV para a oposição e, principalmente, para a contestação dos sindicatos e nas ruas. Certo? Elementar, como diria o outro...
Entretanto, esperemos para ver como pretende governar António Costa, sendo que não tenho qualquer dúvida de que a influência das esquerdas não se fará sentir como anteriormente e que para alguns sectores, em particular para os patrões, para os banqueiros e para os grandes grupos de interesses privados, este é o melhor governo que poderia ter acontecido depois do resultado das legislativas, assim como para os partidos de direita, feridos que estão, este novo governo do PS, dependente de acordos ad hoc, poderá ser a sua tábua de salvação, que é como quem diz, a hipótese de poderem ter um papel de algum relevo nesta legislatura. A ver vamos.
Por fim, uma palavra para o chinfrim que se fez e permanece com a entrada na Assembleia da República de um partido de extrema-direita, populista, fascista e racista. Sim, é um facto lamentável, mas inevitável. André Ventura ocupou um espaço sem dono, sem pudor e demagógico foi dizendo aquilo que é fácil ouvir nas ruas e em determinados media - o estigma popular em relação a determinadas comunidades étnicas, económicas e sociais existe e encontrou neste oportunista um espelho. O desafio para qualquer democrata será, com inteligência, com sarcasmo e com ironia, desconstruir o seu discurso e assim desmascarar o seu projecto político e, a termo, impedir que vingue e cresça.
Certo é que, recorrendo às sábias palavras de George Steiner, não teremos novos começos.