Devo começar por dizer o seguinte:
Conheço pessoalmente Hernâni Dias, o agora ex-Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território. Conheci-o algures durante a década de noventa, eu enquanto presidente de uma associação cultural aldeã do concelho de Vinhais, ele enquanto presidente da delegação regional do IPJ - Instituto Português da Juventude, em Bragança. Depois, mais tarde, entre 2005 e 2013, voltei a cruzar-me com ele nos meandros da actividade política no concelho de Bragança. Se a memória não me atraiçoa, entre 2005 e 2009, aquando do meu primeiro mandato na Assembleia Municipal de Bragança, ele era presidente da Junta de Freguesia da sua aldeia natal - Sendas (concelho de Bragança), e também chefe de gabinete do então presidente da Câmara Municipal, o Eng. Jorge Nunes. No meu segundo mandato, entre 2009 e 2013, ele foi Vereador do último executivo camarário de Jorge Nunes. Depois disso, ele foi o escolhido para candidato do PSD à Câmara Municipal e venceu as eleições de 2013 e aí permaneceu até um pouco antes de ter sido eleito deputado nas últimas eleições legislativas, em Março de 2024. Durante esse período, enquanto presidente da autarquia bragançana, e porque eu não fui mais eleito, pouco contacto tive com ele, mas sempre que nos encontrávamos saudávamo-nos cordialmente. Para além das discordâncias políticas, tenho Hernâni Dias como uma pessoa séria e competente.
Dito isto, esta sua demissão é inacreditável. Vou tentar apresentar aquilo que é a minha percepção desta situação e outras semelhantes. Começando por conceder ao Prof. Hernâni Dias toda a presunção de inocência, aquilo que tem vindo a público não abona muito a seu favor. Caramba, o que passará na cabeça de alguém que já tem poder, que fez um percurso político e uma ascensão rápida até este lugar executivo, que é inteligente e conhece a lei, sendo Secretário de Estado que tutela a Administração Local e o Ordenamento do Território e esteve envolvido na recente e polémica Lei dos Solos (Decreto-Lei 117/2024, de 30 de Dezembro), um dia acordar e pensar: - Vou montar um, talvez dois negócio(s) no ramo da imobiliária!
Sinto-me muito incomodado por situações como esta, e por constatar que ela é recorrente envolvendo pessoas que são oriundas de Trás-os-Montes. Claro que não poderei, nem deverei generalizar, nem será um fenómeno exclusivo desta região, mas não é a primeira, nem a segunda vez que isto acontece. O que se passa com esta gente?!... De repente, lembro-me dos casos de Carla Alves (PS) e Secretária de Estado por menos de 24 horas, de Armando Vara (PS) com inúmeros problemas com a justiça decorrentes da sua acção governativa, de Isaltino Morais (PSD), também condenado pela justiça, de Duarte Lima (PSD), envolvido em tanta porcaria e crimes que nem é bom lembrar, entre outros.
Tanta recorrência, leva-me a questionar: Será deslumbramento? Será ganância? Ou será mesmo uma questão de carácter?, mas leva-me também a concluir: Estes são os verdadeiros espécimes que representam o espertismo e o provincianismo que tanto grassa pelo país e suas instituições.
Onde há fumo, normalmente há fogo e, ao mesmo tempo, à mulher de César não basta sê-lo, tem que o parecer. Estes serão dois ditos que se encaixam nesta situação em que, no mínimo, a ética no desempenho das funções em questão não foi salvaguardada. Mais tarde saberemos da culpa ou inocência de Hernâni Dias, mas no entretanto a mancha já marcou e entranhou.