21 setembro 2025

boda de antanho

Ainda deste Verão, transcrever aqui episódio que partilhei nas redes sociais:

"Ontem, dia 23 de Agosto de 2025, participei como convidado, numa boda peculiar. A sensação foi ter viajado no tempo e ter regressado a um pretérito conhecido. Num pequeno povo da Sanábria, fim de tarde, encontro marcado na casa da família. Grupo de vinte a trinta convidados, caminhámos com os noivos até pequena capela num ermo afastado da povoação, onde nos aguardava à porta o sacerdote. Cerimónia simples e rápida. Descontraídos e depois de esperarmos que o padre fechasse a capela e nos acompanhasse, regressámos à mesma casa... durante este percurso, os noivos que seguiam na frente foram brindados e felicitados pelos habitantes daquela pequena localidade. O copo de água foi servido na rua, numa espécie de continha abrigada, anexa à casa. Ementa farta e variada, confeccionada por mãos amigas. Ambiente tranquilo, acolhedor e muito bem disposto, acompanhado por momentos musicais que alguns convivas foram protagonizando e que se estenderam pela noite dentro. vim de lá, altas horas da noite, feliz e com a sensação de ter vivenciado um momento único, replecto de anacronismo difíceis de encontrar em pleno século XXI."
(Bragança, 24 de Agosto de 2025)

enfim o Outono

No último dia de Verão, o de 2025, quero celebrar a chegada do magnífico, colorido, olfativo e divertido Outono. Mas acima de tudo, importa-me assinalar o alívio pelo fim do Inferno que é sempre o Verão. Com a idade a avançar tenho cada vez menos paciência e tolerância para com os terrores da época estival. Bem sei que é um problema pessoal e intransmissível, mas a alegria de sentir a temperatura a descer, a cacimba alvoral e o vento farto e frontal, dão-me ânimo para os dias que aí vêm. Como que numa transição para os frios e tremores do Inverno, desfrutemos dos prazeres outonais.

campeões mundiais

Nestes tempos em que a reacção saiu definitivamente do armário e perdeu a vergonha ou pudor de se afirmar racista e xenófoba, uma dúvida assalta-me a mente: como se sentirão perante o sucesso desportivo de imigrantes que, com as nossas cores nacionais, vencem tudo e são os melhores do mundo, como aconteceu esta última semana, com as medalhas de ouro de Isaac Nader (filho de um marroquino), nos 1500 metros em Tóquio, e de Pedro Pablo Pichardo (nascido em Cuba), no triplo salto? Vibrarão com estas conquistas e vitórias, ou sentirão desprezo, indiferença e até raiva inconfessáveis? Este seria o momento ideal para os confrontar e questionar publicamente sobre estes factos. Posso estar enganado (não estou), mas a maioria deles acobardar-se-ia e fugiria para o remanso dos seus nichos obtusos e medievais, onde em matilha carpem os seus ódios, e de onde jamais deveriam poder sair.

18 setembro 2025

presentes envenenados

Depois de largos meses ausente, numa manhã desta semana, regressei ao espaço Fórum de uma Fnac, onde há muito gostava de estar e ficar. Para esta manhã levava duas ou três tarefas na mente, sendo que terminar a leitura de um livro de crónicas sobre agricultura era a principal, pois o convite para participar no meu podcast já seguiu para o autor.
Estava eu entretido nessa leitura quando, não muito depois, se sentam três senhoras na mesa ao lado. Eu diria que todas septuagenárias, de boa e cuidada aparência e, pela conversa, adivinho que seriam professoras. Falaram muito e sobre muitas coisas diferentes, mas a minha atenção despertou quando o tema foi a oferta de vouchers de estadias, jantares e actividades várias, concordando as três que esses são péssimos presentes e que, dando exemplos, todas as situações que tiveram correram muito mal. Aí, o meu pensamento e reflexão acompanhou a conversa delas...
A mim, a nós, também já nos ofereceram desses presentes, mas até ao presente não usufruímos de qualquer um deles, nem de qualquer uma dessas experiências. Estarão algures, no fundo de uma gaveta, a perder validade... Aliás, tentei uma ou outra vez fazer reservas em hotéis, servindo-me desses vouchers e nunca consegui. Sei também, por experiência de amigos e familiares, que o tratamento a esses clientes, seja em hotéis ou restaurantes, é sempre negligenciado e, se possível, evitado. Portanto, esses produtos muito bem produzidos e embalados em escaparates, apetecíveis aos sentidos, são sempre presentes envenenados e, por isso, há muito deixei de sequer ponderar ofertá-los.

04 setembro 2025

"depois de casa roubada, trancas à porta"

A tragédia de ontem em Lisboa, com o elevador da Glória, é daqueles episódios ou acontecimentos que, apesar de imprevisíveis, poderiam muito bem ser evitados. Neste dia seguinte, numa atitude bem portuguesa, reflectida na expressão popular que titula este texto, o Presidente da Câmara Municipal, Carlos Moedas, por "prevenção", mandou suspender as operações nos demais elevadores e equipamentos similares da cidade. Claro que ainda muito ruído vai haver, muito se vai dizer e escrever sobre o sucedido, sobre culpas e culpados, mas teremos sempre que esperar pelo fim das investigações para, esperamos e desejamos, haver responsabilização e responsáveis. No entretanto, e porque é algo que, empiricamente, qualquer transeunte, morador, visitante ou turista, pode verificar ao deambular pela cidade de Lisboa, este acidente foi uma consequência dramática daquilo que é a voragem centrífuga do turismo, ou seja, os espaços públicos, as normas e regulamentos municipais, os patrimónios e os transportes públicos, estão cativados pelas dinâmicas e lógicas do turismo. A hegemónica turistificação da cidade obrigou a uma dedicação exclusiva de estruturas e infra-estruturas, uma exigência que testa a capacidade de recursos, equipamentos e de pessoal. Se houve ou não falta de manutenção, se houve ou não negligência técnica, ou mesmo humana, esta tragédia é grave demais para não haver culpados e responsáveis. Que, definitivamente, este horror sirva para memória futura.

03 setembro 2025

diferença

A mais que aparente fragilidade de uma folha de papel em branco supera-se quando nela inscrevemos qualquer diferença, uma ambição ou desejo que seja, para o tempo que há-de vir. Registemos então.