19 outubro 2015

a quem interessar...

Acabo de receber convite para o lançamento de mais dois trabalhos do Professor Doutor Henrique Manuel Pereira.
No dia 23 de outubro, sexta-feira, pelas 19h00, terá lugar na Universidade Católica Portuguesa-Porto a apresentação conjunta de dois livros: Padre Américo – Frei Junípero no Lume Novo, organizado pelo Prof. Doutor Henrique Manuel Pereira, e Raízes do Tempo – À Volta de Padre Américo, da autoria do mesmo Professor. A apresentação das obras estará a cargo dos Prof. Doutor Francisco Carvalho Guerra e Prof. Doutor Vitor Teixeira. (retirado daqui...)


Como não poderia ser de outra forma, lá estarei para lhe dar um abraço amigo. Até lá.

15 outubro 2015

a LER de Outono


Acabei de comprar a revista LER deste outonal trimestre. Numa espreitadela fugaz, encontrei esta preciosidade...
O livro do não sei quê (O Livro do Desassossego) aborrece-me de morte. A poesia do heterónimo Álvaro de Campos é uma cópia de Walt Whitman; a de Ricardo Reis, de Virgílio. Pergunto-me se u m homem que nunca fodeu pode ser um bom escritor. (António Lobo Antunes, El Pais)
Não havia necessidade!

09 outubro 2015

sempre o acordo. de acordo

Um Professor da universidade de Évora escreveu ontem, dia 8, um excelente artigo sobre o Acordo Ortográfico. Não o vou transcrever na totalidade, apenas algumas frases. Ainda bem que o debate não esmorece e há quem continue a acreditar que o referido acordo é uma cagada em três, ou mil novecentos e noventa actos. Ainda assim deixo aqui a ligação para o referido artigo de opinião.

"Uma das consequências mais espectaculares desta mudança ou simplificação ortográfica foi a de afastar o português falado de Portugal do português falado do Brasil"


"Com a ideia de unificação gráfica entre variantes da língua portuguesa, o que se conseguiu foi precisamente o contrário ao nível da oralidade"

"O acordo ortográfico de 1990, ao declarar que se deve escrever “receção”, “setor”, “deteta” e “ativo” porque essas palavras se pronunciam assim em Portugal, não somente está a levar ao delírio velhas e bafientas noções de simplificação e unificação, mas está também a construir uma gigantesca mistificação"

"O AO90 consegue concretizar duas grossíssimas asneiras ao mesmo tempo: deseduca-me como falante do português e presta um péssimo serviço à unidade transcontinental da língua"

"O AO90 dá tudo, tudo, a portugueses, brasileiros, angolanos, moçambicanos e tantos mais, menos a única coisa que talvez nos interesse na língua portuguesa: escrever e dizer bem"

já sei em quem não vou votar...

mediascape: da incompetência à soberba...

...é um instante televisivo.
José Rodrigues dos Santos, pivot do telejornal da RTP, num destes dias a propósito da composição da nova Assembleia da República, referiu-se ao candidato Alexandre Quintanilha, cabeça de lista do PS pelo Porto, como sendo "o eleito ou a eleita" mais idoso(a).
Polémicas à parte entre o PS e a RTP daí resultantes, parece-me indigno por parte de um jornalista referir-se num tom jocoso ao deputado aludindo à sua orientação sexual. O facto de Alexandre Quintanilha ser homossexual assumido, não altera o seu género, nem condiciona a sua actividade social, nem tão pouco a sua participação naquilo que é a res publica.
Não sei como é possível o canal de televisão de serviço público em Portugal tolerar comportamentos, ou desempenhos como este. No mínimo uma suspensão e um processo disciplinar. Por decoro e por vergonha, a demissão. Obviamente e sem delongas.
É preciso não esquecer que esse proeminente intelectual que gosta de piscar o olho para a câmara sempre que se despede dos seus fãs e leitores, é o mesmo que ao serviço da RTP e em reportagem se  permite fazer juízos de valor e destratar pessoas, comunidades e instituições. Para além disso, é o mesmo que, iluminado pelo luminoso das suas ficções, se dá ao direito de escrever livros de centenas ou milhares de páginas, cujos conteúdos deveriam envergonhar um analfabeto.
A soberba do sujeito ao afirmar: "Nós, os escritores...".

06 outubro 2015

mediascape: déjà vu palestiniano

Um vez mais, sempre mais, cada vez mais, as notícias de confrontos entre Israelitas e Palestinianos que se eternizam, chegam-nos via TV, mas na verdade já estamos tão familiarizados com tais imagens que já relativizamos esse drama político, cultural e religioso que aparenta não ter solução. Voltam a morrer pessoas, Palestinianos, claro.
Há pouco menos de cem anos, eram as potências europeias, saídas vitoriosas da grande guerra que negociavam a administração desses territórios. Era a coroa inglesa o jogador principal desse tabuleiro da geopolítica mundial e quem determinava as políticas para o Médio Oriente. Durante a década de vinte do século XX, Winston Churchill, enquanto ministro das colónias, foi um dos principais actores dos destinos da Palestina.

Na sua biografia "Churchill: A Life" de Martin Gilbert (1991:328), podemos conhecer parte desse processo:
Quanto à Palestina, disse Churchill a Abdullah (emir), enquanto fosse permitida a entrada dos Judeus, «os direitos da população não judaica existente seriam rigorosamente mantidos». Abdullah aceitou estas garantias, mas os Árabes locais, não; numa petição a Churchill eles avisaram que se a Grã-Bretanha não prestasse atenção ao seu clamor por um fim da imigração judaica, «então talvez a Rússia, ou mesmo a Alemanha, leve um dia a sério o seu brado». O objectivo dos sionistas, alertavam os Árabes, era estabelecerem um reino judaico na Palestina «e gradualmente controlarem o mundo».
Os Árabes pediram a Churchill a abolição do princípio da pátria judaica, o estabelecimento de um governo nacional «eleito pelo povo palestiniano» e a cessação da imigração judaica até que estivesse instalado um governo palestiniano. Churchill respondeu-lhes que não estava em seu poder deferir o seu pedido «nem, mesmo que estivesse no meu poder, seria esse o meu desejo», e acrescentou: «Além disso, é manifestamente justo que os judeus que se encontram espalhados por todo o mundo possam ter um centro nacional e uma Pátria, onde alguns deles possam ser reunidos. E onde poderia isto ser, senão nesta terra da Palestina com a qual ao longo de três mil anos eles estiveram íntima e profundamente associados?» A Palestina podia sustentar «um número de pessoas muito superior ao do presente»; os Judeus iriam trazer uma prosperidade da qual beneficiariam todos os habitantes; não seriam despojados nenhuns árabes. Um governo próprio com a possibilidade de uma maioria judaica, iria levar tempo. «Todos nós já teremos desaparecido desta terra, também os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos, antes que isso seja plenamente conseguido.»
Aos Judeus da Palestina, cuja delegação ele recebeu logo a seguir aos Árabes, Churchill referiu-se ao sionismo como «um grande acontecimento no destino do mundo» e desejou-lhe sucesso para vencer as «sérias dificuldades» que se apresentam no seu caminho. «Se eu não acreditasse no vosso mais alto espírito de justiça e idealismo», disse ele, «e em que o vosso trabalho irá efectivamente conferir bênçãos a toda a região, eu não teria as grandes esperanças que tenho de que eventualmente a vossa obra será cumprida.»
Churchill plantou uma árvore no local da futura Universidade Hebraica no monte Scopus. «A esperança da vossa raça ao longo de tantos séculos será gradualmente realizada aqui», disse ele, «não só para vosso próprio benefício mas também para benefício de todo o mundo». Mas os habitantes não judaicos não devem sofrer. «Cada passo que se dê deverá portanto ser para o benefício moral e material dos Palestinianos, todos, Judeus e Árabes por igual». «Se isso for feito, a Palestina será feliz e próspera; a paz e a concórdia reinarão sempre; ela converter-se-á num paraíso, numa terra de leite e mel na qual os sofredores de todas as raças e religiões encontrarão o descanso depois das suas provações». 

enfim, migração para a maçã

Depois de muito tempo às voltas com esta decisão, resolvi sair da minha "zona de conforto" e migrar. Foram muito meses ou anos a ganhar coragem para viajar e levar comigo a tralha toda de uma vida para um novo universo, onde tudo é diferente e ainda complicado. Para além da resistência natural e atávica ao mundo, às rotinas e procedimentos conhecidos, havia também a questão financeira, pois neste novo ambiente, elegante, clamoroso e apelativo, o custo de vida é muito mais caro. Bem sei que é o preço a pagar pelo incremento do aparato e da qualidade de vida (à mulher de César não basta sê-lo, tem que o parecer...).
Empolgado com a nova aventura, estou a instalar-me e a reconhecer os cantos à nova casa.

05 outubro 2015

notas soltas da madrugada seguinte

Acompanhei a noite eleitoral até ao fim e até não haver mais qualquer resquício noticioso ou opinativo sobre as eleições legislativas de ontem. Depois, num exercício ao jeito do twitter, registei num caderno algumas notas sobre aquilo que acontecera. Aqui ficam algumas dessas notas e alguns dos sentimentos experimentados nesta noite:
* Derrota clara e humilhante de António Costa;
* Inadmissível derrota para o PS, depois de quatro anos de austeridade e amargos sacrifícios;
* Resultado do PS demonstra estado de guerra civil no seu aparelho e estruturas;
* Resultado do PS demonstra a crueldade e, acima de tudo, a inutilidade do assalto ao poder protagonizado por António Costa um ano antes;
* Vitória clara da coligação PAF, sendo a força política mais votada, não deixa dúvidas quanto ao sucesso da sua mensagem;
* Vitória da coligação PAF, apesar de não conseguir maioria absoluta, permite governação;
* Impressionante como Paulo Portas vai sobrevivendo, contra tudo e contra todos;
* CDU mantém a sua base eleitoral, conseguindo mesmo aumentar a sua representação num mandato;
* BE consegue o seu melhor resultado eleitoral, aumentando número de votos e mais do que duplicando o número de eleitos;
* BE consegue polarizar votos à esquerda do PS e, também, do descontentamento socialista;
* Não se materializa o sucesso virtual dos partidos emergentes, nomeadamente, do Livre e do PDR;
* Nenhum movimento ou partido dissidente do BE consegue votação sequer digna de registo;
* Afinal, apesar da minha desconfiança, sondagens estavam correctas - ao contrário do que aconteceu noutros países, as empresas de sondagens em Portugal merecem credibilidade;
* Noite humilhante para António Costa que deveria ter acabado com a sua demissão. Até aí esteve mal. Preferiu ficar agarrado ao lugar. Politicamente insustentável e a partir de agora, a prazo;

Durante todo este tempo de aproximação ao acto eleitoral e até ao próprio dia, fui dos poucos, ou muitos, não sei, que não acreditei que seria possível a PAF sair vencedora, pois sempre pensei que havia memória, que havia racionalidade no julgamento desta governação. Enganei-me. Preferia que tivesse ganho o PS, ainda que soubesse que pouco ou nada iria mudar e de não ter especial apreço por António Costa, de não o considerar um político tão extraordinário como muitos o qualificam. Parece-me até ser um político pouco afirmativo, preferindo sempre o nim e o tão. Veremos o que os próximos dias nos reservam.

30 setembro 2015

instante urbano xxxiii

Ao ser atendido num balcão das finanças por uma funcionária que já mais vezes me atendeu, fui surpreendido com um comentário seu relativo a uma contribuinte que esperava a sua vez para ser atendida, do outro lado do balcão. O nosso diálogo foi, mais coisa, menos coisa, nestes termos:

ELA: - Aquela senhora que está ali é muito interessante. Não acha?
EU: - Diga?!...
ELA: - Aquela senhora tem um ar muito interessante. Não concorda?
Tentando localizar essa mulher, inclino-me para a frente...
ELA: - Não dê tanto nas vistas. Olhe com mais discrição... não sabe como se faz?
Retraio-me e fico quieto...
EU: - Refere-se à senhora loira?
ELA: - Sim. Tem um ar muito fresco. Desculpe estar com esta conversa, mas caramba, temos olhos e eu até tenho quatro (óculos), portanto, só posso ver... não é?!
EU: - Pois...
ELA: - Eu já a conheço daqui. Ela costuma vir cá muitas vezes. Não sei como se chama, nem para quem trabalha... Depois até vou perguntar às minhas colegas que a atendem sempre naquele balcão...
EU: - De facto, eu acho que também já a encontrei cá mais vezes... talvez seja contabilista.
ELA: - Não. Nem tanto. Não tem ar disso. Deve vir representar empresas, talvez das caves do Vinho do Porto.
EU: - Pois, se calhar...
ELA: - Não sei. Aquele ar fresco. Diferente. Ar de sueca...

Entretanto, mudámos de assunto e ela passou a esclarecer-me sobre aquilo que eu lá tinha ido fazer.

29 setembro 2015

Onésimo, despenteador de pensamentos


Tal como sempre, ou como quase sempre, para não exagerar, Onésimo Teotónio Almeida publica um brilhante, inteligente e bem disposto livro. Ao passear-me pelas avenidas, que é como quem diz corredores da FNAC, a propósito, cada vez mais pequenos e despidos, chamou-me a atenção a bonita capa e, principalmente, o gerúndio no seu título. Depois verificando o autor, peguei nele e folheei-o; achei por bem, sentar-me num recanto para, com mais calma, perceber do que se tratava; li até não ter mais tempo disponível e, assim sendo, só me restou a alternativa de o comprar para poder continuar a leitura. Estou a gostar e dada a inteligência deste despenteador, só posso aconselhar vivamente a sua leitura.

Nota: Este título trouxe-me à memória, o tempo em que havia quem me chamasse "despenteado mental". Nunca cheguei a saber porquê. Desconfio, mas não sei.

esquiço

Perspectivando-a (a Sul) podemos adivinhar a longa extensão de areal deserto que se esconde para lá das dunas e que se estende por toda a costa. Neste pequeno segmento de praia, despida da mobília de Verão e silenciosa do boliço humano, só a espaços, uma ou outra pessoa, um ou outro atleta, surgem no horizonte e rapidamente se aproximam e desaparecem por trás de uma proeminente duna. A maré baixa vai permitindo que alguns pescadores amadores entrem no mar e se arrisquem no labirinto das rochas emersas. A neblina marítima teima em cobrir todo o céu, impedindo o Sol de se manifestar em todo o seu poder neste últimos dias de Setembro. No areal, até há bem pouco tempo a fervilhar de vida, convivem ou descansam bandos de gaivotas.
A sensação ao olhar absorto esta paisagem é de tranquilidade e de abandono, bem preferível à poluição estival, o que me permite animar a alma e os sentidos. À medida que nos afastamos do calor e nos aproximamos do frio e das tempestades, maior é o apelo para aqui vir e ficar.

(tentei fazer um esquiço para aqui colocar, mas, como seria de esperar, não consegui...)

21 setembro 2015

processo eleitoral

Pela primeira vez neste século não estou envolvido no processo eleitoral em curso. Desde 2001 tenho-me envolvido, de diferentes maneiras e intensidades (desempenhos), em cada um dos actos eleitorais. Portanto, é com alguma estranheza e, acima de tudo, tranquilidade que aguardo pelo dia 4 de Outubro. Não tenho qualquer dúvida e sei, com convicção e em consciência, em quem depositarei e confiarei o meu voto e qual o meu desejo para o futuro político do país, mas quanto ao resultado final deste processo, tenho várias e sérias dúvidas e angústias. Não quero, nem posso acreditar que haja a possibilidade da actual coligação no governo sair vencedora, mas também não quero explorar aqui esse cenário. Manifestar a minha certeza quanto ao voto e ao mesmo tempo, indiferença e alheamento em relação aos dias de campanha que teremos até ao dia das eleições. Campanhas com direitos de antena na rádio e nas TVs, acções de rua, contacto com populações, entrevistas, comícios, etc e tal, foi chão que já deu uvas, ou melhor, foi peditório para o qual muito já dei. Não há pachorra.
Estarei a ficar velho?!

acordar a falar de amor

Nunca tive a pretensão de ser escritor. Também não sei se essa condição pode ser uma escolha, se podemos acordar um dia e, só porque sim, sermos escritores. Gosto muito de escrever, mas não me sinto capaz de criar uma narrativa imaginada. Sempre gostei de ambientes experimentados, de personagens reais e de tentar recrear esse mundo um dia experimentado por alguém. Daí a relevância dada ao testemunho, a valorização do relato e a escolha pelas etnografias que continuo a praticar.
Apesar disso, talvez um dia me sinta inspirado e capaz de me aventurar a escrevinhar um conto, construir uma história ou um romance. A ideia até já existe há algum tempo, os personagens já estão nomeados e as suas existências e destinos também. A não ser que, entretanto, surja uma outra ideia e uma outra história, essa ficção terá por título "acordar a falar de amor" e mais não digo.

15 setembro 2015

mero desabafo ou subtil pressão?

"PS: é dessa forma que nego as crenças, e com pouco tempo que tive para ler alguns grupos. Espero que eu consiga fazer essa cadeira, para pegar o meu certificado. Obrigada!!"

(comentário que uma aluna minha escreveu a lápis no fim de um exame...)

13 setembro 2015

música para todos em d'bandada

Ontem, dia 12 de Setembro, um Sábado, foi dia de D'bandada na cidade do Porto. Durante todo o dia espectáculos e música variada e gratuita por todo o centro da cidade. Motivado pela participação do mano mais novo, também eu fui com a família participar nesta festa da música destinada a todos, miúdos e graúdos. Impressionante a quantidade de gente que circulava pelas ruas, praças e jardins da cidade. Imagino alguém que tenha aterrado por estes dias na cidade, sem saber, deve ter ficado abismado com a sua "movida". Gosto destes ambientes de rua, mas quando chega a hora de comer, já não me agrada nada tanta confusão. Prefiro retirar-me para espaços mais tranquilos e com menor freguesia. Assim fiz.
Nestas fotografias, momentos antes da actuação da orquestra de guitarras eléctricas da Casa da Música,  no jardim das Oliveiras (jardim dos Clérigos), sob a orientação de Peixe e na qual o mano Ricardo participou.


11 setembro 2015

ler por ler, não!

Não consigo ler algo que não goste. Esta é uma declaração de feitio. Como algo que posso afirmar sem hesitar, quando de literatura em prosa ou poesia se trata. O mesmo não posso dizer em relação à não-ficção, pois aí já li milhares de páginas onde não encontrei o mínimo prazer. Mas li, estudei e terei aprendido sempre algo.
Quando nos damos ao trabalho de procurar a opinião de terceiros, ditos especialistas em literatura, podemos descobrir diferentes e variadas opiniões acerca de livros e de autores. Acontece, porém, que por vezes essas opiniões coincidem no elogio a determinada obra ou autor e eu, enquanto leitor (leigo), sou sensível a esse encontro de opiniões e vou à descoberta desses novos territórios da ficção. Às vezes sou feliz, outras vezes nem por isso, outras vezes ainda não percebo o encanto ou o deslumbre colectivo ou consensual em torno de um autor ou obra.
Apurria-me o desperdício de tempo e de espaço que a leitura de alguns livros, considerados clássicos, me obrigam. Estou como o outro (Pacheco Pereira) que disse, hiperbolizando, que não valeria a pena perder tempo com leituras novas ou de modas. Temos que nos concentrar no essencial e eu considero que, sendo um leitor de todas as horas e dias, por prazer ou afazer, cheguei a uma idade em que posso e devo ser mais criterioso com as leituras que escolho e me ocuparão as horas da minha vida. E há tanta boa literatura para desfrutar. Venha a mim.

10 setembro 2015

um clássico

Depois de muitos anos esgotado, finalmente foi reeditado este magnífico trabalho de Brian O'Neill. Originalmente publicado, em 1985, pela Dom Quixote, na colecção Portugal de Perto, este foi e é um dos clássicos da Antropologia da segunda metade do século XX em Portugal. Resultado do seu trabalho de campo, entre 1976 e 1978, numa pequena aldeia do concelho de Vinhais e, depois, sua tese de doutoramento em 1982, na London School of Economics, rapidamente foi adoptado pelos programas das licenciaturas de Antropologia em Portugal. Foi para mim também leitura obrigatória e, tendo parte da colecção Portugal de Perto, sempre o quis adquirir. Nunca o consegui encontrar. Foi a compra desta visita à Feira do Livro do Porto. Entretanto, continuarei à procura da primeira edição.

09 setembro 2015

avenida das Tílias

Pelo segundo ano consecutivo a Câmara Municipal organiza a Feira do Livro do Porto e, uma vez mais, nos jardins do Palácio de Cristal. Aproveitei a tarde chuvosa de hoje para me passear pela bonita Avenida das Tílias, por estes dias, murada por milhares de livros. Claro que a cada contacto com os vendedores, percebi o desconforto com a chuva que afasta ou impede os "clientes" de visitar a Feira. Contudo, sempre fui aproveitando para, com calma e sem atropelos, afirmar a minha satisfação por poder usufruir de toda aquela oferta quase em exclusividade. Troquei impressões com livreiros, questionei por edições pretendidas, indaguei por livros difíceis e antigos. Fiquei triste por não poder trazer uma mão cheia dessas raridades, pois o seu preço era proibitivo. Soube-me bem sentar numa esplanada, sentir a chuva miúda a cair e cheirar a humidade da terra. Um café, um livro e um estacionamento estupidamente caro, foi o dinheiro que lá deixei. Vou lá voltar um dia destes.

04 setembro 2015

road to nowhere


Esta fotografia capta um momento, na auto-estrada perto da fronteira austríaca, da marcha dos refugiados sírios em direcção à Áustria, vindos da capital húngara, Budapeste. No mesmo instante lembrei-me da música dos Talking Heads, "Road to Nowhere". A sua letra convida-nos para uma viagem sem destino, para bem longe, para uma cidade mental que cresce dia após dia, onde tudo ficará bem, para o paraíso. Será que a vida deste imensa massa de gente apátrida algum dia ficará bem?
Não resisto a colocar aqui um video recente dessa música.
A fotografia ao alto, retirei-a daqui...

02 setembro 2015

mediascape: horror e ignomínia

Acabei de ver a fotografia de uma criança síria morta numa praia da Turquia, consequência do naufrágio de uma embarcação que tentava chegar à Grécia. Não consegui evitar as lágrimas e é com o rosto humedecido que escrevo estas palavras.
Não posso, não podemos aceitar mais imagens como esta. É de uma violência sem paralelo. Não é uma vítima de guerra ou acidente. É uma mártir da hipocrisia em que vivemos. Ponderei copia-la para aqui, mas não o faço porque não a quero ver mais. Nunca mais. Sei bem que o choque de imagens como esta provocam o horror e promovem os lugares mais comuns, naquilo que são as reacções das lideranças europeias. Mas precisamos de mais, de algo diferente daquilo que tem sido a reacção individual de cada Estado. A atitude das elites europeias traduz-se numa ignomínia que, infelizmente, ficará na história do mundo. Também os EUA responderão por esta tragédia, pois a Primavera Árabe que promoveram no Norte de África, não resultou em democracias, mas sim em Estados falhados e à disposição de todos os fundamentalismos.
Ainda hoje trocava impressões com um Presidente de Junta de Freguesia do concelho de Vinhais, a propósito desta tragédia humanitária que experimentamos na Europa e ele dizia, com propriedade, que todas as freguesias de Vinhais bem podiam acudir a esta gente, recebendo e alojando uma ou duas famílias cada. O concelho está envelhecido, sangra de emigração e o território está completamente desestruturado. Porque não trazer algumas famílias para cá e criar novas dinâmicas sociais e económicas?!... Muito bem pensado. Claro que a situação não se resolveria, mas seria um excelente contributo.
Esta criança bem poderia ter sobrevivido e, depois, ter tido direito a uma vida longa e digna. Não, não teve direito a nada, apenas a uma curta experiência traumática à qual não sobreviveu. E o terror supremo é olhar aquele pequeno corpo morto de 12 anos , que a força maior das correntes marítimas depositaram naquela praia e imaginar um dos meus filhos naquela circunstância. Muito triste.

01 setembro 2015

mês de leitura

Dividido em duas partes, este mês de Agosto foi um excelente tempo de leitura. Ao longo dos últimos meses tinha acumulado algumas leituras para fazer, daquelas não obrigatórias. Assim e aproveitando a primeira quinzena junto ao mar, pude acabar de ler o gigante de James Joyce, "Ulisses" e "A amante holandesa" de José Rentes de Carvalho. Depois, na segunda quinzena, já em Bragança e arredores, desfrutando da tranquilidade da aldeia e da ausência tecnológica, pude continuar as jornadas de leitura: "As velas ardem até ao fim" de Sándor Márai, "Montedor" de José Rentes de Carvalho e "Winston Churchill - biografia" de Sir Matin Gilbert foram as leituras dessas horas. Agora e porque ando às voltas com um projecto sobre mitologias rurais, trago comigo os Contos, as Bicharadas e as Montanhas de Miguel Torga. Rico mês de Agosto.

o génio e o prazer das coisas bonitas...

Há muito conheço David Byrne e o considero uma das mentes mais brilhantes da cena musical mundial. Neste primeiro video, podemos vê-lo em parceria com St. Vincent a reinventar um dos seus clássicos. Como o Youtube é uma magnífica ferramenta, permitiu-me ir à descoberta dessa, até então, desconhecida e nem sempre loira, chamada Annie Erin Clark, cujo nome artístico é St. Vincent. O segundo vídeo é novamente um concerto de ambos com o mesmo naipe de sopros e onde podemos testemunhar o génio de ambos. Gostei de St. Vincent. Vou tentar conhecer mais e melhor.


27 agosto 2015

instante urbano xxxii

Aproveitando a temperatura amena do início da tarde, resolvemos dar um passeio pelos campos e montes que rodeiam a aldeia. Levámos a criança mais velha connosco, que apesar de contrariada, lá foi arrastando os pés, sempre a barafustar com as comichões e mordidas dos bichos e bicharocos que não nos largavam. Não parou de resmungar e de lamentar ter aceitado o nosso desafio. A determinada altura e depois de mandar um berro, assustada, disse à mãe: - Mãe, um Saltão pisou-me um pé!... Coitada da urbanita. Ou muito me engano ou não volta a sair da aldeia.

03 agosto 2015

na casa de papel de valter hugo mãe...

...escreveu ontem, dia 2 de Agosto (revista do jornal Público), sobre o festival de Paredes de Coura. Apesar de não ser um consumidor desse formato, adoptado com sucesso, de eventos, não posso deixar de referir a impressionante escrita de Valter Hugo Mãe e a magnífica elegia aí produzida ao festival de "gente junta com vontade de estar feliz".

"Coura são as termas da música. O tratamento para todas as patologias operado pela maturação dos sons no esplendor da paisagem"

mediascape: europa sitiada

Não sei o que mais irá acontecer e quais as verdadeiras consequências daquilo que temos vindo a assistir nos últimos meses na Europa. Os surtos migratórios incontroláveis provenientes de África com destino à Europa, entrando pela Grécia, Itália e França, com o objectivo de chegarem a um país seguro e à procura de uma vida melhor, tem levantado questões e desafios aos países da Europa, para os quais não estavam minimamente preparados e as reacções têm sido, no mínimo, desastrosas. Primeiro, o patrulhamento do Mediterrâneo, depois os campos de refugiados, onde se excluem essas pessoas de qualquer condição digna de cidadania, ainda mais os muros que vão sendo construídos, numa atitude impensável para suster esses desgraçados que apenas querem fugir da morte, tentativa desesperada e estúpida de líderes europeus anacrónicos. Por fim, as vedações, as cercas, os polícias e seus cães, a correria dos corpos de intervenção e o caos total em plena Europa, no coração da civilização europeia. Como chegámos a esta situação?
As notícias documentadas por imagens que nos últimos dias nos chegaram do norte de França são paradigmáticas do desespero dos homens e mulheres que tentam a qualquer custo chegar a Inglaterra e também do desnorte das autoridades francesas e inglesas, que não estão preparadas para esta situação, nem tão pouco existe uma política e uma estratégia dos Estados para lidar com tal catástrofe humanitária. São impressionantes as imagens que assistimos da situação em Calais (França), onde se situa a entrada do túnel do canal da Mancha. A parafernália policial, o ambiente prisional, o caos da debandada daquela massa humana e o choque com a polícia, não são imagens a que estejamos habituados a ver na Europa.
O que mais me impressiona é a impotência das autoridades e dos governos, que não conseguem fazer mais do que declarar guerra a essa "praga" e reprimir, criando campos de exclusão onde concentram os emigrantes que vão chegando. Estamos a falar de autênticos guetos, patrulhados e vedados ao exterior, onde os seus "habitantes" são obrigados a viver em condições sub-humanas, naquilo que é conhecida por "selva". Estamos a construir muros e mais muros, aqui e acolá, umas vezes sem pudor, outras com vergonha e chamando-lhes outros nomes. A concentração destes seres humanos em espaços circunspectos, sitiados por enormes vedações de arame farpado, perspectiva-nos um futuro dantesco, o de uma Europa sitiada em si.
Tudo isto fez-me regressar a Zygmunt Bauman e ao seu livro "a sociedade sitiada" (2002), que recentemente lera e que trata, entre outros, destes assuntos. Deixo aqui alguns excertos desse livro:

A tendência actual para reduzir drasticamente o direito ao asilo político acompanhada pela recusa tenaz da entrada de «imigrantes económicos», não indicia nenhuma nova estratégia a respeito do fenómeno dos refugiados - apenas a falta de uma estratégia e o desejo de evitar uma situação em que essa falta provoque embaraços políticos. (...) Além das usuais advertências de que exploram a segurança social e roubam empregos, os refugiados são agora ainda acusados de desempenharem o papel de «quinta coluna» em nome da rede terrorista mundial. Finalmente, existe uma razão «racional» e moralmente inatacável para capturar, encarcerar e deportar pessoas quando já não sabemos como lidar elas e não nos queremos dar ao trabalho de o descobrir.
(...)
As portas podem estar trancadas mas o problema não desaparecerá, por muito seguras que sejam as trancas. As trancas nada fazem para domar ou enfraquecer as forças que causam o desalojamento. As trancas podem ajudar a manter o problema longe da vista e do coração, mas não o erradicam. E, assim, cada vez mais, os refugiados encontram-se num fogo cruzado; mais precisamente, numa encruzilhada. São expulsos à força ou amedrontados até fugirem dos seus países de origem, mas é-lhes recusada a entrada em qualquer outro. Não mudam de lugar; perdem um lugar na terra e são catapultados para nenhures, para o «não lugar» de Marc Augé...
(...)
Os campos são artifícios tornados permanentes através do bloqueio das saídas. Os enclausurados não podem regressar ao local de onde vieram. (...) Os refugiados estão «lá mas não são de lá». Estão separados do resto do país de acolhimento pelo véu invisível , embora denso e impenetrável, da suspeição e do ressentimento. Estão suspensos num vazio espacial em que o tempo parou.
(...)
Mais do que qualquer outros micro-mundos sociais inventados, os campos de refugiados aproximam-se do tipo ideal da «instituição total» de Erving Goffman: oferecem, por comissão ou omissão, uma «vida total» de que não há escapatória. Ao abandonarem ou tendo sido expulsos do seu antigo ambiente, os refugiados tendem a ser despojados das identidades que esse ambiente definia, assegurava e reproduzia.

Assim vamos neste velha e agora perdida Europa.

27 julho 2015

revista brigantia

Não é preocupação nova, nem é assunto novo aqui. Aproveitando uma rápida visita a Bragança, adquiri o mais recente número da revista Brigantia - volume XXXIII, agora propriedade e editado, pela primeira vez, pela Comunidade Intermunicipal de Trás-os-Montes. É um número especial dedicado aos 150 anos de nascimento do Abade de Baçal e que contempla em exclusividade a obra "Gente de Mirandela" do Pe. Erneste Sales (colaborador e informante do Abade de Baçal) de 1916, numa leitura realizada por Jorge Sales Golias e Telmo Verdelho.
São várias as diferenças em relação às edições anteriores, que na capa costumavam trazer uma imagem de um estrafogueiro e nesta não. As capas não têm badanas, o papel é melhor, mas a cartolina das capas é mais fraca. A própria encadernação não é tão boa e tem uma lombada larga demais para o número de folhas do livro, o que deixa no toque uma impressão de amadorismo ou de desleixo na paginação e acabamento.
Para além destas pequenas, mas não insignificantes, mudanças, aquilo que me parece importante realçar é o percurso degenerativo que a revista percorre. De revista regular e essencialmente etnográfica, etnológica e antropológica, passou nos últimos anos a revista de efemérides e de homenagens. Inadmissível. O meu alerta já foi dado várias vezes e em diferentes momentos e instituições, mas nem por isso alguém se importou com a sua perda qualitativa. Não só fico triste com esta realidade, como também acho que não faz sentido deixar perder esta referência cultural, ou melhor, de produção cultural da região transmontana. O seu a seu dono, mas assim não.

23 julho 2015

ao espelho

 
Agradeço ao Henrique Manuel Pereira o envio desta página de um suplemento do Jornal Mensageiro de Bragança. As fotografias dizem respeito ao lançamento do meu livro, no passado dia 27 de Março.

22 julho 2015

vocações

À medida que me afasto temporalmente daquela data de 27 de Março de 2015, há pequenas reminiscências, pormenores desse dia (factos, momentos ou diálogos) que me assaltam de forma abrupta a mente e que contribuirão para uma memória futura. Um desses momentos aconteceu depois do descerramento da placa de homenagem a D. Manuel António Pires, na parede da casa onde ele nasceu, quando resolvi mostrar ao actual bispo da diocese de Bragança-Miranda, do exterior, a dimensão de toda a casa dos pais de D. Manuel e quando, a determinado momento, apontei para a janela do quarto (na foto, janela da esquerda) onde ele terá nascido. A reacção de D. José Manuel Cordeiro, ao contemplar a ampla paisagem que o horizonte permitia, foi exclamativa: - Não me admira que com esta paisagem nascessem aqui vocações!...


21 julho 2015

o metereologista


Depois de ter conhecimento deste livro na revista LER, num texto de Francisco José Viegas que me despertou a atenção e, depois, a curiosidade. Trata-se da história de Alexei Feodossevitch Vangengheim, criador e director do Serviço Hidrometeorológico da URSS até 1934 e depois preso, transferido para uma das primeiras bases do gulag e, por fim, fuzilado e enterrado numa vala comum. Aproveitei o aniversário de alguém próximo para o oferecer e assim poder, daqui a uns tempos, lê-lo.

mediascape: sessenta euros diários

Experimentando um período de nojo pelos acontecimentos recentes na União Europeia e na Grécia, tento evitar notícias, opiniões e declarações acerca daquilo que agora aconteceu e que, com toda a certeza, no futuro será recordado e estudado. Contudo, houve um facto que, também, por ter sido tantas vezes noticiado, me ficou retido na mente: com os bancos encerrados e os movimentos financeiros controlados, os gregos só podiam levantar no multibanco até 60 euros por dia. Este facto foi sempre apresentado pelos media como sendo algo de terrivelmente mau para os gregos, como se fosse impossível viver com essa quantia disponível para cada dia. Cada um sabe de si, mas não me parece de todo mau poder viver com 60 euros por dia. Mesmo na Grécia. Será que haverá muitos gregos que vivam acima desse valor diário?!.. Eu não gasto (eu não preciso) desse valor todos os dias. Longe, muito longe disso. Raramente levanto esse ou valor superior no multibanco.
Não sei se este facto, de tão repetido por todo o mundo nas últimas semanas, não terá sido mais um argumento para a atitude vingativa dos europeus em relação à Grécia.

13 julho 2015

a caminho...

Está neste preciso momento a ser impresso o segundo volume da série de baptismo (1911-1939) da paróquia de S. Mamede de Travanca - Vinhais, uma iniciativa da Casa da Fonte de Travanca, cujo proprietário nutre um carinho especial pela sua aldeia e tem uma vontade permanente de conhecer o seu passado, enquanto indivíduo e enquanto comunidade. O lançamento acontecerá, em princípio, no dia 17 de Agosto em Travanca, dia da festa do santo da paróquia. Estaremos sempre lá para o que for necessário. Informa-se que o terceiro volume está já a ser trabalhado.

10 julho 2015

constatação geo-estratégica

Na revista LER, edição de Junho 2015, Eduardo Lourenço, a propósito do papel da Europa no mundo e do seu protagonismo actual e num futuro próximo, afirma:
"Assistimos à crise na Ucrânia sem saber o que fazer. A Europa tem um problema, desde que existe: não saber lidar com o Outro, o não-europeu. Aconteceu no tempo de Alexandre, e sobretudo quando surgiu outro fenómeno que conquistou uma dimensão planetária: o islão. Vivemos séculos lado a lado, sem que os víssemos, ou eles nos vissem a nós. O Império Turco foi, para a Europa, uma espécie de União Soviética, desde 1453. Agora toda essa massa emerge, fruto da descolonização, numa espécie de sonambulismo histórico. Mas a Turquia europeizou-se e partes da Europa islamizaram-se, ao ponto de ter surgido esta ideia de que a Turquia pode fazer parte da coisa europeia. E como podemos imaginar a integração do islão, que representou durante séculos a não-Europa, e não sabemos o que fazer com a Rússia? Como pode a Turquia entrar na União Europeia e a pátria de Tolstói e Dostoiévski ficar de fora? A Europa não é o nome, a Europa é a sua própria História.
(...)
Não podem ficar fora de jogo só porque achamos que não são democratas como gostaríamos que fossem. Temos de relacionar-nos com eles, pelo menos com uma parte da sociedade russa. A Rússia teve o seu iluminismo e conheceu períodos de grande fascínio pelo Ocidente. E ao mesmo tempo sempre desconfiou que os padrões do Ocidente não convinham ao seu messianismo intrínseco, à sua religiosidade de tipo mítico". (pág. 36)

01 julho 2015

para LER no Verão...

Então não é que me esqueci que em Junho iria sair um número da LER?!... Imperdoável. Só hoje a fui buscar.

30 junho 2015

a quem interessar...

O meu amigo António Tiza vai apresentar-nos mais um fascículo do seu saber. Compete-me partilhar essa informação e esperar que nos possamos encontrar lá.

27 junho 2015

velho amigo João (R.I.P.)

É com amargura e verdadeira tristeza que me despeço do João. Amigo desde a minha primeira meninice e com quem convivi e aprendi. Enquanto miúdo, foi com o João que passei tardes e serões a jogar às cartas - ao burro e à bisca. Tenho a sensação que foi com ele que aprendi e ganhei o gosto pelas cartas. Foi também o João quem me ensinou e deixou "conduzir" pela primeira vez um carro-de-bois - momentos inesquecíveis e irrepetíveis de uma arte e saber em extinção. O João faz parte da minha infância e adolescência e será sempre uma memória boa para mim.
O João não estaria em idade de partir. Nos últimos anos, algumas contrariedades e problemas trouxeram-lhe desarranjos e desequilíbrios mentais, que o levaram para perto do precipício. Esta madrugada a mulher encontrou-o caído e já sem sentidos à porta da casa-de-banho.
Estive com ele, pela última vez, no dia 27 de Março. Reconheceu-me e esboçou um sorriso.

Na fotografia, o João e a Lena, em 1999, num dia feliz para eles e para mim em especial. Foi difícil convencê-lo a estar presente...

Europa: não manda quem quer, só manda quem pode

Através do Twitter vou acompanhando ao segundo as notícias que chegam da Europa e dos últimos acontecimentos das reuniões do Eurogrupo. Parece que a Grécia está fora do Eurogrupo e que terá que pagar a sua dívida até terça-feira. Foi expulsa pelos restantes membros desse restrito clube que, confrontados pela atitude do governo grego de convocar um referendo para decidir democraticamente o futuro do país, decidiu não conceder nenhum prolongamento do programa de assistência e antecipou, à boa maneira tecnocrata, que os gregos nem sequer deveriam pronunciar-se sobre o seu futuro.
Quando em Janeiro o Syriza venceu as eleições, eu fui daqueles que considerei essa vitória importante não só para a Grécia, como para toda a Europa. Se é verdade que me enganei no sentido dessa importância, também é verdade que poderemos estar perto do fim da União Europeia. A elite política europeia claudicou definitivamente perante a elite financeira. Os burocratas europeus, líderes das instituições e que detêm o poder de decisão, ficarão para a história da Europa. Aquilo que acontecerá nos próximos dias em Atenas e restante Grécia, terá repercussões a curto e médio prazo nas outras capitais europeias, principalmente naquelas em que a situação financeira é mais débil. Os nossos filhos, netos e bisnetos irão conhecer estas caras, pois serão recordados como os carrascos de um projecto que seria politica, económica e culturalmente viável, não fosse a sua ganância e egoísmo. 
A confirmarem-se as notícias, estaremos a viver um dos dias mais negros da história recente da Europa. Um dia tristemente histórico.

Eis o triunvirato burocrata...

25 junho 2015

baú da memória x

O feriado de S. João serviu, entre outras coisitas, para relembrar alguns sons de 90, se bem que só os tenha descoberto já bem perto do fim dessa década. Dois magníficos exemplos de malhas que perduraram na memória e que, de vez em vez, vou cantarolando...


24 junho 2015

sector primário

Mais um ensaio da Fundação Francisco Manuel dos Santos que quero destacar. Para quem se interessa pelas questões da ruralidade e, principalmente, da agricultura em Portugal e queira perceber a influência das Política Agrícola Comum, consequência da adesão de Portugal às Comunidades Europeias, na evolução da agricultura portuguesa, não podem deixar de ler este ensaio de Francisco Avillez. É o que estou a fazer.

instante urbano xxxi

E ao fim de tantos anos lancei o meu primeiro balão de S. João. Em dois possíveis, um ardeu e o outro, para alegria da criança, subiu e desapareceu no horizonte... Nada mau para um principiante. Sem qualquer relação, nesse momento aquilo que me veio à memória foi a estranha sensação do primeiro foguete que um dia lancei. Alguém registou este momento.



23 junho 2015

mediascape: (des)acordo ortográfico

"Uma vez que se chega a este acordo na base do consenso, não posso assinar este documento que não está escrito da forma que se fala em Angola. Camões não escreveu assim".
António Bento Bembe, secretário de Estado dos Direitos Humanos angolano

Estas declarações foram proferidas na XIV Conferência dos Ministros da Justiça da CPLP, em Díli. Isto na mesma altura em que decorre em Portugal uma iniciativa cidadã de recolha de assinaturas para a realização de um referendo sobre o acordo ortográfico da língua portuguesa. Todos poderão participar, subscrevendo esta iniciativa aqui. A pergunta que é proposta para referendar é: “Concorda que o Estado Português continue vinculado a aplicar o «Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa» de 1990, bem como o 1.º e o 2.º Protocolos Modificativos ao mesmo Tratado, na ordem jurídica interna?”
Escusado será dizer que já subscrevi esta iniciativa referendária.
Para mais pormenores visitem https://referendoao90.wordpress.com/

19 junho 2015

mediascape: a Índia aqui tão perto

O jornal Público de ontem, dia 18 de Junho, trazia uma reportagem sobre a Índia muito interessante. Sendo um país imenso, culturalmente muito heterogéneo e economicamente muito pobre, tem índices de desenvolvimento típicos de um país de terceiro mundo. A peça jornalística traz-nos o esforço que o Estado indiano e os diferentes níveis de poderes regionais tem realizado para que os indianos, principalmente aqueles que vivem no espaço rural - e são cerca de 70% dos 1,2 mil milhões de indianos, usem as sanitas. Pelos vistos 53% dos agregados familiares desse imenso território rural indiano não tem sanita nas suas habitações e defecam desde sempre ao ar livre. O esforço do Estado em equipar as casas com casas-de-banho, nomeadamente com sanitas, tem sido um esforço em vão, pois grande parte das pessoas que tiveram acesso a elas, preferem continuar a ir à rua fazer as suas necessidades. Muitos deles aproveitaram a nova construção anexa às suas habitações para lá arrumarem coisas. O esforço estatal procura alterar este costume ancestral que anualmente mata centenas de milhares de pessoas, principalmente crianças. Esta situação é paradigmática daquilo que são as representações sociais e simbólicas da doença/saúde. Enquanto que para o Estado e seus técnicos se trata de um problema de saúde pública que é preciso resolver, para os cidadãos defecar ao ar livre faz parte de um todo, de uma vida saudável e virtuosa. Assim sendo, é lógico que não basta construir retretes, é preciso um esforço pedagógico, educacional e geracional para que, pelo menos, as novas gerações se habituem e percebam a importância do uso das sanitas.
Esta situação relembra-me o tempo em que também em Portugal e também no espaço rural, as casas não estavam equipadas com essa divisão "pós-moderna" que era a casa-de-banho. Na altura em que começaram a roubar espaço às casas para construírem esses cubículos sanitários, foram muitas as resistências e recordo um caso em concreto, passado talvez em finais dos anos 70, ou início dos de 80, em que um lavrador vizinho, depois de muito refilar e resistir, lá foi convencido pelos familiares mais novos para a necessidade e o conforto de ter casa-de-banho em casa. Mal convencido, lá decidiu fazer a vontade aos mais novos e resolve construir não uma, mas duas pequenas casas-de-banho encostadas uma à outra... A verdade é que esse lavrador, apesar do investimento e do novo espaço sanitário, preferiu continuar a ir à loja dos animais, no piso inferior de sua casa, para se aliviar das suas precisões. A Índia aqui tão perto.

18 junho 2015

ao espelho...

(página 1 do jornal Voz Portucalense, edição de 17/6/2015)

(página 13 do jornal Voz Portucalense, edição de 17/6/2015)

15 junho 2015

ainda vai dar jeito e será utilizada...

"Ao ser dita, ao ser inscrita no lugar próprio, no silêncio exacto, no branco vivo da página, a coisa não só se redime do grande vazio do esquecimento, resgatada pelo sentido que agora lhe é dado, ressuscitando nesse dizer do seu nome, como também se torna outra coisa. Ressuscita, sim, mas transformada. Não totalmente diferente, só um nadinha, o que torna tudo ainda mais difícil. Mas, atenção, não me estou a queixar. Escrever - a escrita ou, em termos mais gerais, essa forma de pensamento a que chamamos imaginação - é o único verdadeiro superpoder que temos".
Jacinto Lucas Pires, in Granta 5

informalidades

Não sou muito dado a formalismos ou a sociais formalidades, mas o oposto, pelo menos o extremo oposto, também me desagrada, deixa-me desconfortável e sem saber como me comportar. Isso mesmo, não sei como posicionar-me fisicamente e a reacção, irreflectida, é sempre a contracção corporal e expressiva. Passaria muito bem e melhor sem esses momentos, sempre inesperados e imprevistos, de contacto e interpelações.
Serve este prefácio, em jeito de declaração comportamental, para contextualizar a descrição de uma situação que ocorreu há poucos dias.
Participante numas jornadas sobre memória, património, arte e museus, em que se falava essencialmente do papel dos museus e das casas-museu para a preservação da memória dos indivíduos e das comunidades, assisti a uma intervenção de um ilustre autarca do norte. Enquanto o ouvi-a decidi tentar falar com ele. Aguardei-o à saída do auditório. Depois de o cumprimentar e de me identificar, comecei por fazer referência à sua intervenção e à nota por ele dita sobre a famosa empresa de turismo que opera no rio Douro. Apenas lhe referi a impressionante dimensão dessa empresa quando aquilo que vende é paisagem, um produto que existe desde sempre e que é de todos... Num tom descontraído, ele não só concordou com a minha nota, como aproveitou-a para uma inusitada e surpreendente opinião pessoal sobre as actividades praticadas por esse tipo de turismo, qualificando-as abjectamente e utilizando um vocabulário boçal e desqualificador, revelador do carácter, da estrutura e da manjedoura de onde provém. Procurei bem depressa mudar de assunto e por-me a caminho. Não me arrependi de o interpelar, mas vim embora, reflectindo sobre esta desagradável informalidade que alguns sujeitos teimam em impor na dialéctica social. Mas que raio, era a primeira vez que falava comigo; sabia lá ele quem eu era! Nada urbano este momento.

Tsipras disse...

«Nós carregamos às costas a dignidade de um povo, mas também a esperança dos povos da Europa. É carga demasiado pesada para a ignorarmos.
Não é uma questão de obsessão ideológica. É uma questão de democracia.
Não temos o direito de enterrar a democracia europeia no lugar em que nasceu.»

10 junho 2015

distorcedor

"No homem de letras, o fascínio pelos negócios e as suas aritméticas é sempre um entusiasmo inoportuno, como qualquer vocação tardia. Imagine-se uma senhora de meia-idade a ensaiar os primeiros pliés e ter-se-á ideia do ridículo a que o literato se expõe ao conferir guias de remessa ou ao calcular margens de lucro. O lugar do bibliófilo é entre livros,impraticável. Quem escreve e lê muito habitua-se a olhar para a realidade através de lentes literárias que a distorcem".
Bruno Vieira Amaral, in Granta 5

09 junho 2015

sempre um prazer


É sempre um prazer ouvir David Bowie. Esta colectânea chegou-me em forma de presente. Obrigado Daniel.

07 junho 2015

comer, brincar, escrever

"Comer tudo aquilo com que se brincou. Poderia ser uma definição da escrita. Quem sabe: tenho de comer o que escrevo, o que não escrevo devora-me. O que como não desaparece porque o como. Nem eu desapareço por ser devorada. Acontece sempre o mesmo quando, ao escrever, as palavras se transformam noutra coisa, em nome da exactidão, quando as coisas se tornam autónomas e as metáforas roubam o que não lhes pertence."
Herta Müller, in Granta 5

05 junho 2015

reflexos...

03 junho 2015

hetero-retrato


Uma querida amiga enviou-me esta imagem com a seguinte mensagem acoplada...

"Repara na imagem! Diz lá se não pensaste logo em ti……foi o que me ocorreu de imediato."

a quem interessar...


Não vou poder lá estar, mas fico feliz pela iniciativa da Academia de Letras de Trás-os-Montes. Façam o favor de adquirir e conheçam Trás-os-Montes pela escrita das nossas escritoras.

a quem interessar...

31 maio 2015

solilóquio

Olhar à volta e perceber que estamos sós. Desencaixados e sem empatias. Não me resta qualquer ilusão.

29 maio 2015

finalmente, nas bancas!

na universidade católica

Sessão de apresentação do livro "D. Manuel António Pires, história de vida de um missionário (1915-2015)", no passado dia 27 de Maio, pelas 19 horas, na Universidade Católica.



Alguns momentos dessa sessão que contou com a presença dos bispos do Porto e de Bragança-Miranda, assim como do Prof. Doutor Henrique Manuel Pereira, que fez o favor de apresentar a obra.

Intervenção:

Boa tarde,

1- Agradecimentos:

Aos presentes,

Aos membros da mesa - a D. António Francisco dos Santos, Bispo do Porto, pela sua presença, participação e pelas simpáticas palavras, a D. José Manuel Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda, pela sua presença aqui e durante todo o projecto, ao Professor Doutor Henrique Manuel Pereira, meu amigo Henrique, por nos abrir as portas desta casa, pelas palavras, pela colaboração, pelo saber e pela disponibilidade para este nosso projecto, para este livro. Grato me sinto.

Aos familiares de D. Manuel António Pires e a todos quantos participaram e informaram este trabalho.

2- Apresentação/explicação deste livro:

a. Ideia e âmbito,

b. Ponto de partida - textos manuscritos,

c. Partes que constituem o livro,

Estamos perante uma história imperfeita, porque cheia de hiatos e lapsos temporais, de uma vida longa e preenchida... O que nos levantou alguns problemas metodológicos: que fontes utilizar?, existem testemunhos contemporâneos?, como chegar às instituições da Igreja?, como suprimir as distâncias geográficas que balizaram a sua vida, a sua missão e a sua actuação?

Aquilo que fizemos, dadas as limitações e os constrangimentos existentes, foi utilizar toda a documentação e informação disponíveis para preencher os diferentes tempos de vida de D. Manuel.

3- Considerações:

Agora e depois do afastamento temporal e emocional necessários em relação ao processo de investigação e ao processos de escrita, consideramos oportuno trazer-vos algumas considerações, resultantes de alguma reflexão entretanto realizada...

a) Numa perspectiva diacrónica, podemos afirmar que a permanência e o trabalho missionário de D. Manuel António Pires em Angola e em Silva Porto se caracterizou por três ambientes distintos:

· Entre 1955, ainda Coadjutor, e 1961/62, já titular da diocese, num ambiente de paz social e política, fortemente controlado pelas forças e valores do Estado Novo;

· Entre 1961/62 e 1964, num ambiente de inquietude e sobressalto, provocados pelo terrorismo e pelos movimentos guerrilheiros que foram assediando a região;

· Entre 1974 e 1979, num ambiente de caos completo e permanente, face às destruições das guerras;

b) Ainda em diacronia, perceber como a Igreja, e em concreto a Igreja de Angola, e mais em particular, a Diocese de Silva Porto e D. Manuel, enquanto responsável máximo dessa diocese, vai adequando o seu trabalho, a sua missão, as suas preocupações, ao combate ideológico temporal da instituição da Igreja contra os seus "inimigos" ou "adversários". É perfeitamente perceptível no trabalho de D. Manuel (e provavelmente dos outros bispos contemporâneos também), através da sua correspondência, através das Cartas Pastorais, das Circulares e de artigos publicados, as suas preocupações com:

* O Protestantismo, numa primeira fase da sua estadia em Angola, em que chega a publicar a tradução de italiano para português, da obra "Comunidades dissidentes", na qual se identificam e caracterizam as comunidades não católicas existentes. Os protestantes como entidades rivais, presentes no mesmo território, mais antigos e nalguns casos com maior implementação na região, que roubavam almas ao catolicismo;

* Com a realização do Concílio Vaticano II, no qual D. Manuel participou nas suas quatro sessões, e com as conclusões do mesmo, assistimos a uma mudança de atitude e as preocupações pastorais centram-se agora no combate ao Comunismo. Verdadeira ameaça e que ocupa tempo e espaço não só a D. Manuel como à própria Igreja angolana. Isso pode ser testemunhado pelos documentos resultantes das Conferências Episcopais de Angola e S. Tomé, durante a segunda metade da década de sessenta e início da de setenta;

* Depois, com o 25 de Abril de 1974 em Portugal e a independência de Angola em 1975, assistimos a nova alteração de paradigma e nessa altura face aos ataques dos movimentos políticos angolanos, ateus, secularizantes da sociedade e do estado, a Igreja e, neste caso em concreto, D. Manuel desvaloriza o problema dos protestantes, procurando neles aliados face a esse novo inimigo comum;

* A própria Igreja em Angola procurou muito rapidamente adequar-se aos novos tempos e às novas realidades, produzindo Cartas e outros documentos onde as palavras democracia e liberdades aparecem com destaque e como grandes novidades face a discursos anteriores.

c) Numa perspectiva sincrónica, perceber como enquanto entidades estruturadoras e estruturantes do território, as dioceses eram administrativamente importantes. Eram as dioceses que estabeleciam alguma organização a grande parte do imenso território das colónias portuguesas. Eram as dioceses quem infra-estruturava muitas localidades remotas. Eram os Bispos dessas dioceses os principais responsáveis pela gestão, pela estratégia, pela política de investimentos e de localização de novas estruturas e equipamentos. Nessa qualidade, eram os Bispos dessas dioceses figuras proeminentes nas comunidades locais e nativas, e tinham um conhecimento efectivo do território e das suas realidades socio-económicas, como se calhar muitos nomeados políticos do regime não possuíam. Num período histórico de tamanha importância para as duas nações, como foi o período da revolução de Abril e da independência de Angola, os Bispos portugueses em Angola, eram figuras centrais, testemunhas privilegiadas de todo o processo.

Das leituras que fizemos e dos documentos que consultámos sobre esse período, ficámos com a sensação que nenhum desses intervenientes deu a devida importância histórica e a relevância das suas participações nesse momento do nosso passado recente. D. Manuel não deixou nada escrito sobre esses momentos, e se não fossem as duas entrevistas que deu em 1979, já em Portugal, em que se aventura num ataque cerrado e violento aos movimentos de inspiração marxista angolanos que protagonizavam a guerra pelo poder, nada saberíamos sobre a sua experiência. Mas outros Bispos portugueses que experimentaram esse período e que mais tarde passaram para o papel as suas memórias de Angola - e estou a referir-me por exemplo, a D. Manuel Nunes Gabriel, a D. Eduardo André Muaca, a D. Eurico Dias Nogueira e a D. Moysés Alves de Pinho - e nas quais recordam em pormenor muitos momentos vividos nas suas dioceses angolanas, estranhamente não ultrapassaram as notas de rodapé para se referirem ao processo de independência de Angola e às suas experiências traumáticas ou de seu conhecimento. Ficámos assim como que órfãos de um conhecimento, ou melhor, da possibilidade de um conhecimento que interessava a todos nós, ainda hoje. E com isto não estamos a criticar o referido episcopado, mas antes sim, a admitir, a assumir a plena frustração face a uma admissível expectativa pessoal.

Muito obrigado.

28 maio 2015

ainda mais presentes...


Sempre a aprender com o puto Ramon. Gracias.

presenteado

O amigo Henrique Manuel Pereira, coordenador da colecção Presbyterium, promovida pela Diocese de Bragança-Miranda, ofereceu-me este livro de Monsenhor José de Castro. Sabendo do meu interesse pela obra deste diplomata bragançano, serviu-se da data de minha cosmogonia, para mo fazer chegar às mãos. Bem haja.

25 maio 2015

convite

Porque é já depois de amanhã e eu gostava muito de lá ter comigo os meus amigos...

mini primavera sound

Ontem a tarde foi passada no Parque da Cidade, em família, a assistir aos concertos de Noiserv, B Fachada e Clã. O mais novo gostou de Clã, cuja música o entusiasmava...

23 maio 2015

solilóquio

Ficar e desistir?
Partir e acreditar?
Insistir e mudar!

19 maio 2015

agenda


...lá estaremos...

18 maio 2015

apresentação de livro...

No passado dia 14 de Maio à noite, no centro cultural de Macedo de Cavaleiros e inserido num espectáculo cultural, apresentei o meu livro. Num formato e ambiente diferentes do habitual para "apresentações de livros", estive à conversa com um jovem que fazia as honras da casa e que me foi colocando algumas questões sobre o livro. De improviso, aproveitei para passar a mensagem que importava.





75 anos de memória

Assinalaram-se, no passado dia 15 de Maio, os 75 anos do jornal Mensageiro de Bragança. Assinalável permanência no tempo, acompanhando toda a história contemporânea da região e da cidade de Bragança. Nos dias de agora, em que a efemeridade é paradigma, é de relevar a perenidade deste projecto. Parabéns. No âmbito deste aniversário, o jornal organizou um fórum: "Que futuro para o interior?". Apesar de convidado, por motivos profissionais não pude estar presente. Fica o programa desse evento e a promessa de um texto a enviar para publicação nas próximas edições do jornal.

15 maio 2015

instante urbano xxx

Chego a Bragança com o único propósito de negociar com um livreiro a venda do meu último livro. Telefono a dois amigos para um café enquanto a hora desse encontro não chega. Um e outro estão muito ocupados e não podem vir ter comigo, portanto, sento-me num café, bem no centro da cidade, onde bebo uma água bem fresca e me entretenho com a caixa de email e alguns rascunhos. Trata-se de um café com frequência regular de turistas que visitam o centro cívico e histórico de Bragança. No momento em que entro está praticamente vazio.
Passados alguns minutos, levanto o olhar e percebo que, na mesa em frente, está um casal com duas filhas, todos eles entretidos a saborear um gelado. A mãe está de frente para mim e quando cruzo o olhar com ela, instinto meu, baixo os olhos e abstraio-me novamente nos meus papeis. Passados outros tantos minutos, volto a levantar a cabeça e dou com essa mulher a olhar-me. Instintivamente baixo a cabeça, mas já não consigo ignorar o facto. Ela está fixada em mim e isso incomoda-me. Fosse eu outro e sei que existiria outra reacção, mas esta mulher está a invadir-me e eu não gosto. A solução é simples, ou sai ela ou saírei eu em breve. Saiu ela, não sem arrastar o olhar enquanto passa e abandona o estabelecimento.

12 maio 2015

agenda

É já depois de amanhã, 5ª feira, dia 14 de Maio, a partir das 21 horas. Irei a Macedo de Cavaleiros apresentar o livro "D. Manuel António Pires, história de vida de um missionário (1915-2015)", a convite de D. José Manuel Cordeiro, Bispo de Bragança, que também apresentará o seu último livro. Apareçam.

11 maio 2015

mediascape: shame on you!

"Conseguimos infligir um dano de 30 milhões de euros na companhia e penso que isso não devia ser desvalorizado pelo Governo".

Hélder Santinhos, responsável do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), em directo num qualquer canal de televisão, se não estou em erro, na passada 6ª feira, dia 8 de Maio, enquanto ainda decorria a greve dos pilotos da TAP.
Eu não sei, talvez seja um problema meu, mas ter a coragem de afirmar publicamente, com satisfação e orgulho, que o seu comportamento, a sua atitude provocou tal prejuízo à sua entidade patronal, deveria ser mais do que motivo para despedimento imediato. Dele e de toda a corja de privilegiados que se arrogam ao direito de destruir quem lhes paga o ordenado principesco.
Não quero saber da sua razão, não quero saber do real direito à greve. Neste caso, foi uma vergonha e deveria haver responsabilização e consequências drásticas para quem assim se comportou. Perderam a face e não tiveram coragem de o admitir e recuar nas suas posições, procurando sempre fugas para a frente com argumentário roto. Foi triste e infeliz a figura que este sr. piloto fez ao longo destes dez dias.


Shame on you Mr. Santinhos!

a quem interessar...

leitura de "fragmentos de unidade polifónica de Guerra Junqueiro"

No momento em que acabo de ler o livro de Henrique Manuel Pereira, recentemente lançado e que diz respeito à sua tese de doutoramento - ao qual já me referi aqui - resolvo verter para o papel algumas ideias que me assaltaram durante essa leitura.
Mas antes, quero começar por uma manifestação de condição: não conhecia, até ao presente, qualquer aspecto da vida ou obra deste ilustre transmontano de Freixo de Espada à Cinta. Este foi o primeiro contacto que fiz com o seu universo, mas posso afirmar, desde já, que não será o último e que apesar de não estar habilitado para ajuizar a obra, posso confessar que a sua leitura me motivou para conhecer melhor a personagem e procurar a sua obra.
Como é hábito nestas andanças e também pelo que atrás referi, não posso deixar de felicitar o autor, conhecido e reconhecido investigador do mundo Junqueiriano, pela obra realizada. Num trabalho de mais de 500 páginas e recheado de notas, referências e citações, somos conduzidos pela clara escrita do autor, com mestria no pormenor e/ou detalhe, com oportunismo nas etnografias e com bom gosto estético, ao longo da existência de Guerra Junqueiro. Parabéns Henrique.
Tal como já referi, não me atrevo sequer a comentar o que seja deste trabalho. No entanto, há um conjunto de ideias manifestadas e que, provavelmente, por ignorância, me chamaram a atenção e despertaram em mim aquela vontade de me pôr a caminho de...
É referida por mais do que uma vez a possibilidade de Guerra Junqueiro ser judeu. São apresentadas as opiniões de autores que ao longo dos anos reflectiram sobre essa possibilidade. Como é o caso de António Sardinha (p.245), que fazendo uma leitura ou interpretação da sua fisionomia (fenótipo), da sua moral e remetendo-o para a condição de "outro", tenta justificar a sua atitude anticlerical. O Henrique Manuel Pereira prefere relativizar a questão, pois não dispõe "de elementos probatórios que nos permitam afirmar ou negar o alegado semitismo de Guerra Junqueiro" (p.246), e logo a seguir: "sem declarada ligação aos genes..." (p.247). Associando esta dúvida aos referidos motes, chacotas, chistes, alcunhas, caricaturas ou nomeadas que visavam Guerra Junqueiro e o associavam a essa tipologia social, estereotipada, ao facto de ser oriundo de uma região que foi refúgio de várias gerações de judeus, expulsos de outros territórios, nomeadamente daquele que agora conhecemos por Espanha, não me parece de todo impossível haver uma ascendência judaica, depois convertida em Cristãos novos, vulgarmente conhecidos por Marranos, mas também por perros (dada a sua origem espanhola). Depois, acrescento a esta possibilidade a coincidente atitude "peliqueira" de Guerra Junqueiro, também característica desses povos e indivíduos Marranos (almocreves, negociantes, vendedores e regateadores nómadas que percorriam a região a comprar e a vender de tudo).
Tendo em conta a minha ignorância relativa ao universo de Junqueiro e o desconhecimento de outras obras biográficas dele, de momento não tenho como esclarecer esta questão. Pedindo desculpa pela ousadia deste raciocínio, felicito uma vez mais o meu amigo Henrique Manuel Pereira. Com a certeza que um dia destes, assim que se proporcionar, hei-de trocar estas impressões com ele.

Nota: a título informativo e para poderem conhecer melhor o universo de Guerra Junqueiro e do trabalho que o Henrique Manuel Pereira tem desenvolvido, visitem o blogue - (aqui), e o sítio web - (aqui).

05 maio 2015

mediascape: vandoma

Encontro hoje nas páginas do JN o protesto dos feirantes da feira da Vandoma junto da Câmara Municipal do Porto, contra o plano do executivo de transferir a Vandoma das Fontaínhas para a Alameda de Cartes, na zona do Cerco, em Campanhã. Leio as declarações do vereador responsável pelo departamento de Fiscalização, tentando justificar essa transferência, mas não me convencem, pois segundo as palavras desse responsável, trata-se de uma "visão abrangente de conciliar conflitos existentes". Curiosa forma de conciliação! Afastam-se os feirantes e a feira para bem longe do centro cívico e histórico da cidade, para as periferias da cidade, sem polarização e sem rede de transportes que sirvam o espaço e os feirantes. E entrega-se o espaço ao abandono?! Ou à especulação?! Durante décadas - eu sempre me lembro da feira naquele local - foi nas Fontaínhas que todos os Sábados, bem cedo e durante toda a manhã, se realizou esta feira, utilizada por muitos para comprar e vender objectos antigos, velhos ou roubados. Lembro-me de algumas histórias e episódios contados por amigos que, frequentemente, lá iam vender o que já não queriam ou servia. Tudo era objecto de venda e de compra. Tudo.
Ao saber desta ideia parva do município, vem-me ao pensamento a comparação da velha, porque antiga, feira da Vandoma e as modernas e desmaterializadas "feiras" virtuais, tipo OLX, onde tudo, mas tudo, pode também ser vendido e comprado. Não adianta lutar contra o tempo e contra a evolução dos hábitos e dos comportamentos, mas se a feira da Vandoma ainda tem feirantes - vendedores e compradores, porquê acabar com ela por decreto? Mal feito.

saber popular

Vasto conhecimento que advém da vivência quotidiana, da experimentação e que nem sempre chega a ser "senso comum", pois por várias razões não é conhecimento generalizado. Trata-se de um tipo de conhecimento muito específico e peculiar, transmitido oralmente e cujas fontes de saber estavam (e estão) na natureza, nos animais, na prática das artes e dos ofícios. Cada vez fico mais impressionado com a sabedoria daqueles que, aos olhos da actualidade letrada e burocrática, são ignorantes, analfabetos e info/tecno-excluídos.
Por estes dias, andava eu pelo monte, aproveitando os primeiros dias de luz primaveril, quando me apeteceu descansar um pouco à sombra de umas carrasqueiras no cimo de um lameiro já bem verde. Passados não muitos minutos chega-se a mim uma mulher que me cumprimenta, estranhando ver-me por ali, pergunta-me ao que ando. Respondo-lhe a todas as perguntas e já em jeito de despedida, disse-me para não ficar muito tempo assim no chão, pois posso ser mordido por um qualquer Biberon(?) ou Alicante(?). Admirado, pedi-lhe para me repetir o nome dos bichos, pois jamais ouvira falar de tais animais... Não adivinhando a sua vontade de falar, lá me explicou:
O Biberon(?) - não sei se é assim que se escreve e desconheço o seu nome certo ou técnico - é uma espécie de cobra pequena e delgada que morde com a cauda. A sua mordedura mata os animais e as pessoas, se não tiverem cuidado, também. Antigamente quando alguém era mordido, utilizava-se gordura de porco derretida com brasas sobre a mordedura e depois disso picava-se o local com agulhas, pregos ou outra coisa fina para tentar tirar o veneno. Mas era complicado, as pessoas viam-se aflitas. Todos os boieiros e pastores conheciam o perigo e tinham cuidado, mas mesmo assim, às vezes acontecia.
O Alicante(?) é uma espécie de gafanhoto e encontra-se debaixo das pedras. O seu veneno também é muito forte e atacava principalmente os animais que pastavam.
Por fim e sem me dar tempo a pegar num pedaço de papel e caneta, disse:
Se te morder o Biberon,
que te metam no caixão.
Se te morder o Lacraio
pegai na urna e levai-o.
Sempre a aprender.