29 abril 2010

instantes urbanos XI

Tendo que ir à Biblioteca Municipal do Porto, ali junto ao Jardim de Marques de Oliveira, mais (re)conhecido por S. Lázaro, consegui estacionar o carro mesmo junto ao edifício da biblioteca na Avenida de Rodrigues de Freitas, peguei na carteira e fui à máquina retirar ticket de estacionamento. Reparei que mesmo antes de sair do carro, uma fulana passa no passeio e fica declaradamente a olhar para mim. Segue mais um pouco no passeio e senta-se numa escadaria do edifício da biblioteca, continuando a olhar para mim. Como não a conhecia, ignorei-a, passei por ela e fui buscar o ticket. Quando regresso ao carro, está ela no meio do passeio com um provocatório sorriso, a olhar para mim. Pensei mesmo que iria meter conversa comigo, mas enganei-me, passei ao seu lado, pûs o papelzito no carro e lá fui à minha vida. Passadas duas boas horas de leituras e consultas bibliográficas, saí do edifício e regresso ao carro. Ao contornar a esquina da Rua de D. João IV com a Avenida de Rodrigues de Freitas, uma outra senhora que eu diria na casa dos 50 anos, ao ver-me passar, acompanha-me com o olhar e, a uma certa distância, diz:
- O senhor quer ir dar uma volta comigo até ali à pensão?
Sem suspender o meu andamento, olhei para ela e respondi-lhe: - Não, muito obrigado. Desviei o olhar e segui o meu trajecto. Para trás a deixei, mas ainda pude ouvir o comentário: - É pena... paciência.
Já no carro e a caminho do meu próximo destino (magnífica Ribeira do Porto), não pude deixar de pensar naqueles instantes... Sei há muito tempo que aqueles quarteirões entre o Jardim de S. Lázaro, o Largo do Padrão e a Rua Coelho Neto são pontos de venda de sexo, já muito por ali passei de um lado para o outro, mas nunca fui de tal forma abordado, o que me levou a conclusão de que tal atitude, invertida e agressiva, não será mais do que o reflexo da crise que se faz sentir, inclusivé no ramo do sexo.

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