Regressando ao PSD e ao seu projecto de governo e de programa, foi com um sentimento ambivalente que ouvi Pedro Passos Coelho bradar contra o Programa Nacional Novas Oportunidades, afirmando que "foi uma mega produção que mais não fez do que estar a atribuir um crédito e uma credenciação à ignorância e isso não serve a ninguém". A contundência destas palavras, independentemente da sua veracidade, não são razoáveis e manifestam desde logo um enorme desrespeito por todos os homens e todas as mulheres que encontraram neste programa a única e derradeira forma de atestar as suas competências para a vida, ou seja, conseguiram assim certificar a sua experiência de vida. Além disso, o próprio nome indica a oportunidade que a escola deve sempre dar a todos e isso parece-me muito positivo, que deve ser mantido e promovido. Portanto, este ataque a este programa em concreto não será mais do que um passo numa estratégia de esvaziamento total do ensino público e, acima de tudo, todo ele transpira a um determinante e persistente “racismo intelectual” (Bourdieu), no qual se defende a escola como espaço de exclusão, ou também uma escola e um ensino para alguns e outra escola, assistencialista, para os mais necessitados.
Por outro lado, e por muito que me custe a reconhecê-lo, não posso deixar de encontrar algum sentido nessas mesmas palavras, pois sabemos bem o investimento brutal do Estado, dispendido em recursos financeiros e humanos, se comparado com o vazio programático e o fraco grau de exigência e de esforço solicitado aos alunos. Ainda por cima, e apesar disso, permitindo a equiparação aos níveis escolares do ensino básico e secundário os seus alunos, colocando-os assim às portas das universidades. Tal como alguém, com responsabilidades na avaliação externa desse programa, a propósito me confidenciava, o problema é que as directivas centrais sempre foram no sentido de alcançar determinados objectivos quantitativos em detrimento da exigência qualitativa dos seus conteúdos, e por isso, reduziram-se a números aqueles que participaram e participam nesse programa.
Enfim, a crítica que pode ser feita ao programa será a da ligeireza e da simplicidade com que os seus alunos conseguem alcançar os objectivos e as competências solicitadas. Essa mesma crítica parece-me fazer algum sentido também em relação às políticas que têm vindo a ser implementadas pelas sucessivas equipas governativas. Mais do que um espaço de socialização, a escola deveria continuar a se o espaço, por excelência, da aprendizagem e do ensino.
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