Com a apresentação pública do programa eleitoral do PSD ficámos a saber algumas das ideias e projectos que este líder e sua equipa pretendem implementar em Portugal. Uma das medidas propostas foi a de um governo reduzido a 10 ministérios, o que em teoria me parece bem. O problema é quando Pedro Passos Coelho começa por dizer, tentando exemplicar essa redução drástica de Ministros e Secretários de Estado, que o Ministério da Cultura perderia o seu estatuto e passaria a Secretaria de Estado. Só podia. A cultura é sempre o “elo mais fraco” numa cadeia de interesses e de lógicas nacionais. De resto, e apesar de nem sempre ter merecido uma pasta e um ministro, a verdade é que foi sempre considerada o território das excentricidades, das futilidades e dos devaneios de uma elite cosmopolita e letrada. Igualmente entendida como um instrumento de domesticação ou de controlo daqueles que no discurso, na produção artística e na comunicação, se apresentassem desalinhados ou indiferentes ao mainstream vigente ou pretendido. A visão provinciana de todos os actores políticos com responsabilidade de governação impediu que algum dia houvesse uma verdadeira política para a cultura e para as artes em Portugal. A intervenção do Estado nunca foi pedagógica nem sensível à educação das sucessivas gerações de indivíduos enquanto receptores e consumidores de cultura, sustendo o seu âmbito na distribuição de apoios a instituições e autores que, à míngua de verbas e de sustento, viveram párias do parco apoio estatal. Assim, nunca poderá haver emancipação nem verdadeira produção cultural em Portugal. Mais, a particularidade desta proposta do PSD em fazer depender do próprio primeiro-ministro a secretaria de estado da cultura, espelha bem a tacanhez e o provincianismo de quem se julga preparado para nos governar.
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