30 junho 2011

sobressaltos do dia de hoje...

Primeiro:
Tinha-me deitado às seis e meia da manhã, depois de uma noite inteira a corrigir trabalhos das criancinhas, por volta das oito e qualquer coisa acordo com um grande estrondo mesmo ao lado da cama. Eram os trabalhadores que mesmo ao lado da minha janela, martelavam na parede. Não queria acreditar, mas eles também não tinham culpa e por isso, em vez de resmungar, fugi para a outra extremidade da casa e estirapei-me no sofá, onde o som se sentia menos...
Segundo:
Ainda não seriam dez da manhã quando me toca, pela primeira vez hoje, o telemóvel. Era um número desconhecido da rede 93. Do outro lado, uma voz jovem feminina que logo se identificou e eu reconheci como de uma jornalista que trabalha em Bragança. Tratando-me por tu, perguntou-me se estava a dormir. Eu, clareando a voz, disse que não. Queria saber se eu tinha alguma responsabilidade pela campanha nocturna realizada na cidade de Bragança que se traduziu na colocação de cartazes a dizer "Vende-se" nas fachadas do Tribunal, dos CTT, da CGD, e de outras instituições públicas. Eu sem sequer saber o que se passava, disse-lhe que não. Ela insistiu, querendo confirmar a minha ignorância do facto. Eu para atalhar a comunicação disse-lhe que iria procurar informações e que depois a informaria...
Terceiro:
Já no final do dia sou informado, via TV, que o nosso Primeiro Ministro vai-nos taxar o 14º mês de 2011 em 50% para compensar os desvios da execução orçamental e encaixar cerca de 800 milhões de euros. A agenda escondida do PSD começa a revelar-se e, tal como já se antevia, serão os mesmos portugueses a pagar a factura, ao mesmo tempo que os mesmos empresários, bancos e grandes empresas, são isentadas de contribuirem neste esforço nacional... que bom para eles.

28 junho 2011

jeirinhas

Nasceu em 1933 na vila de Vimioso no seio de uma família de lavradores. Filho de pai sapateiro e porque a vida era difícil, já rapazote emigra com o resto da família para o Brasil. Por lá se fez homem e casou. Em 2003 e depois de mais de cinquenta anos a trabalhar em comércios de S. Paulo, regressou para Portugal e para Bragança, onde sempre manteve uma casa.
Conheci-o nessa altura e tornamo-nos amigos. Com ele partilhei alguns bons momentos e também algumas discussões azedas. O jeirinhas, assim o tratava, ficou preso a um presente de um passado bem longínquo e nunca conviveu bem com a realidade dos dias de hoje. Era um saudosista de Salazar e do modo de vida associado à terra, da qual, curiosamente, ele próprio fugiu.
Neste momento final, recordo vários episódios daquilo que com ele partilhei, como aquele dia em que havendo um jogo de futebol na televisão ele me convidou para ir a casa dele para assistir ao jogo com ele. Como estava calor resolvi ir comprar uma garrafa de Gin e um pack de Água Tónica para bebermos durante o jogo. Ele não conhecia a bebida e, então, lá estive a preparar dois Gin-Tónicos bem gelados e com bastante limão. Ele, muito desconfiado, lá provou o Gin, mas logo fez cara feia e se arrepiou todo, dizendo: "- Caralho, mas que merda é esta, que até leva o Diabo de tão amarga?" - pois claro, o Jeirinhas gostava era de tudo bem docinho e não quis beber aquilo... Diabético de longa data, os olhos caím-lhe por doces e bolos; chegava a colocar a fruta ao sol para amadurecer mais depressa, para ficar mais quente e para ser mais doce.
O Jeirinhas gostava muito de rir e será essa a recordação que vou guardar dele, a de um amigo que nos queria sempre em sua casa a comer e a beber e, depois, sempre que possível, a rir de boca cheia. Até sempre amigo.

em portugal tem erro...

26 junho 2011

inutilizado magalhães

Até poderia já ter escrito este texto há algum tempo, mas preferi aguardar pelo final do ano lectivo para o fazer. Quando foi lançado o projecto nacional e.escolinhas, materializado através da distribuição de computadores Magalhães por todos os alunos do primeiro ciclo do ensino básico, fui um dos que achei muito interessante a ideia e a intensão do ministério, tendo mesmo chegado a escrever sobre isso. A minha filha mais velha foi uma das primeiras contempladas com um desses computadores... estava ela no início do 2º período e nós no início de 2009. Paguei a módica quantia de 50 euros pelo equipamento. A miúda gostou muito do novo brinquedo e utilizou-o muito nos primeiros meses, em casa para brincar e navegar na internet. Nunca até ao final deste ano lectivo, em que ela terminou o 4º ano do ensino básico, os seus professores lhe solicitaram que levasse o portátil para a sala de aulas e jamais foi utilizado para qualquer actividade lectiva ou não-lectiva na escola ou em casa. Foi, portanto, um projecto falhado e sem qualquer utilidade pedagógica e que mais não terá servido do que para a propaganda do então governo e para satisfazer algumas clientelas empresariais. Sobrou cá em casa um net-pc sem qualquer utilidade, que mesmo a criança já não usa, pois não satisfaz as suas necessidades. Guardado está à espera que o mais novo, um dia, reclame o seu próprio computador. Apesar de tudo, foi um bom investimento familiar.

24 junho 2011

dialéctica via sms

aluna - Olá Professor, sou uma aluna de farmácia. Gostaria de saber o que é para fazer na actividade do diário de bordo, nós temos de fazer alguma crítica ao texto?
professor - Têm que fazer uma leitura crítica e o exercício...
aluna - Mas o que entende por leitura crítica?

22 junho 2011

ideia bonita em arte...

"Torre de Babel" da artista Marta Minujin, instalação em Buenos Aires coberta com 30 mil livros escritos em diversas línguas e dialectos. Bonito.

21 junho 2011

presentes que são sempre saborosos...


...agradecido.

trabalho de campo

Nestes três primeiros dias desta semana tenho cerca de setenta alunos a realizar trabalho de campo no concelho de Vila Nova de Gaia e eu tenho-os acompanhado. São sempre dias difíceis e cansativos, mas são igualmente dias alegres. No meio de toda a agitação e de todo o stress do trânsito, dou comigo a reviver velhos tempos de trabalho na domp. Permanentemente ao telefone e tentando encontrar os alunos em cada esquina de lugares desconhecidos, labirinticos e confusos... hoje uma tarefa bem mais simplificada pelo auxílio da tecnologia do GPS - ela própria uma excelente ferramenta para o trabalho de campo antropológico - não posso deixar de admitir que gosto dessas sensações e de todo esse ambiente. Realmente fazer trabalho de campo (sempre antropológico) é bom; poder ensinar os métodos, as técnicas e as ferramentas que nos podem equipar para o terreno é excelente; poder levar jovens alunos, acabados de sair do "infantário" e mostrar-lhes a praxis é do melhor. Mesmo.

16 junho 2011

discurso do medo

Da reflexão que tenho feito acerca do resultado das eleições legislativas de 5 de Junho, sobressai a ideia de que quem ganhou foi o discurso do medo. Para além de todas as leituras partidárias que já foram produzidas e de todas as leituras políticas que estão ainda a ser manifestadas, irei aqui reflectir em "voz alta" acerca da representações sociais e simbólicas desse discurso medroso (sim, também merdoso...).
Pressupostos:
a) Parte considerável da população portuguesa vive directa ou inderectamente dependente do Estado e suas participações, sejam funcionários públicos, pensionistas e reformados, estudantes, forças armadas, etc.;
b) Os dados tornados públicos relativos ao endividamento dos portugueses e das famílias portuguesas, demonstram uma forte apetência para comprarem dinheiro e se endividarem por períodos consideráveis;
c) O crédito mal parado tem vindo a crescer nos últimos anos, demonstrando a falta de capacidade (vontade) dos portugueses para cumprirem os seus compromissos;
d) Mesmo num péssimo contexto económico, muitos portugueses teimam em endividar-se para adquirirem tudo e o mais insignificante;
Tendo como aceitáveis e verosímeis estes pressupostos relativos à caracterização da sociedade portuguesa, e recordando os diferentes discursos produzidos pelos diferentes partidos, parece-me mais do que lógico e evidente que os portugueses, enquanto eleitores, aderiram rapidamente ao discurso daqueles que garantiram que, pelo menos a curto prazo, não iria faltar o dinheiro para as suas pensões e ordenados. Saber quem vai pagar os juros e que juros se vão pagar, não interessa aos portugueses, pois estão já habituados a pagar juros até para comer e vestir e, também, estão já habituados a pedir dinheiro e a não pagá-lo. Considero que é uma atitude mais do que legítima e que os partidos vencedores souberam aproveitar essa pressão, real ou não, mas que acabou por espelhar as necessidades imediatas dos portugueses, logo, tornou-se proveitosa eleitoralmente. Aqueles que teimaram em enfatizar a questão dos juros agiotas e a ocupação ilegítima das instâncias estrangeiras, foram totalmente derrotados.
Por fim, afirmar a minha total discordância pela centralidade e importância concedida à economia e à finança. Nestes últimos meses, anos, nada existe para além dessas duas grandes ciências exactas - grande ironia... "exactas". Erradamente a dimensão humanista desapareceu da praxis político-partidária. A política e os partidos foram colonizados por tais especialistas e depois, quando a coisa corre mal, é o medo. Medricas.

13 junho 2011

a tempestade perfeita

Não sou nada dado a estas questões da macro-economia e da macro-finança, mas hoje, enquanto viajava no meu carro, ouvi na rádio que o "guru" da economia mundial, Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova Iorque e que foi um dos poucos a prever a crise financeira de 2007-2009, defende que estão criadas as condições para termos a tempestade perfeita em 2013. Isto claro, referindo-se à bancarrota do sistema financeiro e económico actual. Roubini diz que não acredita que os planos dos Estados para salvarem os sistemas bancários resolva a situação, pois esses planos são delineados pelos banqueiros e gestores desses mesmos bancos e segundo os seus interesses muito particulares e os dos seus accionistas. Assim, não adianta os Estados injectarem dinheiro sem fim no sistema bancário, pois ele não vai servir para mais nada a não ser para recompensar os prejuízos de apenas alguns. Primeiro, defende o professor, seria necessário sanear as administrações dos bancos, responsabilizá-las e puni-las. Estaremos então a viver a maior recessão económica das nossas vidas e as soluções apresentadas só virão agravar ainda mais a situação de cada Estado e de cada contribuinte. Em causa estará o fim do próprio paradigma capitalista. Se assim será ou não, não sei, nem estou habilitado para o vir a saber. Custa-me saber que isso possa ser verdade e os nossos governantes em vez de arrepiarem caminho, preferem caminhar para o centro da tempestade. É pena.

12 junho 2011

devir histórico

Olho para as nossas crianças e revejo-nos a todos, há cinco, há dez, há vinte e até mais anos atrás. Quem nesse tempo diria o que haveria de vir? Que alegria termos todos chegado até aqui. Muitos poderão dizer que é a vida e que nada de novo, que apenas estaremos a cumprir o nosso devir... Verdade, mas isso, o que já me foi permitido viver, reflecte-se agora naqueles que conseguimos conceber. O que resta, não sei, nem sequer consigo alcançar o que poderemos ainda conviver e partilhar. Sei que vos quero continuar a sentir bem perto de mim: poder falar-vos, poder tocar-vos. E sempre sem pressa, continuemos.

sem mudar nada...

09 junho 2011

solilóquio

Muito provavelmente não entenderão estas palavras, mas garanto que nos próximos dias poderão percebê-las: Não sei que fado é este do BE com os seus independentes!?... Já são casos a mais... e nenhum deles resulta... será legitimo perguntar porquê.

08 junho 2011

educação ou a falta dela...

Não vou escrever sobre Antropologia, mas vou referir-me à sala de aulas. Desde 1999 que frequento, ainda que intermitentemente ou a espaços, o ambiente de sala de aulas e, portanto, estou bem ambientado com as diferenças geracionais, naquilo que diz respeito às atitudes e aos modos. Que os alunos me tratem por "stôr" eu posso tolerar, pois afinal são miúdos que ainda agora saíram do Secundário, mas aquilo que me tem custado e muito, é o facto de esses mesmos alunos entrarem e saírem da sala de aulas sem pronunciarem uma única palavra ao seu professor. Claro que há uma ou outra excepção.
Bem sei que com o "formato Bolonha" tornou-se facultativa a assistência às aulas teóricas, mas esta atitude nada tem a ver com Bolonha, é pura e simplesmente uma questão de educação. Mas onde é que eu conseguia entrar e sair de uma sala de aulas sem pedir licença ou pedir para sair!?... Não quero sequer imaginar que os meus filhos possam um dia assim fazer...
Curiosidade e que reforça este meu sentimento, foi a consideração de uma aluna, que num exercício de observação - sobre o facto ou elemento mais estranho observado no intervalo - referiu a atitude do professor, que ao chegar a uma porta, abriu-a e deixou passar todas as alunas à sua frente... Disse ela que achou estranho, pois não está habituada a esse tipo de comportamento (!?).
É, na verdade, uma questão de educação ou da falta dela...

07 junho 2011

dialécticas

As agora denominadas unidades curriculares, que eram no meu tempo reconhecidas como cadeiras ou disciplinas, que lecciono são fortemente constituídas por conceitos e matérias antropológicas, tanto nas aulas teóricas como nas aulas práticas (trabalho de campo), o que faz com que me sinta motivado e entusiasmado para cada uma das aulas, que me entusiasme na conversação e na apresentação dos variados assuntos. No entanto, do ponto de vista dos meus interlocutores, que da Antropologia praticamente nunca ouviram relato, o que mais querem e gostam é distância. E vê-los ali à minha frente a ouvirem-me, cada expressão facial deles é um vazio de desencontro de interesses. Percebo nas suas expressões a estranheza perante alguém que se apresenta como antropocoiso e que fala, entusiasmado, sobre assuntos que jamais eles vão querer saber ou sequer conhecer. A verdade é que me sinto bem, confortável e elogiado perante esse incomodo deles.

este mês mais tarde do que o habitual...

03 junho 2011

declaração de voto

Sendo o último dia em que nos é permitido manifestar o nosso sentido de voto, aqui fica a declaração antecipada ao voto: Vou votar em João Semedo, Catarina Martins e José Soeiro. Para eleger os três, no mínimo.

ideias soltas a propósito da campanha eleitoral

Desde o momento que se soube a data destas eleições legislativas que eu disse que era uma péssima altura para acontecerem. Sei lá, algo me dizia que não era bom irmos para eleições nesta altura. Enfim, aconteceu e agora chegamos ao último dia de campanha. Se correu bem ou não, dependerá sempre da perspectiva, mas em termos gerais, não me parece que tenha sido sequer uma campanha esclarecedora. Falou-se de tudo e não se falou de nada. Pareceu-me um delírio colectivo dos partidos e, principalmente, da comunicação social que insistiu em transmitir momentos de autêntico vazio informativo, reforçando assim, a importância desse devaneio dos principais partidos e seus líderes. Falar das sondagens e dos números apresentados ao longo destes dias é também falar de um estado alterado de consciência, pois não me parece que no dia 5 o resultado das eleições sequer se aproxime de muitas das previsões. Pensar que o PS possa ganhar as eleições é delírio, pensar que o CDS possa chegar aos 15 % ou mais é delírio, pensar que o BE possa ter 4 % ou menos é delírio. O PSD vai ganhar confortavelmente e vai formar governo. Pena tenho que leve consigo o CDS e Paulo Portas, que não fez mais do que andar de pés em bico o tempo todo, dizendo que é sério, é trabalhador e que, acima de tudo, os portugueses devem premiar o mérito. O que é isso do mérito em política!? O que fez ele de meritório a não ser ter contribuido para estarmos como estamos?
Entretanto, as sondagens dão ao meu espaço político não mais de 6 a 7 %. Parece-me pouco, muito pouco. Por outro lado, e não tendo eu praticamente participado na campanha, aquilo que fui apreciando foi um partido sem ânimo, sem grande vivacidade, tão característico em momentos anteriores. Parecem-me derrotados à partida e isso é mau, muito mau. Espero estar enganado, muito enganado, mas temo muito o resultado da noite de Domingo. Gostaria aqui de dizer que espero e conto com um reforço da votação e da representação no parlamento, mas não acredito nisso, nem me parece razoável dizê-lo. Veremos. Foram umas eleições tristes e pouco saudáveis, bem sintomáticas do estado actual da nossa sociedade.

01 junho 2011

prémio príncipe das astúrias das letras

O prémio Príncipe das Astúrias das letras em 2011 foi atribuido ao grande e universal poeta Leonard Cohen, que se estreou em 1956 com o livro "Let us compare mythologies". Muito bem escolhido.