28 outubro 2011

portismos, eufemismos e outros ismos...

Eu sou do Porto (FCP) desde pequenino. Sim, com propriedade, posso afirmar que desde que tenho consciência de mim (I, Me and Myself) sempre me identifiquei como portista. O primeiro grande momento que recordo é a final da Taça das Taças que o FCP perdeu para a Juventus em 1984. Ainda me lembro de, no início da década de oitenta, ver na TV e ouvir no Rádio nomes de jogadores como: Romeu, Oliveira, Vieirinha, Fonseca, Rodolfo, Gabriel, Simões, Freitas, Murça e o, para mim grande, Costa.
As primeiras vezes que fui ao estádio das Antas ainda era miúdo e ele ainda não tinha sofrido o rebaixamento das bancadas (1986) e – não tenho a certeza, mas penso que ainda tinha a pista de ciclismo - lembro-me bem de, por ser criança, poder circular por todas as bancadas: dos peões nas superiores, ao relvado em frente à bancada central, onde a criançada jogava à bola, sonhando um dia poder ser um craque do Porto, até aos cativos, onde entrávamos à socapa, entre as pernas dos adultos.
Esta liberdade, estranha para quem conhece os meus pais, decorreu do facto de um vizinho à época, o Sr. Pereira, ser um fervoroso adepto e a determinada altura, percebendo o meu entusiasmo pelo Porto, pediu autorização ao meu pai para me levar com ele e com o filho dele, o Paulo, que tinha a minha idade. A partir daí passei a ir quase sempre com eles. Foi assim que me associei. Eles já eram sócios e como a quota para as crianças era barata, o meu pai lá acedeu. Tornei-me sócio de bancada pela primeira vez, se não estou em erro, em 1985. Nessa altura ia ao estádio sempre que havia bola, ainda que fosse de andebol, de basquetebol, ou mesmo de hóquei em patins.
No ano de 1987 em que o FCP conquistou a Taça dos Campeões Europeus, fui ao estádio assistir a todos os jogos desse magnífico trajecto que terminou em Viena. Recordo como se hoje, o brilho das camisolas dos jogadores do Dínamo de Kiev, à época um clube muito respeitado na Europa do futebol. No final dessa época e perante tamanho incremento desportivo e consequente euforia, eu e o Paulo, por iniciativa dele – aliás, era tudo e sempre iniciativa do Paulo… - inscrevemo-nos como Super Dragões, para assim podermos entrar de graça no estádio das Antas, por uma “porta exclusiva” aos associados dessa claque e para podermos viajar com a equipa a preços reduzidos, eu diria mesmo, insignificantes – a esta parte os meus pais nunca acharam grande piada. Assim embarquei eu em autênticas cruzadas à conquista dos territórios inimigos. E que cruzadas! Estive lá, participei ou testemunhei (n)aquilo que jamais imaginara ser real ou existir. Regressei sempre.
Com o passar dos anos e à medida que outros interesses e distracções foram surgindo, o meu clubismo funcional perdeu vigor e entusiasmo. Deixei de ir assiduamente ao estádio e deixei de pagar as quotas, se não estou confundido, algures em 1992 – que pena não ter a vinheta no cartão de sócio… Esse afastamento físico não significou o esquecimento ou abandono da “tribo”, mas transformou-se num sentimento de pertença mais adulto, mais racional a um clube e a uma narrativa que se afirmava como bairrista e regionalista, que muitos entendiam como negativa e socialmente perigosa, mas que para mim e para os adeptos e simpatizantes do clube e da própria região era límpido e, qual contra-cultura, combatia a hegemonia e centralismo do Benfica e da própria capital.
Assim permaneci até 2003, altura em que voltei a inscrever-me como associado. Uma vez mais numa altura em que se avizinhavam grandes feitos e grandes alegrias. A final da Taça UEFA foi em Sevilha e eu na altura estava em Vinhais a dar aulas. O núcleo portista reuniu-se num restaurante para assistir ao jogo e depois de intensa ansiedade e sofrimento, que alegria… Em 2004 foi a vez de conquistar a Liga dos Campeões Europeus, a 26 de Maio festejei como nunca o meu aniversário, no café Penedo em Valadares. Entretanto, em Julho de 2005 deixei novamente de pagar as quotas, e desta vez foram razões meramente económicas a exigir a renúncia ao prazer de estar e sentir as vibrações in loco. Paciência.
Até hoje, nunca mais voltei a associar-me, pois entendi que o esforço financeiro seria enorme e não se justificaria pagar os valores exigidos pela actual indústria do futebol. Esta consciência de que houve uma evolução impressionante no mundo do futebol e que de actividade desportiva e clubística se transformou numa actividade eminentemente financeira, difusa, de activos e passivos, de cotações e de sociedades anónimas, de saldos e exercícios, permitiram-me adaptar à nova realidade do futebol e, em particular do meu clube. Sem perder o Norte, ou seja, querer sempre a vitória, sempre, importa entender que mais importante do que qualquer actor ou interveniente, importa o clube, importará vencer, sempre vencer, ganhar, sempre ganhar. Foi à luz desta candeia que percebi, aceitei e apoiei a saída de Mourinho em 2004; foi à luz dessa mesma candeia que, apesar de não ter gostado, percebi a necessidade de Villas-Boas sair. Afinal que mais poderiam estes dois ganhadores acrescentar ao FCP!? Nada ou quase. Sempre gostei da ideia ou do estereótipo de “jogador à Porto”, ambicioso, lutador, fiel e conquistador. Mourinho e Villas-Boas encarnaram e representaram excelentemente essa personagem. Ganharam para o Porto o que havia a ganhar e como nunca havia sido ganho. Sem grandes mesuras, reconhecido estou a ambos. Foram embora, boa viagem e boa sorte. O Porto, o meu Porto continua o mesmo e continua a querer ganhar. É o importante para mim. Sinto-me confortável com essa circunstância e ao sentir que assim é.
A mesma candeia que me tem iluminado, não me permite alcançar o sentimento de alguns, se calhar muitos, adeptos e simpatizantes do Porto em relação a esses dois treinadores. Que ilusões poderiam ter em relação a eles. Que iriam ficar no clube ad eternum(!?) Sendo ou não adeptos do FCP, acima de tudo são profissionais e precisam de ambição de ganhar e de conquistar para terem sucesso desportivo e, principalmente, reconhecimento, fama e dinheiro. Lembrem-se da tal indústria, pois é ela a ditar as suas leis. Juras de eterno amor e fidelidade, isso é para nós, para os crentes e para os adeptos. Confesso que me custa a perceber como é que em pleno século XXI havia, há(?), encantamentos ou dogmas clubísticos. Reacções, discursos ou palavras que não revelam mais do que um desencantamento virginal e ofendido. Enfim.
Tenho ido ao Dragão regularmente, por convite ou por iniciativa própria e nada, absolutamente nada, no meu fervor clubista se alterou. Este sentimento, mais próximo ou mais longínquo, mais ou menos alegre, mais ou menos satisfeito, está cá e, sei, por aqui permanecerá sempre. Ninguém o reclamará. Estando consciente das perigosas significâncias latentes de todos os “ismos”, por oposição eterna ao Benfica – e não ao Sul, outrora terras de Belzebus e de Infiéis – mantenho o meu propósito de vida: ver sempre o Benfica a perder e, se possível, a ser humilhado, seja com quem for e onde for e, depois, espero viver e poder celebrar o meu Porto como a equipa com mais campeonatos nacionais conquistados. Já faltou muito mais tempo e eu estava lá, estava aqui. Assim.

27 outubro 2011

ambiguidade

O desconforto de um recanto aconchegante ou o aconchego de um recanto desconfortável...

23 outubro 2011

húmidas saudades

Finalmente chegados a um dia de invernia, e depois de mais de seis meses de temperaturas tropicais e ambientes estivais, foi ver toda a gente a cobrir-se dos pés à cabeça com peles e mantas, há muito guardadas nas arcas e/ou arrumadas nos roupeiros e protegidas com a eterna naftalina, para sairem à rua, ainda que sem qualquer destino ou propósito, apenas para sentirem o ar fresco e a humidade no corpo. E com que alegria se faziam abrigar debaixo dos guarda-chuvas, ainda empoeirados, pelos passeios molhados e escorregadios da cidade. Neste Domingo, muitos terão saído de casa apenas por saudade do tempo frio e húmido. Quanto a mim, satisfeito estou também, e isso reflectiu-se no humor e na disposição. Afinal, estávamos era todos ansiosos pela chegada do frio e da chuva. Bem haja e por muito tempo.

22 outubro 2011

já demoravam...

Não sou um leitor habitual de São José Almeida. Aliás, raramente perco mais tempo do que ler as suas palavras "gordas". Mas hoje, esta colaboradora do jornal Público, fez-me lê-la do princípio ao fim e, aí chegado, considerar que tem razão naquilo que escreve. Mais, inaugura (pelo menos para as minhas leituras) um novo tema que, a seu e breve tempo, será uma inevitabilidade para o bem da nação, mas que por hora ainda é tabu. A escravidão. Desassombradamente falemos dessa solução como um dos objectivos últimos das forças que nos governam. Será para isso que cá estão...

17 outubro 2011

coincidências de escroto

Fotografia (copiada deste lugar) do momento da detenção de manifestantes em Roma, no passado Sábado. Aquele modelo de botas deve ser um sucesso lá por terras de Augusto César, que é como quem diz, de Sílvio Berlusconi... Coincidências entre polícias e ladrões!?...

desglobalização

Pois é um palavrão e ainda muitos dos profetas Keynesianos nem sequer querem ouvir falar dele. Aqui e acolá começa-se a tentar abordar o tema, ainda que teorica e academicamente. Quando estive pela última vez nas cadeiras de aluno na universidade, ensinaram-me tudo o que havia para saber sobre os movimentos globalizantes e globalizadores e de como estes promovem diferentes e vários localismos. Será agora fascinante poder abordar o percurso inverso desses mesmos movimentos...
Por cá não é fácil encontrar quem discorra sobre estes cenários e a imprensa está demasiadamente hipnotizada pela retórica do Gaspar ministro. É por essas e outras mais que continuo a ser um comprador e leitor assíduo da edição portuguesa do Le Monde Diplomatique. Neste caso, Jean-Marie Harribey apresenta-nos um caminho alternativo para sairmos da crise. Esse caminho poderia ser "aquilo que se chama alterglobalismo, que não abandona rigorosamente nada da crítica da globalização, mas não recomenda o seu aparente oposto."

(A digitalização possível do Le Monde Diplomatique edição portuguesa, Outubro 2011)

16 outubro 2011

vozes de crianças que ressoam...

Hoje viajei no tempo, literalmente. Não sonhei, não experimentei qualquer estado alterado de consciência, não acordei. Regressei, pura e simplesmente, à minha infância e aos lugares que, enquanto menino, vivi e experimentei. Esse tempo e espaço que um dia cristalizei na minha memória. Em cada rosto que revi, reencontrei as crianças que fomos. Não me esqueci de nenhuma delas. Reconheci-as pelo nome e, tal, alguns surpreendeu. Estranharam falar-lhes pelo nome. Claro, ali era eu o estranho e isso, compreensivamente, percebeu-se na expressão de alguns.
São duas da madrugada dessa mesma noite e tenho por companhia um Logan e, nos ouvidos, os Elbow que me vão embalando a escrita, cantando “on a day like this” e “friends of ours”. Segredei ao ouvido de alguns que aqui estaria. Estou. Escrever aquilo que aconteceu não será necessário, importará registar aquilo que trouxe comigo. Qualquer coisa como me terem trazido, gratuitamente, directamente da década de oitenta, pedaços de mim, de nós.
Com pena minha alguns faltaram. Rapazes e raparigas que farão sempre parte dessa rua, desse passado comum. E que serão sempre miúdos para mim. O tempo e a vida de cada um seguiu os seus cambiantes e não deixa de ser impressionante como as memórias de cada um coincidem, passados tantos anos, com a memória de tantos outros. Isso será tanto mais perturbador quanto reflectirmos sobre a improbabilidade deste encontro: nada, mas mesmo nada, faria pressentir para o meu presente, um encontro desta natureza. Mais, guardo comigo a vontade e o interesse demonstrado e percebido por todos para estar. Trouxe para mim a saudade e o carinho renovado de uma nostalgia amarga. Que bom.
Dizer-vos que, afinal de contas, e depois de todos ou quase termos deixado a rua, ainda por lá andamos a jogar à bola ou ao trinca-cevada, as nossas vozes ainda ressoam pelos pátios e pelo pinhal onde brincámos e crescemos. Foi bom estar convosco. Obrigado. Havemos de voltar, estou certo.
Uma mágoa final… não ter levado comigo o irmão mais novo. Afinal, teria feito todo o sentido lá ter estado também.

a minha manifestação foi esta...

Foi no Porto e foi assim.

13 outubro 2011

a luta...

Ou nós ou eles! Agora é de vez!

declaração de guerra

Ainda em estado de recobro depois do anúncio de Orçamento de Estado para 2012, venho aqui manifestar a minha indignação. Aquilo que Passos Coelho fez foi declarar guerra aos portugueses e em particular a mim e à minha família. Como tal e ofendido que estou, informo que passarei a um outro estado de existência, que se traduzirá numa radicalização de discurso e de comportamento. Desde logo, começarei por participar no próximo dia 15 no protesto nacional e internacional, esperando sempre que também aí se possa radicalizar a resposta à provocação de quem nos governa. Depois, deixarei de contribuir activamente para o bem colectivo, abandonando a atitude consumista e deixando de pagar todos os impostos que puder não pagar. E mais, mas preciso de tempo para reflectir e planear a minha guerrilha. Foda-se.

A minha primeira compra na loja do iTunes



Muito bom este último álbum de P J Harvey. Boa compra.

movimentos nostálgicos

Senti acrescida dificuldade para escolher o título daquilo que agora escrevo e só depois de abundante hesitação o fiz. Para dizer a verdade não sei muito bem como exprimir aquilo que pretendo transmitir. Não sei se será das cambalhotas, pinos e piruetas climatéricas, se será da crise económica e social, se será da depressão colectiva para onde nos empurraram, ou se de um receio mais profundo (consciente ou inconsciente) de que não haverá futuro, mas sinto-me rodeado de iniciativas recordatórias e celebrações ao passado. Não percebo muito bem a simultaneidade das várias iniciativas... serão apenas coincidências ou haverá algo maior e inatingível a alavancar tais movimentos!? Sei que não me sinto atraído por grande parte dessas iniciativas (para além dos revivalismos, fazem-me sempre lembrar os encontros e confraternizações dos combatentes do ultramar...), pois esses pretéritos, alguns dos quais também são meus, lá estão, ninguém os reclamará. Para o presente pude/consegui trazer alguns pedaços desses passados, que se materializam e celebram na convivência com alguns daqueles e algumas daquelas que estiveram lá. Assim é e é suficiente. Consciente nostálgico também sou (chegaram até a chamar-me "romântico") e assim sendo, permito-me, de quando em vez, procurar e reviver partes desses tempos idos. Assim será, com grande espectativa e alguma ansiedade, nos próximos dias.

09 outubro 2011

madeira

Hoje é o dia em que os madeirenses estão a escolher um novo governo regional e isto num ambiente social, político e económico muito tenso. O meu sentimento é de total indiferença perante os resultados mais do que previsíveis e que dentro de alguns minutos serão conhecidos. Nada mudará no dia de amanhã, mas também sei que nada será como até hoje. Aquilo que aconteceu com as contas e com a omissão na prestação das mesmas é de uma gravidade que não imagino possivel num país que se possa assim denominar e caracterizar.
Visitei a ilha da Madeira uma única vez, em 2005 ou 2006 e como turista, e de facto, a ilha tem paisagens e lugares lindíssimos, mas ao mesmo tempo, apresenta-se completamente descaracterizada pela intensa construção e pelas impensáveis obras de arte viárias. Mais recentemente, quando a ilha foi fustigada pelo temporal de Fevereiro de 2010, criou-se e bem um sentimento de solidariedade nacional para a recuperação e reconstrução da ilha. Agora, com o caso da omissão da dívida pública da região, veio-se a saber as verdadeiras intensões dos seus governantes: má-fé e desrespeito para com a república portuguesa.
Num país a sério, respeitado e respeitável, isto não seria tolerado. Jamais um governante com uma conduta destas, de ocultação e de engano, seria reeleito para o mesmo cargo.
A Madeira é uma caricatura de si própria e contamina por demais a imagem de todo o Portugal. A chantagem e a ameaça do seu lider com a promoção de independência só deveria merecer uma resposta de Lisboa. Dar-lhes a independência. Se a mim me perguntassem, seria de graça. Então depois seria possivel ir visitar esse país exótico e, com direito, nomeá-lo de república das bananas.

02 outubro 2011

LER

Vamos lê-la.