---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
31 maio 2012
abertura...
Não sei em que Natal ou aniversário o tio mais novo da minha filha lhe ofereceu o jogo "The Beatles rockband" para a playstation 3. Sei que cada vez que ela joga e eu estou por perto, fico fascinado com o genérico inicial, que funciona como que uma abertura para o espectáculo que a seguir cada jogador poderá experimentar e ser o artista principal. Cada vez que ela joga, eu para além de aumentar estupidamente o som da televisão, repito uma ou mais vezes... Experimentem.
26 maio 2012
"...entas"
Entrei hoje, oficialmente, no última ano dos trintas. Esse facto foi assinalado por aqueles que me rodeiam e que, de uma forma ou de outra, de mim gostam; fui agraciado e presenteado; estive com o pequeno núcleo familiar que, diga-se a propósito e como podem constatar na fotografia, está a crescer e de pequeno tem cada vez menos... Passei assim um bom dia, tranquilo e farto de coisas boas. Muito obrigado a todos e a todas que hoje estiveram comigo. Apesar de considerar que, tecnicamente, experimento já o quadragésimo ano da minha ontologia, houve hoje uma recorrente e transversal afirmação que guardei com especial cuidado: - Estás quase a entrar nos "entas"... E de lá não sais mais...
Pois é verdade e tenho perfeita consciência desse facto. Consigo encará-lo com tranquilidade, apesar de sentir todos dias o peso do tempo que passa e com ele a minha vida. Venham então esses próximos 365 dias que serão, concerteza, um instante desse tempo maior que é a vida. O resto não sei, nem vivo muito preocupado com o que poderá vir a ser. Agora, venham esses "entas" com força e, já agora, que sejam pelo menos alguns e bons. Tenho dito.
22 maio 2012
sem pré-aviso...
A notícia chega sempre num sobressalto e apanha-nos sempre e irremediavelmente impreparados e surpresos. Tudo começa por ser não mais do que um boato, sujeito a novas e outras informações e confirmações, mas desde logo anunciam uma tragédia. Principalmente quando se sabe que a vida ainda poderia ser vida e, por mote próprio, se antecipa esse fim. É triste, sempre e muito triste, mas compreensível quando essa vida degenera e se torna insuportável e inviável. Aceito esse livre-arbítrio.
Revista Brigantia
(capa revista nº 0 de 1981)
Não
percebo porque é que deixaram de publicar a Revista Brigantia. É que já desde
2008-2009 não sai nenhum número e, por mais que questione e procure respostas,
ninguém me dá qualquer justificação minimamente razoável para este longo
interregno. Desapareceu, extinguiu-se, ou melhor, extinguiram-na, desistiram
dela?!...
Nos
últimos meses tenho conversado e questionado alguns dos intervenientes que
julgo terem alguma responsabilidade pela sua existência e publicação e aquilo
que tenho conseguido são não-respostas, ou seja, a negação da sua extinção, por
um lado, e a desresponsabilização, por outro lado. Inaceitável e a dúvida
persiste: Porquê?
Numa
destas últimas semanas, o Jornal Nordeste trazia-nos uma pequena notícia,
assinada por Marisa Santos, acerca de uma reunião da Assembleia Distrital de
Bragança (ADB), proprietária da revista, e da vontade desta em manter a
Brigantia. Muito bem, terão pensado muitos dos leitores e diria eu, se me
limitasse às letras gordas, mas a verdade é que a actual ADB parece não
compreender a importância e o valor de uma publicação como a Brigantia e, ao
contrário do que afirma o presidente da ADB, não “é preciso prestigiar a Brigantia”, pois ela sempre foi uma revista
com prestígio e reconhecida, não só pelas comunidades da região, como por
inúmeros investigadores, estudantes e estudiosos, em Portugal e no estrangeiro,
que a ela recorriam não só como fonte de informação e conhecimento, como também
enquanto acervo de um saber multidisciplinar acerca da região, e também como
espaço para publicação da produção académica ou outra. Mesmo em tempos mais
recentes, com uma edição muito intermitente e sem qualquer regularidade, a
revista mereceu a referência em inúmeros estudos, investigações e publicações.
Não saber ou não ter consciência disto é não merecer o legado recebido daqueles
que, concerteza, com maior dificuldade conseguiram construir este projecto.
Relembro as palavras iniciais, escritas pelo seu mentor e dinamizador, o Dr.
Belarmino Afonso, no volume I - No 0 de 1981: "Brigantia é uma revista nova. (...) Tentará veicular tudo o que é
reflexo do trabalho criador do homem das terras nordestinas. O social ou o
económico, o religioso e o artístico, o arqueológico e o etnográfico, bem como
outros campos da cultura regional, são aspectos complementares da realidade
cultural humana que é necessário analisar. (...) Mais do que um simples registo
documental, pretende criar um espaço de vida e reflexão." A triste
realidade da revista, nos seus últimos anos de publicação e por
responsabilidade desta ADB, é que perdeu essa vivacidade - veja-se a diminuição
de números de revistas publicadas por ano - e adquiriu um carácter eminentemente
monográfico e dedicado à efeméride.
É
por ter consciência dessa sua condição precária e considerar que, apesar de
tudo, não só há espaço editorial, como haverá sempre conteúdos e receptividade
por parte de diferentes "públicos" e "autores", que
considero inaceitável que se deixe desaparecer a única publicação cultural,
digna desse nome e com cerca de trinta anos de existência. Importa aqui uma
referência aos vários projectos editoriais que foram surgindo na região e que,
numa outra dimensão e num outro universo, foram, são e serão sempre mais-valias
para o reconhecimento da região transmontana.
É
lamentável e triste que a ADB, enquanto sua proprietária, constituída pelos
autarcas eleitos na região e que tanto investem anualmente em iniciativas de
caracter etnográfico, recreativo e cultural, muitas vezes iniciativas de valor
duvidoso, não consiga dispender a verba relativamente pequena necessária para a
regularidade editorial da Brigantia.
Olhando
para a história desta revista podemos verificar como durante muito tempo foram
editados entre dois a quatro números por ano e que, à medida que nos aproximamos
do presente, esse número passou a um único anual. O último volume correspondeu
a dois anos (2008 e 2009). Mas a questão central, quanto a mim, não é o número
de revistas publicadas, mas sim o formato e o modelo de gestão, ou se
preferirem, de propriedade da mesma. Concerteza, na época em que foi lançada a
revista - 1981, faria todo o sentido a proprietária da mesma ser a ADB, mas
actualmente não me parece que esse seja o melhor modelo de gestão, pois,
parafraseando o actual presidente da ADB, não será a revista, mas sim a própria
ADB quem precisa de credibilidade; não será a revista Brigantia mas sim a ADB
quem sofre de anacronismos...
Não
se percebe o desinteresse dos ilustres membros da ADB pela revista. Não se
percebe porque deixaram de contribuir com a sua parte para a sua edição. Assim
como não se percebe que, tendo havido financiamento para a publicação, ela não
se concretizasse.
Mais do que ficar calado ou proferir gratuitas
criticas, importa-me alertar as consciências e contribuir positivamente para
que a revista ressurja. Assim sendo e tal como já sugeri anteriormente, há que
procurar novas formas de financiamento, novas parcerias, novas colaborações,
novos formatos de edição. Uma segunda vida para a Brigantia precisa-se para que
possa "ser um encontro de pessoas
com perspectivas diferentes, mas enriquecedoras de uma única realidade cultural
de que somos portadores conscientes." (Belarmino Afonso em 1981).
(texto enviado para o Jornal Nordeste)
15 maio 2012
"ocupar o comum"
Na edição do mês de Maio do Le Monde Diplomatique - Edição Portuguesa, Sandra Monteiro escreve um excelente artigo que entendo como explicação para tudo aquilo que tem sido o discurso da "crise" enquanto agenda de uma lógica neoliberal e de perseguição à dimensão pública dos estados e das sociedades ocidentais. Já o li no início do mês, mas para o referir precisava de escrever algumas citações e por isso aguardei até estar disponível na sua integridade. Aqui fica, ou então na sua versão original:
Para os defensores do neoliberalismo, não faz mal acabar com serviços e actividades reconhecidamente eficientes, de qualidade e utilidade social, desde que estejam reunidas pelo menos uma destas condições: que seja um modo de transferir para a esfera do privado recursos que antes pertenciam ao público, promovendo oportunidades de negócio; que seja um modo de eliminar do campo das experiências dos cidadãos formas de fazer em comum que possam favorecer o seu apego a instituições públicas, a finalidades não-lucrativas, a lógicas cooperativas e participativas.
É nesta engenharia de reconfiguração da sociedade que se enquadram o anunciado encerramento da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, ou o despejo da Es.Col.A. da Fontinha, no Porto. Por muito que a violência demolidora da vida em sociedade a que estamos a assistir o possa sugerir, o que está em causa não é, para o projecto neoliberal, acabar com o Estado, mas antes desviá-lo das suas funções sociais e redimensioná-lo à medida da avidez de mercados instáveis e de interesses privados. Não está também em causa acabar com toda e qualquer iniciativa de cidadãos que se mobilizem autonomamente para intervir na sociedade, mas tão-somente a daqueles que o fazem, até em regime de voluntariado, associando a supressão das falhas dos poderes públicos a propostas transformadoras das comunidades que não sejam redutíveis aos valores do pensamento único, à forma económica da troca mercantil e do lucro, ao formato de gestão do «empreendedorismo social».
O neoliberalismo nada tem contra haver Estado suficiente para parcerias público-privadas desastrosas para o erário público; para tráficos de influências e garantias de proveitosas carreiras; para salvamentos de bancos nacionais impostos por um sistema financeiro internacional que confisca a democracia; para sistemas educativos que formem elites ou para sistemas de saúde que se ocupem dos doentes que não são rentáveis para a medicina privada. O neoliberalismo nada tem contra haver na sociedade autonomia suficiente canalizada para o assistencialismo ou a caridade, desde que essa acção não questione intelectualmente, nem abale através de práticas, o imobilismo trágico das desigualdades socioeconómicas e a irracionalidade de um modelo económico iníquo.
Valores, práticas e finalidades são o que distingue os projectos em confronto nas sociedades. São eles que separam, por um lado, os que concebem uma comunidade como organização em que se afere, de acordo com modalidades democráticas e participadas, quais os bens comuns a prosseguir; e, por outro, os que nela vêem um somatório de interesses individuais e privados em que os mecanismos da competição farão emergir os mais fortes e, supletivamente, obrigarão a encontrar as formas de assistência aos mais fracos que eternizarão a rigidez dos lugares sociais. É neste antagonismo quanto a valores, práticas e finalidades que reside o essencial das escolhas de sociedade. Tudo o mais diz respeito aos actores que dão corpo a essas escolhas e às alianças e contágios entre as diferentes esferas em que os actores se movem; no quadro das relações de força em cada momento existentes, essas alianças e contágios podem ser potenciados ou impedidos.
Se os efeitos que se quer alcançar forem a densificação da democracia, a restauração dos serviços públicos e do Estado social e a reconstrução de comunidades de bem-estar, será que mantém utilidade e capacidade explicativa uma grelha de análise que encerre nos vértices de um triângulo três pólos que não se sobrepõem nem têm afinidades a aproximá-los ou separá-los? Com efeito, a imagem que nos habita tende a ser a de um triângulo − mesmo que o possamos ver equilátero, isósceles ou escaleno. Ele representa três sectores da sociedade separados e estanques: o público, o privado e o terceiro sector (ou economia social). A mesma figura geométrica ressurge se pensarmos em termos de três esferas de actividade traduzidas no Estado, no mercado e na actividade cooperativa ou solidária. Dada a correlação de forças, esta imagem tem estado revestida por uma capa de naturalidade e fixidez, quando ela traduz uma visão que não é neutral, mas política. E tem servido, sobretudo, para permitir que ocorram longe da visibilidade do debate público todas as formas de disputa e de captura que o poder, cada vez mais forte, dos mercados (isto é, dos interesses privados que estes representam) tem vindo a operar em relação aos sectores público e cooperativo.
Há por isso vantagem em encontrar arranjos e parcerias alternativas que estilhacem estas lógicas que se encontram em acção e que, mantendo a noção de que todos estes três pólos são construções em aberto, desloque a aliança estratégica para o lado do público e do cooperativo. As modalidades dessa redefinição de alianças podem ir da simples cedência de espaços públicos até outras mais entrosadas, como por exemplo a extensão dos âmbitos de actividade em que se ensaiam formas económicas não-mercantis e em que se beneficia mutuamente de economias de escala.
A constituição desta aliança, mais ou menos formal, fará com que o campo do público e da cidadania tenha mais condições para disputar ao privado o conjunto de valores, práticas e finalidades que projecta para a sociedade. Talvez seja dos contágios entre racionalidades de serviço público, participação democrática, organização cooperativa, não desbaratamento de recursos com a exploração e o lucro, e prossecução de objectivos de sustentabilidade ecológica e de bem-estar social que possam vir a surgir alianças duradouras entre o Estado e as organizações de cidadãos − movimentos, associativismo, economia social − que fortaleçam ambos em detrimento dos interesses privados. Ocupar este espaço do comum é uma forma de romper com o consenso neoliberal assente no pensamento único, na prática única. É, certamente, uma forma de reapropriação do futuro.
processo civilizacional
Quando apareci em casa com o Ipad, deu-me a sensação que nem tive tempo de por os dois pés dentro de casa e já estava a ser interrogado: - Mas para que precisas tu disso?!... De facto, na altura a utilização do verbo "precisar", desarmou-me e deixou-me sem capacidade de resposta. Mas também não foi preciso passarem muitos dias até alguém, que não eu, ter descoberto uma função bastante útil para o meu desnecessário gadget. Pois claro, nada melhor do que um Ipad para colocar em frente à criança para a distrair enquanto come a sopa e o demais... Muito bem. Assim tem sido e, de facto, a sua utilidade deixou de ser questionada. Essa rotina de visitar o "Tubo" à procura de temas apropriados para uma criança de um ano, levou-me a (re)descobrir esta música do Sebastião.
A letra desta curta versão da música diz o seguinte:
“Sebastião come tudo, tudo, tudo
Sebastião come tudo sem colher,
Sebastião fica todo barrigudo,
Chega a casa e dá beijinhos na mulher”
Mas algo me soava mal, pois aquilo que recordo do meu tempo - sim, quando eu era criança já cantávamos isto - era uma letra ligeiramente diferente e dizia assim:
“Sebastião come tudo, tudo, tudo
Sebastião come tudo sem colher,
Sebastião fica todo barrigudo,
Chega a casa e dá porrada na mulher”
Pois muito bem, a conclusão a que se chega é que no espaço de cerca de 30 anos, o processo civilizacional pôs o Sebastião a dar beijinhos à mulher em vez de porrada, apesar de continuar a comer sem colher, ou seja, com as mãos. Quantos mais anos serão precisos para esse processo obrigar o Sebastião a comer com talheres?!...
13 maio 2012
instante urbano xx
Para ser justo, este instante não deveria ser urbano, mas tentemos encaixá-lo numa certa e determinada urbanidade...
Em noite de festa e num café de nome desconhecido, mas com publicidade da marca Delta, encosto-me ao balcão para tomar café. Do lado de dentro do balcão quatro moças que com destreza e sincronia vão dando resposta às inúmeras solicitações a ao aparente caos instalado. Enquanto observo os seus modos e os seus desempenhos, um outro freguês, mesmo ao meu lado, encosta-se ao balcão e chama uma das moças pelo nome e pede-lhe dois gigantes. Ela, enquanto avia outro pedido, olha de relance para ele. Eu não percebi aquele pedido e fiquei curioso para ver o que lhe iria servir. Logo a seguir, ela abre uma gaveta e saca de lá um maço de cigarros, retira dois e estende-lhos para a mão, recebendo em troca um valor em moedas que, infelizmente, não pude quantificar e que não teve troco. Quando se virou para mim, simpática, tive mesmo vontade de lhe pedir um café e um gigante, pois não tinha presente que, ainda hoje, era possível comprar tabaco assim.
Em noite de festa e num café de nome desconhecido, mas com publicidade da marca Delta, encosto-me ao balcão para tomar café. Do lado de dentro do balcão quatro moças que com destreza e sincronia vão dando resposta às inúmeras solicitações a ao aparente caos instalado. Enquanto observo os seus modos e os seus desempenhos, um outro freguês, mesmo ao meu lado, encosta-se ao balcão e chama uma das moças pelo nome e pede-lhe dois gigantes. Ela, enquanto avia outro pedido, olha de relance para ele. Eu não percebi aquele pedido e fiquei curioso para ver o que lhe iria servir. Logo a seguir, ela abre uma gaveta e saca de lá um maço de cigarros, retira dois e estende-lhos para a mão, recebendo em troca um valor em moedas que, infelizmente, não pude quantificar e que não teve troco. Quando se virou para mim, simpática, tive mesmo vontade de lhe pedir um café e um gigante, pois não tinha presente que, ainda hoje, era possível comprar tabaco assim.
um arraial minhoto
Largo da Igreja e centro cívico da localidade apinhado de gente vinda de todas as redondezas, coreto e torre sineira devidamente iluminados e decorados, por todo lado barracas de farturas, pipocas e outras doçarias, ao longe e num campo que se estende em frente à igreja, a luz e o som dos carrinhos de choque, carrocéis e afins. À medida que a noite cai, este espaço vai ganhando cada vez mais vida e a concentração da gente em frente a um enorme palco, indica que o momento grande do arraial ainda está por vir. A curiosidade e a ansiedade, e para alguns a impaciência, vão crescendo. É perceptível. Os mais velhos, que chegaram primeiro vão-se encostando onde podem ou escolhendo os lugares estratégicos para uma observação não-participante. Os mais novos, aos pares ou em grupos maiores, também se vão aproximando, constituindo uma massa crescente de festeiros. Ao olhar com mais atenção também posso perceber o cuidado e o preparo para vir à festa. A sua festa.
A noite promete. Do lugar onde me encontro a observar, sinto-me igualmente observado e um corpo estranho a todo o ambiente. O cheirinho a farturas que permanentemente o vento me traz ao nariz, associado ao desconforto do estômago, leva-me a querer ir lá busca uma. Não posso, ainda.
Finalmente, os artistas chegam e num aparato, algures entre o pimba e o xunga, sentados num carocha descapotável que rasga pelo meio da "multidão" e acenando ao público, que não retribui os cumprimentos... A apresentadora não cala uma elegia ao grande sucesso da dupla -Marcelo e Alex - e tudo é feito com grande sonoridade, mas sem grande entusiasmo ou adesão do público que permanece estranho ao que assiste. Pelo meio de uma enorme neblina colorida e com um estridente som exótico, a dupla certaneja entra em palco, precedida por um potente trio de bailarinas brasileiras que de imediato se desnudam e, assim, chamam a atenção ao que se passa no palco. O que se passou a seguir foi mau demais para aqui ser relatado e recordado. Um espectáculo muito mau, sem qualidade e acima de tudo desonesto, pois tudo era playback e aquela gente pagou um valor, independentemente de elevado ou não, por uma farsa e, ainda por cima, sem qualquer qualidade. Por exemplo, a determinado momento, perto do fim da actuação, quiseram apresentar os membros da banda. Ao nome de cada um, respondiam com um pequeno solo. Que desastre... Instrumentos desligados, outros desafinados, outros não sabiam tocar e, para cúmulo, o líder da banda nem o nome de alguns dos seus músicos sabia... Ficou tudo registado e eu incomodado por saber esta gente aldrabada.
Estamos no mês de Maio, mas aquilo que presenciei remeteu-me de imediato para os meus ambientes rurais do mês de Agosto, mês, por excelência, de todas as festas e arraias. É verdade, não cheguei a comer nenhuma fartura.
11 maio 2012
instante urbano xix
Foi no início da tarde que, acompanhando um amigo, entrei pela primeira vez num espaço gourmet. Não andando à procura de nada e para me entreter enquanto ele procurava o que queria, pude contemplar ao pormenor muitos dos produtos expostos. Desde logo reparei que quase todos os produtos se apresentam em pequenas quantidades ou doses, depois todos, sem excepção, apresentam-se de uma forma cuidada e apelativa - nas cores, nos materiais utilizados para embalagem e nos textos ou simples marcas. Como não podia deixar de ser, reparei nos preços e devo dizer que me confundiu ver pacotes de batatas fritas a 6, 7 e 8 euros... ou latas de atum em conserva a 3 e 4 euros... ou pacotes com 4 bolachas a 12 euros... Pude também constatar que não haverá um produto ao qual não seja possível inventar a sua versão gourmet. Por motivação académica procurei produtos certificados (DOP's ou IGP's), mas não encontrei nenhum. Enfim, tudo muito giro e apelativo, concerteza até saboroso, mas desconfio, muito vulnerável às modas dos tempos; e como os tempos de agora são propícios a modas minimalistas e económicas, não se adivinham fáceis para a produção e importação de tais especialidades. É verdade, se calhar apenas uma coincidência, mas não estava mais nenhum cliente na loja...
10 maio 2012
polikuchka
De novo ao encontro do "Leão" Tolstoi e de uma sua novela de cariz popular, que retrata o ambiente quotidiano dos indivíduos e comunidades russas em pleno século XIX. Somos levados pela impressionante e expressiva escrita a conhecer as aventuras e desventuras do pobre Polikuchka. Não conhecia este conto de Tolstoi e fui encontrá-lo numa velha (1972) edição de bolso das Edições Europa-América, em casa do meu pai.
novo sítio...
A partir de hoje também estarei disponível para ser "visitado" e "conhecido" em www.valedovale.net O atalho para este sítio estará sempre disponível nos "atalhos partilhados" e no "meu perfil". Visitem-me e, já agora, conheçam meu ego-centrismo... O aspecto da coisa é este:
02 maio 2012
França e o resto dos dias desta europa...
Confesso que em condições normais, e ao longo de toda a minha vida, pouco ou nada liguei às eleições em França: a quem eram os candidatos, a quem ganhava, a quem perdia e a quais eram as consequências dessas vitórias e dessas derrotas. Contudo, a conjuntura mundial e, principalmente europeia, obriga-me a uma maior atenção e preocupação com aquilo que se passa nos quintais dos vizinhos, pois tenho bem a consciência de que nada adianta o meu quintal estar florido ou viçoso e os demais secos, pois mais tarde ou mais cedo, o destino do meu será idêntico aos demais. Portanto, acompanhei, ou pelo menos, monitorizei este acto eleitoral. À partido nenhum destes dois finalistas seria o meu candidato favorito, mas numa circunstância de 2ª volta, não hesito em afirmar o meu desejo que seja o candidato socialista, o candidato de uma pretensa esquerda a ganhar e a ser eleito para presidente da republica francesa. E isto por uma razão muito simples e fácil de aqui apresentar. É que, mesmo não sendo francês e não tendo voto na matéria, enquanto cidadão desta Europa não gostei de ver, ouvir e perceber, ao longo destes últimos tempos, a atitude completamente subserviente e submissa do presidente Sarkosi em relação ao poder da economia alemã e ao domínio da sua chanceler. Por outro lado, também não acredito verdadeiramente que caso Hollande vença consiga uma alteração significativa de paradigma. Contudo, decisiva é a percepção de que se Sarkosi vencer tudo continuará na mesma, senão pior, enquanto que a vitória de Hollande poderá ser a esperança, ainda que ínfima, de uma qualquer alteração de políticas e de paradigma não só em França, como para todo o espaço euro e toda a Europa. Por isto, simplesmente, o meu apoio tende para o candidato que agora se apresenta como "de esquerda".
coisas simples...
Ele: O que vamos comer ao jantar?
Ela: Estava a pensar fazer grão-de-bico com atum e ovo cozido. Porquê?
Ele: Por nada. Ok, muito bem. E não é preciso ir comprar nada?
Ela: Não. Temos o grão e temos o bico...
Ele: Ah, então está bem...
Ela: Estava a pensar fazer grão-de-bico com atum e ovo cozido. Porquê?
Ele: Por nada. Ok, muito bem. E não é preciso ir comprar nada?
Ela: Não. Temos o grão e temos o bico...
Ele: Ah, então está bem...
01 maio 2012
degradação social e, sobretudo, humana...
O conhecimento e as imagens que nos chegaram da cadeia de lojas do Pingo Doce, um pouco por todo o país, é algo que nos deverá merecer a maior das reflexões. Não sei quais serão as consequências, mas confesso que jamais imaginei ser possível, assistir em Portugal a uma luta física por um produto à venda num supermercado. Para além da tristeza, fiquei alarmado pelas manifestações dos instintos mais básicos do ser humano e pelos significados de tais comportamentos. Do ponto de vista subjectivo, eu posso compreender a necessidade de cada uma daquelas pessoas, pois é algo substantivo, na conjuntura actual, para muitas famílias poder levar o dobro dos víveres por um mesmo preço. Mas todos nós teremos que reflectir acerca de tudo aquilo que está subjacente a esta corrida louca às prateleiras de supermercados.
Por outro lado, a responsabilização das instituições e nesse aspecto, a estratégia do Pingo Doce é de todo irresponsável, pois para além das consequências no próprio mercado e da própria (i)legalidade da iniciativa, introduziu um factor de provocação sociológica, na medida em que a escolha do dia 1 de Maio, feriado internacional e dia do Trabalhador, não foi inocente. Com uma campanha tão agressiva, esta marca conseguiu provar que a generalidade dos indivíduos, económica e socialmente fragilizados, troca facilmente a sua cidadania pela condição de consumidor. Pouco dignificante para a cidadania, para a democracia e para a própria civilização. Sinal dos tempos degradados que vivemos e experimentaremos...
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