Tem sido notícia a putativa tolerância de ponto para a função pública que o Governo se prepara para anunciar paro o próximo dia 12 de Maio, a propósito da visita do Papa Francisco ao Santuário de Fátima. Apesar de céptico relativamente ao fenómeno de Fátima e o considerar um mega-empreendimento do qual a Igreja Católica nunca conseguiu, nem nunca pretendeu, afastar-se, nada me opõe à crença e à devoção popular que aí se manifesta. Outra coisa é o Estado, que é constitucionalmente laico, e assim se deve manter, promover e incentivar os cidadãos a um qualquer culto ou fenómeno religioso. Claro que se percebem todas as motivações e intenções de António Costa ao conceder tal tolerância de ponto: populismo e eleitoralismo claros e evidentes. Nada contra a fé e a devoção de cada uma das pessoas que irão a Fátima por esses dias, mas tudo contra a tolerância de ponto para parte da população portuguesa que, como é óbvio, não irá a Fátima, mas sim usufruirá de mais um dia de férias e descanso ao sol ou à sombra. Não havia necessidade.
---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
30 abril 2017
29 abril 2017
muito bom
Ofereceram este livro à Andreia no seu último aniversário e tem estado esquecido na estante, sem ser lido por ninguém. Até ontem, pois no momento em que reunia aquilo que queria trazer para o pequeno retiro de três dias por terras de Vinhais, lembrei-me de o trazer para as horas destes dias. Assim foi, hoje de manhã iniciei a sua leitura e agora, depois de almoço, terminei-o. Apenas posso dizer que gostei muito e que, mal o comecei a ler, percebi porque razão Agualusa é um escritor grande, reconhecido e premiado. Muito bom mesmo. Não deixem de ler.
21 abril 2017
ainda é assim
Está a aldeia repleta de seus filhos, reunidos em Páscoa. Tentando manter os ritos tradicionais católicos, cumprem-se as deambulações entre a igreja, a procissão e a visita pascal, momentos que esgotam largas horas da manhã e ameaçam as da tarde, obrigando as impacientes cozinheiras a manterem os leitões, os borregos e as vitelas, mais algum tempo ao lume para não arrefecerem.
Por fim, a hora do fausto manjar em família. Saboreiam-se as melhores carnes, bebem-se bons vinhos e, por último, apreciam-se as abundantes doçarias e sobremesas que rapidamente substituem, na mesa, as travessas dos despojos da refeição. Como se gosta tanto de açúcar, confirmando o velho dito de que é doce e bom porque não amarga.
Depois disto, larga tarde para conviver com família e amigos, rever velhos companheiros, ir até ao café e partilhar aventuras das andanças de cada um, entremeadas por tragos de vinho ou cerveja, ou ainda jogar às cartas para quem perder pagar os consumos efectuados.
Ao pôr do Sol, o regresso a casa para o jantar, normalmente, para acabar com a comida que sobrou do almoço. Mais tarde, ou na manhã seguinte, é hora de regressar às vidas das diásporas e do quotidiano, projectando sempre o próximo regresso ao lugar que os viu nascer.
17 abril 2017
mediascape: omnipresente
Sim, estou a falar de Marcelo Rebelo de Sousa... quer dizer, desculpem, estou a falar do Presidente da República Portuguesa. Impressionante, ele está em todo o lado, conseguindo mesmo bater os recordes do nosso mediático emplastro.
Agora, noutro registo: É isto ser Presidente da República? Eu pergunto, porque nunca vi nada igual. Eu pergunto, porque a experiência anterior foi traumaticamente oposta. Eu pergunto, porque a memória já me falha ao tentar recordar a praxis dos seus precedentes. Eu pergunto, porque eu até simpatizo com a figura (na altura devida, não o considerei a pessoa indicada para o cargo).
Noutro registo ainda: O homem vai a todas, não perde uma oportunidade... quer estar ao lado de todos e cada um dos portugueses nas suas horas mais aflitas.
Ainda, registo outro: a sua omni-presença começa a ser exagerada. Tem-se revelado um interprete popular na sua magistratura e, por contraste com o seu antecessor, todos nós simpatizámos com ele, mas tudo tem os seus limites e Marcelo Rebelo de Sousa, parece-me, ainda não conseguiu distinguir bem os limites entre os diferentes papeis sociais que desempenhou e desempenha.
Lamento dizê-lo, mas o seu "reinado" será, assim, fácil e recorrentemente caricaturado e ridicularizado.
sarampo
Eu não tenho a certeza, mas acho que já me manifestei, aqui, sobre esta questão dos movimentos "anti-vacinas" ou "anti-vacinação". Contudo, e face ao que está a acontecer com esta nova epidemia de Sarampo em Portugal, não posso deixar de dizer, ou se calhar, voltar a dizer, como é estúpido e irresponsável não vacinar os filhos. Meus senhores e minhas senhoras, o que mata são mesmo as doenças e não as vacinas, apesar do residual risco de alguma complicação ou mesmo morte. Senhores e senhoras, não se trata de uma imposição do Estado, trata-se de uma questão de saúde pública e essas doenças só estavam e estão erradicadas da nossa sociedade, porque a maioria de nós sempre vacinou as criancinhas. Meus e minhas egoístas de merda, se vós vos podeis dar ao luxo de não vacinar os vossos filhos, é porque eu e a grande, e esmagadora, maioria de pais vacinamos os nossos e sabemos que ao fazê-lo estamos a contribuir para a imunidade deles, assim como para a de todos nós. O que não quer dizer que os ditos vírus e bactérias não estejam por aí, mas sim que vivemos numa sociedade com salubridade e cuidados de saúde suficientes para estarmos a salvo de tais enfermidades.
Basta espreitarmos a argumentação desses iluminados dos grupos e associações "anti-coisas", para percebermos que estamos em exclusividade no território das crenças, ou talvez, das crendices, com a ambição e pretensão de fundamentar o seu discurso e sua não-prática naquilo que é commumente denominada de pseudo-ciência, de braço dado com doses cavalares de teorias da conspiração para todos os gostos e feitios.
Tudo isto porque não se trata de uma questão de direitos ou liberdades, mas sim, total e exclusivamente, de uma questão de saúde pública e, assim sendo, não deveremos ser tolerantes, nem contemplativos.
adenda: (por esquecimento faltou escrever) Aquilo que é o conforto, o bem-estar e a saúde que hoje experimentamos devem-se, quase unicamente, à ciência e ao seu desenvolvimento teórico, tecnológico e laboratorial. Aquilo que se ambiciona sempre é uma ciência reflexiva e crítica que permita a sua evolução e desenvolvimento, mas atitudes como esta da não-vacinação, para além de demonstrarem um total desrespeito por todas as vítimas das respectivas doenças, demonstram a falta de dignidade para com todo o esforço e despesa realizados ao longo de décadas e décadas. Não contribuem em nada para esse esforço colectivo, muito pelo contrário. Disse.
adenda: (por esquecimento faltou escrever) Aquilo que é o conforto, o bem-estar e a saúde que hoje experimentamos devem-se, quase unicamente, à ciência e ao seu desenvolvimento teórico, tecnológico e laboratorial. Aquilo que se ambiciona sempre é uma ciência reflexiva e crítica que permita a sua evolução e desenvolvimento, mas atitudes como esta da não-vacinação, para além de demonstrarem um total desrespeito por todas as vítimas das respectivas doenças, demonstram a falta de dignidade para com todo o esforço e despesa realizados ao longo de décadas e décadas. Não contribuem em nada para esse esforço colectivo, muito pelo contrário. Disse.
a arte de bem escrever
No remanso destes poucos dias por terras de Trás-os-Montes, a leitura resumiu-se a este pequeno livro.
Servindo-se de três personagens centrais, Mário Cláudio tece uma ficção em volta do épico de Luís de Camões, Os Lusíadas, reabrindo uma velha discussão sobre a autoria dessa obra. Sem nos dar qualquer resposta ou novidade sobre essa dúvida(?), o autor, através dessas três personagens, percorre todo o tempo entre as aventuras e desventuras de Camões e os nossos dias, numa narrativa empolgante e muito bem escrita. Mário Cláudio, que chegou a ser meu professor na Escola Superior de Jornalismo, confirma aqui o seu génio literário. Muito bom.
16 abril 2017
domingo de páscoa
Dia inteiro na aldeia, desde a longa espera pela visita pascal para poder sentar à mesa e, gulosamente, comer borrego e leitão assados, até ao final do dia, com uma tarde inteira sentado à sombra da Figueira a jogar cartas (à Blota) e a beber cerveja (SuperBock). Rico e tranquilo dia passado em família. Sobraram alguns registos no telemóvel da Emília.
14 abril 2017
caminhar pelo monte
Todos os anos por esta altura dedico um dia para passear, caminhando pelo monte, naquilo que é o termo de Vila Boa, meu axis mundi, procurando sempre percursos diferentes e alternativos que possibilitem andar durante grande parte do dia sem sentir qualquer sinal de civilização. São passeios magníficos e, a cada momento, a contemplação de paisagens fabulosas faz-nos esquecer o cansaço crescente que nos invade o corpo. Em pequeno grupo familiar, sempre liderado e orientado pelo patriarca, é sempre um prazer observar a natureza neste seu momento de cíclico rejuvenescimento. Estes passeios remetem-me sempre para Jean-Jacques Rousseau e os seus "Devaneios do caminheiro solitário" (2007, Livros Cotovia), onde aproveita os seus passeios pelo campo para reflectir sobre as questões que lhe importunam a mente. É uma obra que me marcou e à qual, por razões várias, regresso regularmente.
12 abril 2017
finalizando colecção
Aproveitando os dias estivais e o menor trânsito no centro da cidade Invicta, dediquei o início das manhãs desta semana à visita de livreiros e alfarrabistas, com o propósito de completar a minha colecção da revista Brigantia. Revista de Cultura, editada desde 1981, pela Assembleia Distrital de Bragança. Já há muito tempo decidi reunir todos os seus números, tarefa bastante difícil, principalmente, a partir do momento em que os seus promotores desinvestiram nesta publicação e a levaram quase à extinção. Ela ainda existe, mas já nada tem de parecido com as edições mais antigas e o momento decisivo para essa degenerescência foi o desaparecimento do seu fundador e director, Dr. Belarmino Afonso. Desde a sua morte que a revista deixou de ter a dinâmica que possuía anteriormente e, daí para cá, foi sempre em perda. Está na altura de lhe dar uma nova vida, pois continuo a acreditar que há lugar e espaço para a sua sobrevivência enquanto projecto editorial e cultural.
Regressando às deambulações matinais pelas livrarias alfarrabistas. Visitei a Livraria Sousa & Almeida, na rua da Fábrica, que soube através de notícia no JN, irá fechar até ao final do ano, pois o edifício foi vendido e será ocupado por uma unidade hoteleira (só podia...). Segundo me disse o seu proprietário, tem todos os livros a, pelo menos, 50% do preço de capa e está a tentar vender o maior número de livros possível para fechar as portas. Lá encontrei algumas preciosidades e questionei-o sobre a revista Brigantia, ao que me respondeu que sim, sabe que tem vários números no armazém, mas tem que ter tempo para lá ir e depois me dirá alguma coisa... até hoje, ainda não me disse nada. Vou lá regressar amanhã de manhã. Entretanto, fui à Livraria Académica, na rua Mártires da Liberdade, e falando com o Sr. Nuno Canavez, logo consegui o que pretendia. Faltavam-me 15 números da revista e na Académica consegui, desde já, 10 deles a um preço espectacular. Assim e agora, apenas me faltam 5 números da revista, que sei o Sr. Nuno lá tem, mas como fazem parte da sua colecção completa, ele não a quer desfazer e prefere esperar para a tentar vender inteira. Compreensível e por isso não insisti, apenas lhe pedi para me ligar caso consiga encontrar esses últimos números em falta.
04 abril 2017
é hoje...
Daqui a pouco estarei na Universidade Católica a falar sobre Trás-os-Montes, numa viagem através dos seus caracteres culturais e identitários. Conceitos como a identidade, a alteridade, a nomeação e tradução cultural serão abordados. Apareçam.
01 abril 2017
a obsessão da portugalidade
Aproveitando a ilusão de promoções (flash sales) da Fnac, trouxe hoje comigo o mais recente livro de Onésimo Teotónio Almeida, publicado já em 2017 e que versa sobre as nuances da identidade nacional, ou melhor sobre a identidade da portugalidade. Sendo uma questão que me interessa - a identidade - e sobre a qual também tenho dedicado algum tempo e trabalho, ainda que numa outra perspectiva e dimensão, as expectativas são elevadas também porque se trata de Onésimo Teotónio Almeida. No momento em que releio partes do seu despenteando parágrafos, vou colocar este novo livro no cimo do monte de livros para ler. Em breve regressarei com os devidos comentários.
Os intelectuais, bem como os cientistas sociais, ignorarão à sua própria custa esta questão da identidade. Ela não passará, todavia, por mais que eles lhe fechem os olhos. Poderá mudar de nome - e talvez até conviesse, dado que, como espero ter demonstrado, o termo hoje incorpora um complexo de realidades em simultâneo. Todavia, ainda que mudasse de nome, não deixaria de existir. (autor, folha prévia ao frontispício)
pita arisca
Foi no passado fim-de-semana que, em grupo de amigos, me levaram a jantar à casa de pasto Pita Arisca, em Torno, concelho de Lousada. A única informação que tinha era que iria comer um cabrito no forno delicioso. Apreciador como sou dessa carne, foi com alguma expectativa que viajei pela velhinha nacional 15 (a caminho de Amarante), trajecto que fiz semanalmente, durante anos e anos, até à conclusão da A4 entre o Porto e Amarante, mas que desde então não voltei a fazer. Também por isso foi uma experiência interessante, pois reconheci todas as curvas dessa estrada e muitos dos elementos da paisagem que permanecem.
Mal acabados de sentar à mesa, logo começaram a servir as fartas travessas de cabrito e de batatas assadas em forno a lenha. Se o cabrito é bom, as batatas não lhe ficam atrás, sendo que o segredo para o seu excelente sabor é serem assadas em tabuleiros colocados por baixo das grelhas onde assam os cabritos. Muito, muito bom. Tudo isto acompanhado por um verde tinto da casa, bem fresco e bebido em tigelas de louça branca e que encaixou superiormente com a carne do cabrito.
Comemos e bebemos até ficarmos consolados e o preço final não foi além daquilo que a casa anuncia, ou seja, vinte euros por pessoa. Foi tempo então de regressar a casa e acabar a noite com um refrescante Gin Tónico.
Nota final para reafirmar o meu prazer em descobrir novos locais, em viajar para degustar aquilo que de bom se faz um pouco por todo o nosso país, sempre acompanhado por bons amigos igualmente amantes de boa comida.
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