Um dos mais agudos sinais dessa cegueira perante a necessidade de preparar o país para sobreviver num eventual cenário futuro marcado pelo declínio de instituições e soluções políticas multilaterais, consiste no modo como a política de ordenamento do território e conservação da natureza se tem degradado sem, aparentemente, existir nenhuma perspectiva de retorno.
(...)
A ultrapassagem da legislação em vigor tem ao seu serviço uma indústria de avaliação de impacto ambiental que funciona como um dócil instrumento dos donos de obra. Considerar o território (terrestre e marítimo) como mera mercadoria que pode ser delapidada - ignorando o facto de que esse território será a última barreira da sobrevivência nacional no quadro do inevitável agravamento da crise ambiental e climática - é um sinal do imenso declínio da ideia de Estado e de bem público na prática e na cultura políticas do Portugal contemporâneo.
(Viriato Soromenho-Marques, in Jornal de Letras nº 1325 - Julho 2021)
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