23 julho 2021

o livro e a sede de leitura


Este foi um dos livros que adquiri durante esta pandemia, num daqueles movimentos quase instintivo e de antecipação a um cataclismo, de abastecimento do essencial - livros e café, mas que acabou por me acompanhar durante mais tempo do que seria suposto. Só por estes dias o acabei de ler e não se deveu a qualquer complexidade ou dificuldade de leitura, até porque está muito bem escrito e com uma linguagem bem acessível, mas sim porque outras leituras se foram intrometendo e relegando-o na cabeceira para noites futuras.
Irene Vallejo, ao longo das cerca de 400 páginas, fala-nos do LIVRO, desde as suas origens até às suas formas actuais, fala-nos dos diferentes momentos da sua evolução e seus intervenientes, com destaque para as civilizações grega e romana, numa espécie de angústia pela passagem do tempo (pág. 26). Leitura aconselhada para quem se interessa por estas "coisas" - bibliógrafos, curiosos ou simples leitores.

Os primeiros leitores e os primeiros escritores eram pioneiros. O mundo da oralidade resistia a desaparecer - nem sequer hoje se extinguiu totalmente - e a palavra escrita sofreu inicialmente um certo estigma. Muitos gregos preferiam que as palavras cantassem. As inovações não lhes agradavam muito, resmungavam e grunhiam quando as tinham à frente. Ao contrário de nós, os habitantes do mundo antigo achavam que o novo tinha tendência para provocar mais degeneração do que progresso. Algo dessa hesitação perdurou no tempo; todos os grandes avanço - a escrita, a imprensa, a Internet... - tiveram de enfrentar detractores apocalípticos. De certeza que alguns resmungões acusaram a roda de ser um instrumento decadente e até à sua morte preferiram transportar menires às costas. (pág. 96)

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