Chegou hoje na volta do carteiro a nova carta de condução. No ano em que completo cinco décadas de existência sou, como todos os demais condutores, obrigado a renovar a licença para poder conduzir. Fí-lo pela internet e através de um processo simples e rápido. Já cá está e, por isso, é tempo de arquivar, para memória futura, a velhinha carta cor-de-rosa que me mantinha jovem desde Maio de 1992, com cara de imberbe mas já com muitos milhares de quilómetros conduzidos.
---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
31 janeiro 2023
abismo civilizacional
Não há como não estar preocupado com a realidade política e partidária em Portugal. Perspectivada deste lugar, o da Esquerda, considero que o futuro próximo será um tempo muito difícil para nós e para todas as esquerdas. Acabo de escrever isto e já fico arreliado pela designação no plural - as esquerdas. Os sintomas e diagnósticos, as estratégias e as tácticas, as punchlines das narrativas estão já todas alinhadas entre os diversos actores e agentes políticos e mediáticos. O poder tem que ser entregue à Direita o mais depressa possível. Tudo está concertado e preparado para essa clivagem política e, depois, social. Espero estar errado, mas já não haverá retorno sem um novo governo de Direita e extrema-Direita. Lamento, e lamento ainda mais porque tenho a percepção que a culpa foi, e é, maioritariamente, do PS (esta ida de Ana Catarina Mendes à convenção dos fascistas…) e das esquerdas (não consigo esquecer votações de 2021...). É verdade que este governo de maioria PS não presta, está derrotado e degenerativo, mas a oposição de esquerda não irá reverter a seu favor, mas sim beneficiar aqueles que são os nossos verdadeiros adversários e que eu não desejaria, jamais, ver no governo. Com um novo governo do PSD, virá agregado o pior da nossa sociedade - reaccionários, anacrónicos, misóginos, xenófobos, saudosistas, nacionalistas e fascistas, e o retrocesso civilizacional será mais do que certo. Bem sei que muitos consideram que entre o PS e o PSD e arredores não há diferenças, mas ainda assim eu prefiro, e preferirei sempre, um governo do PS do que qualquer governo de Direita. Temos andado a brincar com o fogo, gostava que não nos queimássemos, mas caminhamos conscientes para esse abismo.
(Adaptação. Escrito a 30 de Janeiro e publicado originalmente no blogue da Convergência Porto)
30 janeiro 2023
epifanias
"De súbito, o que passou a haver na minha pasta, em todo o lado para onde vá, foi um caderno para colher epifanias escritas e desenhadas que certamente só terão verdadeiramente leitura para mim e no modo como as imagino úteis."
Valter Hugo Mãe, in Jornal de Letras nº 1365, Janeiro e Fevereiro 2023.
tique nervoso
Descobri, recentemente, um lugar onde se toma um delicioso café. Algo cada vez mais difícil de acontecer. Passei a lá ir todos os dias e tem alguns que lá vou de propósito mais do que uma vez. Espaço simples e pequeno, muito asseado e de preços baratos. As empregadas são uma simpatia, ao ponto de uma delas, para além de meter conversa ocasional comigo, sempre que me atende pisca o olho. Com certeza, um tique nervoso que repete com outros clientes, mas em todo o caso, passei a estar atento e a tentar perceber se o tique se repete com os demais. Ainda não consegui.
27 janeiro 2023
sumptuosidade, soberba e descaramento
Nada me opõe à realização das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) em Portugal e em Lisboa. Dito isto, quero manifestar o meu indisfarçável incómodo em relação ao comportamento e atitudes daqueles que foram e são responsáveis pela organização das JMJ. Aquilo que está a acontecer é bem característico da atitude das nossas elites institucionais e dos nossos decisores políticos na gestão e uso do erário público. Num país com tantas carências estruturais e sociais, dão-se ao luxo de querer gastar milhões para receber durante um dia, ainda que sejam, dois, três ou quatro, o Papa Francisco. A trapalhada mediática instalada, com todos a sacudir a água do seu capote e a passar culpas para terceiros, com o Presidente da República ao sabor do vento, a dar o dito pelo não dito, com o inenarrável presidente da Câmara Municipal de Lisboa completamente desorientado e surpreendido pelo alvoroço na opinião pública, a pedir aos portugueses para "acreditarem" num milagre de retorno financeiro deste investimento, como se este evento e suas intervenções fossem um investimento para o país e para a cidade de Lisboa, sendo de imediato desmentido por todos os agentes culturais que não encontram proveito nenhum nesse recinto e sua estrutura. Mas mais, na ânsia de justificar o injustificável, Moedas faz chantagem, perguntando se os portugueses querem ou não querem receber o Papa e socorre-se da fórmula de sempre: socializa-se a despesa (erário público) e promete-se mais-valias incomensuráveis provenientes do evento, esquecendo-se contudo de dizer que essas mais-valias, a acontecerem, não serão socializadas, ou seja, não serão para o benefício colectivo dos portugueses, nem sequer dos lisboetas. Depois, falta referir a questão mais importante, a adjudicação directa, sem concurso público, do projecto a uma empresa que, só por coincidência, tem Paulo Portas na administração, amigo pessoal de Moedas e ex-presidente do CDS que, também por coincidência, faz parte da coligação que preside à Câmara de Lisboa. Enfim, uma cagada em três actos, protagonizada por gente de bem.
Será importante não deixar desaparecer este assunto da agenda mediática, pois caso contrário e apesar dos discursos de revisão do projecto, descaradamente tudo ou mais irá ser feito e gasto. Aliás, é para mim o maior defeito da ICAR, a sumptuosidade em que se veste e reveste, afrontando ontológica e essencialmente a sua origem e missão.
Enfim, nada nem ninguém fica bem na fotografia que se está a tirar por estes dias.
25 janeiro 2023
no terreno
Em Deilão, terras da Lombada do concelho de Bragança, em casa da família Morais. Pela manhã do dia 21 de Janeiro de 2023.
24 janeiro 2023
dezasseis anos
Assinalo hoje o décimo sexto aniversário desta minha tábua branca de escrever. Uma vez que aqui continuo a vir, que mantenho o gosto de organizar em escrita e em diferentes suportes a minha existência, faz todo o sentido manter e promover o meu recanto da escrita e afins, reafirmando hoje a vontade e intenção de a sustentar com crescente regularidade e participação. Apurriar, siga.
23 janeiro 2023
excertos das palavras ditas na apresentação de "enclausurados - vivências em pandemia" (4 de 4)
(no passado dia 21 de Janeiro, pelas 17 horas, no Lost Corner Bar, em Bragança)
excertos das palavras ditas na apresentação de "enclausurados - vivências em pandemia" (3 de 4)
(no passado dia 21 de Janeiro, pelas 17 horas, no Lost Corner Bar, em Bragança)
excertos das palavras ditas na apresentação de "enclausurados - vivências em pandemia" (2 de 4)
(no passado dia 21 de Janeiro, pelas 17 horas, no Lost Corner Bar, em Bragança)
excertos das palavras ditas na apresentação de "enclausurados - vivências em pandemia" (1 de 4)
(no passado dia 21 de Janeiro, pelas 17 horas, no Lost Corner Bar, em Bragança)
conversa da raia
À mesa do Gastrobar, depois de um magnífico caldo Galego, com os amigos raianos Carlos d'Abreu e José Ballasteros.
(Galende, 21 de Janeiro de 2023)
21 janeiro 2023
17 janeiro 2023
o firmamento
Tendo uma superlativa admiração pela escrita e, também, pela vida peculiar e até errática de Luíz Pacheco, sou ávido consumidor de toda a produção sobre ele. Ainda não consegui adquirir nenhum dos seus livros nas edições originais, mas continuo a alentar esse desejo. Mal saiu esta nova biografia pela pena de António Cândido Franco, pois claro, fui buscá-la ao escaparate. Aguarda agora, e apenas, as horas disponíveis para ser lida.
16 janeiro 2023
olhar-me noutras vidas
(Texto digitalizado do Jornal de Letras nº 1364, Janeiro de 2023)
São tantas as semelhanças empíricas e de memória com o meu contexto ou ambiente de origem, que fiquei incomodado e nostalgicamente espantado com este magnífico texto de Valter Hugo Mãe.
13 janeiro 2023
12 janeiro 2023
uma outra existência
Terminei ontem à noite a leitura do livro "Ibéria esvaziada - despovoamento, decrescimento, colapso", de Carlos Taibo, que já aqui tinha referido. Pois bem, para além dos diagnósticos apresentados e muito bem documentados sobre essa Ibéria vazia e sem gente, as propostas avançadas para esses vastos territórios são inovadoras e algo surpreendentes. Para além disso, são apresentados conceitos que eu não conhecia, pelo menos com este pormenor e profundidade, o que me motivou os sentidos e a curiosidade para descobrir os vários autores que cita e seus conceitos e propostas. A proposta de Carlos Taibo é cada vez mais uma possibilidade para um futuro próximo que se aproxima a grande velocidade. Naquilo que diz respeito à minha existência, sendo um urbanita com muitos referentes rurais e com um relativo conhecimento de parte dessa Ibéria esvaziada, agrada-me muito a ideia de colapso, de podermos substituir esta sociedade de consumo individualista, por uma outra mais solidária e de maior entre-ajuda comunitária.
Veremos o que nos espera.
"O objectivo principal deste livro é aplicar à Ibéria esvaziada as ferramentas que surgem da perspectiva do decrescimento e da teoria do colapso. Com esse propósito, nas suas páginas delimita-se o conceito, amiúde nebuloso, dessa Ibéria, e a esse respeito considera-se tanto o cenário espanhol como o português. É também delineado um conjunto de propostas relativas ao que deve ser preservado, recuperado, introduzido e rejeitado nos espaços afectados, sem deixar de prestar atenção a debates importantes como os relativos ao povoamento, às mulheres, à neo-ruralidade, às biorregiões, ou à natureza de um modelo económico e social alternativo. Acima de tudo, este livro pretende ser um esboço que estimule um debate visivelmente em falta: o do decrescimento." (in contra-capa)
"a cidade está preparada"
Foi com estas palavras que o vereador da Câmara Municipal do Porto, Pedro Bragança se pronunciou sobre as cheias que Lisboa sofreu no passado mês de Dezembro, garantindo ao Porto Canal que na cidade do Porto essa situação não aconteceria. Pois bem, aqui está um bom exemplo para quem tem telhados de vidro não atirar pedras ao ar, e não foi preciso esperar muito para os telhados do vereador Pedro Bragança se partirem com as pedras que andou a atirar para o céu da Invicta.
Ainda assim, e para além do ensinamento popular que desautorizou o dislate do insigne autarca, importa reflectir sobre o que aconteceu nos dias 7 e 8 de Janeiro na Invicta e não são suficientes as tíbias declarações dos responsáveis locais e autárquicos sobre a imprevisibilidade deste tipo de ocorrências. Há esclarecimentos a dar, causas por encontrar e responsabilidades por atribuir. Acontece que os rios e as ribeiras que atravessam a cidade e desaguam no Douro já há muito tempo estão entubadas e nem por isso assistimos jamais a inundações desta dimensão. No caso do rio da Vila, principal leito que atravessa a cidade, ele já está entubado desde o século XIX e terá sido algures no seu percurso que houve problemas obrigando-o a transbordar e passar a correr à superfície para o Douro, inundando tudo no seu caminho.
O que terá motivado este fenómeno? Avança-se com a possibilidade de terem sido as obras do Metro na baixa, mas não podemos esquecer outras intervenções que têm acontecido um pouco por todo o centro da cidade, tais como as obras no mercado do Bolhão, as obras no quarteirão do Rivoli, na Praça D. João I, entre outras, que poderão também ter contribuído para desestabilizar os leitos das ribeiras e a natural drenagem da cidade. O Rio da Vila continua a ser alimentado por várias nascentes e estas continuam a existir, como por exemplo a do antigo monte de Santa Catarina, ou as fontes e arcas de água da Batalha e Santo Ildefonso. É nosso entendimento que para além das responsabilidades daqueles que interferiram e desestabilizaram estes cursos de água, o grande problema do Porto é o excesso da impermeabilização dos solos, transformando toda a cidade num contínuo impermeável, situação que se acentua no centro histórico da cidade, numa relação muito estreita de causalidade entre as políticas urbanísticas e de planeamento da cidade e a voragem das ambições especulativas e de consumo do cluster do turismo. Há que repensar a cidade e restituí-la aos portuenses.
Adenda:
Escrevi este texto sobre as inundações ocorridas na Invicta no passado dia 7 de Janeiro. Depois, uns amigos quiseram subscrever e acrescentar algo mais, o resultado foi publicado no sítio da internet da Convergência. Partilho aqui também esse texto.
10 janeiro 2023
nada para lá do horror
Confesso que não sou adepto do género, nem muito menos aficionado por estas personagens ou histórias de um horror incomensurável, mas tanto ouvi falar e comentar sobre esta série, que lá me dispus a vê-la. Terminei ontem à noite e a verdade é que demorei, sei lá, cerca de três meses para visionar os apenas dez episódios, mas também devo dizer que para além do choque inicial (primeiro episódio, talvez ainda o segundo), não fiquei agarrado, nem convencido com esta narrativa, ambientes e personagens. Para além do horror real em que se baseia, não sei se me agrada esta mitificação destes monstros sociais, sociopatas dementes, revestindo-os de um certo carisma e transformando-os em quase-heróis. Está visto, mas não será conselho para ninguém.
06 janeiro 2023
vida
Cheguei ao ano em que completarei cinco décadas de existência. Caramba! Até aqui foi um instante e o que me sobrará outro sopro de vida será.
01 janeiro 2023
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