Participei hoje na vigília “estamos fartos disto, é hora de agir”, em frente à Câmara Municipal do Porto, que começou pelas 19 horas. Participei enquanto organizador do evento, enquanto subscritor do manifesto que motivou a vigília, mas acima de tudo, participei porque estou farto da condição em que grande parte da população portuguesa existe. É, de facto, hora dessa população agir e exigir aquilo a que tem direito, mas que persistente e abusadamente lhe tem sido sonegado.
Apesar de termos conseguido uma divulgação interessante, através das redes sociais, dos media e, principalmente, no contacto directo com a população, através da distribuição em mão do manifesto nos locais de maior afluência e circulação na Invicta, não conseguimos reunir mais do que três dezenas de pessoas em frente à Câmara Municipal neste final de tarde de Sexta-feira.
Quando abandonei a vigília, por volta das 20:30 horas e porque era hora de dar de comer à minha criança, caminhámos por algumas das artérias da baixa da cidade até ao local onde o carro estava estacionado. Saindo da Praça General Humberto Delgado, entrámos na rua de Rodrigues Sampaio em direcção à Praça de D. João I, descemos o primeiro, ou último, troço pedonal da rua do Bonjardim, espreitámos para a Sampaio Bruno, continuámos a descer a Sá da Bandeira e subimos a 31 de Janeiro. Durante todo este percurso não pude deixar de constatar a elevada frequência nos cafés, bares, restaurantes e hotéis, suas esplanadas e seus foyeurs, contrastando de forma clara e até ofensiva com aquilo que me levou ao centro cívico da cidade. Nada me opõe a essa movida urbana e noturna e sei-a importante e até necessária para a cidade, mas aquilo que não consigo evitar, ao passar e observar esta realidade, de aparentes sociabilidades e consumos abundantes e despreocupados, sempre sob a batuta da sagrada Francesinha e do globalizado Vinho do Porto, é a percepção de que este brilho cosmopolita ofusca completamente a realidade de milhares de famílias e indivíduos que estão remetidos à sua parca condição de vida, silenciados pelas obrigações e compromissos financeiros assumidos e esmagados pela carestia generalizada dos bens e produtos básicos e essenciais para sua sobrevivência.
É para essa grande massa (ainda) silenciosa que promovemos esta iniciativa. É com a esperança de os motivar e implicar que temos e devemos dar voz às dificuldades e carências que muitos sentem. É, e será sempre, na rua, no espaço público e de todos nós, que deveremos persistir e insistir naquilo que são as nossas reivindicações, as nossas lutas e as nossas ambições.
(escrito a 17 de Fevereiro de 2023 e publicado no blogue https://convergencia-porto.blogspot.com/)
Sem comentários:
Enviar um comentário