Foi ontem conhecido o relatório final da Comissão Independente que, ao longo do último ano, investigou e registou as denúncias de abusos a crianças por parte de membros da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) e foi grande, enorme, o estrondo mediático com que foram recebidas as transcrições pormenorizadas de alguns dos testemunhos. É de facto uma monstruosidade, uma ignomínia sem perdão possível, a quantidade e a intensidade dessa violência, mas eu não fiquei surpreendido com o número de vítimas e de abusos apresentados, pois tenho como certo, até pelo conhecimento de algumas situações, que o número real é bem maior. Como se costuma dizer, apenas se conheceu a ponta do icebergue.
Mas aquilo que mais me incomodou, e incomoda, é a hipocrisia que os membros da ICAR nacional, mesmo num momento como este, teimam em manifestar. Mas alguém acreditará que a hierarquia da Igreja não sabia desta situação, que não tinha conhecimento daquilo que acontecia nas paróquias e dos comportamentos criminosos dos seus párocos, acólitos e afins? Claro que sempre souberam, mas escolheram ocultar, chantageando, ameaçando ou subornando as suas vitimas, todo e qualquer episódio, e só quando as situações chegaram ao conhecimento público, através de denúncia ou da comunicação social, é que tiveram iniciativa, mas sempre tímida, conservadora e corporativista. Mas todos, ou quase todos, os Bispos, Cardeais e outros responsáveis hierárquicos da ICAR tiveram acesso e conhecimento de situações insuportáveis e criminosas.
Esta situação e esta iniciativa da ICAR, ainda que louvável, não oculta ou desculpabiliza o horror e a hipocrisia com que se apresentam perante a sociedade, os católicos e, principalmente, as suas vítimas.
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