"A democracia está a ser tão esvaziada de conteúdo que pode ser defendida instrumentalmente pelos que servem dela para a destruir, enquanto os que servem a democracia para a fortalecer contra o fascismo são considerados esquerdistas radicais." (Boaventura de Sousa Santos, in Jornal de Letras nº 1366, Fevereiro de 2023)
As palavras de Boaventura de Sousa Santos (BSS), num excelente artigo do referido jornal, avivam em mim uma profunda irritação, que não é de agora, mas que teima em durar e que poderei traduzir em palavras no raciocínio que se segue:
Eu, que pago os meus impostos, como a maioria dos cidadãos portugueses, acredito e defendo que o Estado, fiel depositário ou, se preferirem, cobrador desses impostos, deve ser responsável pela providência e prestação dos serviços básicos, em qualidade, equidade e gratuitidade, à totalidade da população do país. Falo da educação, da saúde, da justiça e dos sectores estratégicos da economia, como a energia, os transportes e as comunicações. Acredito no acesso universal e gratuito à saúde (SNS), acredito na escola pública, acessível e com qualidade para todas as crianças e jovens do país, acredito numa justiça independente, justa e de proximidade às populações e desejo uma maior e melhor distribuição das mais-valias ou riqueza que o país consegue produzir. Por que raio esta minha perspectiva do que defendo para o meu país é considerada radical e extremista? Sim, convivo bem e até me orgulho de perspectivar a sociedade e o meu país deste lugar "de esquerda", mas não aceito e combaterei sempre a ideia de que aquilo em que acredito não é sensato, ponderado ou desejável para todos e não só para mim ou para alguns, naquilo que podemos e devemos designar de democracia plena.
A minha amígdala sofre horrores com esta teimosia em designar os democratas de radicais de esquerda. Não o são, e quem assim os adjectiva, tal como escreve BSS, serão os primeiros a destruí-la e a impor os fascismos da "gente de bem".
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