Esta é a máquina de escrever do meu pai. Ainda hoje a utiliza quando quer escrever algo para guardar, ou para entregar aos filhos. Para além da memória que procura registar, penso que se preocupa em transmitir-nos aquilo que, de outra forma, não teríamos acesso ou conhecimento. É igualmente uma memória visual e sonora de infância e juventude, o meu pai na mesa da cozinha, na mesa da sala-de-jantar ou, mais recentemente, na garagem, debruçado sobre a máquina a martelar durante horas. Hei-de tirar-lhe uma fotografia nesse seu mester voluntário e alienante.
Comprou-a no início dos anos 80 e nunca mais se separou dela. Numa época em que a informática ainda não estava democratizada e à qual o meu pai sempre resistiu, quando nem sonhávamos que um dia teríamos acesso a um aparelho doméstico que imprimiria a preto ou cores os documentos, os trabalhos escolares eram redigidos nesta máquina e o meu pai esteve sempre disponível para o fazer. A mim fascinava-me, ainda me fascina, o bater das teclas e, depois, dos braços das letras no cilindro onde a folha de papel circula, mas não gostava de escrever, pois as teclas eram pesadas e moíam-me as pontas dos dedos e, por isso, pedia ao meu pai para me passar os trabalhos...
Aqui há uns anos, talvez uma década, ou um pouco mais, foi notícia o encerramento da última fábrica que produzia estas máquinas. Logo depois, e sem surpresa, deixou de haver no mercado fitas de tinta para estas máquinas e o meu pai andava aflito até que ficou um tempo sem a poder utilizar, mas não desistiu de procurar, até que, passado algum tempo, encontrou um fornecedor (não sei se incluído nestes pós-modernos movimentos revivalistas). Tratou logo de se abastecer para uns bons anos e, se não estou em erro, ainda se serve desse abastecimento.
É uma anacronia, bem sei, mas são objectos lindíssimos e que me remetem para um universo que adoro e que desde miúdo me encanta. Nunca comprei, nem penso fazê-lo, pois apenas serviria de adorno, mas talvez um dia guarde esta.
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