28 setembro 2014

popular problems

Só ontem o fui comprar. Só o hoje o estou a ouvir, repetidamente. Gosto, apesar de uma ou outra música me parecerem desalinhadas. Deve ser má impressão minha. Tenho que ouvi-lo mais vezes.
Tal como sempre, muito bom.

22 setembro 2014

mesa redonda

Em S. Joanico e a debater "mundo rural como fonte de conhecimento científico". Registos acabados de chegar...



Para ver mais fotografias do festival Sons & Ruralidades, visite aqui a página da AEPGA.

16 setembro 2014

festival sons & ruralidades


Eu vou lá estar para conhecer o festival que já vai na sua nona edição e eu nunca participei, e para participar numa mesa-redonda subordinada ao tema "mundo rural como fonte de conhecimento científico" e onde se pretende «a partir de exemplos concretos demonstrar a importância deste objecto e/ou meio de estudo para diversas áreas de investigação, pondo a hipótese de se tratar de um caminho mais sustentável e integrado do que algumas das soluções que têm sido mais frequentemente apontadas, como o turismo ou o apoio ao empreendedorismo» (organização). Será no próximo dia 20, às 15 horas, na aldeia de S. Joanico. Para mais informações visitem o site da AEPGA (aqui). Apareçam.

15 setembro 2014

LER do trimestre

Já cá tenho a revista de Setembro, (Outubro e Novembro). Com muito bom aspecto para ser consumida nas próximas horas e dias. Contudo, continua a saber a pouco...

feira do livro do porto

Aproveitei o fim-de-semana para ir conhecer a "nova" feira do livro da Invicta. Sendo um visitante e comprador assíduo, era com grande expectativa que aguardava esta edição, esta nova vida da feira. Sem conhecer os pormenores e os bastidores de toda a incompatibilidade entre a APEL e a CMP, foi com satisfação que vi a iniciativa da Câmara do Porto ao assumir a organização deste histórico evento da cidade. Depois a feliz escolha do local, os jardins do Palácio de Cristal, que são para mim e sem qualquer dúvida o melhor local para acolher um certame deste género. A ideia de ter levado a feira, durante alguns anos, para a Avenida dos Aliados foi peregrina e esse local, apesar de central, é um local inóspito, sem sombras, sem equipamentos de apoio, sem lugares sentados, pouco convidativo e, não menos importante, sem estacionamento. Muito pouco propício para o passeio, para a contemplação e para a leitura.
Foi uma rica tarde que a família passou entre livros, actuações de rua e passeio pelos espectaculares, sombrios e frescos jardins do Palácio de Cristal. Mesmo não tendo encontrado nada de muito interesse para mim e por isso não ter comprado nenhum livro, gostei muito de perceber as diferenças nos expositores: Muitos livreiros, pequenos livreiros, muitos alfarrabistas e de vários locais do país, grande variedade editorial e gráfica.
Para além de esperar que assim volte acontecer, acho que durante os próximos dias ainda lá vou outra vez, talvez numa hora em que haja menos confusão. É verdade, dizem-me que a LeYa não estava lá. Não lhe senti a falta e assim está bem.

08 setembro 2014

inquietação existencial


Como os tempos mudam? É a questão que me ocorre ao ler este excerto, propositadamente descontextualizado, de uma carta datada de meados da década de sessenta do século XX. Segundo informações posteriormente recebidas, a inquietação teria mesmo razão de ser, pois pouco tempo depois o autor abandonou o sacerdócio e terá casado, quiçá, com uma das bailadeiras...

fortuna?


Caído de um livro muito velho, que ao se folhear permitiu encontrar várias preciosidades como esta. Terá sido uma fortuna no início do século XX? Terá o seu proprietário resgatado o seu valor? Ou terá ficado esquecido nas páginas desse livro? Não adivinho a resposta, mas gostei de imaginar que esse valor poderá ter ficado todo este tempo a render no fundo de um "cofre" qualquer. Fortuna.

13 agosto 2014

a verdade histórica de um retrato

Quando o Papa João XXIII convocou, através da Bula «Humanae Salutis», o Concílio Vaticano II, no dia 25 de Dezembro de 1961, iniciou um processo que levaria, nos meses e anos subsequentes - o Concílio terminaria no dia 8 de Dezembro de 1965 - milhares de membros da Igreja até Roma e à cidade do Vaticano. Entre esses muitos homens do Clero que para aí se deslocaram, estava D. Manuel António Pires, então bispo de Silva Porto, Angola. Viajou para Roma, no fim do mês de Setembro de 1962, como membro integrante da comitiva portuguesa que iria participar no conclave. Ao todo participaram 39 elementos do clero português. D. Manuel viajou de Bragança até Madrid na companhia de D. Abílio Vaz das Neves, então bispo da diocese de Bragança-Miranda, e no carro desta diocese. De Madrid foram de avião até Roma. Com estes dois prelados viajaram também o secretário de D. Manuel, o padre Manuel Vale e seu irmão Francisco Vale.
Os trabalhos do Concílio só iniciaram no dia 11 de Outubro de 1962, o que proporcionou alguns dias de descanso e de turismo pela cidade. Foi também nesses primeiros dias que D. Manuel foi recebido, em audiência, pelo Papa João XXIII. Desse singular e curto momento ficou o registo fotográfico, onde podemos verificar que nessa reunião participaram também, pelo menos, mais dois sacerdotes.

Imagem 1 - Pontifícia fotografia tirada no fim da audiência, no dia 1/10/1962. Para além de João XXIII e D. Manuel, podemos ver também o Padre Francisco Vale (do lado direito da fotografia).  

No regresso a Portugal e a Bragança e depois da curta estadia no Vaticano, o padre Francisco Vale trouxe consigo um exemplar dessa fotografia. Mas pelos vistos, por mais que olhasse para ela, não estava satisfeito com a sua qualidade e, principalmente, com a disposição dos seus elementos. Por isso, mesmo antes de partir para o Rio de Janeiro onde foi passar uma temporada, resolveu intervir e para tal, solicitou os serviços do fotógrafo Ricardo, em Bragança. O que pretendia era uma manipulação, em que ele passasse para o lado oposto da fotografia, trocando de posição com o outro sacerdote e, assim, ficar ao lado do Papa. Para além disto, escreveu no verso desta fotografia:
«na fotografia do Sr. Bispo devem ficar em vermelho: a capa, o laço e a faixa, botões e cordão; em cor de ouro: cruz peitoral e seu cordão, anel.»
O referido profissional tratou de dar resposta ao solicitado e enviou, via Correio, o resultado para o Pe. Francisco. Só que este não ficou nada agradado com o resultado, pois continuava longe do Sumo Sacerdote. Voltou a escrever ao fotógrafo, mas desta vez num tom mais acintoso, reafirmando a vontade de constar para a posteridade ao lado do Papa. O fotografo Ricardo, acossado pela carta recebida, rapidamente tratou de proceder à manipulação da fotografia. O resultado dessa montagem foi enviado para o Brasil, para aprovação do Pe. Francisco. No verso dessa "fotografia" manipulada, escreveu:
«o tapete será retocado para ficar uniforme, assim como a cruz será disfarçada e ficar apenas a porta»
Imagem 2 - Ensaio da montagem efectuada, em que o Pe. Francisco aparece já do lado esquerdo da imagem, mas ainda sem os referidos retoques e acabamentos.

O trabalho estava concluído e o Pe. Francisco agradado, agora sim, pois estava, finalmente, no sítio certo. Muito rapidamente tratou de reproduzir essa fotografia e em vários tamanhos, distribuindo-as pela sua família. Enfim, conseguiu oficializar a sua versão da audiência papal, que aconteceu no longínquo dia 1 de Outubro de 1962.
A única fotografia conhecida desse momento até ao presente, imortalizada na parede de um salão nobre da casa familiar e em rica moldura dourada, foi essa em que aparece do lado direito de João XXIII e do lado esquerdo da fotografia.
Imagem 3 - Fotografia final, depois da manipulação e das alterações solicitadas pelo Pe. Francisco. Único exemplar conhecido durante todo este tempo.

Só agora, em 2014, e quando se procedeu à derradeira limpeza dos seus aposentos, foi possível encontrar a documentação (fotografias e correspondências), que permitiu conhecer a verdadeira história de uma simples fotografia.

12 agosto 2014

o catedrático da uniformidade

«O jardineiro, como aqueles de que falo, não se dá bem com a luxúria das flores, os seus peristilos e estames, a sua fecundação e até o seu perfume. O jardineiro é um asceta da tesoura, um catedrático da uniformidade. Talha a sebe como quem folheia palimpsestos. Desvia os olhos da carnação da rosa; sente-se bem com as folhas mortas e os galhos secos.» (Agustina Bessa-Luís in A Quinta Essência)

11 agosto 2014

cultura em movimento


05 agosto 2014

raposa parda

Vivemos desde miúdos com o imaginário da velha história da Raposa que vai ao galinheiro roubar tudo aquilo que consegue. E se puder vai regressar sempre até exterminar toda a comunidade de galináceos. Pois bem, aquilo a que não estamos habituados é ver Raposas a entrar pelo espaço urbano, para bem perto dos humanos procurarem alimento. É o que está a acontecer em frente a minha casa. Uma família de Raposas, todos os dias e quando a noite se prepara para chegar, sai do pequeno espaço "selvagem" onde habitam sitiadas pela urbe e vem para a rua à procura de alimento. Ninguém sabe como foram ali parar, mas a verdade é que há meia dúzia de meses que ali estão. As respectivas autoridades já foram alertadas, mas até agora nada fizeram e o seu agregado familiar tem vindo a diminuir, não sabemos se por escassez de alimento ou se pela acção directa dos muitos cães que por ali vagueiam. Não deixa de ser interessante vê-las aproximarem-se dos humanos e quase comerem das suas mãos. Por outro lado, não deixa de ser muito triste saber que estão condenadas a morrer a qualquer momento.



    (fotografias tiradas um destes dias com o telemóvel)

mediascape: ódio


Como será possível viver assim? Como será possível sequer sobreviver assim? Assim com um eterno sentimento de insegurança e de terror? Assim sem poder perspectivar um futuro, uma vida normal e em paz? Não consigo sequer imaginar.O mais recente e actual conflito em Gaza trouxe-nos, uma vez mais, momentos e imagens impossíveis de crueldade, chacina e extermínio. Ao longo destes dias pudemos ver em directo a destruição impiedosa e cega. Ao ver essas imagens e sua brutalidade não pude deixar de reflectir sobre a raiz, ou melhor, a força que alimenta esta carnificina, o ódio. Ódio que historicamente se alimenta de fanatismos e fundamentalismos e, depois, de momentos como este. E para o perceber bastou-me colocar no lugar de um qualquer palestiniano a quem Israel matou um filho, uma mulher, um pai ou mesmo a família toda e, por nada, destruiu a sua casa, bens e pertences. Imaginem só que uma destas crianças é um vosso filho... Estamos perante um ódio de morte sem fim.

28 julho 2014

grande guerra, a primeira

No dia em que se assinalam cem anos sobre o início oficial da primeira guerra mundial - foi no dia 28 de Julho de 1914 que o Império Austro- Húngaro declarou guerra à Servia, faço referência a este livro de Tim Butcher que estou a ler. Nele podemos encontrar a história de Gavrilo Princip, jovem sérvio bósnio que um mês antes assassinara o arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do Império Austro-Húngaro; facto que acabou por precipitar o mundo naquele horrendo confronto. "O Gatilho" narra a história deste jovem que sonhava com a independência do seu país e mudou o mundo para sempre.Num relato apaixonante, que combina a história, as viagens, a biografia e a literatura, Tim Butcher narra todo o contexto que deu origem à Primeira Guerra Mundial, bem como as suas consequências, sobretudo a da Guerra da Bósnia. Descreve a viagem de Princip e a viagem do próprio autor seguindo-lhe os passos, contextualizando o território e a história e conhecendo inclusive os descendentes da família Princip.


17 julho 2014

16 julho 2014

mediascape: "e o burro sou eu"

Sim, o burro foste tu Scolari, ao permitires a maior derrota e, acima de tudo, a maior humilhação que o Brasil já sentiu. E essa humilhação não foi apenas desportiva. É todo um país que vive e sofre com as aventuras da sua selecção nacional. Nada nem ninguém poderia antever esta hecatombe do futebol brasileiro perante a organizada e disciplinada Alemanha, mas eram já muitos os sinais de que algo não corria bem no seio da canarinha.
Não tenho problema algum em admitir que gostei muito dessa humilhação. Primeiro porque nunca gostei da soberba, depois porque, independentemente dos sucessos ou fracassos das outras selecções, detesto a sobranceria dos brasileiros, pelo menos daqueles que afirmam Deus como sendo seu conterrâneo e que, numa atitude fundamentalista, educam os seus filhos com a certeza que no futebol serão sempre os melhores do mundo. Detesto, igualmente, a forma como esses mesmos brasileiros se referem aos "seus patrícios". A derrota de Portugal frente à Alemanha foi mote para a "gozação" e para a chacota. Pois bem, aí esta a torna-jeira. É que sempre ouvi dizer que quando se atiram pedras para o ar, é preciso saber se o nosso telhado é de vidro...
Aquilo que aconteceu agora ao Brasil irá ter repercussões impossíveis de adivinhar. É uma ferida aberta e que demorará a cicatrizar. Não haja dúvida de que o futebol no Brasil - o jogador, o treinador, o treino, o dirigismo e tudo o resto - estão em crise. Dá a sensação que estagnaram algures na década de oitenta e de lá para cá apenas se preocuparam com a sua irracional crença.
O jogador brasileiro é, por defeito, um supersticioso. A sua aparente e verbalizada fé em Deus, não é mais do que uma vulgar crendice, traduzida em gestos rápidos e trapalhões ao entrar e ao sair do campo, assim como através da verbalização obrigatória de um "Graças a Deus" com o qual abrem a boca e iniciam qualquer frase ou raciocínio. Insuportável.
Afinal, os burros já não somos nós.

Nota: Texto escrito no dia 8 de Julho de 2014, num local isolado e sem acesso à rede.

as duas razões


Recentemente foi-me oferecido o livro "Nós e a Europa, ou as duas razões" de Eduardo Lourenço, cuja 4ª edição é de 1994. Nele, o autor faz um conjunto de reflexões acerca da relação entre Portugal e a Europa, assim como acerca das várias dimensões da identidade nacional, por semelhança, contraste ou diferenciação em relação às demais identidades europeias e em relação à construção do espaço europeu, na qual participamos desde meados da década de oitenta.
Um dos textos que destaco e que mais me chamou a atenção é, precisamente, o primeiro: "Identidade e Memória", no qual Eduardo Lourenço afirma que Portugal, os Portugueses não têm qualquer dúvida séria relativa à sua existência e à sua identidade... "o nosso grau de segurança ontológica, enquanto povo, é dos mais elevados".
Apesar de ser uma reflexão perfeitamente datada e com cerca de três décadas*, penso que se lê com perfeita actualidade e mesmo num período conturbado da nossa existência, como têm sido estes últimos anos, conseguimos manter "a consistência, a força, a coerência do nosso sentimento de identidade, amalgamadas que estão com a vivência de um espaço-tempo próprio homogeneizado pela língua, pela história, pela cultura, pela religião enquanto «habitus» sociológico, pela sua própria marginalização no contexto europeu, o seu lado «ilha» sem o ser. Mas talvez mais ainda pela presença e permanência, por assim dizer, físicas, ao alcance dos olhos e das mãos, de uma estrutura social de um arcaísmo extremo, quer dizer, de um enraizamento profundo no passado".

* Palestra proferida pelo autor num colóquio em Durhan (EUA), em 1984.

Nota: Texto escrito no dia 7 de Julho de 2014, num local isolado e sem acesso à rede.

manuais escolares, outra vez

Este é um daqueles assuntos que mais parece um mito de eterno retorno, pois é algo que, ciclicamente, me assalta - e, concerteza, a quase totalidade dos pais e encarregados por crianças em idade escolar - o sistema nervoso e a tranquilidade da alma. Para ser mais preciso, essa angústia acontece todos os anos durante o período das férias de Verão.
A ditadura dos manuais escolares. Já aqui reflecti sobre este assunto, mas neste momento e sem tentar ser repetitivo, retorno a ele porque fui surpreendido por mais um pormenor sórdido desta super-indústria que esmaga, ano após ano, as economias das famílias. Nos últimos dias recebi por email a lista de livros para o próximo ano lectivo da minha filha. No email enviado pela sua Directora de Turma alertava-se para uma nota que acompanhava essa listagem e onde se podia ler:
"Muito Importante: de acordo com o Despacho nº15971/2012, as Metas Curriculares estão a ser implementadas nas diferentes disciplinas segundo o quadro abaixo. Assim, apesar de os manuais adotados não mudarem, estes sofrem adaptações por parte das editoras. Isto implica que os alunos não possam usar a edição antiga dos mesmos manuais".
Bem, eu sei que o mais fácil e cómodo seria nem sequer pensar no assunto, comprar os livros e seguir com a minha (nossa) vida, mas não consigo, é mais forte do que tentativa de racionalizar a questão. Ora porra! Legisla-se que os manuais escolares ao serem adoptados têm uma duração de vida de seis anos, dando alguma estabilidade pedagógica e algum alívio financeiro às famílias. Não satisfeitas com isto as editoras trataram logo de tentar contornar esse constrangimento legal ao seu negócio e lucro, inventando essas adaptações de ano para ano. Se posso perceber o desconforto que essa legislação criou e a tentativa das editoras de salvaguardar o seu negócio, já não consigo perceber a atitude das escolas e dos professores ao aceitarem essa estratégia meramente comercial e que não visa o interesse pedagógico e dos alunos.
Inadmissível esta chantagem sobre os alunos, professores e escolas. Ou seja, adoptam-se os livros por seis anos, mas o livro do 1º ano nada terá haver com aquele que for comprado no 6º e último ano.
Não percebo também a passividade do ministério da educação que, consciente destes factos, nada faz para travar este sector editorial, que se apresenta com um fortíssimo lobby e que encontra sempre forma de contornar a lei.
Enfim, lá vamos nós "andando com a cabeça entre as orelhas...".

Nota: Texto escrito no dia 6 de Julho de 2014, num local isolado e sem acesso à rede.

30 junho 2014

instante urbano XXVIII

Adivinhava-se mais uma manhã igual a tantas outras passadas no Arquivo Distrital de Bragança. Lugar bonito, ambiente tranquilo e "mergulhos" ao século XIX e XVIII. Nessa manhã, mal me tinha instalado e ainda sozinho na enorme sala de leitura, sinto um anormal burburinho que se foi aproximando. Uma visita de estudo de alunos do ensino básico. À frente do grupo a técnica do Arquivo que iria guiá-los pelos diferentes espaços e que ao ver-me cumprimentou-me e pediu-me licença para me incomodar durante uns minutos.
- Concerteza... - respondi eu, antevendo o que iria suceder.
Num ápice me vi rodeado de dezenas de crianças que, sem cerimónia, se aproximaram até para lá (cá) do meu limite de espaço vital e de conforto. A técnica explicou aos miúdos o que se podia fazer naquele espaço e depois pediu-me para eu lhes explicar o que estava a fazer.
Tentando utilizar uma linguagem simples lá tentei demonstrar o que andava a investigar e para que servia essa investigação. Depois de uma curta apresentação e de algumas dicas da Técnica do Arquivo, para terminar a minha intervenção, perguntei se alguém queria saber mais alguma coisa.
Depois de um breve silêncio, aconteceu isto:
- Para que serve o computador? - pergunta um miúdo que estava com a cara colada ao monitor e que pelo aspecto não queria saber de mais nada a não ser do computador.
- Porque é que as folhas têm esta cor, estão tão amarelas? - pergunta outro.
- Mas o que estás aqui a fazer? - e outro...
- Tu não fazes mais nada? - e outro...
- Ficas aqui muito tempo? - e outro...
A todas as questões fui tentando responder até que a técnica, com um sorriso nos lábios, disse que era melhor continuarem a visita e deixarem o investigador trabalhar. Assim, foram.

26 junho 2014

o melhor do mundo e arredores

Eu não gosto muito, ou mesmo nada, de escrever sobre futebol. Nem sobre o meu clube, nem sobre a selecção, mas a prestação da selecção nacional neste mundial do Brasil foi má demais.
Nada correu como devia ou teria que correr. Andaram-nos a vender a ideia de que este era o ano de Portugal e aí a comunicação social desempenhou o papel principal. Uma mensagem fraudulenta, que criou expectativas infundadas.
Uma convocatória errática, com jogadores que não eram os melhores nas suas posições e um selecionador teimoso, mas ao mesmo tempo permeável às pressões externas: às pressões de interesses alheios e à indústria do futebol. Com Paulo Bento a sensação que fica é que ele escolhe sempre os mesmos. Parece uma família.
Depois a questão física e a condição com que a maioria dos jogadores se apresentaram para este torneio. Outra vergonha. Dos guarda-redes aos ponta-de-lança, todos apresentavam índices de competitividade muito baixos. Lesões a toda a hora e em todo o lado, cuja culpa não pode ser o tempo, a humidade ou o calor. 
A histeria criada pelos media à volta da comitiva portuguesa, em geral e à volta de Ronaldo, em particular, foi uma vergonha. A notícia era sempre o penteado de Ronaldo, o sorriso de Ronaldo, o aceno de Ronaldo, as meias do Ronaldo, o espectáculo dentro do espectáculo...
Por último, o melhor do mundo. Reparem como não adiantou de nada, nem esperar que um só jogador possa fazer o que deveria ser uma equipa a fazer. Tantos jogadores fantásticos e eficazes temos visto neste campeonato - o frio Mueller, o esteta Van Persie, o simples Messi e o deficiente Eimar, entre outros. O vedetismo, o brilho da divindade ofuscou o resto, o principal, que seria o todo, a equipa. "À mulher de César não basta ser, tem que parecer" e a Ronaldo não basta ser o melhor do mundo e passear-se pelos campos. Tem que jogar, acreditar e efectivar. Nunca o fez neste torneio. É inadmissível.
Pode ser muito importante para o próprio e para a legião de fãs e de gajas que têm sonhos húmidos com o rapaz, mas a verdade é que foi um flop e é inadmissível para um jogador profissional com as responsabilidades de Ronaldo. O melhor do mundo e arredores afinal nem o melhor dos nossos conseguiu ser.
Por tudo isto e mais, ainda bem que já fomos eliminados. Já deveríamos ter sido eliminados não fosse o golo de Varela contra os EUA. Melhor, nem lá deveríamos ter ido. A verdade é esta. Simples e mais barata. O resto é caca.