Verborreia Masculina
Neste final de tarde, agora princípio de noite, aguardo pacientemente o resto da família num cafézito bem perto do antigo campo do Vilanovense, em Gaia. Quando entrei no café este estava vazio, mas logo depois de mim entrou um outro indivíduo que, ainda na rua, em alta voz e num tom jucoso, começa a falar para cá para dentro. A conversa com o dono do café prossegue sem sequer se preocuparem com a minha presença. Eu, na minha insignificância, vou lendo, ou pelo menos tentando... Distraído daquilo a que me propus inicialmente, logo percebo que o indivíduo que entrou é médico, pois queixa-se da crise que também já afecta as consultas de pediatria. Os dois interlocutores demonstram significativa intimidade e cumplicidade. A conversa, à boca cheia, quase à desgarrada, era acerca das aventuras sexuais de cada um deles (não estranharia nada que nalgumas situações em simultâneo...) com mulheres brasileiras. O médico, pelo discurso, era daqueles cuja líbido não cabe nos poucos centímetros de pénis que possui, pois para além da cagança no timbre de voz, dizia-se até preocupado com o seu enorme charme e sucesso junto do sexo oposto e com o permanente assédio que sente da parte, principalmente, das mães dos seus pequenos pacientes. É que lhe têm causado enormes trantornos e situações desagradáveis. Inclusivé, diz-se farto de avisar a sua própria mulher que se sente uma vítima da enorme exposição pública e que não pode impedir as mães de se apaixonarem por ele. Será portanto natural ter tantas mensagens amorosas no seu telemóvel... O outro vai-se rindo, e ainda por cima de boca aberta, néscio, concordando com tudo aquilo que ouve. Ficámos todos a saber os seus (do médico) gostos e desejos: tipo de mulher, estatura, étnia e geografia de proveniência, pois tudo isto será fundamental para este doutor que garante que o desempenho das fêmeas é diferenciado. E nada como ir ao Brasil e experimentar in loco uma verdadeira picanha, uma maminha e respectiva caipirinha... Confesso que toda esta verborreia, encharcada de líbido, me incomodou e por momentos hesitei se deveria ou não levantar-me e sair, mas acabei por ficar a escrevinhar estas linhas e, em definitivo, esquecer o texto que trouxera para ler. A conversa só se dignificou no momento em que uma senhora assomou à porta, ameaçando entrar. Aí, um deles adevertiu: "Cuidado!"
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