Aconselhadas e partilhadas por um amigo, trouxe para estes dias de retiro transmontano duas séries televisivas. A primeira foi a sétima temporada de Californication, cujos doze episódios vi de uma vez só e que é a mais brilhante série alguma vez vista por mim; vi e guardei todas as suas temporadas. Mas a surpresa foi a serie Designated Survivor, cuja primeira temporada tem vinte episódios e nos conta a vida de um presidente dos EUA independente, não eleito, mas nomeado depois de todo o governo e altos cargos do sistema de estado terem sido mortos num atentado. Estou completamente agarrado e tenho consumido 3 a 4 episódios por madrugada. A série conta com Kiefer Sutherland no papel principal, de presidente dos EUA nomeado, e com a talentosa e belíssima Natascha McElhone no papel de primeira-dama. Já vi onze dos vinte episódios e sei que irei terminar nas próximas horas. Satisfação suplementar, saber que haverá segunda temporada.
---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
31 dezembro 2017
ciclos que se renovam
Chegados a mais um final de ano e a sensação que se repete. Um ano que termina para dar lugar a um novo, numa passagem de testemunho que em nada se distingue de uma qualquer outra noite passada, a não ser o ruído humano, sempre demonstrativo da carência individual e, depois, colectiva de festa, de ânimo, de alegria. Talvez ainda significativo da consciência e nostalgia da perda que é a passagem de cada ano para a vida de cada um dos seres humanos. Dois mil e dezassete acaba hoje e vai-se juntar de imediato à soma de anos que já vivemos, transformando-se em mais uma memória temporal que poderemos num presente futuro evocar ou relembrar.
Ainda que abstraídos dessa dimensão temporal, iremos entrar num novo ano, num novo ciclo que, por estes dias, fazemos questão de ponderar, de perspectivar ou antecipar. Sobrará a eterna questão de sabermos quantos mais ciclos poderemos experimentar. Venha 2018.
é, pois
...Bem diferente é o caso daqueles (intelectuais) que não intervêm ou nunca intervieram, mais por subestimarem as suas aptidões, por timidez ou por falta de oportunidade do que por atitude sistemática. Estes fazem falta, sabem-no, mas quase sempre revelam dificuldade em descobrir o meio adequado para intervir.
(...)
Sabemos do pavor que a tantos "intelectuais" inspira a palavra "organização". Como se a circunstância de integrarem uma organização, por pouco formal que seja, lhes coarctasse a expressão ou lhes condicionasse o pensamento.
(...)
Segundo se diz, o que menos se espera de um "intelectual" é o conformismo.
(Arlindo Fagundes in Le Monde Diplomatique)
28 dezembro 2017
a minha consoada
Já passaram alguns dias e a dieta foi já reposta. Esta foi a consoada em que, pela primeira vez, recusei qualquer iguaria ou confecção diferente daquela que toda a família reunida iria comer - bacalhau e polvo cozidos com couve, batata e rabas - e como não gosto de bacalhau cozido, nem valorizo o polvo, foi noite de quase não comer. Em relação aos doces, nem vale a pena referir, pois nem nesta, nem em qualquer outra consoada, eles existem para mim. Portanto, o Natal e, em particular, a consoada, não é tempo de perdição, nem de consumos excessivos, muito pelo contrário, é tempo de alguma privação, devidamente compensada, claro está, pelos volumosos consumos de vinhos e afins. Bem haja.
27 dezembro 2017
mediascape:rentismo
Aproveito estes dias de vazio, de horas repletas de nada, para ler, ler e ler. Guardei até estes dias o Le Monde Diplomatique e agora, tal como é frequente, encontro excelentes textos e artigos que me fazem reflectir. Como logo no editorial, Sandra Monteiro escreve a propósito do adiamento da proposta de criação de uma contribuição de solidariedade sobre os produtores de energias renováveis:
Configurando um caso de rendas excessivas, nada justifica a manutenção dessas condições de excepção. A criação de uma sobretaxa viria apenas mitigá-las. Nenhuma preocupação ecológica pode justificar este privilégio. (...) Ela apenas garante lucros estratosféricos, e quase sem riscos. Entendeu o governo que havia que estudar melhor o desenho da medida e as consequências que ela poderia ter sobre potenciais investimentos na economia, em particular na compra de dívida portuguesa, e sobre a eventual litigância na justiça. Será de acompanhar com o maior interesse a evolução dessa reflexão e desse estudo. Será mesmo um acto fundamental de cidadania. Porque o que dele resultar será decisivo para se compreender se os Estados e os poderes políticos nacionais têm (ou não) capacidade para defender os seus povos para lá do simples apagar de fogos a seguir à fase aguda de cada crise. Isto é, será um laboratório muito útil para se concluir se é possível afrontar o parasitismo rentista de empresas transaccionais sobre os Estados nacionais, mesmo em sectores tão estratégicos para a economia como a energia. (...) Muito útil, por fim, para se compreender que respostas dará a União Europeia a Estados, como o português, que para saírem desta armadilha da dívida e do rentismo, tenham de colocar em cima da mesa propostas robustas de reestruturação da dívida pública.
(negritos meus)
20 dezembro 2017
há mais de trinta anos...
Amigos desde sempre e, sei, para sempre. Pena é não reunirmos mais vezes. Hoje e depois de uma rica francesinha e de uns divinais rissóis de carne, no Capa Negra.
eu quero
- Pai, eu quero ir para a escola do Porto!
- Escola do Porto?! Que escola?
- Do futebol.
- Porquê?
- Para depois ir dar as bolas aos jogadores (ser apanha bolas).
- Escola do Porto?! Que escola?
- Do futebol.
- Porquê?
- Para depois ir dar as bolas aos jogadores (ser apanha bolas).
16 dezembro 2017
clave de sol
Chave para a decifração dos caracteres musicais inscritos nas linhas de um pentagrama, permite aos leitores identificar a ordem e a sequência das notas a executar. Ao recordar aquilo que um dia aprendi e ainda hoje consigo ler, dou comigo, sem qualquer razão ou propósito, a esquissar os seus contornos em qualquer pedaço de papel.
Independentemente da sua qualidade musical ou técnica, que sei relativa ou discutível, na verdade, a sua presença gráfica sempre me foi aprazível ao olhar e, não estarei a exagerar ou generalizar se afirmar que será o símbolo musical mais universalizado, mais denotativo e significativo, para doutos ou leigos, nessa arte de escrever e ler uma pauta musical.
Ao percorrer os inúmeros cadernos de apontamentos, agendas, folhas soltas e cadernos escolares, que ao longo da vida preenchi, é o símbolo gráfico que mais encontro rabiscado. Desde muito cedo, talvez desde que o descobri, aprendi e percebi, passou a ser o símbolo que mais rabisquei e que gosto rabiscar. Se me pedissem para eleger o meu símbolo, não hesitaria em o destacar de todos os demais.
quando eu for grande...
- Mamã, eu quero ser professor.
- Ai sim?!
- Sim, quero ser professor.
- Queres ensinar os meninos a escrever e a ler?
- Não Mamã. Quando eu for professor vou mandar os meninos brincar todo o dia, de manhã até à tarde e eu também vou brincar com eles.
- Brincar?!... Então e estudar?
- Não. Os meninos não querem isso, querem é brincar. Brincar é que é fixe.
- Ai sim?!
- Sim, quero ser professor.
- Queres ensinar os meninos a escrever e a ler?
- Não Mamã. Quando eu for professor vou mandar os meninos brincar todo o dia, de manhã até à tarde e eu também vou brincar com eles.
- Brincar?!... Então e estudar?
- Não. Os meninos não querem isso, querem é brincar. Brincar é que é fixe.
13 dezembro 2017
08 dezembro 2017
jawline
- what the fuck is that?!
Esta foi a minha primeira reacção quando ouvi a minha filha referir-se às pessoas que por nós passavam. Ela, contemplativa, estava a apreciar os rostos daqueles e daquelas que desfilavam à nossa frente, referindo-se, em concreto, à perfeição dessa jawline(?), ou se tinham ou não essa jawline(?). Mas que raio de conversa, disse-lhe eu. Ela ainda tentou explicar-me, mas a minha surpresa por tal observação e especificidade do critério para julgar a beleza humana, deixou-me abismado. Segundo ela, os rostos bonitos e perfeitos são aqueles que têm essa jawline(?) bem vincada e visível no rosto. De imediato, a minha reacção foi tentar rebater essa ideia, dizendo-lhe que é natural que só os rostos bem vincados, magros e esguios, poderiam manifestar essa característica, pois os rostos mais redondos e com mais carnes, ocultam os recortes da estrutura do crânio.
Pouco tempo depois já estava eu em busca dessa jawline(?), do seu significado, origem, etc. e afins. Pois bem, jawline significará "queixo", ou "linha do maxilar" e é um termo relativo à anatomia humana. Pelo que percebo, o ideal será ter essa linha bem vincada no rosto, adquirindo assim uma forma triangular.
Caramba, com toda a certeza, este conceito não é novo, mas foi preciso a minha filha adolescente se referir a ele, para eu aprender algo que jamais me chamara a atenção num rosto. Quanto a mim, ignoto, a beleza de um rosto continuará a ser avaliada por outros caracteres fenótipais, tais como os olhos, a boca, o cabelo, o sorriso, os lábios, o olhar. E uma cara laroca, ainda que rechonchuda, continuará a ser uma cara bonita, admirável e consumível.
Segundo o critério da jawline, a imagem superior apresenta um rosto mais bonito, mais perfeito, do que o rosto da imagem inferior. Eles lá sabem.
Segundo o critério da jawline, a imagem superior apresenta um rosto mais bonito, mais perfeito, do que o rosto da imagem inferior. Eles lá sabem.
07 dezembro 2017
crescendo
Depois de vários meses sem pesquisar ou procurar qualquer livro no OLX, regressei por estes dias e fui encontrar este lote de dezasseis revistas "Sociologia", editadas pela Faculdade de Letras do Porto, aqui bem perto em Vila Nova de Gaia e pela módica quantia de, pasmem, 6.90€, ou seja, a sensivelmente 43 cêntimos cada uma. Já cá estão no acervo, registadas, bem guardadas e estimadas.
04 dezembro 2017
para odiar
O novo rosto do ódio para os europeus, pelos menos para aqueles que estão sob o jugo do Euro e sua zona e, de entre estes, para todos os do Sul e mediterrânicos, será de agora em diante o nosso Mário Centeno, até ao presente nosso ministro das finanças.
Não consigo afastar do pensamento aquele seu ar apalermado, de perfeito desconhecido e sem créditos para quase todos nós, quando foi nomeado por António Costa. E agora, este burocrata luso chega ao topo da hierarquia das instituições europeias, e logo, por curiosidade, à instituição que representa o pior e o menos democrático que a Europa, esta Europa, tem.
Depois, falta referir este provincianismo português de afirmar a importância para o país, para todos nós enquanto portugueses, da eleição de um português para um cargo internacional. Alguém me consegue explicar quem, para além do eleito, beneficia com essa eleição?! O que beneficiou Portugal por Durão Barroso ter sido, durante dois mandatos, presidente da Comissão Europeia? Eu não percebi nenhum benefício ou vantagem para Portugal. Enfim, a mim tanto me faz que Mário Centeno seja ou não presidente do Eurogrupo, mas detesto este parolismo luso.
30 novembro 2017
"vida malvada"
Hoje tinha que aqui vir e escrever algo.
Estava a conduzir quando, na Antena 3, a locutora Isilda Sanches com a voz completamente embargada deu a notícia da morte de Zé Pedro, guitarrista dos Xutos e Pontapés. A comoção apoderou-se de tal forma da locutora que foi perceptível o seu chorar, o que, para além de demonstrar bem o seu sentimento, obrigou-me a um embargar da voz e a um estremecimento emocional.
Era sabido que o Zé Pedro estava doente, mas esta notícia apanha-nos sempre a todos de surpresa. Aqui há dias, o Tim deu uma entrevista ao Expresso (?) ou a outro jornal, que eu li e logo suspeitei, nas suas palavras, o estertor do amigo. Hoje chegou a confirmação.
Aproveito este momento de perda também para mim, para recordar a minha relação com a música dos Xutos. Se a memória não me atraiçoa, foi algures em 1987, aquando do lançamento do disco "Circo de Feras", que ouvi e registei o som da sua música. O single "os contentores" apareceu-me nos meus 13/14 anos e marcou. Motivou, se não estou em erro, o pedido persistente aos pais para comprarem esse disco em vinil - julgo, o primeiro que escolhi/escolhemos. A verdade é que ainda hoje, ao ouvir as músicas desse álbum, consigo acompanhar sem falhas, praticamente, todas as músicas do seu alinhamento. Ao contrário do que muitos dizem, a carreira dos Xutos não foi sempre pautada por boa música, considero que há períodos e alguns que nem sequer os dignificam, mas isso sou eu a dizer. O algum "Circo de Feras" foi o primeiro, foi por ele que conheci o universo dos Xutos & Pontapés, o resto veio depois e foi, na sua generalidade bom. É difícil escolher a minha música preferida, prefiro destacar algumas daquelas que mais me marcaram: "remar, remar"; "barcos gregos"; "homem do leme"; "sémen"; "Torres da Cinciberlândia"; "Esta cidade"; entre tantas, tantas outras.
Os Xutos foram, sem margem para dúvida, a banda cujos concertos eu mais assisti, por todo o país e mais do que uma vez em muitos sítios. A maior banda de música portuguesa perdeu um dos seus rostos e a música portuguesa ficou bem mais pobre. Mas isso só mais tarde o iremos perceber.
Do Zé Pedro recordo, principalmente em palco, o largo sorriso para todas as plateias e os largos movimentos de braços depois de mais um acorde na sua guitarra.
De tudo o que eles fizeram de tão bom, não tenho dúvidas em destacar "A vida malvada" como a música deles que mais me marcou e hoje foi, instantaneamente, a música que mais recordei, talvez porque, tal como eles cantam, a vida é sempre a perder.
27 novembro 2017
tempero
Conversa entre dois amigos, por estes dias, escutada num bar de hotel.
- Ela sempre foi assim... de sair... da noite... e de grande andamento.
- Pois é... É mesmo... Deus me livre de uma faneca dessas... mal por mal, velha por velha, prefiro a minha, que já está temperada a meu gosto.
23 novembro 2017
mediascape: curiosa indignação
A propósito da possível mudança da sede do INFARMED para a cidade do Porto, o que implicaria a transferência de grande parte dos seus trabalhadores, assistimos a um autêntico terramoto nos media e, principalmente, nas redes sociais. A indignação por, apenas, se ter avançado com essa possibilidade, foi generalizada e não deixa se ser curioso e até engraçado perceber o incómodo de quem orbita exclusivamente na capital por alguém ter ousado transferir um serviço da omnipotente Lisboa para a província.
Para além dos legítimos interesses dos trabalhadores directamente implicados nesta questão, não percebo o ruído, até porque nunca vi esta gente tão iluminada e tão cosmopolita indignarem-se quando os serviços públicos, tais como as finanças, a segurança social, os centros de saúde, etc., foram fechando por todo o país, que não Lisboa, obrigando igualmente os seus trabalhadores a deslocarem-se para outras cidades, ao longo dos últimos anos/décadas. Como é? Em que ficamos? Pois é, desde que não seja em Lisboa e arredores, está tudo bem. É sempre longe demais e é território desconhecido para essa "pseudo-elite bem falante" que se passeia pelas avenidas do twitter, facebook e afins, que nunca quis saber do resto do país, nem da sua desestruturação.
A mim, tanto me faz que a sede do INFARMED esteja aqui ou acolá. Não é assunto relevante e só o trago aqui por causa dessa curiosa indignação.
18 novembro 2017
melancólico mas bom
Meia-noite e meia, estação de comboios de Valadares, à espera da minha adolescente que regressava do Dragão. A rádio estava sintonizada na TSF e, a determinado momento, começo a ouvir um som envolvente, melodioso e melancólico. Desconhecia de todo o som, nem sabia quem estava a tocar. No final da música, Pedro Adão e Silva, anfitrião do programa, informou que eram os Cigarettes After Sex. Mal cheguei a casa, ávido, tratei de procurar e passei o resto da noite a ouvir esta banda, para mim perfeitos desconhecidos, e gostei. Sim, é um pop melancólico, mas soa bem. Soa a simples e melodioso. Gostei muito deste "Apocalypse".
16 novembro 2017
solidão e criatividade
Porque há uma diferença entre solidão e isolamento. A solidão é um estado criativo, e esse estado só me é cortado pela banalidade. Estou sempre em solidão, de noite e de dia, na multidão ou não, e quando deixo de estar é por causa de algum desvio. E aí recolho-me imediatamente. Preciso de manter permanentemente este estado criativo, interior, de solidão. (...) Não é fácil aguentar esta vida interior durante tantos anos sem ceder...
Luís Oliveira, editor da Antígona, in Revista LER, Outono 2017.
14 novembro 2017
verbo: proibir
A esquizofrenia social em que as nossas sociedades, actualmente, vivem, determinou que se chegasse à normalização do radicalismo, ou como se costuma ouvir e ler por aí, ao novo normal. É verdade: um dos verbos mais servidos e reivindicados é o proibir. Paradoxalmente, é em sociedades livres e com democracias adultas e estabelecidas, que verificamos esta apetência por coagir, limitar, coactar, controlar, as liberdades mais básicas dos indivíduos, condicionando a cidadania e, depois, as próprias democracias.
As redes sociais e os órgãos de comunicação social a reboque, e pelas primeiras influenciados, são o locus por excelência de todas as proibições, manifestadas grandemente através das múltiplas e variadas indignações que povoam e colonizam esses espaços virtuais, em processos distópicos, exclusivos e disruptivos, sem aparente censura, controlo ou vigilância.
Apetece decretar: é proibido proibir!
13 novembro 2017
07 novembro 2017
que mal pergunte
O que é a Websummit? É que estive a ver algumas imagens da abertura do evento que contou com o Primeiro-Ministro, o Presidente da Câmara de Lisboa, com António Guterres e com a participação surpresa do físico Stephen Hawking e não percebi. Para além do enorme show off e aparato tecnológico, o que aconteceu? Milhares de participantes com bilhetes a 1500 euros (?!), muitas caras larocas e sorridentes selfies, para quê e porquê? Depois ouvi o nosso Primeiro dos ministros falar inglês e não quis acreditar... depois ouvi Fernando Medina, com um enorme sorriso, afirmar: "Há 500 anos foram os navegadores, hoje são vocês: os empreendedores" e comecei a rir desbragado, enquanto mudava de canal.
Websummit o que significa? Quer dizer propriamente o quê? Alguém me explica como se eu fosse muito anacrónico, atávico e misantropo? Palavras (e adjectivos) estas tão bonitas por comparação com este newspeak geek, nerd e aparvalhado - veja-se a cara de felicidade aparvalhada nos rostos daqueles que por lá andam, tais quais crentes de uma qualquer seita religiosa, quiçá pelas ilusões virtuais que por lá são vendidas. Desculpem-me os crentes, mas quanto mais sei sobre estes eventos, cuja mais-valia se resume à dinâmica turística e hoteleira da cidade de Lisboa, mais realizado me sinto ao dedicar o meu tempo e saber a perscrutar e indagar sobre o passado e aqueles que, de uma forma ou outra, conseguiram deixar a sua marca, o seu trabalho, nessa linha invisível e sem fim, à qual chamamos tempo.
escritores russos
Camaradas leitores, faço autocrítica: na verdade vim em turismo burguês com a minha mulher Inês, pagando - como se costuma dizer - do nosso próprio bolso, mas aproveitando a época baixa, e sem qualquer compromisso a não ser passearmos, vermos museus, cúpulas acetoladas e sairmos descongelados do (súbito) mais frio Natal ortodoxo dos últimos cem anos.
Não gosto de viajantes modernos, de pessoas que fazem de conta que há sítios inéditos na superfície da Terra, considero-me um turista de cocktail. (...) A admiração pelos escritores russos, cem anos para trás da Revolução e cem anos para a frente, umas duzentas voltas ao Sol de poderosa beleza literária, comédia e tragédia. É por isso que estou sentado ao lado do salvar de Dostoiévski, aparelho em latão em que só ele podia mexer...
Rui Cardoso Martins, in Granta Portugal nº 10, 2017:69 e 70.
03 novembro 2017
mediascape: a burguesa
Só hoje tive oportunidade de ler a "pluma caprichosa" de Clara Ferreira Alves, na revista E do Expresso de 28 de Outubro. Do alto da sua burra, refastelada, a burguesa escreve:
Quando um problema se torna demasiado grande atira-se dinheiro para cima. Garantindo aos parceiros desprovidos de compaixão pelas vítimas que o dinheiro não virá do bolso deles. O PCP berrou logo que queria saber quem ia pagar. Eles só cuidam dos funcionários públicos, sindicatos, autarcas e clientelas que alimentam e de que se alimentam. O país nunca lhes interessou mais do que a manutenção da ideologia cujo sucesso assenta na pobreza. Se, por um milagre, Portugal passasse a ser bem administrado e menos desigual e injusto, os comunistas desapareciam. E do bloquismo restaria o perfume do caviar.
01 novembro 2017
de um simples
Há perguntas que eu gostava de fazer.
Eu não sei e gostava que alguém me conseguisse explicar!
Eu não sei onde fica o céu! Mas deve ser bem longe...
Eu não sei, mas deve ser difícil lá chegar... e vir de lá!
A Senhora veio cá várias vezes falar com pessoas... como é possível Ela vir de tão longe para falar com as crianças?!...
Ninguém me explica!
31 outubro 2017
cagança suprema
Este senhor não tem sequer a noção do ridículo que é. Ainda por cima têm-se numa conta... o melhor do mundo e arredores, só pode! Não há paciência. Vergonha alheia.
mediascape:poder divino
Com todo o respeito que a personagem me merece e respeitando a crença de cada um, parece-me ridículo, quando toda a gente já sabe que está prevista chuva para os próximos dias, o Cardeal de Lisboa indicar aos sacerdotes que façam uma oração depois da homilia para solicitar intervenção divina e chova. Pois bem, vai chover nos próximos dias e nós já sabemos disso graças à ciência humana e não à divina. Sem querer imiscuir-me nas coisas do sagrado, esteve tanto tempo calado e só agora que está prestes a acontecer, é que se lembra de publicar tal. Quererá os méritos para o que aí vem? (leia aqui o texto na íntegra)
28 outubro 2017
inacreditável
Então não é que logo à noite será o momento de atrasarmos uma hora o relógio e ainda anda toda a gente (menos eu) a veranear por aí com as carnes excedentárias à solta e a poluir a paisagem! Um ano destes, ainda vamos comer o bacalhau cozido da Consoada, depois de uma rica tarde na praia, em chinelos de enfiar o dedo e com as borras da salitre bem visíveis. O raio do calor!
venha o Diabo e escolha
Ainda a propósito do Acórdão da Relação do Porto, não sei o que é mais preocupante, se o atavismo, misoginia e beatice do juiz Joaquim Neto de Moura, se a incompetência declarada da sua colega, Maria Luísa Arantes, que subscreveu o documento e, agora, admite que nem sequer leu todo o texto desse Acórdão. Vergonha para a justiça portuguesa neste arcaísmo declarado e nesta incompetência assumida.
26 outubro 2017
em vias de extinção
É ao olhar para grafismos como este, no qual acabei de tropeçar, que se percebe como se pode extinguir um povo, ou uma nação. Bem sei que a questão palestiniana não colhe grande entusiasmo junto da civilização ocidental, capitalista e em grande parte, simpatizante da causa sionista. Eu nada tenho contra o povo judeu e seu estado, mas isso não quer dizer que concorde com aquilo que esse estado tem vindo, ao longo de décadas, a realizar - uma limpeza étnica sistemática, persistente e duradoura do território da Palestina. Uma vergonha para o mundo e para o povo Judeu. Não deixa de ser irónico serem os Judeus, tão perseguidos ao longo da História, a procederem desta forma. Como é possível não simpatizar com a causa Palestiniana?
E ainda me querem convencer que a identidade das pessoas e dos povos não está directamente associada a um território?! É que andam por aí muitos pós-modernos e neo-cosmopolitas que teimam em afirmar e em escrever que a identidade das pessoas e das comunidades não tem relação com o espaço, ou melhor, com os lugares onde se estabelecem, onde nascem, vivem e morrem...
viagem relâmpago
Para satisfazer velho desejo de um familiar, incapacitado de grande parte da sua autonomia, levei-o a Lourdes - França. Há muito tempo me falava da sua vontade de lá ir, da sua fé na Senhora que lá dita as narrativas do milagre e da crença. Pois bem, um destes dias saímos do Porto às cinco da manhã, viajámos de carro ao longo de 950 quilómetros, estivemos lá cerca de duas horas, o tempo necessário para ele conhecer o santuário, cumprir todos os preceitos de fé, rituais de purificação e de oblações, e se impressionar com a dimensão de todo o complexo religioso, e regressámos a Portugal e a casa, ao longo dos mesmos 950 quilómetros. Chegámos às duas da manhã do dia seguinte. Terá sido uma aventura, uma loucura para muitos com quem comento, mas para mim uma experiência de condução como nunca tinha realizado e a confirmação de que ao volante a fadiga, em mim, tarda a chegar.
(fachada da igreja)
(gruta da aparição - destino principal das peregrinações)
23 outubro 2017
posso vir a arrepender-me de escrever isto, mas...
O Acordo decretado pelo colectivo da Relação do Porto em relação a uma mulher vítima de violência doméstica é uma vergonha para todos nós. Alegar uma lei obsoleta de um século de antanho e fazer censura moral baseada em princípios de fé, é inadmissível num Estado de Direito, Republicano e Democrático. Gostava de saber quem são estes doutos bafientos, senhores juízes para, alegando a Bíblia, proferirem sentenças. Era quem lhe partisse as bentas com as respectivas Bíblias, mas domesticamente, para não poderem alegar o que fosse... Puta que os pariu. Gente bolorenta, atávica e com perfume a naftalina. Como se a infidelidade feminina (ou qualquer outra) desse o direito ao respectivo macho (cornudo e besta) de ser violento e agressor.
Por fim, por mais triste que seja, por mais infeliz que possa ser, por mais inacreditável que possa parecer, a realidade em Portugal, e em pleno século XXI, é que somos ainda uma comunidade sexista, machista e misógina e o que o homem-macho pensa, verdadeiramente, é que elas só têm é que abrir as pernas, calar e mais nada. Pior ainda, muitas das vítimas desta violência concorda com este devir, com esta fatalidade, chegando mesmo a subscrever sentenças deste tipo. Vergonha.
19 outubro 2017
é tempo
É tempo de perceber que o OE, a dívida, o défice e o funcionalismo público não são o país. Este é feito de pessoas que têm sentimentos. António Costa ou percebe isso, ou não.
(Fernando Sobral in Jornal de Negócios)
lixo vegetal e resiliência
Ainda no rescaldo dos trágicos incêndios de Domingo, uma amiga comentava que achava impressionante como o fogo chega tão perto das habitações e do centro das aldeias. Ao olhar para as imagens dos incêndios e da permanente invasão do fogo de espaços habitados, não percebia como era isso possível. A essa estranheza mostrei-lhe, através da paisagem que percorríamos de carro, em territórios eminentemente urbanos, de periferia de grandes centros urbanos, como todos nós vivemos rodeados de lixo vegetal, de autêntico combustível pronto e disponível para ser rastilho e alimentador de fogo. Reparem como mesmo em espaços urbanos ou peri-urbanos, espaços com enorme pressão urbanística e demográfica, as pequenas matas, silvados, fetos e outra vegetação selvagem, crescem fácil e livremente, sem qualquer reacção ou medida para evitar esse perigo eminente. Depois queixam-se e não percebem como foi, ou é, possível o fogo aí chegar...
Se olharmos para o interior do país, ou melhor, se sairmos dos grandes centros urbanos e mergulharmos na paisagem rural do nosso país, muito facilmente iremos verificar como as pessoas vivem, literalmente, mergulhadas nesse lixo vegetal, sem qualquer utilidade ou proveito, mas que em situações como as que agora experimentámos, são pasto e autênticas vias rápidas para a gula do fogo devorar tudo o que se lhe apresente pela frente e chegar até ao centro dos povoados. Impressionante. Vejam as imagens que ainda hoje passam nas televisões e poderão constatar isto mesmo. Só que ninguém fala nisto e a pergunta que se impõe é: porquê?
17 outubro 2017
responsabilidades
Apesar de saber que não é pela demissão e substituição de ministros, secretários de estado, chefias, comandantes e comandos que os problemas desaparecerão, impõe-se em todo o caso uma responsabilização de todo o aparelho de estado relacionado com a Protecção Civil e Ministério da Administração Interna. Concordo que a actual Ministra da Administração Interna e sua equipa não têm qualquer condição para se manterem nos cargos que ocupam e que deveriam ser substituídos quanto antes, mas também defendo que os demais elementos da hierarquia de poder, nas diversas instituições que compõem a Protecção Civil deveriam ser substituídos. Deveriam correr com todas chefias e corpos dirigentes, cujas carreiras são políticas e substituí-los por novos elementos, sujeitos a concursos, com relevância para o seu mérito técnico, académico e experiência profissional. Assim como também defendo que nos bombeiros haja modificações nos seus quadros dirigentes. Aliás, é aqui neste universo das corporações dos bombeiros que está o grosso do filão dos incêndios. É aí que se constroem verdadeiras fortunas. Não se percebe como figuras como Jaime Marta Soares consiga passar por entre as pingas desta chuva e não seja também ele responsabilizado e, de uma vez por todas, erradicado de seu trono de "dono dos bombeiros e seus interesses". Se em todo este cenário há uma figura indigesta, que me induz a vesícula biliar a libertar bílis, é esse senhor. É que não há pachorra.
ainda do raio que os partam!
Neste tempo de reflexão e de luto nacional pelas vítimas dos incêndios e a propósito daquilo que ainda ontem aqui escrevi sobre esta moda da defesa exacerbada dos direitos dos animais, que tem distraído a nossa classe política daquilo que é importante e essencial para a nossa sociedade, na verdade, nos últimos anos, talvez desde 2009 e, com maior incidência a partir de 2011, fomos completamente esmagados pelas questões financeiras e económicas, por uma trupe de especialistas - políticos, jornalistas, astrólogos e afins - que monopolizavam a opinião pública e esgotavam a comunicação social publicada, não dando qualquer espaço para se poder falar do resto. Lembro-me de já aqui ter manifestado o meu desagrado por tal esmagamento...
Aqui está um bom exemplo, as florestas, mas foi preciso uma desgraça como a destes dias para ela entrar na agenda política e mediática. Se pararmos para pensar sobre todos estes anos, não houve espaço nem para a floresta, nem para o território, nem para justiça, nem para a protecção civil, nem para a educação, nem para a agricultura, nem para a saúde, nem para a pesca, nem para a cultura, nem para mais nada a não ser o discurso financeiro/económico da dívida pública, do défice, do endividamento, dos ratings e da recessão. Talvez se a opção não tivesse sido essa, parte dos problemas nos outros sectores da nossa comunidade; talvez desgraças como as deste Verão/Outono não tivessem a dimensão catastrófica que tiveram; talvez, talvez.
16 outubro 2017
raios os partam!
Escrevo estas linhas, no rescaldo, ou quase, de mais uma tragédia humana em Portugal, provocada pelos incêndios. Até este momento, e entre ontem e hoje, morreram trinta e seis pessoas em diferentes locais do país. Existem várias dezenas de feridos, entre os quais muitos com gravidade e correndo o risco de vida, sete pessoas estão desaparecidas e o cenário pode, a cada momento, ficar ainda mais catastrófico. Inacreditável. Mesmo depois do que aconteceu em Pedrogão Grande, e passados cerca de quatro meses, nada se fez para corrigir os erros aí verificados: nada se alterou na protecção civil, nas cadeias de comando, na protecção das populações rurais, na organização do território, nem na reorganização da floresta nacional. Não houve tempo!?
Mas tempo não faltou para, nas últimas semanas, andar elite política, urbana e cosmopolita, entretida a elaborar legislação, a discutí-la e a votá-la na Assembleia da República, sobre a permissão de animais de estimação em estabelecimentos de restauração. Bem sei que um e outro assunto não têm relação, mas aquilo que aflige é a futilidade, perante tantos assuntos importantes e urgentes para resolver, andarem entretidos e muito preocupados com os animaizinhos e os seus putativos direitos.
Raios os partam! Esta gente só pode viver numa realidade alternativa, desligada da realidade. Qualquer dia, provavelmente num futuro próximo, vai querer legislar sobre a possibilidade de os sentarem à mesa connosco e serem servidos de igual forma. Ou pior, para alguns radicais desta nova PANizização na nossa sociedade, o objectivo será pôr-nos a comer o mesmo que os tais animais de estimação... [prestem bem atenção aos seus programas, discursos e agendas...]
Eu gosto de animais, nomeadamente de cães, mas não confundo a sua condição com a humana, naquilo que são os seus pretensos direitos e, pasme-se, suas obrigações. Enfim, o ridículo é tal que estou ansioso pela discussão parlamentar na especialidade destas leis. Estou também curioso para saber qual a percentagem de proprietários, dos referidos estabelecimentos comerciais, que irão permitir a permanência de animais de estimação.
11 outubro 2017
mercado de livros
Uma vez mais está a decorrer [de 3 a 25 de Outubro] o Mercado do Livro, no Pavilhão Rosa Mota. Hoje foi dia de o visitar. Aproveitando duas horas livres antes do almoço, lá fui eu, equipado a rigor, à busca de espécimes a bom preço. Claro que encontrei, encontro sempre, algo que me interessa, mas na verdade é-me cada vez mais difícil essa descoberta. Primeiro, porque ano após ano, os títulos são sempre os mesmos; Segundo, porque maior parte daquilo que lá está disponível não interessa, eu diria, a quase ninguém - muita literatura de qualidade duvidosa, muita edição sem qualidade, muitos títulos e, principalmente, autores desconhecidos e, acima de tudo e apesar do amplo espaço, enorme anarquia nos temas, na disposição dos livros e na dispersão de autores e editoras. Terceiro, porque de ciências sociais já nada encontro que me seja estranho, que tenha interessa, ou que não tenha já em casa. Claro que sempre que acontecer, eu vou lá estar, mas, de certeza, cada vez mais com menor expectativa. No entretanto, hoje trouxe mais uns livritos apetitosos.
COMER (com letra grande)
Sim, come-se bem em Trás-os-Montes. À antiga. Dando graças a Deus, e com esperança de que por estas bandas não deitem raiz as ideias dos fanáticos que, mandassem eles, nos obrigariam a esquecer os prazeres da mesa, e nos poriam a uma dieta de alface e repolho, com sobremesa de dióspiros. (J. Rentes de Carvalho, 2017:54)
10 outubro 2017
dor de alma
Hoje perdi um livro. Por incrível que possa parecer, perdi um livro que estava a ler no conforto do meu carro. A determinado momento pousei-o na prateleira da porta do carro e com o abrir e fechar dessa porta, ele deve ter caído ao chão sem eu me ter apercebido. Só quando cheguei a casa e o procurei, me apercebi da perda. Terrível sensação. Solução imediata: aproveitar o horário do jogo da selecção portuguesa para ir comprar um novo exemplar e, assim, repor a ordem na leitura e no acervo.
09 outubro 2017
06 outubro 2017
a jovem chorava
Num café, faço horas para ir buscar a minha criança à escola. Concentrado na leitura que trago, só a espaços levanto o olhar para o horizonte à minha disposição. Na mesa contígua vem sentar-se uma jovem, sozinha, traz um semblante triste. Pede algo à empregada e, reparo, pelo seu rosto caem-lhe lágrimas pesadas, que a custo vai sustendo com um lenço. Desvio o olhar no momento em que me olha. Percebo-lhe o incómodo por alguém já ter percebido a sua tristeza. Mergulho de novo na minha leitura, mas já não consigo abstrair-me do seu rosto sofrido. Mesmo sem a olhar, percebo que chora e que sofre. Hesito se devo abordá-la e confortá-la... penso, precisará falar, desabafar com alguém?... precisará apenas de um ombro amigo para continuar a chorar?... num momento seguinte, a dúvida é como a abordar... levanto-me, vencendo toda a resistência inata, seja timidez, seja cobardia, e dirijo-me a ela: - a menina está bem? - precisa de alguma coisa? Algo atrapalhada, segurando o lenço, responde-me: - muito obrigada. Não, não estou bem. Morreu-me um amigo e não sei como vai ser... Agora o embaraço é meu e apenas consigo pronunciar um lamento. Ela agradece e o seu rosto desaparece por trás da chávena de chá. Regresso ao meu lugar.
Isto foi o que imaginei ter podido acontecer se lá tivesse ido, mas não consegui vencer a inércia e deixei-me ficar sentado, atento aos sinais que lhe percebia, apenas fiz aquilo que costumo: pûs-me a escrever.
literatura e a distinção sueca
Ontem foi conhecido o Prémio Nobel da Literatura 2017. Mais uma vez o prémio foi entregue a alguém que não fazia parte da bolsa dos principais candidatos sugeridos pelos "especialistas". O distinguido foi o escritor inglês, nascido no Japão, Kazuo Ishiguro, cuja obra foi descrita como: "romances de grande força emocional, que revelam o abismo da nossa ilusória sensação de conforto em relação ao mundo". Desconheço por completo a sua obra, os seus livros, nem sequer o seu nome me era familiar. Sei agora que está traduzido em Português pela Gradiva. Pois bem, tal como tem acontecido nos últimos anos, também este ano, continuarei a ignorar o laureado. Não questiono a qualidade da sua escrita, mas não tenho tempo, nem paciência, nem vontade, sequer, de a descobrir e conhecer. Ignorante, mas com tanto que tenho para ler... venha o próximo.
04 outubro 2017
escrever, um ambiente para
Quando miúdo, e mesmo quando mais graúdo, não havia Verão em que não fosse, com a restante família, passar umas semanas à aldeia natal de meus pais, em Trás-os-Montes. Esses dias de descanso e, principalmente, de brincadeiras e aventuras, eram partilhados com outros familiares que também para lá convergiam, por esses dias estivais.
Uma das recordações que guardo desses dias e que, na altura, enquanto criança, não entendia, era o desespero de um tio que, atolado em papéis (processos e outras peças judiciais) tentava despachar mesmo em tempo de férias, nunca encontrava o lugar propício para se poder concentrar e trabalhar. Havia sempre algo a perturbá-lo - moscas, correntes de ar, calor, ruídos de animais ou pessoas, entre outras distracções - e a impedi-lo de se manter por algum tempo no mesmo lugar. Era vê-lo, exasperado, a carregar pastas e papéis, de casa para casa, de palheiro para varandas, de cabanais para garagens, num rodopio que não percebia e numa aflição intangível para mim.
Só agora, muito mais tarde e quando sinto os mesmos sintomas e semelhante dificuldade para o processo da escrita - iniciá-la ou mantê-la - é que alcanço a sua dificuldade em encontrar o local ideal para se poder refugiar do ambiente, adverso e hostil, que o rodeava.
03 outubro 2017
capitulação
Finalmente Pedro Passos Coelho reconheceu o óbvio e indesmentível: não tem condições para continuar como líder do PSD. Para alguns, trata-se da consequência natural do resultado desastroso nas autárquicas, para outros, muitos, é algo que mais tarde ou mais cedo teria que acontecer, face ao sucesso do actual governo da "geringonça". Para outros ainda, o que aconteceu hoje já deveria ter sucedido há muito tempo.
Mais do que os ódios que Pedro Passos Coelho conseguiu coleccionar enquanto Primeiro Ministro, o que sempre me impressionou foi a sua resiliência, numa teimosia doentia e cega. Mais do que a queda de Pedro Passos Coelho, fico satisfeitíssimo com a saída de cena, e do círculo de poder e de influência, de personagens como Marco António Costa, Miguel Morgado, Bruno Maçães e afins, que por intermédio da liderança de Passos Coelho, tiveram espaço e tempo para difundir as suas teorias e conceitos racistas, xenófobos e que, deliberadamente, prejudicaram a maioria da população portuguesa. Espero também que luminárias como Maria Luís Albuquerque, Hugo Soares, Carlos Abreu Amorim e António Leitão Amaro acabem por desaparecer numa manhã de nevoeiro lá para os lados da São Caetano.
Independentemente dos novos intervenientes e das lideranças possíveis, os próximos tempos não se adivinham fáceis para o PSD.
duas de letra
Sou um solitário, amante do silêncio e devorador de vazios. Esses tempos da minha vida em que consigo retirar-me, ainda que no epicentro do maior caos ou confusão, são os mais terapêuticos, os mais adoráveis e os mais apetecíveis. Nas andanças quotidianas, nos interstícios daqui para ali e dali para acolá, felizmente, consigo sempre encontrar um desses tempos vazio, que me permite, por breves ou largos minutos, estar e fazer aquilo que mais aprecio. Por norma, associo sempre esses tempos a lugares, aos quais regresso sempre que possível. São lugares onde, por diferentes razões, me sinto bem, confortável e onde me deixo ficar. Um desses lugares é este café junto à Biblioteca Municipal do Porto e de frente para o Jardim de São Lázaro, onde, não me servindo de seu nome, solitário permaneço.
(imagem roubada da internet)
02 outubro 2017
as minhas autárquicas
Os meus interesses, não no sentido de qualquer benefício pessoal, mas sim no sentido das minhas preferências e, acima de tudo, no sentido das disputas eleitorais locais que me importavam, situavam-se no quadrilátero entre Valadares, Vila Nova de Gaia, Bragança e Vinhais.
Naquilo que foram as primeiras eleições autárquicas deste século nas quais não participei, tal como já aqui referi, foi com alguma ansiedade e enorme expectativa que aguardei até bem perto das quatro da madrugada, por todos os resultados finais que me importavam. Em relação ao cenário nacional não me vou pronunciar, apenas referir que fiquei satisfeito, grosso modo, com o resultado final, pois interessa-me muito mais partilhar os meus sentimentos relativos ao referido quadrilátero geográfico.
Em Valadares, onde sou cidadão-eleitor, venceu com maioria absoluta o actual presidente, que é um dinossauro com várias dezenas de anos de exercício autárquico em Gulpilhares e, agora também, em Valadares. O agora candidato do PS, depois de já ter sido candidato independente, do PSD e do PS, não mereceu o meu voto, pois mantive a minha lealdade partidária. Contudo fiquei satisfeito que tivesse ganho, principalmente, pela candidatura adversária do PSD, encabeçada por alguém que apenas direi merece todo o meu desprezo enquanto cidadão.
Em Vila Nova de Gaia o resultado ainda foi mais expressivo e Eduardo Vitor Rodrigues, candidato do PS e actual presidente de Câmara, atingiu uma enormíssima votação, derrotando clamorosamente o seu candidato adversário do PSD. No concelho de Vila Nova de Gaia, o PSD foi varrido da presidência das Juntas de Freguesia, nem uma só ficou nas mãos dos sociais democratas, o que não deixou de me alegrar a amígdala. Humilhação total e completa. Fiquei satisfeito. Resta referir que apesar do meu candidato, o Renato Soeiro, não ter conseguido ser eleito para a vareação, a candidata do BE à assembleia de freguesia de Gulpilhares-Valadares conseguiu ser eleita pela primeira vez. Muito bom.
Em Vinhais o meu desejo era que o PSD conseguisse derrotar o PS. Não aconteceu por apenas 78 votos. Lamento pois era imperioso remover da Câmara Municipal todo o caciquismo, toda a clientela que por lá existe há décadas. Sem ter qualquer simpatia pessoal com o candidato Laranja, a minha proximidade a alguns dos membros das suas listas, garantiam-me honestidade e seriedade mais do que suficiente para desejar a vitória do PSD/CDS-PP. Muito mau.
Em Bragança, mais do mesmo! Vitória claríssima e esmagadora do PSD. PS apenas consegue eleger dois vereadores e três presidentes de Juntas de Freguesia (em 39 possíveis). A surpresa da noite e para grande espanto, alegria e regozijo meu, foi a eleição de dois membros do BE, pela primeira vez, para a Assembleia Municipal. Passámos a ser a terceira força partidária aí representada. Excelente.
Estas foram as minhas eleições autárquicas, nos locais que fazem parte da minha cidadania, da minha existência sentimental.
01 outubro 2017
mediascape:o princípio do fim
As imagens que nos chegam de Barcelona e de toda a Catalunha são as esperadas, tendo em conta a tensão e a incapacidade política de Madrid face à iminência da realização do referendo catalão. Uma vergonha para o Estado que não conseguiu, nem consegue, resolver as questões políticas relacionadas com as autonomias e, depois, as pretensões de cada nação à auto-determinação ou independência. Aquilo que podemos assistir hoje permanecerá durante muito tempo na memória dos Catalães e só servirá para engrossar as fileiras dos movimentos independentistas, em Espanha e em qualquer outro lugar. Ao Estado, ao PP e a Madrid resta-lhes o argumento da força policial, da repressão e da violência, só que estes serão sempre insuficientes para impedir o destino das suas nações. Sim, Espanha não é uma nação e o seu futuro estará, agora mais do que nunca, em jogo. Veremos.
29 setembro 2017
regras básicas de racionalidade, de método e os embustes (1)
- Parte 1 -
Isabel do Carmo, médica e professora, escreveu na edição de Setembro do Le Monde Diplomatique (edição portuguesa), um magnífico artigo sobre os embustes que se verificam às custas de uma tentativa de legitimação científica, em particular na área da saúde e da alimentação. Logo o título O pensamento mágico de fachada científica, sintetiza muito bem a estrutura de todo o texto, servindo-se do extenso sub-título para dizer ao que vem, afirmando: ...Mas é importante reflectir sobre as disputas que, ocorrendo fora do campo científico e não se sujeitando às regras básicas da sua racionalidade e método, tentam legitimar-se com embustes sobre o que é "natural" ou "científico".
Começa por afirmar que, ao contrário do que se possa pensar, o pensamento mágico aplicado ao quotidiano, em particular à saúde e alimentação, está associado e tem evoluído de acordo com as mudanças dos grupos mais jovens das populações urbanizadas, e não nas zonas rurais... trata-se de modas urbanas, que têm acompanhado o vestuário e os costumes.
Depois, fazendo um resumo histórico dos confrontos das massas juvenis e dos movimentos na segunda metade do século XX, procura "descobrir" as origens de uma cultura New Age e, ao mesmo tempo, de um neo-orientalismo que, apesar de diferente do olhar extasiado dos europeus aventureiros que descobriram as culturas orientais no século XIX, mas igualmente maravilhado e acrítico como se fosse finalmente descoberto o paraíso perdido em que muitos ainda acreditam. Daqui ao momento em que o Ocidente passou a olhar paternalista para essas culturas, foi um instante e, a par desta descoberta de soluções para a saúde e para a doença, instalou-se sem resistência o comércio e a marcantilização, que gera muito mais dinheiro do que poderiam sugerir umas simples ervinhas.
No segmento seguinte do texto, Isabel do Carmo começa por questionar: O que é o "natural"*? À pergunta, apresenta a palavra que os cientistas deveriam ter, se não recearem as tendências e a fúria das modas... toda a paisagem dos campos com que nos maravilhamos não é natural. Foi obra do ser humano, não estava lá. Logo, o raciocínio é fácil e lógico: O que querem dizer os comerciantes sempre que usam o adjectivo "natural"? O que querem os nossos amigos e os doentes quando falam dos produtos "naturais"? Quererão dizer que sendo "natural" é "bom"?!
Perguntar-se-á então se se trata de plantas espontâneas, colhidas com o saber antigo dos druidas ou se são cultivadas e bem cultivadas, adubadas e pulverizadas de insecticidas para crescerem bem e depressa, responderem à procura do mercado e encherem prateleiras de lojas especializadas. A autora inclina-se mais para esta segunda hipótese.
Depois, em tom interrogativo, regressa à associação entre "natural" e "bom", afirmando que esta ideia releva de um antropocentrismo muito entranhado nas religiões e nas culturas... e que mesmo a natureza nos oferece uma panóplia de substâncias perigosas para a saúde e vida dos seres humanos, apresentando vários exemplos dessas substâncias e fazendo uma síntese da evolução do conhecimento popular relativo à flora e à sua utilização para fins farmacológicos, terapêuticos e medicinais. A este propósito é dito: o respeito pela história dos saberes populares ou de vultos do passado não nos pode levar a concluir que é melhor chupar o salgueiro quando se tem dores, em vez de tomar uma aspirina de síntese, ou procurar fungos para combater uma infecção com bactérias, em vez de tomar um antibiótico. (...)
Portanto, todos os produtos "naturais", "plantas", "suplementos alimentares", mesmo sendo vendidos nas farmácias, o que lhes confere uma dignidade técnica e científica indesmentível, estão no mercado tendo apenas declarado que existem no Ministério da Agricultura e, embora sejam usados para fins medicamentosos, não têm qualquer dossiê nem de eficácia, nem de toxidade. Longe de estarem diabolizados como acontece aos medicamentos, a sua propagação assenta numa base culturalmente bem sólida.
Assim, para Isabel do Carmo, este é o mundo das nossas populações urbanas, escolarizadas, de um grupo etário dos jovens aos jovens-adultos e pelos vistos com poder de compra para frequentar os múltiplos pontos de comércio destes produtos. (...) Tudo o que vem atrás tem sido revestido de explicações "científicas", indo buscar palavras da esfera da ciência, como seja "energia" (...), com um significado quase cabalístico... O aspecto placebo é aqui de grande importância...
Agora temos a fachada científica a funcionar em pleno. É o caso das intolerâncias ao glúten e à lactose, da dieta paleolítica e a pesquisa (utilizando aparelhos e tecnologias) de défices causadores de doenças presentes e futuras.
O artigo termina com uma reflexão sobre a literária em saúde, e aqui a questão coloca-se ao nível da informação do conhecimento que é fornecida para o público em geral. Reconhecendo que tem sido realizado um esforço considerável, a verdade é que os alunos actuais têm muita mais informação do que os seus pais e avós.
* esta questão do "natural" relembra-me outra moda vigente e rentável - a da agricultura "biológica". Mas então não é toda a agricultura biológica?
regras básicas de racionalidade, de método e os embustes (2)
- Parte 2 -
É um verdadeiro manual de iniciação científica sobre dúvidas correntes que nos invadem o quotidiano, os murais, as notícias e os fóruns. Um verdadeiro guia sobre crendices, mitos, desinformação, temores e terrores da era global, que busca – e alcança plenamente – um único objetivo: informar o que diz a ciência acerca de cada um deles. O principal mérito desta primeira obra do Comcept é o de conseguir esclarecer evitando juízos de valor ou considerações morais ou religiosas. (Paulo Pinto, in jugular)
Comprei recentemente este livro, pois trata de algo muito importante nos dias de hoje: na era da pós-verdade e dos factos alternativos, todos os dias parecem 1 de Abril. Este livro procura ajudar as pessoas a não serem enganadas por afirmações falsas e sem valor, apresentando um conjunto de exemplos de cariz duvidoso. Ensina e promove o uso do pensamento crítico e racional, com apoio do método científico, e promove o desenvolvimento de uma postura céptica face a tudo quanto nos é impingido, ensina a distinguir a ciência da pseudo-ciência, hoje em dia tão difundida por todo o lado.
Comprei este livro para aprender, mais e melhor. Comprei este livro pela sua dimensão pedagógica e como ferramenta para, depois, partilhar com os meus alunos. Será uma das minhas referências bibliográficas, já neste ano lectivo, para a cadeira de Epistemologia.
Paulo Pinto, no blogue Jugular, faz uma apresentação detalhada e crítica deste livro. Aconselho a sua leitura através do link - abaixo entre parêntesis.É um verdadeiro manual de iniciação científica sobre dúvidas correntes que nos invadem o quotidiano, os murais, as notícias e os fóruns. Um verdadeiro guia sobre crendices, mitos, desinformação, temores e terrores da era global, que busca – e alcança plenamente – um único objetivo: informar o que diz a ciência acerca de cada um deles. O principal mérito desta primeira obra do Comcept é o de conseguir esclarecer evitando juízos de valor ou considerações morais ou religiosas. (Paulo Pinto, in jugular)
28 setembro 2017
ausência voluntária
Em plena campanha eleitoral autárquica e quando nos aproximamos rapidamente do seu fim, logo, do dia das eleições, verifico uma mudança naquilo que é o entendimento dos candidatos e candidaturas e, depois, a percepção da maioria da população, têm sobre estes tempos, espaços e momentos de eleição. Finalmente, talvez como sinal da maturação da democracia em Portugal, abandonámos toda aquela parafernália visual, sonora e poluidora que, durante décadas caracterizaram estes momentos e infernizaram a vida aos cidadãos. Para além das grandes estruturas que são os outdoors, e que estão espalhados por todos concelhos, por todo o país, meia-dúzia de cartazes pendurados aqui e acolá, pouco ou nada nos diz que estamos em campanha eleitoral. Ainda bem, penso e digo eu. Assim vivemos todos muito melhor. Se não ligássemos as TVs e Rádios, ou se não lêssemos Jornais, nem sequer sabíamos ao que vamos.
Pessoalmente, constato também que, desde 2001, por vontade própria, é o primeiro momento de eleições autárquicas em que não participo activamente, em que não sou candidato a um qualquer lugar ou cargo autárquico. É claro que senti isso, até porque ao contrário do que é a percepção generalizada, foram para mim excelentes experiências e que contribuíram para minha formação cidadã e humana.
peculiaridades
A propósito de uma recente aparição intensa nas redes sociais e, principalmente, nas rádios nacionais, do universo de The Smiths e de Morrissey, talvez às custas de um qualquer data assinalável nesses universos, compreendi como esses ambientes sempre me passaram ao lado e, apesar de conhecer e ter ouvido muita da sua música, nunca essas sonoridades me fascinaram. O culto e a veneração a Morrissey são, ainda hoje e para mim, incompreensíveis. Aceito a peculiaridade da sonoridade de Morrissey que, de alguma forma, se funde ainda nos ambientes da sua ex-banda, mas daí até à inquietude que se percebe à sua volta?!... ainda por cima, o gajo é uma besta, afectado, arrogante e sociopata. Mas tudo bem, quem sou eu para julgar um dos deuses do sempre etéreo e pungente Olimpo do pop-rock contemporâneo?... Entretanto, deles, desse tempo e para todo o sempre, ficou este som.
(optei pelo video oficial, pois as opções ao vivo disponíveis representam precisamente tudo aquilo que detesto [e adjectivei acima] em Morrissey)
lack of
I think I need to find a bigger place
Cause when you have
more than you think
you need more space.
(Eddie Vedder, Society, in Into the Wild)
21 setembro 2017
mediascape:desilusão rural
Pois é, afinal a coisa não era assim tão boa, tão fácil e tão promissora. Chegou ao fim o projecto "Novos Povoadores", cuja principal missão se traduzia na promoção do êxodo urbano e no repovoamento do interior rural do país. Eu, em devido tempo, referi-me a ela (à coisa) e houve quem não gostasse das minhas palavras. Lamento, apenas manifestei a minha opinião, baseada não só na minha sensibilidade, como também baseada naquilo que é o meu conhecimento da imensa ruralidade em Portugal.
Frederico Lucas (na fotografia) era o líder e o rosto visível do projecto, incansável e empreendedor, acreditou que seria possível inverter a litoralização da população portuguesa. Tive o prazer de o conhecer, em Bragança, e com ele trocar umas impressões sobre o projecto e sobre a realidade do mundo rural na actualidade. Também trouxe aqui, a este espaço, um texto sobre o assunto, que na altura e porque eu o partilhei nas redes sociais, motivou algum desagrado no Frederico e seus pares.
O título da notícia do fim do projecto é muito forte e até humilhante para quem, como o Frederico, tanto lutou por conseguir fazer vingar a sua ideia e projecto. Não fico satisfeito com este desfecho, mas aceito-o como consequência natural da realidade demográfica e das políticas para o território nacional, nas últimas décadas.
Deixo-vos a referida notícia do Jornal de Notícias, do passado dia 18 de Setembro, assim como, ao arrepio do que me é habitual, re-publico o texto que escrevi no dia 10 de Agosto de 2012.
"êxodo urbano, novos povoadores e a reconquista do nordeste..."
Li hoje no jornal Mensageiro de Bragança a notícia de que o primeiro de cinco casais que já estava instalado no concelho de Alfândega da Fé, há cerca de um ano e ao abrigo do programa de repovoamento rural Novos Povoadores, abandonou o projecto e regressou ao litoral, de onde eram originários. Na mesma notícia, a actual presidente da respectiva Câmara Municipal admitiu que apesar de ter achado interessante e ter apoiado o projecto, sempre desconfiou da sua aplicabilidade e sucesso. Este era apenas o primeiro casal que o projecto, em fase piloto, conseguiu transferir e com esta desistência, os responsáveis pelo projecto serão obrigados a encontrar um casal em condições de substituir aquele que saiu.
Alguém terá ficado surpreendido com esta notícia? Não sei, mas eu não fiquei nada surpreendido. Admiro até como foi possível esse casal aguentar cerca de um ano longe de todas as suas referências e do seu "habitat natural". Não quero com isto dizer que este movimento é contra-natura, pois até considero o projecto teoricamente interessante, mas a verdade é que não é nada fácil, hoje em dia, trocar o conforto e as acessibilidades do espaço urbano pelo desconforto e distâncias dos territórios rurais e do interior do país. A promoção dos territórios rurais é importante e parte da fundamentação deste projecto assenta nas enormes assimetrias existentes no território nacional e na importância de tentar contrariar a forte tendência para a litoralização demográfica. Isso pode, de facto, acontecer através de um êxodo urbano, mas será sempre um esforço incomensurável e provavelmente, inglório.
Apesar da simpatia que o projecto me merece, penso que para quem conhece um pouco a realidade dos territórios rurais deprimidos e suas comunidades, não deixa de ser uma ideia romântica pensar que esses novos povoadores seriam um caminho para o repovoamento e a solução para todos os problemas dessas comunidades e territórios. Não são. Aliás, um dos problemas deste projecto é mesmo essa mensagem virginal, naturalista e idílica do mundo rural que desde logo me remete para as reminiscências de um ideário pastoral - movimento literário com forte expressão na segunda metade do século XIX - que exaltava o mundo rural por oposição à vida urbana.
Produzida por citadinos, a sensibilidade pastoral é gerada por um desejo de se retirar face ao poder e complexidade crescentes da civilização. O que é atraente no pastoralismo é a felicidade representada por uma imagem da paisagem natural, um terreno intocado ou, se cultivado, rural. O movimento em direcção a esta paisagem simbólica pode também ser entendido como um movimento para longe de um mundo artificial (...). Noutras palavras, este impulso dá azo a um movimento simbólico para longe dos centros da civilização em direcção ao seu oposto, natureza, para longe da sofisticação em direcção à simplicidade, ou, para introduzir a metáfora principal do modo literário, para longe da cidade em direcção ao campo. (Marx, 1967 in Silva, 2009)
De facto, os factores de atracção do campo estão relacionados com os seus atributos reais ou imaginários, tais como a liberdade, a tranquilidade, o bucolismo, a tradição, a natureza, a autenticidade, entre outras e no discurso destes "pioneiros" podemos, igualmente, encontrar expressões, tais como "tranquilidade, qualidade, tempo, ambiente, vida mais oxigenada, elite, província...", ou ainda, "...decidiu partir à aventura! Muitas vezes atrás de um sonho", que remetem igualmente para esse universo de simbologias ou mitologias do mundo rural.
Regressando à notícia em apreço, percebi que um dos elementos (ele) tinha um emprego em que poderia perfeitamente deslocalizar-se e o outro elemento (ela) iniciou um negócio de venda de mel na internet(?). Bem, muito poderia dizer acerca desta conceptualização do que é viver de uma actividade do sector primário, mas vou-me limitar a transcrever algo que um grande amigo, especialista nestas cousas da agricultura, um dia me disse: "Num território como o transmontano, cuja dimensão padrão das parcelas agrícolas é o microfundio, o meu conselho para todos os paraquedistas (leia-se, sem experiência) que pensam investir na agricultura, é que estejam quietinhos e deixem estar o dinheiro no banco. É uma perda de tempo e de dinheiro".
Gostaria um dia de poder viver num território rural deprimido, tão deprimido que só lá estivesse eu, mas com o pragmatismo mínimo necessário sei que isso só acontecerá se eu conseguir aforrar o suficiente para a minha sobrevivência e conforto. Pois é.
(in apurriar, 12 Agosto 2012)
LER já no final do Verão
Foi sem querer que dei com a revista à venda. Passado praticamente todo o Verão, nem me lembrei de que haveria de sair uma edição para esta época de veraneio. Cá está ela, já lida e consumida.
14 setembro 2017
password
Vivemos um tempo em que nos é exigida palavra-passe para tudo e mais alguma coisa. Dou comigo, maior parte das vezes em que me é solicitada a criação de uma, incapaz de escolher a palavra certa, isto é, aquela que jamais esquecerei. Perante esta crónica dificuldade, foi com um sorriso no rosto que ouvi hoje a palavra-passe de uma rede wifi... oquetuqueresseieu
no primeiro dia de aulas
Hoje foi o primeiro dia de aulas para a minha criança mais pequena. Sem ter qualquer ideia prévia do que o esperava, experimentou hoje pela primeira vez uma sala de aulas da escola primária. No fim comentou, ao telefone, com a mãe, sobre esta nova experiência:
- Ó mamã, a professora falou tanto, tanto, tanto, que eu fiquei cansado e até tapei os ouvidos.
07 setembro 2017
horas entre livros
Aproveitando a tarde soalheira e a pouca vontade de ficar encerrado entre, no mínimo, quatro paredes, fui visitar a Feira do Livro que decorre, uma vez mais, nos jardins do Palácio de Cristal. Com o espírito liberto e com os ponteiros do relógio desligados, deambulei vagaroso e anárquico de livreiro em livreiro, procurando novidades ou pechinchas, folheando os espécimes que me despertavam os sentidos e, principalemente, aqueles que vou cobiçando, ouvindo atento as conversas entre clientes e livreiros que iam acontecendo à minha volta e, claro está, desfrutando do espaço e do ambiente tranquilos que por lá se fazem sempre sentir. Não sei se impressão minha, mas daquilo que pude perceber da programação, está edição da Feira do Livro está mais rica e mais variada. Sempre um prazer regressar e, depois, regressar para casa com algum mimo debaixo do braço. Ainda lá irei outra e outra vez.
02 setembro 2017
21 agosto 2017
para ler
Para estes poucos dias em que vou estar como que retirado, ou seja, sem ocupação, compromissos ou afazeres, trouxe alguns livros para me entreter e passar o tempo...
o grilo difícil de encontrar
Soube da sua existência numa recensão no jornal Le Monde Diplomatique deste mês e logo tratei de o procurar nas livrarias para o adquirir. Tarefa difícil. Fui a todas as grandes livrarias e durante vários dias - Fnac, Bertrand, Book House, Almedina, Books & Living (antiga Leitura), Latina - e nada. Aliás, as indicações que me davam eram tão díspares que o resultado foi ter ficado ainda mais curioso e com vontade de o encontrar. Disseram-me, entre outros dislates, que estaria esgotado, que não existiria, ou que ainda nenhuma das suas lojas o recebera. Estranho facto: um livro da Tinta da China não chegar aos donos do monopólio das vendas de livros em Portugal...
Entretanto, lembrei-me de ligar para a UNICEPE - cooperativa livreira de estudantes do Porto, na Praça Carlos Alberto, para saber se tinham este livro e, surpresa ou nem por isso, tinham. Pedi para me reservarem um e lá fui eu, sem demora, buscá-lo. Curiosidade, não tinham um nem dois exemplares, tinham empilhados e em exposição doze destes livros. Mesmo em véspera de partir par férias consegui-o para o juntar aos demais que tenciono ler nestes dias de retiro em terras de Trás-os-Montes.
18 agosto 2017
esterco
porque só agora me apercebi disto...
O que é que vai acontecer ao país seguro que temos sido se esta nova forma de ver a possibilidade de qualquer um residir em Portugal se mantiver?
Pedro Passos Coelho, há uns dias, algures no Algarve.
encontrei!
Porra!
Não foi fácil, mas já encontrei a música que tanto procurei sem sucesso. Esqueçam o youtube, o Shazam. Não lá está. Apenas a encontrei no sítio da editora Cafetra Records. A banda ou cantor chama-se Éme e o álbum chama-se Domingo à Tarde. Fica a letra da música Roma - Sé (sétima no disco) para acompanhar o som da mesma.
e o que queres não existe
traz um copo, bota em riste
e 'bora lá brindar:
Um brinde à manada
com bica na esplana,
Tuga não tem nada
mas há tanto mar.
Remar o dia inteiro,
ir dar ao Barreiro,
frota sem dinheiro
ali no Tejo a anhar,
alberga a neurinha,
traz a tua eu trago a minha,
neura assim sozinha
tem que ter um par
vem cá ter meu par
que é para seres meu par...
Lembras-te de ir de Roma à Sé?
O caminho a conversar a vida como é que é.
Pois, fui parar ao Cais Sodré
a vida num vacilo e nem te pões de pé.
E queres amor antigo
para cantares à nova
trago o meu comigo
e vai daqui à cova
puto eu tou contigo
se a vida dá-te sova.
tens amor de amigo e podes pôr à prova...
Lembras-te de ir de Roma à Sé?
O caminho a conversar a vida como é que é.
Pois, fui parar ao Cais Sodré
a vida num vacilo e nem te pões de pé.
17 agosto 2017
participar na res publica
Num tempo em que nos aproximamos das eleições autárquicas, Nelson Dias (sociólogo) escreve, no jornal Le Monde Diplomatique deste mês, um interessante artigo sobre os orçamentos participativos em Portugal. Nesta sua reflexão procura saber onde estão concentrados, qual a sua relação com a participação democrática (relação com os crescentes níveis de abstenção) e que capacidade têm os portugueses de se mobilizarem e associarem em torno de projectos concretos, assim como a sua capacidade de influenciarem o poder instituído, ou seja, o poder autárquico.
Diz-nos que foi num contexto de desaceleração do entusiasmo democrático, com uma confirmada tendência de descida dos índices de participação eleitoral, que surgiu, em Palmela, a primeira iniciativa de Orçamento Participativo(OP) em Portugal. Estávamos em 2002. A emergência e o desenvolvimento dos OP está intimamente relacionada com a quebra de confiança no regime e nos seus principais agentes políticos, assumindo-se como uma tentativa de resposta do Estado local, ainda que parcial, à necessidade de reconstruir pontes de diálogo e reaproximação com a população (...) o que, curiosamente, implicou uma actividade cívica e política mais intensa, pelo carácter anual destas práticas, e mais extensa, pelo cada vez maior número de pessoas envolvidas.
Numa análise mais profunda aos OP em Portugal, o sociólogo percebe que estes se transformaram , nalguns concelhos, nos principais barómetros para as autarquias, leia-se, presidentes e vereações, para a auscultação das sensibilidades e percepções dos seus munícipes e, assim, para o desenho das políticas públicas. Apresentando vários exemplos de OP em diferentes municípios, Nelson Dias afirma que estes instrumentos deixaram de ser mera curiosidade ou moda política. Entraram timidamente no nosso país e gradualmente instituíram-se como catalisadores de processos de mudança.
Nelson Dias termina o seu artigo num tom optimista ao afirmar que este modelo foi de tal forma apropriado pelas populações que hoje se converte num canal de interlocução directa para a discussão e definição de políticas públicas, cujos impactos sobre o território são muito superiores aos dos projectos dos próprios OP. Ao olharmos para estes nesta nova perspectiva entendemos que o seu potencial suplanta as expectativas iniciais, reforçando o seu potencial de credibilidade e, com isto, a sua sustentabilidade.
Sem querer discordar muito desta sua perspectiva optimista, eu seria um pouco mais cauteloso em relação às verdadeiras motivações e objectivos de muitos autarcas e executivos autárquicos em relação a este instrumento de participação cidadã. Digo isto, tendo em conta aquilo que é a minha experiência enquanto autarca. Se é verdade que inicialmente as autarquias desconfiavam dessas propostas, maioritariamente, apresentadas em sede de Assembleias Municipais e, nalguns (poucos) casos, de Freguesia, pelas oposições, rejeitando liminar e até jocosamente essas propostas, com o tempo e com algum esforço de conhecimento técnico, apropriaram-se desses instrumentos, passando-os a apresentar como propostas nos seus próprios manifestos programáticos e eleitorais, assim como nos seus orçamentos pluri-anuais.
Recordo-me que em Bragança, enquanto membro da Assembleia Municipal (2005-2013) apresentei essa proposta - a de criação de uma rubrica de Orçamento Participativo - durante vários anos e nunca foi aprovado pela maioria que governava o município que, primeiro, por ignorância, depois por receio e, por último, por despeito, ridicularizava essa ideia "comunal" e "cooperativa". Na verdade, mesmo em Bragança passou a existir um Orçamento Participativo no qual a população pode "participar" votando, no portal da autarquia, de entre um conjunto de projectos propostos pelos próprio executivo, aquele ou aqueles que gostariam que fossem concretizados.
Concluindo, considero os OP uma excelente ferramenta naquilo que poderá ser um incremento da implicação dos munícipes no planeamento, reflexão e execução de projectos colectivos e de utilidade pública, mas também desconfio dos reais e verdadeiros propósitos dos autarcas que, por hábito e defeito da prática autárquica no nosso país, não quererão nunca abdicar do seu predicado poder de decisão e execução. Aquilo que assistimos na grande maioria dos OP existentes, salvo raras excepções, são adaptações e pequenas iniciativas que sob essa designação pomposa e pertencente às narrativas daquilo que é actualmente considerado correcto, não são mais do que instrumentos ao serviço do interesse e vontade dos executivos autárquicos e das suas clientelas, ou pura e simplesmente são verbo de encher em momentos como este, os de vésperas de eleições autárquicas.
irritante
Se há algo que me irrita seriamente são estas novas ferramentas dos aparelhos que todos nós, ou quase todos, utilizamos, que à medida que estamos a escrever o que queremos, nos vão corrigindo o texto, adulterando por completo o sentido e propósito daquilo que temos em mente. Nas mensagens de telemóvel isso é constante e eu não sei como alterar isso. Por exemplo, no Word eu tenho essa opção desactivada, mas no telefone não sei como o fazer e irrita-me a amígdala enviar mensagens sem sentido algum. Pronto, apenas isto.
11 agosto 2017
10 agosto 2017
o som que não consigo encontrar
Ando obcecado atrás de uma música portuguesa que tenho ouvido na Antena 3, mas não a tenho conseguido identificar. Como desconheço quem a canta e como se chama, tenho andado pelo youtube desesperado, mas sem qualquer sucesso, por hora (hei-de conseguir!). No entretanto, aqui ficam alguns sons em que tenho tropeçado e que, por tonalidades de ouvido diferenciadas, me agradam.
08 agosto 2017
mediascape:reutilizar, reutilizar e reutilizar os manuais escolares
A entrevista já foi publicada no dia 20 de Julho na Revista Visão, mas só hoje dei com ela, na sua versão online (ler aqui na íntegra). Falo de uma entrevista à Secretária de Estado Adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, a propósito do programa de gratuitidade e reutilização dos manuais escolares que agora se põe na prática apenas para o primeiro ano do primeiro ciclo. Eu já simpatizava com esta senhora e com a sua atitude e discurso em relação às coisas da escola pública. Aqui, neste novo programa, está mais uma razão para admirar a sua posição política e cidadã.
Transcrevo partes do seu discurso:
A despesa dos manuais, assumida pelo Estado, é uma forma de a escola pública ser aquilo que a Constituição determina que é: gratuita.
(...)
Para mim, esta é a diferença entre Estado social e assistencialista. O Estado social garante para todos, não é para os ricos ou para os pobres. O Estado assistencialista é o que providencia àqueles que precisam.
(...)
De acordo com a lei, todos os manuais, sem exceção, devem ser concebidos para poderem ser reutilizados. Por exemplo, a prazo, temos de acabar com recortes, autocolantes. Sempre que for preciso escrever no manual, deve ser a lápis.
(...)
E não há qualquer relação direta entre o reaproveitamento e o aproveitamento. Pelo contrário, se ensinarmos às crianças o respeito pelo manual, a partilha, o respeito pelo outro que a seguir vai receber aquele livro, estamos a educar para a cidadania. É um avanço civilizacional e pode ser um elemento muito importante.
(...)
Portanto, o procedimento de aquisição está nas escolas desde julho do ano passado, o de reutilização desde maio. Mas admito que tudo isto seja muito novo e é preciso um período de adaptação. O sistema educativo é muito grande. Temos 811 agrupamentos, mais de três mil escolas, um milhão e trezentos mil alunos, 120 mil professores. Nós podemos informar, enviar as circulares, mas demora até se tornar rotina.
(...)
...tudo isto comporta já alguma incerteza do mercado. Incerteza com a qual os agentes económicos têm de viver. Num restaurante ninguém garante quantos almoços serão servidos por mês. O Estado não tem obrigação de assegurar um determinado nível de vendas a um agente económico. Há um grau de incerteza, próprio do mercado livre.
(...)
Relativamente ao peso das mochilas, há duas soluções possíveis: deixar na sala de aula, até ao quarto ano, ou utilizar os cacifos, a partir do quinto. É uma questão de os alunos se habituarem a fazer a gestão dos livros que têm de ir para casa e os que podem ficar na escola. Outra solução será a desmaterialização dos manuais, garantindo que não vai cavar as assimetrias sociais.
Neste próximo ano lectivo, o meu filho mais novo irá frequentar o primeiro ano do ensino básico e eu, enquanto seu encarregado de educação, no momento de levantar o voucher para a aquisição gratuita dos seus livros, tive que assinar uma declaração em que me comprometia e responsabilizava pela manutenção dos manuais e pela sua devolução no final do ano lectivo. Muito bem, finalmente os livros passarão a ser propriedade das escolas e não dos alunos. Há medidas governamentais e políticas passíveis de discussão e debate, mas neste caso, se exceptuarmos o lobby da indústria dos manuais escolares, ninguém que use de senso se oporá à medida. Quanto a mim não só concordo, como a defendo. Digo mais, pecou por tardia.
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