A recente notícia do pedido de demissão de Almerindo Marques da presidência do Conselho de Administração das Estradas de Portugal, cujas motivações e pormenores ainda não são conhecidas, mas que estará de alguma forma relacionada com indefinição do Governo quanto ao modelo de financiamento da empresa, conduz-me a memória para um texto de Pierre Bourdieu (1993) que a propósito da Demissão do Estado escreveu: são esses novos mandarins, gulosos por gratificações e sempre prontos a deixar o serviço público pelo sector privado, que - cansados de pregar o espírito de "serviço público" (para os outros), como nos anos 60, ou celebrar o culto da empresa privada, sobretudo após 80 - pretendem administrar os serviços públicos como se fossem empresas privadas, mantendo-se ao abrigo das obrigações e riscos, financeiros e pessoais, que estão associados às instituições cujos (maus) costumes procuram macaquear, principalmente em matéria de gestão do pessoal; são esses que, em nome de imperativos da modernização, atacam o pessoal da execução, como beneficiados da função pública, protegidos contra os riscos da livre empresa por meio de estatutos rígidos e agarrados à defesa corporativista das regalias sociais; são esses que vangloriam os méritos da flexibilidade do trabalho a não ser que, em nome da produtividade, preconizem a redução progressiva dos efectivos.
adenda: a este propósito poderiam também e ainda ser referidos outros digníssimos e ilustres administradores da coisa pública que, nos últimos tempos, foram notícia, tais como Horta e Costa (CTT), Júlio Santos (ex-presidente da Câmara Municipal de Celorico da Beira), Armando Vara (ex-administrador da CGD e Millennium BCP), José Penedos (ex-administrador da REN), entre tantos outros.
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