31 janeiro 2020

a opção pelo ódio

Valter Hugo Mãe escreve no actual número do Jornal de Letras e na sua coluna habitual de última página, sobre um pequeno episódio que lhe aconteceu há cerca de 14 ou 15 anos, aquando uma visita a uma escola e o seu encontro com um aluno que, tímido e solitário, quis falar a sós com ele...
- querias falar comigo?
- vou matar-me porque o meu pai diz que sou maricas e bate-me muito.
Era um mocinho de 12 ou 13 anos, sem sobressalto, apenas entregando a declaração sincera. Uma notícia de dor insuportável.
(...)
Abracei o menino e disse-lhe: - não vais nada. Vais ser meu amigo e vais falar sempre comigo e, se for preciso, sais da tua casa para um lugar seguro.
Fiquei imediatamente comovido. O menino, habituado à ideia de morrer, estava como sem sentir. E disse-me: - Eu acho que não sou. Detesto os rapazes, mas também não gosto das raparigas. Não tenho ninguém de quem gostar.
(...)
Expliquei à professora que aquele aluno era meu amigo. Ia ser meu amigo. Estávamos a contar segredos. (...) Naquela noite, diante do pai e da mãe, aquele menino explicou que ser sozinho não era gostar de outros meninos. Era sozinho. Não tinha amigos. A solidão não é um género e não é um modo de amar. Muito ao contrário. É o contrário do amor.
Um dia muito mais tarde, mandou mensagem a dizer:
- Valter, agora acho que gosto de raparigas. Já conheço uma que é minha amiga.
Houve um tempo em que falámos mais. (...) Vi-o com a companheira, sei que têm, hoje, dois filhos. Se que o menino, agora um adulto ainda jovem, se afastou do próprio pai, porque alguns pais preferem o ódio.

Vejo, com horror, a eleição de políticos eufóricos contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O que fazem é do foro do homicídio. Machões convictos, querem saber nada sobre crianças que crescem em pânico mesmo antes de saberem o que são. Tolerar não é tolerar ideias assassinas. Não tolero ofensas a direitos fundamentais. Não tolero agressões à liberdade de amar. Políticos com opções pelo ódio que se fodam. Vão-se foder. Não poderei estar no abraço a todas as crianças desesperadas em todas as escolas do país ou do mundo, mas vou sempre expressar o nojo por quem destrói a liberdade dos outros, o direito que os outros têm a serem felizes em algo tão sagrado quanto é o amor.

(Valter Hugo Mãe, in Jornal de Letras nº 1287, Janeiro 2020)

antes é que era...


Neste pequeno manifesto (cem páginas de letra folgada e espaçada) Michel Serres, com ironia, sarcasmo e metafórico, faz uma viagem pela sua já longa vida, confrontando as suas experiências de vida e como foi testemunha dos progressos inimagináveis que a espécie humana alcançou durante o século XX e, em particular, nas últimas décadas. Um progresso permanente, assíduo e em potência, que, contudo, não deixou de ser um progresso em causalidade circular, ou seja, que se trava e boicota a si próprio.
Afinal não, antes não era bom. É mentira. Michel Serres considera que agora é que é bom, que nunca foi tão bom como o é na actualidade.

Entrem na roda: Melhor depois produz os antes era melhor que põem em risco o melhor depois.(página 99).

28 janeiro 2020

cuidados de irmão


Ainda que à distância, a milhares de quilómetros, a preocupação com os que ficaram e são a sua gente não desaparecia. Impressiona o detalhe do destino a dar ao dinheiro. Nem um centavo a mais, nem um tostão mal gasto. Apenas garantir o importante e essencial. Estávamos na década de cinquenta do século XX e este pedaço de missiva passou-me agora pelos olhos e eu não fiquei indiferente.

27 janeiro 2020

mediascape: consórcio internacional?

Deixem-nos rir!
Diziam eles que o caso Luanda Leaks era fruto e resultado do trabalho e investigação de um consórcio internacional de jornalistas, do qual faziam parte jornalistas do Jornal Expresso, quando agora se veio a saber que afinal quem forneceu toda a informação foi Rui Pinto - the Portuguese dead man walking. Que grande embuste. Eu até acho que poderão ter sido dois embustes acumulados: 1º os jornalistas já sabiam que não foi preciso investigação qualquer, pois receberam já tudo detalhado e bem documentado e quiseram armar-se em arautos da verdade informativa e da justiça; e, ou 2º os jornalistas não faziam a mínima ideia de onde proviera tamanha informação, nunca imaginaram que pudesse ter sido de Rui Pinto, atravessaram-se e foram desmascarados pelo próprio informador exclusivo. O que ele se deve estar a rir...
Não deixa de ser caricato e, ao mesmo tempo, assustador, um só indivíduo conseguir brincar, denunciar e humilhar tanta gente com real poder. Como se costuma dizer, andará a brincar com o fogo, mas não entendo como é que as autoridades policiais e judiciais portuguesas não se servem do enorme manancial de informação que esse indivíduo possui para levar a bom porto o seu trabalho... investigar, denunciar, incriminar e condenar corruptos e demais criminosos, sejam eles quem forem.
Agora, e regressando aos jornalistas... aos tais que foram a Paris e tudo, reunir e trabalhar muito, muito, muito, nesta investigação do Luanda Leaks.
Ainda me estou a rir do "Consórcio Internacional de Jornalistas", cambada (estou na dúvida se) de pacóvios ou de parolos. Escolham.

património cultural


Como continuo às voltas com estas superlativas questões culturais é sempre com prazer que se vê chegar às prateleiras das livrarias mais um contributo sobre o assunto. Guilherme d'Oliveira Martins fala-nos do património cultural enquanto realidade viva que nos apela a todos e projecta-se para um futuro.
Neste pequeno ensaio de cerca de 100 páginas (e centésimo da colecção Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos), o autor remete o património cultural para uma dimensão diacrónica, baseada na existência do real presente e socorrendo-se das faculdades humanas como a memória para aceder e recordar o passado, assim como a imaginação para projectar ou antecipar esse futuro possível e ambicionado.

aniversário

Completou no passado dia 24 de Janeiro treze anos de vida. Está de parabéns o Apurriar, eu, que aqui vou debitando as curvas e contra-curvas da minha existência e todos (os poucos) que por aqui vão passando e acompanhando a viagem. Obrigado.

20 janeiro 2020

indiferente, não consigo

Bem sei que não me diz respeito a vida interna de outros partidos que não o meu. Contudo, considero que o PSD e seu futuro interessam a todos os cidadãos e ainda mais àqueles que vão estando atentos ao que se passa à sua volta. Não gosto particularmente de Rui Rio e não digo que será o líder ideal para o PSD, mas em todo o caso, enquanto democrata, fico satisfeito e mais tranquilo sabendo que é ele o líder, pois a oposição que agora se apresentou a eleições não me mereciam o mínimo de respeito político - figuras associadas a Passos Coelho, figuras associadas aos interesses rentistas do Estado como Eduardo Catroga, Dias Loureiro, António Mexia, Zeinal Bava e afins, figuras associadas ao pior que este país já produziu, como Miguel Relvas, Marco António Costa, Hugo Soares e outros que tais. Penso que a vitória de Rui Rio significará uma maior possibilidade de impedir um crescimento incontrolável da direita radical e fundamentalista. Aliás, muitos dos agora derrotados poderão, deverão, migrar para essa direita do Chega e da Iniciativa Liberal, onde encontrarão o seu espaço ideológico natural e onde poderão dar largas às suas masturbações liberais e fascizóides.
Não consigo ficar ou estar indiferente.

mediascape:ladra

Bom dia e boas festas para todos aqueles que ainda acreditam; quer dizer, acreditavam até este fim-de-semana no Pai Natal.
Qual foi a novidade desta "notícia bombástica" que o consórcio de jornalistas internacional agora revelou sobre Isabel dos Santos? Eu, tu, ele(a), nós, vós, eles(as) já sabíamos há muito tempo que essa senhora conseguiu o que conseguiu às custas do roubo do erário público angolano. Portanto, nada de novo debaixo deste céu.
Não deixa é de ser muito interessante, agora, olhar para todos aqueles - advogados, jornalistas, políticos e opinares portugueses - que desde sempre lamberam o cu à cleptocracia angolana, sempre com a expectativa das benesses e de uns kwanzas transferidos para um paraíso fiscal qualquer. Vergonha na cara era o que deveriam sentir. Ainda recordo os tempos em que, indignados pela atitude do BE em não reconhecer o poder instituído em Angola, barafustavam e maldiziam bloquistas. Pois é, tinham e têm razão. Aquilo que o MPLA sempre fez foi esbulhar o erário público. Era agora tempo de o Estado angolano, reivindicar posse de todos os bens do clã "dos Santos" em Angola e no estrangeiro.
Grande e corajosa, uma vez mais, Ana Gomes, a chamar os bóis pelos nomes. "Isabel dos Santos é uma grande ladra".

18 janeiro 2020

dos mais belos...

Parafraseando um verso de um poema de George Oppen, alguns dos mais belos lugares do mundo estão no corpo da tua mulher.
(Paul Auster, in Diário de Inverno, página 131)

14 janeiro 2020

a senhora dança

Esguia sem ser alta, é figura frágil, apresenta-se regularmente bem vestida, apesar dos tons garridos das vestes e das maquilhagens, às tantas porque julga que consegue esconder, ou pelo menos disfarçar, as rugas que lhe invadem o rosto. Estará algures na sua sexta década de existência. O olhar atento a todos os movimentos no café denotam alguma intranquilidade, mas quem a vir assim sentada e sossegada, numa aparente normalidade, jamais adivinhará o desarranjo que, em intervalos de minutos, lhe assalta o ser e a faz saltar e dançar no espaço disponível, ao ritmo de um qualquer som que só ela consegue alcançar e tendo por par alguém que só ela sente. Indiferente ao resto que a rodeia, rodopia até ao fim dessa música imaginada e perante os olhares esquivos, alguns surpreendidos, outros envergonhados, de todos nós que julgamos impossível alguém manifestar assim a sua condição, senta-se tranquilamente e regressa à condição de igual aos demais.

13 janeiro 2020

one idea of heaven

Eu não conheço a obra de Roger Scruton's, pensador e filósofo, conservador inglês especialista em estética. Faleceu por estes dias e eu encontrei no Twitter esta linda fotografia que roubei de Rod Dreher.

A photo I took of Roger Scruton's office in his Wiltshire farmhouse. This is one idea of heaven.

08 janeiro 2020

ignomínia humana

As últimas imagens que vi antes de desligar a TV foram as de um ataque do Irão a uma base americana no Iraque, como retaliação pelo assassinato do seu dirigente militar. Previsível, diziam uns e outros dirão. Não se sabem pormenores, apenas a vertigem das Tvs com as suas "última hora", os seus comentadores especialistas e encartados e os directos de parte incerta, nos fazem expectantes face à loucura dos cenários que se adivinham. Vim deitar-me para ler um pouco, mas estes acontecimentos no Médio Oriente ocupam-me por demais o espírito e desconcentram-me da leitura. Preocupado, paro para reflectir sobre o que se passa, sobre esta escalada de violência e o ambiente que se percebe de vésperas de conflito descontrolado, se não total.
Não entendo, nem compreendo a necessidade da guerra. Não por ingenuidade ou ignorância, mas por um essencialismo humanista, fico sempre estarrecido e paralisado com as imagens e sons desses espectáculos televisionados em directo, porque não sei para que servem... Para que servem? Alguém beneficiará com isto? Não aprendemos já todos com a memória e o trauma de eventos passados? Que merda.
Raios partam o Trump e os seus lacaios analfabetos, fanáticos religiosos e belicistas. Como é que os Estados Unidos da América colocaram no seu altar-mor uma bestas destas?

06 janeiro 2020

mediascape: esbulho de Estado

as vítimas “não dizem que é agressão porque ao entrar na urgência (do hospital) têm de pagar logo 200 euros”.
A lei obriga a este procedimento nestes casos, cabendo depois aos tribunais decidir quem vai pagar as despesas e ressarcir a vítima, se for caso disso.
“Para evitar pagar os 200 euros e envolver as autoridades, chegam lá e dizem que foi uma queda”, sustentou.
(Carlos Martins, in Diário de trás-os-Montes)

A propósito do bárbara agressão e consequente morte do jovem cabo-verdiano em Bragança, li as declarações do segundo-comandante dos Bombeiros Voluntários locais, Carlos Martins, e custa a acreditar que assim seja. Eu desconhecia por completo essa obrigação de pagamento de 200 euros nas urgências dos hospitais públicos. Quer dizer, se alguém é agredido violentamente, como foi este caso, e fica inconsciente ou em muito mau estado, só é atendido se pagar esse valor? Há muito gente que pode não ter esse dinheiro para adiantar pela assistência. Não faz qualquer sentido. E assim de repente, até pelas afirmações deste profissional, as estatísticas nacionais relativas à violência poderão estar viciadas ou adulteradas, logo incorrectas. Às tantas, não seremos um país assim tão seguro e o nosso terceiro lugar no ranking poderá estar comprometido. Olha o André Ventura a ganhar credibilidade... (ironia)

confusões cronológicas

Com o início deste ano de 2020 temos ouvido por toda a parte que entramos numa nova década e que estamos "nos loucos anos 20", numa clara alusão ao que aconteceu na década homóloga do século passado. Mas trata-se de um erro, pois o ano de 2020 ainda pertence à década anterior. Esta confusão tão comum, que contraria todo o senso, deve-se ao facto de na convenção da contagem do tempo não existir ano zero, ou seja, quem instituiu o calendário que hoje utilizamos - calendário cristão - começou a contagem do tempo no ano 1. O responsável por esta milenar confusão foi Dionísio, o Exíguo (cognome), monge do século VI, que se celebrizou por ter criado umas tabelas para calcular a data da Páscoa, levando-o a criar o conceito de anno Domini(ano do Senhor) - a contagem dos anos a partir do nascimento de Cristo, ainda em uso e conhecida pela expressão "Era Comum" ou "Era Cristã".
Pode parecer estranho, mas também nós contamos assim a nossa idade. Vejamos: só no final do primeiro ano de vida dizemos que temos um ano, no final do segundo aniversário dizemos que temos dois anos, etc. Se uma década tem dez anos, só no final do décimo ano, essa década ficará concluída e esse último ano, o décimo, pertence à primeira década. Seguindo este raciocínio, 2020 será o último ano da década de 10 (segunda do século). No início de 2021, aí sim, estaremos numa nova década. Venha então toda a loucura dos anos vinte.

04 janeiro 2020

envelhecimento cultural

Servindo-se do exemplo da "famosa revolução digital" Manuel Frias Martins (MFM) reflecte, no último Jornal de Letras (nº 1285, Janeiro 2020), sobre o que é ser velho e como se envelhece... a gentil certeza da morte ao fim do caminho, com certeza, mas o modo de ser velho tem mais a ver, afinal, com o indivíduo do que com o tempo de vida de cada um. Partindo desta premissa, MFM questiona o envelhecimento cultural.
Começa por afirmar que o envelhecimento é percepcionado através do envelhecimento dos outros e que esse confronto entre o envelhecimentos (dos outros e o nosso) permite-nos entender o processo de envelhecimento cultural. Refere também a resistência, consciente ou não, à diferença e às mutações da cultura (sistemas de signos que actuam no interior de uma comunidade) como factor determinante.
Define o processo de envelhecimento cultural como um indivíduo ser obediente a si próprio e ao princípio regulador do seu conforto existêncial. Isto é algo que tem menos a ver com a idade do que com a atitude que cada um de nós tem ao longo da vida perante os desafios das ideias, das novidades tecnológicas, das práticas sociais e políticas no seu todo, nelas incluindo as práticas artísticas. Se essa atitude for pautada por uma busca do paraíso solitário onde só os valores individuais persistem, (...) então estamos a eliminar a interrogação, a dúvida, a contradição, o desassossego, a transformação. (...) Então somos protagonistas do do envelhecimento cultural que nos afasta do mundo e nos encerra no ilusório paraíso de nós próprios.
MFM considera, assim, que esse envelhecimento cultural é uma questão de carácter ou temperamento pessoal e não consequência de qualquer idade. Afirma-o como uma construção individual, ao contrário dos estudos culturais que o consideram uma construção social. Ao mesmo tempo, reconhece que todos nós, por mais disponíveis que estejamos para a novidade e para a diferença, acabámos nalgum ponto por revelar o nosso envelhecimento cultural, seja através das normas de vestuário, linguagem, gostos musicais e artísticos, etc.
Relativamente às tais tecnologias digitais que vieram revolucionar a nossa vida, MFM levanta as seguintes questões:
estarei eu a ser objecto de envelhecimento cultural se recusar este novo mundo digital?
Até onde é que eu posso ir na aceitação desta nova realidade sem contradizer a minha própria identidade, a qual se formou através da leitura em profundidade de livros diversos?
Poderei eu abdicar do enriquecimento propiciado por essa leitura e da promoção social e cultural da respectiva capacidade crítica?
Se eu privilegiar o espírito crítico daí recorrente, será que estarei num processo de envelhecimento cultural se afirmar (recusando) que no novo mundo digital há perdas irreparáveis no que respeita à leitura?
Consciente de que as respostas a estas questões não são simples, afirma que o importante é manter uma disponibilidade crítica, tão convicta quanto possível, para com as novas solicitações da cultura digital em todas as suas manifestações.
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EU:
Estou mais do que disponível para a novidade, considero-me até um privilegiado por a minha existência coincidir com este tempo magnífico de desenvolvimento tecnológico e científico. Poder testemunhar essa evolução, procurar acompanhar aquilo que é novidade e ser capaz de me servir dela, será sempre uma sorte e um prazer. Contudo, reconheço com humildade que estarei aprisionado ao meu envelhecimento e que à medida que esse processo evolui, consciente estou de que cada vez me escaparão mais "novidades" e que o meu interesse tenderá a decrescer. Dito de outro modo, cada vez mais casmurro e teimoso.

02 janeiro 2020

o último dos moicanos

A notícia chegou-me através de email da APA (Associação Portuguesa de Antropologia). Faleceu ontem, dia 1 de Janeiro de 2020, Benjamim Pereira aos 91 anos, figura maior e incontornável da Antropologia portuguesa. Fundador do Museu Nacional de Etnologia, foi um dos membros da tutelar equipa composta por Jorge Dias, Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano. Benjamim Pereira dedicou-se especialmente ao mundo rural português. Ficamos mais pobres.






Nestas fotografias, que eu dato de Dezembro de 2000 ou 2001 (não tenho a certeza), Benjamim Pereira visita a festa de Santo Estevão, conhecidas por Galhofas, em Ousilhão, concelho de Vinhais. Foi aí que o conheci e com ele pude trocar algumas palavras sobre a festa e suas simbologias. Na última fotografia, em que Benjamim Pereira está meio encoberto, estão também duas figuras importantes para a minha formação: Álvaro Campelo (ao centro) e Francisco Queiroga (à direita).

"estar presente"


Esta é a mensagem que se pode ler nos portais, pelo menos, das auto-estradas portuguesas por estes dias de festividades. Não sei quem foi o autor da frase, mas está de parabéns, pois não me recordo de slogan tão simples, acertivo e de tamanha profilaxia. De facto, importa é estar presente. Sempre.

retiro

Foi a sensação com que fiquei, agora que regressei à velocidade das coisas do dia-a-dia, das horas e dias que passei em Trás-os-Montes. Duas semanas de autêntico retiro familiar: sem a necessidade de sair à rua para mais nada a não ser para a maldita cafeína, vivi esses dias fechado entre paredes aquecidas, a ler, a escrever e a brincar (quando a isso era obrigado) com a criança. Soube-me pela vida.

(entre outras pequenas loisas e apontamentos, eis o que li por esses dias)

01 janeiro 2020

acontece

Primeira madrugada de Janeiro e eu não consigo dormir. Depois de alguma hesitação, acendo a luz e sento-me na cama, vejo as horas e pego no telemóvel para espreitar o Twitter. Só mais do mesmo. Na mesinha de cabeceira estão os livros que trouxe para estas duas semanas de retiro transmontano e no cimo deles está o "Diário de Inverno" (memórias) de Paul Auster. Não conheço nada deste autor e, confesso, comprei este livro porque me atraiu a capa e o título. Abro-o com curiosidade e, logo na primeira página e parágrafo, leio:

Pensas que nunca te vai acontecer, que não te pode acontecer, que és a única pessoa no mundo a quem essas coisas nunca irão acontecer, e depois, uma a uma, todas elas começam a acontecer-te, como acontecem a toda a gente.

Não foi preciso ler mais para saltar da cama e sentar-me aqui em frente ao pc com vontade de escrever. No entretanto, espreito pela janela, que escorre água do lado interior, e percebo que lá fora está uma tremenda geada. Está tudo esbranquiçado e a brilhar. Não é só bonito, é aconchegante e tranquilizador.
Tratando-se de um livro de memórias não imagino melhor forma de dar início a um exercício retrospectivo e, muito provavelmente, auto-biográfico. Não sei o que se segue, mas estas primeiras linhas agarraram-me para poder chegar ao seu fim, até porque se reflectirmos sobre o que aí está dito, às tantas, poderemos subscrever o seu raciocício.

Ainda quero regressar à cama e ao sono, pois mais logo, está prevista viagem para a grande cidade e o retorno às rotinas de sempre.
Que possa acontecer um bom ano.