O modelo de capitalismo que hoje domina é cada vez mais incompatível com a democracia, mesmo com a democracia de baixa intensidade em que vivemos, uma democracia centrada em democratizar as relações políticas e deixando que continuem a imperar os despotismos nas relações económicas, sociais, raciais, etnoculturais e de género. Refiro-me à prioridade dos mercados sobre os Estados na regulação económica e social; à transformação em mercadoria de tudo o que puder geral lucro, incluindo o nosso corpo e a nossa mente, as nossas emoções e sentimentos, as nossas amizades e nossos gostos; relações internacionais dominadas pelo capital financeiro e pelos super-ricos. O crescimento global das forças de extrema direita é o mais visível sintoma da crise profunda da democracia.
(Boaventura de Sousa Santos, in Jornal de Letras nº 1352, Julho e Agosto de 2022)
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