O algoritmo é a ditadura do futuro, a nova tecnocracia. Por isso desconfiamos sempre destes delírios tecnológicos - para quem será esse futuro? Desde Saint-Simon (1760-1825), os profetas da tecnocracia que trazia a justiça ao mundo já estão todos mortos.
Álvaro Domingues, in Granta 3, Maio de 2019.
A ficção científica está a tornar-se, em parte, realidade. Por isso precisamos das humanidades para questionar à medida que se faz esse percurso. Não é depois de termos descoberto um Frankenstein que vamos questionar o que fazer com o monstro.
Isabel Capeloa Gil, citada por Helder Martins, in jornal Expresso, 6 Julho 2019.
Foi a recente leitura de dois textos, um de cada um dos autores acima mencionados, que me trouxe até esta pequena reflexão.
Dizem-nos, e nós, ignorantes, acreditamos, que vivemos rodeados de algoritmos, que são eles quem comandam e sincronizam o ritmo da vida dos seres humanos e que, sem qualquer dúvida, serão eles quem determinarão a evolução das nossas sociedades, naquilo que poderão ser as tendências culturais, económicas, políticas e, acima de tudo, ideológicas.
Se tenho grande dificuldade em acreditar na existência de uma entidade superiora, omnipresente e omnipotente, enquanto criadora, gestora e juíza de toda a existência, maiores e acrescidas reservas morais e, até, éticas me assaltam, ao perspectivar a nossa existência subjugada pelos humores de um qualquer código, estúpido e insensível, desprovido de qualquer réstia emocional, que se baseia exclusivamente na contabilidade da imensidão de dados, de padrões e de correspondências. Talvez porque sou um humanista e acredito no valor intrínseco, se preferirem, ontogénico do Homem, prefiro a adopção de um pragmatismo utilitário desses "códigos mágicos", ou seja, utilizar as novas tecnologias e ferramentas, na medida em que nos são úteis e simplificam as tarefas e os acessos a determinadas fontes e informações.
Contudo, uma certeza tenho, não me sinto condicionado nas minhas escolhas, nos meus gostos e preferências, nas minhas convicções, nem tão pouco nos meus consumos, por nenhum algoritmo. Não sei, ao contrário das certezas dos inúmeros arautos dos amanhãs tecnológicos que por aí pululam, o que nos aguarda o futuro - certamente será um mundo magnífico e surpreendente. Acredito na ciência, na razão, na arte e engenho do ser humano. Procuro manter-me actualizado e informado, ainda que sempre da margem e numa atitude contemplativa.
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