As mulheres de Rebordãos, no concelho de Bragança, ainda hoje são conhecidas por capadeiras. No contacto que mantivemos com os habitantes desta aldeia, por entre sorrisos, reconhecendo essa nomeada, não sabem a sua origem ou fundamento, conseguindo apenas justificar essa adjectivação pela bravura e coragem das suas mulheres. Entre várias expressões e comentários, registámos:
Dizem que somos bravas, que temos pelo na benta…; as nossas mulheres são fodidas, não se metam com elas…; ora, eu bem vejo pela minha, não há quem a ature…; elas são lindas, é que é das mais velhas, até às garotinhas, todas iguais...;
Ainda que exista esta atitude condescendente e até bem-humorada, por parte dos locais, face à nomeada recebida, não conseguimos recolher junto da população nenhuma versão relacionada com aquela que o Abade de Baçal documentou sobre a sua origem. Nas memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança, o Abade remete a sua presumível origem para a segunda metade do século XIX, baseando-se numa carta do juiz de direito da comarca de Bragança ao administrador do concelho, em que se relatava:
«Ill.mo Snr. – Tendosse instaurado hum processo crime contra hûas mulheres de Rebordãos, por causa de hum acontecimento que entre ellas e hum criado do Estafeta de Rebordãos houve; e tendosse espalhado hontem e hoje que o dito criado apareceu morto no Adro da Igreja da Senhora da Serra; e constandome que V. S.a já procedera a varias averiguações a tal respeito, rogo a V. S.a que com a maior brevidade me informe sobre o resultado das suas averiguações, por assim o exigir o andamento do processo...... Bragança 16 de Agosto de 1855. O Juiz de Direito, B.meu Car.al de M.es Th…» (Alves, tomo VII, 2000:649)
O mesmo autor refere um outro episódio posterior que terá contribuído para o reforço dessa mesma nomeada:
Maria Gonçalves do Vale, de Rebordãos, filha de Francisco Gonçalves do Vale e de Teresa de Morais, presa em 1875 por infligir maus tratos a um galego (parece que o queixoso se gabava de proezas cupidíneas que não fazia, donde a irritação das raparigas de Rebordãos que, em legítimo desforço, o castraram. (Alves, tomo VII, 2000:188)
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