04 novembro 2020

distopia

Deveríamos viver tendo por ambição um futuro utópico, ou seja, a ambição de uma realidade sempre melhor do que aquela que agora experimentamos. Contudo, a verdade é que vivemos tempos (e já não é de hoje) em que apenas conseguimos vislumbrar distopias para aquilo que há-de vir. Não é ser pessimista, nem tão pouco derrotista, mas olhando à nossa volta, não poderemos deixar de estranhar tudo aquilo que vai sucedendo, um pouco por todo o mundo e, principalmente, na Europa, que nos remete para esse ambiente que julgávamos pertencer ao mundo do imaginário e da ficção. Não, é real e estamos a experimentá-lo. Vivemos de facto num mundo distópico.
Vem isto a propósito da leitura que terminei esta madrugada, enquanto ia espreitando o desenvolvimento da contagem dos votos nos EUA. Submissão, de Michel Houellebecq, é um bom exemplo daquilo que atrás referi. Publicado pela primeira vez em 2015, remete-nos para uma França em 2022 e conta-nos a vida de um professor universitário num país polarizado pelas religiões e suas culturas. O livro foi recebido com várias críticas, entre elas a adjectivação de ser uma distopia e algo impensável numa república como a francesa. Pois bem, estamos em 2020 e a realidade não anda muito longe daquilo que é proposto pelo autor. Aconteceu, também, a triste coincidência de o ter começado a ler no dia em que o professor francês, Samuel Paty, foi barbaramente assassinado à porta da escola onde leccionava.

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