10 abril 2013

ainda que atrasado...

... mas com a qualidade de (quase) sempre.

18 março 2013

em cadeia...


farsa democrática

Aproveitando o amanhecer soalheiro deste Domingo, fui dar um passeio pelo centro cívico e histórico da cidade de Bragança. Depois de percorrer várias ruas e vielas da cidade fui tomar um café e aí encontrei vários amigos e conhecidos com quem fiquei à conversa. Entre os vários assuntos e temas, bem típicos de conversas de café, fiquei a saber que circulava na internet e nas mãos de alguns cidadãos, um documento assinado pelo Presidente da Câmara de Torre de Moncorvo e também responsável pela concelhia do PS local, assinado pelo responsável da concelhia do PSD e também assinado pelo responsável da concelhia do CDS, onde se pedia aos cidadãos do concelho que não se manifestassem durante a visita que o Presidente da República iria fazer ao concelho. Estranha forma esta de promover a democracia. Estranha forma esta de admitir o bloco central de interesses no estado. Hoje, ao visitar o blogue de Joana Lopes - Entre as brumas da memória - encontrei uma cópia desse documento. Não sei se o rei vai nu, mas poucas dúvidas me restam que a democracia assim vai.

cobardia

Neste último fim-de-semana fomos surpreendidos com as notícias que nos chegaram do Chipre a propósito do resgate financeiro a que o estado Cipriota vai estar sujeito. A medida mais extraordinária desse programa de apoio, ou se preferirem de resgate, e até aqui desconhecido nos demais países resgatados, é o imposto sobre todas as contas bancárias no país. Todas as poupanças da população foram sujeitas a imposto que variou entre 6,75% e os 9,99%. Mas o mais impressionante nesta medida foi o oportunismo da sua apresentação pública. No final da tarde de 6ª feira, já depois dos bancos terem encerrado e num fim-de-semana prolongado; hoje é feriado nacional no Chipre. Os bancos só 3ª feira abrirão portas e aí, já o dinheiro correspondente a esse imposto foi retirado ou pelo menos cativado pelo Estado. A cobardia do Estado e das instituições europeias em todo o seu esplendor. Quando são os próprios Estados a roubarem o produto do trabalho dos seus cidadãos o que se pode fazer para podermos continuar a viver nesse Estado e a acreditar que de um Estado se trata? Para onde poderemos sair se todos os Estados actuarem de igual forma? Vivemos tempos difíceis, é verdade. Mas vivemos sob a governação de gente que não tem competências para esses mesmos tempos. Tudo aquilo que demorou décadas a construir, será destruído num abrir e fechar de olhos. Nunca sequer sonhei que no tempo de vida a que tive direito, pudesse assistir à desconstrução deste projecto europeu. Nasci e cresci nele, pelos vistos irei morrer fora dele. A ver vamos até onde a estupidez e a ignorância das elites e das lideranças europeias poderá ir.

no bom caminho...

O desalento, a frustração e o sentimento de incapacidade pessoal, levaram-me a decidir não trazer para aqui questões relacionadas com a actualidade económica e financeira do país. Mas, depois do que aconteceu na passada 6ª feira, dia 15 de Março, era impossível ficar quedo e calado. Como é possível um governo, através de um dos seus Ministros de Estado e respectivos Secretários de Estado, virem a público, a propósito da 7ª avaliação da Troika, apresentar os números que foram apresentados e não haver consequências políticas do total fracasso da sua governação. Ninguém se demite, ninguém é demitido. Já passaram quase 72 horas e tudo continua impávido e sereno. Há algo de errado, de muito errado na nossa sociedade. É que estes senhores que nos andam a pedir sacrifícios, que nos retiram direitos sociais, que nos reduzem às básicas condições de sobrevivência, que forçaram todo um estado de excepção e que afinal de excepcional nada tem, não acertam uma previsão, não conseguem construir um orçamento válido, não têm um projecto para o futuro nem para o país. A constatação clara de toda essa incompetência é o quadro que o jornal Público apresentou este fim-de-semana com os factores da previsão para 2013 e onde se pode verificar o bom caminho pelo qual estamos a ser conduzidos por estas iluminárias. RUA!
Fonte: Jornal Público

14 março 2013

delactores em rede

No dia 12 de Março recebi um email de um tal José António de Azevedo Pereira, que eu não conheço, nem ele me conhece a mim, mas deve ser gente importante, pois diz-se "Director Geral". Escreveu-me para me informar, melhor, anunciar que a partir de agora, eu, enquanto contribuinte, poderei aceder ao portal e-factura e consultar as facturas que foram passadas com o meu número de identificação fiscal. Caso detecte alguma anomalia, erro ou falha, poderei eu mesmo inserir essas facturas no sistema e assim contribuir activamente para que outros paguem não sei que impostos. Ora bem, gostaria muito de poder responder a esse email, mas através do mesmo sou informado que não poderei responder ("no reply"), pois afinal trata-se de um qualquer processo informático e não, para infelicidade minha e nossa, do próprio José António de Azevedo Pereira. Assim, agradeço a atenção e até o pormenor da personalização da missiva, mas infelizmente não acredito nesse sistema, nem acho que o problema da evasão fiscal esteja naqueles(as) que não facturam a totalidade do seu negócio. Tenho para mim, enquanto cidadão e pessoa de bem, que devo pagar os meus impostos e é isso que, ano após ano, tenho feito. É responsabilidade de cada um assim fazer. Não me compete a mim, nem a nenhum outro cidadão, andar a fiscalizar, vigiar ou denunciar os vizinhos do lado. Num estado democrático e de direito, existem entidades que têm por missão garantir essa justiça fiscal. Sejam competentes e vão buscar o dinheiro que é do Estado onde ele anda volumosa e verdadeiramente a fugir. Escusam de nos tentar co-responsabilizar pela vossa incompetência. Obrigado.

13 março 2013

"foram buscar-me quase ao fim do mundo"

Estas foram algumas das primeiras palavras que o novo Papa disse aos católicos que o saudavam na Praça S. Pedro. De facto, terem escolhido um Cardeal argentino para o lugar foi surpreendente. Face aquilo que aconteceu nos últimos exercícios e, principalmente, nos últimos anos, sempre pensei que os verdadeiros poderes da Santa Sé escolhessem um cardeal italiano. Homem jesuíta, com simplicidade e humildade, começou por dizer à multidão: "fraternidade". Agrada-me a ideia, o conceito e a vontade. Esperemos que o mundo possa contar com a Igreja Católica para essa realização. Por outro lado, e depois de tantos Papas europeus, não posso deixar de associar esta escolha aos tempos de carência e de crise que a civilização europeia experimenta. Assim, também aqui assistimos à afirmação das periferias face aos centros, ou por outras palavras, das colónias face às metrópoles. Com Francisco I "habemus papam"?!

06 março 2013

dia de LER

De novo com a direcção de Francisco José Viegas, sem Carlos Vaz Marques mas com Ana Sousa Dias nas grandes entrevistas, com um conjunto de textos sobre Fernando Pessoa e o Iberismo e com os cronistas de sempre. Excelente número.


03 março 2013

(des) (in) formação

Num destes dias, depois de mais um dia de aulas, a criança chega a casa com este papel na mão e diz: "- Papá, olha o que nos deram hoje na escola."

02 março 2013

manifestação

Há muito tempo sabia que não poderia marcar presença na manifestação que hoje ocorre um pouco por todo o país. Infelizmente, a minha debilidade física, o meu debilitado sistema imunitário e o verdadeiro receio do surto da gripe A que anda por aí a matar gente, levaram-me a optar por ficar na minha zona de conforto, embrulhado em manta e com os pés em pantufas. Sinais dos tempos e das idades. Resta-me a televisão e a internet para saber o que as ruas vão dizendo. Entretanto, aqui vou cantarolando e desafinando mais uma versão da "Grândola".


«morreu»

Pela primeira vez comprara um automóvel com algum conforto, equipamento e potência. Planeara uma vida de largos anos com esse carro, pois para além da sua inequívoca qualidade, era um carro espaçoso, adequado às exigências de sua família. Viajaram quilómetros e quilómetros, horas a fio, de norte a sul do país, pelo estrangeiro e arredores. Sempre na sua potente e capaz viatura. Pois bem, pensara ele que tinha ali máquina para durar, mas não, não teve. Enganou-se e não quis acreditar quando o médico especialista, depois de lhe pedir umas centenas de euros pelas intervenções, lhe disse que o carro morrera. Não tinha qualquer possibilidade de sobreviver. Demorou algum tempo a interiorizar esse veredicto, ainda procurou outras opiniões, mas derrotado pela despesa e pelos evidentes sinais de uma vida que se esvai, desistiu. Entregou as chaves e nem sequer se despediu dele.

07 fevereiro 2013

eu vou lá estar


06 fevereiro 2013

LER

Num número dedicado a Ruy Belo, destaco também o texto de Pedro Mexia acerca das autobiografias.

28 janeiro 2013

24 de Janeiro

(por manifesta indisponibilidade)

Apurriados, umas vezes mais outras vezes menos, continuaremos.
Obrigado.

08 janeiro 2013

agora o filme...

Sendo um apreciador da escrita de Leo Tolstoy, não poderia deixar de ver a adaptação feita ao cinema do seu grande clássico Anna Karenina. Sendo o original uma narrativa densa e enorme, compreende-se a necessidade de escolher apenas alguns dos momentos marcantes da história para apresentar na versão filme, mas a sensação com que fiquei depois de o ver foi como que tivesse lido uma sebenta resumo da versão original. Gostei do desempenho dos actores, da beleza da actriz Keira Knightley que representou o papel de Anna e destaco a personagem Aleksei Aleksándrovitch, num desempenho magnífico de Jude Law (para mim, o melhor personagem desta adaptação). O ambiente teatral e a recriação fantástica da Rússia Imperial, onde se desenvolve toda a narrativa, numa sucessão de cenários e cruzamento de actores e a própria realização, fizeram-me recordar o filme "Fabuloso destino de Amelie".


03 janeiro 2013

dia de LER

dia primeiro, primeira vez...

Acordar preguiçoso para o novo ano. Com calma e a caminho da mesa posta para almoçar, recosto-me ao sofá. Na TV a missa transmitida pela TVI e rezada pelo Cardeal de Lisboa. Igual a tantas outras, mas naquele mesmo espaço onde me encontrava, havia quem assistisse e estivesse de facto a participar na liturgia. Chegado o momento da paz, houve quem se cumprimentasse, o que originou uma cadeia de cumprimentos entre todos os presentes nessa sala. Surpreso e impreparado lá fui obedecendo ao ritual e desejando que a paz esteja com eles e com elas. Aqui está uma formulação diferente - pouco utilizada - que poderia e deveria constar do nosso cardápio verbal: que a paz seja em ti.

31 dezembro 2012

2013 para mim

Pois cá está um novo ano e este terminado em três, o que significa para mim o completar de mais uma década de existência. Pois é, será o ano em que completo quarenta anos. Dependendo do ponto de vista, poderão dizer que ainda só, ou então que são já..., ainda assim prefiro o pragmatismo do tempo que passa por mim e por todos os outros. Para este próximo ano e num contexto como aquele que vivemos, será avisado apenas solicitar a mesma qualidade de vida que tenho tido até aqui. Sem grandes ambições e sem grandes planos, pois percebi já que não mudarei o mundo, viveremos aquilo que pudermos. Vamos lá.

instante urbano XXII

No regresso do almoço, entro na sala onde tinha estado nos últimos dias a recolher dados e encontro a técnica do Arquivo Distrital de Bragança a auxiliar outra pessoa que procurava informação. Pela conversa percebo que se trata de uma jovem brasileira que veio a Portugal em busca das suas origens, dos seus antepassados. A dificuldade é que apenas sabia um nome e o ano em que nascera (1901). A técnica lá a foi ajudando até que, através dos registos paroquiais, lá conseguiu encontrar esse seu antepassado. A alegria e satisfação da descoberta manifestou-se num choro incontido que lhe turvou os sentidos e a obrigou a pedir ajuda na leitura. À medida que foi ouvindo a informação a comoção aumentava, até ao momento em que também já era a técnica do Arquivo quem soluçava e tentava segurar as lágrimas. E eu ali ao lado, fazendo de conta que estava concentrado no meu trabalho e na minha música. Por fim, exclarecida, pede uma cópia do documento e uma certidão. Ligou para a Avó (que seria a filha desse seu familiar) e conta-lhe o que conseguiu descobrir. Prometeu-lhe que a iria visitar para lhe mostrar os documentos e desligou. De imediato faz outro telefonema, julgo que para o Brasil, e conta a sua aventura. Quando desligou já tinha à sua frente as cópias e a certidão. Agradeceu e disse que iria de imediato à procura da aldeia, lugar onde esse seu antepassado nasceu, viveu e morreu. Mesmo tendo consciência de que esta é uma experiência idêntica a tantas outras, não deixa de ser impressionante a força de determinados sentimentos. Aquela jovem, descendente de portugueses, jamais conheceu esse senhor, mas a sua referência concerteza terá sido uma presença constante na sua vida e na vida da sua família. Impressionante, para mim, é a importância da memória e a necessidade de a estudar. Aqui, ali ou acolá, ontem, hoje ou amanhã, queremos pertencer a algo ou a alguém.

11 dezembro 2012

o coronel

Ouço as birras da minha criança, daquelas típicas de alguém que não sabe ainda nada de vida e de quem pensa que podemos e devemos ter tudo e ter mais e ocorre-me ao pensamento esta imagem. O "Coronel" junto de uma das suas habitações - pegava-lhes fogo e abandonava-as sempre que era visitado por uma cobra ou lagarto. O "Coronel", assim era tratado e assim ficou na memória daqueles que o conheceram, viveu grande parte da sua existência no monte e pelo termo da aldeia de Vila Boa, em Vinhais, sozinho e, com a excepção do vestuário, despido de qualquer caracter de civilização. As suas casas eram as casarolhas que os lavradores construíam para abrigo nos terrenos longe da aldeia. Viveu com fome e frio. Comeu, bebeu, fumou e vestiu apenas o que lhe deram. Só aparecia na aldeia quando tinha muita fome e o fim veio, assim, com uma dor forte de barriga, daquelas que nos últimos tempos o importunavam e de que ele se queixava. Viveu e morreu só.

Le Monde


Mais um excelente número do Jornal Mensal.

08 dezembro 2012

para adquirir e conhecer...

Na excelente 119ª edição da revista LER, Bruno Vieira Amaral escreve sobre o livro de Nicholas Carr "Os Superficiais - o que a internet está a fazer aos nossos cérebros". Só o título prende-me os sentidos e a curiosidade aumenta depois de ler a respectiva recensão. Nicholas Carr tenta responder à questão: Que implicações pode ter a internet - e todo o ambiente que o rodeia - no cérebro humano?
Já agora e enquadrado pela quadra natalícia, se por um mero acaso, alguém pensar oferecer-me algo, aqui está uma rica prenda. Obrigado, mesmo assim.

literatura oral e marginal

Quando frequentei o segundo ou terceiro ano do curso da Antropologia, uma das cadeiras opcionais dava pelo nome de Literaturas Orais/Marginais. Nesse ano fui dos poucos alunos do curso a escolher essa cadeira. Pouco ou nada recordo do programa, da professora ou do que aprendi, mas houve um pormenor que guardei na memória até ao presente. Uma das referências bibliográficas centrais dessa disciplina era um livro altamente alternativo e que se chamava "O guardador de retretes". Nunca o cheguei a ler, consultar ou sequer conhecer. Sei que mesmo depois de acabar o curso e ao longo de todos estes anos, guardei essa referência e cheguei mesmo a procurá-la, mas sem sucesso. Até que hoje, na Fundação Cupertino de Miranda e ao visitar mais uma "feira" de livros, o encontrei, numa 4ª edição e versão mais recente (2007). Finalmente.

07 dezembro 2012

Ler, 25 anos depois...

genericamente, dos últimos seis meses, particularmente, de uma feira do livro

- Conde, Santiago Prado (2010), Conferencia Internacional da Tradición Oral - volumes I e II;
- Gué, António Sá (2012), Quadros da Transmontaneidade, Lema de Origem;
- Fernandes, Hirondino (2012), Bibliografia do distrito de Bragança - série Escritores, Jornalistas, Artistas - volumes II e III, Bragança, Câmara Municipal de Bragança;
- Feio, Rui (2012), Roteiro do Culto Mariano em Terras de Bragança e Zamora, Bragança, Câmara Municipal de Bragança;
- Sobral, José Manuel (2012), Portugal, Portugueses: uma identidade nacional, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Ribeiro, Gabriel Mithá (2012), O ensino da História, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Silva, Mónica Leal da (2012), A crise, a família e a crise da família, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Madruga, Francisco (2006), Novos tempos, velhas culturas, Mogadouro, Associação Cultural e Recreativa de Soutelo;
- Vieira, João Martins (2007), Planeamento e ordenamento territorial do turismo - uma perspectiva estratégica, Lisboa, Editorial Verbo;
- Debord, Guy (2012), A sociedade do espectáculo, Lisboa, Antígona;
- Tolstói, Aleksei K. (2010), O vampiro e a família do vampiro, Lisboa(?), Estrofes & Versos;
- Barbosa, Pedro (2007), O guardador de retretes, Porto, Edições Afrontamento;

22 novembro 2012

presenteado

Nunca fui pessoa para grandes euforias ou grandes entusiasmos para receber presentes. Não me recordo de sentir grandes expectativas em relação às datas especiais de previsíveis surpresas e ofertas. Sem querer melindrar todos(as) aqueles(as) que me têm mimado, não sou pessoa que receba muitos presentes; acho que nunca fui. Gosto muito de presentear aqueles e aquelas que gosto e que de alguma forma quero bem, mas também gosto muito, mesmo, de me presentear e comprar para mim aquilo que mais gosto. Não sou esquisito e opto quase sempre, pois dá-me certo prazer, pelas mesmas coisas. Por nunca estar à espera desses mimos, sempre que alguém me oferta algo é uma surpresa e sabe bem, sentimo-nos queridos e estimados. Saber que alguém, num determinado momento, pensou em nós e associou algo à nossa pessoa... Foi o que me aconteceu por estes dias. Sempre bom.

19 novembro 2012

mediascape: os desistentes

Das notícias que hoje encontrei na imprensa e nos noticiários televisivos, gostaria de destacar esta do Jornal Público e que diz que os emigrantes portugueses de hoje estão a desistir de Portugal e a pedir naturalização nos países de acolhimento. De facto, esta é uma nova atitude, pois mesmo admitindo que muitos daqueles que, durante várias décadas e gerações, partiram em busca de uma vida melhor longe da pátria nunca regressaram, não há registo que esses portugueses algum dia tenham desistido da sua nacionalidade. Nacionalidade essa que compreende um conjunto de identidades pessoais que, por sua vez, se sentem, ainda que involuntariamente, parte de uma comunidade, no caso nação e, em particular, Portugal. É também enquanto membros dessa nação que aprendemos a construir um sentido de diferença para com os outros, para com os estrangeiros, com os quais permanentemente nos comparamos. José Manuel Sobral (que ainda há poucos dias, aqui referi, a propósito do seu ensaio acerca da identidade nacional), afirma que: «Ser-se português não implica partilhar uma qualquer essência ou substância inefável, mas tão-só reconhecer-se a si e a outros como tais, e a outros como diferentes, estrangeiros. As caracterizações ou representações do que era ser-se português nunca terão sido algo de homogéneo e ainda hoje o não são.»(2012:33)
O facto de haver indivíduos que declaradamente escolhem outra nacionalidade é algo significativo e justificará uma análise mais cuidada e um estudo mais aprofundado, pois para além de romper com as lógicas e circuitos tradicionais dos movimentos migratórios, implica um conjunto de questões simbólicas e identitárias, e será, a médio ou longo prazo, uma questão de Estado, na medida em que será a própria sobrevivência da nação que poderá estar em risco. A desistência de uma nacionalidade significa também a desqualificação dessa nação. Em cada um dos casos é a dignidade de Portugal que está em questão. Cada desistência significa que o outro é melhor que nós e em última análise, esse outro passará a ser «nós» e vice-versa.
Este é mais um sintoma - e espero que não passe disso - do mal estar social que em Portugal e nalguns países da União Europeia se sente, consequência directa das políticas gravosas e erráticas que os governos europeus optaram na resposta à actual crise. Um dia, num futuro que eu não adivinho, haverá quem possa reflectir sobre este momento histórico e, ainda que postumamente, fazer justiça e repor a verdade, para que as nacionalidades possam garantir os índices de civilidade e a qualidade de vida mínima para os seus cidadãos poderem e quererem estar e ser nacionais.

13 novembro 2012

mediascape: o odioso

Para o ministro Pedro Mota Soares responsável por essa coisa chamada Segurança Social, os idosos são abandonados pelos seus familiares e depositados nas instituições sociais. Para o ministro, os familiares desses idosos deverão ser perseguidos e responsabilizados, pois a culpa por não poderem tratar dos seus familiares mais velhos, é única e exclusivamente deles. Agora e segundo este novo paradigma, só quem demonstrar que não tem capacidade financeira para cuidar dos mais velhos, poderá recorrer às instituições do Estado. A mesma conversa, o Estado só servirá aqueles que realmente necessitam... Neste caso não é só a questão social que preocupa, mas sim e principalmente, preocupa-me a tentativa descarada de desresponsabilizar o Estado de uma das suas principais e fundamentais funções. Inadmissível. Este é mais um exemplo daquilo que este governo com celeridade está a fazer ao Estado Social. Esvaziá-lo de sentido e serventias aos portugueses, para então depois entregar aos privados, através de pomposas cerimónias e invocando a necessidade de uma prestação de serviço público com qualidade, esses mesmos serviços e prestações sociais. Este ministro, em apenas um pouco mais de um ano de desempenho, conseguiu já o lugar invejado de ministro do ódio social. Parabéns.

le monde

Esta edição sem grandes destaques e com pouco interesse para mim.

Delães

Gosto sempre de regressar a esse lugar e, desconfio, regressarei sempre até ao meu fim. Mas à medida que o tempo vai passando, essas revisitações tornam-se cada vez mais nostálgicas e carregadas de memórias de outro tempo em que lá tudo tinha uma outra dimensão, outro cheiro e outra afectividade. Tudo está agora vazio, sem forma, sem afecto, sem reconhecimento. Nada ou quase me leva lá, apenas e quase só essa memória de rostos, de odores e de momentos vividos. Não importa, voltarei sempre. 

11 novembro 2012

10 novembro 2012

intervenção

Venho aqui falar-vos da parte interior do nosso território nacional. Falo das comunidades que, apesar de serem também Portugal, têm sido historicamente relegados para uma condição sub-alterna que desde sempre cumpriram as suas obrigações para com a nação e a nação jamais, pouco ou nada, retribuiu. É uma das maiores e crónicas injustiças em Portugal, a descriminação negativa e bem negativa dos territórios do interior.
Territórios, comunidades e indivíduos que estão habituados, há gerações, a procurarem vida bem longe de casa.
Territórios, comunidades e indivíduos que estão habituados, e agora mais do que nunca, a verem os serviços públicos encerrarem : dos CTT aos tribunais, das escolas aos centros de saúde e valências hospitalares.
As políticas de austeridade, impostas por este governo afectam, sem dúvida, todos os portugueses e todas as portuguesas, mas afectam sobremaneira e com maior violência aqueles que, não por acaso, fazem ou tentam fazer vida no interior.
Os cortes financeiros, o desinvestimento público, o encerramento de serviços públicos e a não promoção da produção nacional eliminam postos de trabalho, desencorajam o investimento privado e extinguem as actividades económicas tradicionais locais.
O Bloco de Esquerda deverá, terá de assumir esta luta como prioritária. A defesa incondicional do investimento público na saúde, na justiça , na segurança social e na educação. A Escola Pública! - de forma a reestruturar, dentro do possível, o todo do território nacional.
O próximo ano será um ano importante, pois pelo menos teremos as eleições autárquicas e aqui, o Bloco de Esquerda não deverá hesitar em dedicar o melhor que tem em si e de si nesse processo. A capacidade de intervenção dos activistas do Bloco de Esquerda nas autarquias não deve ser desvalorizada ou sequer relativizada; sendo essencial e até estruturante, deverá ser valorizada e até reforçada com uma política autárquica forte que lute contra o desgoverno globalizante e que nos atira ou remete para uma condição jamais experimentada por nós.
Bem sei o esforço que a estrutura do BE tem feito para reflectir e debater as questões relacionadas com a interioridade, nomeadamente nas jornadas da interioridade e também na comissão nacional autárquica, mas o apelo é que esse esforço seja crescente, seja maior, que traga a si a qualidade de cada região.
Camaradas,
Fica o alerta, fica o apelo para que as nossas ideias, os nossos ideais e o nosso projecto político futuro possa também nas autarquias ter lugar.
Obrigado.
(Intervenção do distrito de Bragança)

Francisco Louçã

Hoje quando iniciar a VIII Convenção do Bloco de Esquerda, o Francisco deixará de ser o Coordenador do partido e abandona todos os cargos políticos que até hoje desempenhou. Bem sei, ele já o disse e repetiu, que não vai abandonar o partido nem a luta por uma solução alternativa de esquerda, mas é indiscutivelmente uma perda de monta para o BE. Conheci o Francisco algures em 2004 e à medida que me fui envolvendo no movimento e participando nos diversos fóruns, tive a oportunidade de o ir conhecendo e reconhecendo as suas qualidades enquanto lider, enquanto membro de uma equipa e enquanto comunicador. Foram vários os momentos em que privámos e conversámos acerca de diversos assuntos. O Francisco é um excelente ouvinte. É indesmentível o poder da sua imagem e personalidade junto da sociedade e eu pude testemunhar, por todo o país, o carisma e a empatia que provoca nas pessoas. Não acredito no culto da personalidade, nem que haja pessoas insubstituíveis, mas substituir o Francisco vai ser um desafio para todos os activistas do BE e também para mim. Confesso que tenho dúvidas em relação ao momento escolhido para haver esta mudança e confidencio que preferia que ele se mantivesse no cargo.
(10 de Novembro, a caminho de Lisboa)

VIII convenção do bloco de esquerda

A caminho de Lisboa, aproveito para pensar naquilo que poderá acontecer nestes dois dias em que vamos estar reunidos em Convenção. É um momento dificil para a sociedade em geral e para o partido em particular. Experimentamos, pela primeira vez, uma mudança de liderança, ainda por cima num processo de substituição de um dos lideres e fundadores do partido que marcaram a sua evolução, depois e também porque os últimos resultados eleitorais foram efectivamente derrotas para o BE.
Vou participar nesta convenção enquanto delegado eleito pela moção A, da qual sou subscritor e defensor. Faço parte da lista da moção A candidata à Mesa Nacional, orgão para o qual tenho feito parte desde 2009, mas desta vez não serei eleito, pois para além de previsiveis surpresas a moção B elegeu uma percentagem considerável de delegados, o que na votação inviabiliza a minha eleição. Mas isso não será relevante, até porque tendo aceite integrar a lista, demonstrei disponibilidade para ocupar o lugar, mas a não eleição libertar-me-á de várias responsabilidades. 
Em relação à Convenção não tenho grandes expectativas, pois é mais do que conhecida e pública a composição da próxima liderança. Apoio esta solução, não por ser paritária ou por ser "bicefala", mas por ser protagonizada por dois elementos descomprometidos com as correntes fundadoras do movimento. Aliás, sem qualquer tipo de sectarismo, sabendo que o BE é já muito maior do que a soma dos seus partidos e movimentos fundadores, não compreendo nem aceito a cativação do partido por parte dessas, agora, correntes. Está na hora de alterar essa relação de forças. Para bem do colectivo. Veremos.

08 novembro 2012

uma identidade nacional

Foi com relativa surpresa que vi o nome de José Manuel Sobral associado a esta colecção de Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Mas também não sei porquê é que estranhei esta colaboração. Em todo o caso, o José Manuel Sobral, doutorado em Antropologia e que, nos últimos tempos, se tem dedicado às questões gastronómicas, aparece aqui com uma interessante reflexão acerca da formação e reprodução da identidade nacional portuguesa. O autor defende que a melhor forma de analisar as identidades colectivas, como as nacionais, consiste no estabelecimento da sua genealogia. Neste ensaio, a História encontra-se sempre presente, através da reconstituição selectiva de momentos e conjunturas marcantes na construção das formas de identificação significadas pelos nomes Portugal - um Estado, que haveria de ser descrito e vivenciado como pátria ou nação - e Portugueses - o nome colectivo dos seus habitantes.
Já o desfolhei e será com curiosidade que o lerei nas próximas horas. Ainda assim, não hesito desde já em recomendar a sua leitura.


07 novembro 2012

mediascape: a ignóbil

Ontem, Ana Lourenço na SICN teve três convidados para falarem acerca do Estado Social. Um desses convidados era Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Português. Eu, curioso, estive atento, mas logo às primeiras palavras de tal individualidade, não aguentei e mudei de canal. Lembro-me de ter feito um qualquer comentário no Twitter. Insuportável era o seu discurso. Mas hoje, as reacções a esse momento vieram de todo o lado e eu, para confirmar aquilo que tinha sentido, fui então rever, agora na íntegra e com mais atenção, a intervenção dessa boa samaritana. Como é possível haver ainda gente a pensar e a raciocinar desta forma. Parece coincidência mas não é por acaso que é agora, neste contexto social e político, que esta gente de merda tem coragem para falar assim. Que discurso bolorento, que anacronismo. Esta sujeita vive num país espectacular, onde não há miséria e onde a civilidade é marcada por uma caridade aos pobres que existem por aí. O seu discurso, a sua postura e a sua atitude são ignóbeis. Racista de classe que, ao mesmo tempo, precisa dessas classes desfavorecidas e miseráveis para justificar a sua miserável existência. Intolerável. Nojo. Confirmem no vídeo...

a estima

Assim de repente e sem o auxílio de qualquer dicionário, estimar significa querer bem, gostar ou preservar, conservar. As pessoas estimam-se ou não entre elas. Nas vidas quotidianas e dos lugares comuns, partilhados pelos rostos que se vão cruzando, a estima é um elemento simpático e cortês. Frequentemente as pessoas trocam cumprimentos e a cortesia desses encontros fugidios, ainda que assíduos e rotineiros, obriga-as, no momento final desse diálogo, a reforçar a estima que nutrem umas pelas outras, produzindo num curioso pretérito perfeito: - Estimei em vê-lo!

06 novembro 2012

o poder dos livros

"A melhor forma de combater os fascistas religiosos, sejam eles evangélicos, como nos Estados Unidos e no Brasil, judeus, muçulmanos ou hindus, é através da alegria - do sexo, da música, do vinho e dos rojões. 
Além dos livros, claro. Os Americanos teriam feito mais pela libertação dos afegãos se tivessem despejado sobre o país não bombas, mas livros. (...) Os livros realmente mudam o mundo. A boa literatura é sempre subversiva. Todos os totalitarismos temem os livros." 
José Eduardo Agualusa na LER nº118.

Obama,

Today is the day!

05 novembro 2012

mediascape: the cloud

Nota Prévia
Nova rubrica no apurriar. Proponho-me destacar aqui a notícia diária, disponibilizada pelos media que particularmente me atraia os sentidos, numa perspectiva particular e de consciência social, neste mundo difuso e de vertiginosas heterogeneidades. Como título surgiu-me a palavra mediascape, cujo conceito é da autoria de Arjun Appadurai (2004) e refere-se à distribuição da capacidade electrónica para produzir e disseminar informações. O seu aspecto mais importante é que fornecem vastos e complexos repertórios de imagens, narrativas e etnopaisagens a espectadores de todo o mundo. (…) As linhas divisórias entre as paisagens realistas e ficcionais que vêem estão esbatidas. (…) Tendem a ser explicações centradas na imagem, com base narrativa, de pedaços da realidade, e o que oferecem aos que as vivem e as transformam é uma série de elementos, a partir dos quais podem formar vidas imaginadas, as deles próprios e as daqueles que vivem noutros lugares. (Appadurai, 2004:54)
A ver vamos se consigo ser assíduo, pois pontual não posso prometer ser. Acontecerá quando puder, conseguir ou me apetecer.

The Cloud
A notícia chegou-me bem cedo, através da rádio e dizia, citando o Diário de Notícias, que o Governo se prepara para entregar a privados a gestão e manutenção das bases de dados públicas nacionais (defesa, saúde, segurança, etc.) como forma de conseguir cortar na despesa pública. Esse estudo encomendado e tutelado pelo ministro Miguel Relvas foi desenvolvido no âmbito do Grupo de Projecto para as Tecnologias de Informação e Comunicação (GPTIC) e contempla três cenários possíveis, dos quais o mais "vantajoso" para o Estado será uma solução tecnicamente nova, a «Cloud Computing», gerida, claro está, por uma empresa privada. Não sendo conhecedor destes processos, conheço minimamente o conceito enquanto utilizador. Desde logo tenho dúvidas quanto à novidade tecnológica, pois de novo nada tem e já várias empresas disponibilizam aos seus clientes e utilizadores esse espaço virtual e desmaterializado, onde podemos armazenar informação e aceder a ela, a qualquer momento e em qualquer local, através da internet. Depois, o bom senso avisa-me para os perigos duma solução deste tipo: Que tipo de informação pretende lá colocar? Quem vai ter acesso a essa informação? Qual o nível de segurança? A própria concentração de tamanha e tão variada informação parece-me contra-producente, pois para além da questão económica, qual a vantagem de centralizar num só "espaço" e numa só empresa toda a informação? Os níveis de conhecimento devem manter-se isolados e diferenciados. Questões de Estado e informações relativas aos seus cidadãos devem pertencer ao Estado e só. Um Estado soberano e de direito não pode entregar ao desbarato informação vital, apenas porque a sua manutenção e gestão tem custos. Esta notícia revela também o desespero do governo que a todo o custo quer desfazer o Estado e transformá-lo em algo, isso sim, novo e desconhecido. Idiotice. A nuvem é e será sempre apenas e só uma metáfora eficaz e bonita.

04 novembro 2012

LER para Novembro

28 outubro 2012

grande malha

para ouvir alto e com bom som...


25 outubro 2012

crise, serviços e qualidade

Não haverá um português que não utilize o termo "crise" no seu dia-a-dia, com propriedade ou sem ela, com informação ou sem ela, com razão ou sem ela, com hipocrisia ou sem ela, ou com sentido ou sem ele. Na realidade esse termo e todos os seus significados vieram introduzir no léxico nacional um conjunto de étimos que até então praticamente desconhecíamos. A par deste fenómeno linguístico, a "crise" proporcionou também o ambiente ideal para o abandono, por parte do capital, na indústria e no comércio, mormente nas pequenas e médias empresas, levando à presente situação dramática de desemprego e de indigência social e cidadã. Uma das consequências mais gravosas deste processo é o desaparecimento de todo um tecido comercial de pequena escala que não aguenta a pressão e se vê obrigado a fechar portas, deixando o mercado disponível para os grandes grupos e exposto à avidez dos monopólios, o que por sua vez traz, quase obrigatoriamente, um decréscimo na qualidade dos serviços prestados e dos produtos comercializados. Naquilo que é a minha experiência de cliente, noto nalgumas das empresas esse prejuízo qualitativo. Dou dois exemplos: A Fnac que quando se instalou em Portugal e durante muito tempo oferecia um serviço de qualidade na venda de livros técnicos (encomendas, prazos, disponibilidade, variedade, entre outros factores), perdeu substancialmente essa qualidade e agora, para além de um atendimento demorado por falta de colaboradores, por norma não tem e não encontra no catálogo, nem se mostra disponível para a encomenda; A Toys"r"us, originalmente, um mundo mágico para a brincadeira e um baú sem fundo de diversidade, tem as lojas "abandonadas", com poucos clientes e com poucos colaboradores. Pedir um esclarecimento ou uma ajuda tornou-se insuportável, seja pelo tempo de espera, seja pela qualidade dessa interacção. Estes dois exemplos dizem respeito àquilo que foi a minha percepção, por estes dias, em situações concretas. Aquilo que aconteceu com a chegada destas duas marcas - entre outras - ao nosso mercado foi o fim de muitas e muitas pequenas empresas concorrentes que não aguentaram o poderio destes gigantes, ou seja, primeiro rebentaram com o mercado ficando em situação de monopólio ou algo parecido e depois, donos e senhores do mercado, puderam desqualificar esse mesmo mercado. O consumidor é passivo, sujeita-se a qualquer preço e vive dependente de cartões e de dias de promoção. O cliente deixou de ter razão e de ser soberano.

14 outubro 2012

processo civilizacional

Vivemos tempos magníficos. E não o digo com ironia. Pessoalmente considero que o tempo presente, que inclui também o passado recente e o futuro próximo, permite-nos experimentar e conhecer momentos únicos que jamais pensei um dia poderem acontecer. São dias paradoxais e de sentimentos difusos, mas que me cativam e atraem para um maior interesse e crescente envolvimento. O experimentalismo social a que temos vindo a ser sujeitos terá, obrigatoriamente, como resultado um retrocesso civilizacional, o que me impele para um dos lados desse mesmo processo. Estou completamente implicado na luta contra este crime contra a nossa humanidade. Tal como sempre afirmei aqui e noutros fóruns, sou um pacifista e um crente da palavra como arma de qualquer dialéctica. Nunca acreditei nas armas e nas guerras, mas sei da sua utilidade histórica e civilizacional. Neste momento e perante o que os meus sentidos percepcionam, vivo um conflito existencial, pois pressinto que algo grave poderá acontecer. Não gosto muito dessa sensação, mas parece-me inevitável. E num momento como este, permito-me a uma inconfidência. Lembram-se da Carbonária?

07 outubro 2012

diplomatique, c'est le monde...

Sem ainda ter tido tempo de o desfolhar. Tem andado comigo.

04 outubro 2012

se não responder...

Assim são tratados os infelizes dos desempregados. O Estado quer a todo o custo livrar-se deles, nem que isso signifique a maior das indigências individuais e cidadãs. A pressa de actualizar e tentar esconder a triste realidade do desemprego em Portugal, dá 10 dias aos desempregados para poderem manifestar a sua existência. Se não o fizerem são excluídos da base activa dos desempregados e remetidos para um estatuto de não-existência, algures nas catacumbas do respectivo Ministério, permitindo assim mascarar as percentagens desse mesmo desemprego. O que mais impressiona neste tipo de expediente é a rapidez e a ânsia perceptíveis em duas ou três linhas de texto. O que mais revolta neste tipo de expediente é a transformação de pessoas, de homens e mulheres, em números e em percentagens, e assim em algo que não tem vida, não precisa de comer, de ter família, de trabalhar, de ter uma habitação, enfim, não merece existir. É isso. Solução final.


é mesmo isto...

01 outubro 2012

vamos ler...

30 setembro 2012

facebook

Hoje foi o dia em que desactivei a minha conta do Facebook e assim, definitivamente, abandonei o hábito de diariamente lá ir ver não importa o quê. A decisão já estava tomada há algum tempo e foi um sentimento crescente de desprendimento e incompreensão das razões que me mantinham interessado em participar nessa rede social. Aceito e compreendo que possa até ser uma boa ferramenta de trabalho para algumas pessoas, mas naquilo que me diz respeito, nada para além de um ou outro contacto exclusivo desse espaço. Já está. Foi uma decisão ponderada e por isso sem retorno possível. A ver vamos se outro "brinquedo" aparece para me distrair os sentidos...

27 setembro 2012

siempre!

Por estes dias e a propósito do ambiente de revolta latente que se sente e manifesta por esta Europa nossa, um amigo fez-me chegar este vídeo catalão, anexando uma curta mensagem: "especialmente para ti. Siempre".

20 setembro 2012

"ter-ter"

Numa (re)leitura rápida de um livro de Paula Godinho chamado "O Leito e as Margens" encontrei isto:
«A destreza do corpo e da mente, detectável pela capacidade de articular movimentos e palavras, constitui um requisito indispensável no processo de socialização, para a incorporação de um indivíduo no seu grupo doméstico e na aldeia. Enquanto não gatinham nem andam, a "rasa" (medida de alqueire) do centeio, basta para, sossegadamente, assistirem aos movimentos da mãe, enquanto ela se encontra adstrita à casa. O "tenedor", espécie de gaiola em que a criança fica suspensa, podendo ensaiar os primeiros passos, é uma construção em madeira, normalmente, feita pelos pais, que facilita a aprendizagem de movimentos. "Ter-ter" é a expressão que se repete quando a criança já adquiriu a postura de pé, mas hesita ainda nos passos a dar.»
O Tenedor nunca utilizei, nem construí para as minhas crianças, mas de facto, utilizei, e utilizo, a expressão "ter-ter" quando na eminência de começarem a caminhar. "Ter-ter" é conseguir equilibrar-se e não cair. Reminiscência inconsciente de um sentimento de pertença a um determinado grupo?!...

ilusão óptica

Numa destas últimas noites viajei, uma vez mais, de Bragança para o Porto. Tal como tantas outras vezes, saí de Bragança muito tarde, já perto da uma da madrugada e previa uma viagem rápida e tranquila. Logo à saída da cidade e depois de passar Rebordãos, as obras da A4 obrigam-nos a um desvio pela Nacional 15. A zona do Remisquedo, sopé da serra, é sombria e com vegetação densa. Olhei para o cimo da serra e onde com a luz do dia encontraria as enormes antenas da Marconi, descobri um forte clarão de tom alaranjado. Um incêndio, pensei eu. Só pode. Apesar da viagem ainda mal ter começado, eu estava cansado e nesse momento o pânico tomou conta de mim. A serra de Nogueira - a minha serra - estava a arder. Parei por momentos a olhar para aquela luz que iluminava a noite e as nuvens do cimo da serra. O que fazer?... Ligar para o número de emergência?... Ainda peguei no telemóvel, mas ali não tinha rede. Avancei rápido à procura de lugar onde captasse rede e pudesse ligar. Estava decidido a fazê-lo. Quando chego à zona de Sortes, a sul da serra, espreito novamente para o cima da serra e percebo que afinal o clarão que antes me parecera um incêndio, era apenas a iluminação pública que agora (e não sei desde quando) existe no Santuário da Senhora da Serra. Antes isso, pensei eu e segui tranquilamente cansado até às faldas da Invicta.

religião e relativismo civilizacional

Anda o mundo muçulmano sobressaltado com as atitudes de alguns órgãos de comunicação social ocidentais, que resolveram, uma vez mais, dar espaço e tempo à figura de Maomé. Nada de novo, pois sabemos sempre qual é a reacção muçulmana quando alguém, de alguma forma, verbaliza ou materializa a figura do seu profeta. No meio desta cíclica polémica há algo que me inquieta, pois nem com todo o relativismo cultural, social ou civilizacional, consigo perceber qual é a dúvida dos Estados laicos e seculares ocidentais em defender inequivocamente a liberdade de expressão dos seus cidadãos e de toda a sua produção artística, científica ou informativa. Aquilo que está em questão não é um principio religioso, pois os Estados islâmicos não admitem qualquer outra forma de expressão religiosa senão o islamismo nos seus territórios. Aí a confusão entre Estado e credo religioso propicia todas as expressões radicais e extremistas que bem conhecemos. Mas tudo bem, se assim se entendem e conseguem viver. Agora, não podemos, nem devemos permitir que esse fundamentalismo religioso ultrapasse as suas fronteiras e invada as nossas. O nosso estádio civilizacional permite, e bem, uma relação existencial de multiculturalismos, fundamentados na tolerância e na liberdade de cada ser humano. Ainda bem que assim é e quero que assim se mantenha. No Estado em que quero viver e criar os meus filhos, todos os indivíduos terão a liberdade de optar e manifestar as suas convicções. Não acredito em "guerras santas" ou "guerras civilizacionais", mas essa é razão que nos distingue e, desconfio, é essa a razão que atormenta os ideólogos de todo o extremismo e de qualquer fundamentalismo. Liberdade.

19 setembro 2012

a quem possa interessar...

Mais informações aqui.

17 setembro 2012

ainda a ler...

11 setembro 2012

até onde, até quando e até quanto?

"O curso da revelação destas medidas mostra a hierarquia do poder em Portugal. É intencionalmente que o Negócios hoje considera que Angela Merkel é a pessoa mais poderosa na economia portuguesa - e que Vítor Gaspar (número dois) tem mais poder na economia que Passos Coelho (número três). Estas medidas de austeridade mostram-no: a troika quer, Gaspar sonha, a obra de Passos nasce. Um escreve o texto, o outro implementa, o último lê-o". (Pedro Santos Guerreiro, Jornal Negócios, 9 do 9)

no parladoiro...






Alguns momentos meus no debate "oportunidades no rural", dia 7, promovido no âmbito do "Son d'aldea".

10 setembro 2012

continuidades culturais

Da Galiza trouxe também um pouco mais de conhecimento sobre essa rica e bonita região. Um dos factos que pude verificar e, depois, relevar é que apesar de todas as distâncias e de todo um passado diferenciado, são vários os caracteres que nos aproximam de uma forma até brutal, diria eu... todo o calão é semelhante, o cancioneiro popular recorre aos mesmos elementos e aos mesmos ritmos e sonoridades, assim como o prazer pela folia e pela festa que se veste sempre de boa carne e adorna com um bom tinto. Bebi, comi e dancei ao som da Carolina que tem uma saia com um lagarto pintado e que, sempre que ela dança, o lagarto dá ao rabo.

chusqueiro, galego e artimañeiro

Eis o Nostradamus, o São Cipriano, da Galiza. Verdadeiramente mentiroso.

menina estás à janela...

sons de uma aldeia

No passado fim-de-semana estive, a convite da organização, na aldeia de Paróquia de Albá, Município de Palas de Rei, Comarca de Ulloa, para participar na segunda edição do Festival Son d'aldea. É uma festa da comunidade rural local. Os sons da aldeia são vários, mas assentam numa teatralização das actividades económicas e culturais locais. Um espectáculo etnográfico que ao recriar diferentes momentos em diferentes lugares do seu território procura demonstrar que a comunidade sabe bem de onde vem e para onde quer ir. Num tempo em que tanto se fala do abandono do rural, do esvaziamento desses territórios, é surpreendente e até impressionante como uma pequena comunidade consegue promover e realizar tal evento - imagino as resistências e as incompreensões que a organização sofrerá... 
O momento grande deste festival é, sem dúvida, o "Roteiro Teatral" que é apresentado em vários locais do termo da aldeia e que dão a conhecer aos diferentes grupos de espectadores, os usos e costumes locais. Os espectadores (visitantes) inscrevem-se e são reunidos em grupos que percorrem diferentes percursos, durante os quais vão sendo surpreendidos com pequenas representações da vida quotidiana passada, que a comunidade preserva na sua memória colectiva. São três horas de viagem pelo imaginário e pela paisagem desta aldeia.
O que mais me impressionou neste espectáculo foi a naturalidade e sentimento com que os actores, locais e amadores, representaram os papeis das suas próprias vidas. Para além disso, agrada-me sempre essa capacidade das pessoas que vivem em pequenas comunidades, isoladas, de se organizarem e produzirem actividades e discursos alternativos. Também percebi que a organização e a própria comunidade já perceberam o poder, as possibilidades e as oportunidades que este festival pode proporcionar. Ainda não tinha acabado o roteiro teatral e já alguns membros da organização falavam em hipóteses de cenário e enredos para o próximo ano. Muito bem.

07 setembro 2012

agendado...

APRESENTAÇÃO

QUADROS DA TRANSMONTANEIDADE
LIVRO DE ANTÓNIO SÁ GUÉ

DATAS: 13/09 QUI 21H30 GAIASHOPPING.

Esta é uma obra de sedimentos memoriais das gentes transmontanas. Não é nenhum levantamento etnológico, nem tão pouco um estudo antropológico do seu modus vivendi, como se possa pensar. É, antes de mais, um livro que fala da grandeza e da mesquinhez humana, de ressentimentos, de canseiras, dos tédios e das angústias que alimentam qualquer ser humano. O autor vai ao Fórum FNAC falar dos montes elevados por emoções e dos vales dos sentimentos que esta obra percorre. (in Agenda FNAC - 1 a 15 de Setembro 2012)

03 setembro 2012

lida

resistência

Depois de várias semanas fora de casa foi preciso reabastecer de víveres e demais parafernália alimentar. Durante este último fim-de-semana foram várias as vezes que fui ao supermercado Pingo Doce, sem sequer me lembrar da mais recente novidade desta cadeia de merceeiros que impede o pagamento através de cartão de débito ou de crédito, nas compras de valor inferior a 20 euros. Pessoalmente a medida até nem me perturba muito, uma vez que, normalmente, a despesa é sempre superior. Contudo, simbolicamente e tal como diz Eduardo Pitta no seu blogue, "é como se um restaurante não fosse obrigado a ter WC". Nem mais.
Como dizia, numa dessas visitas dirigi-me às caixas com dois ou três artigos, que no total não atingiam esse valor mínimo. Sem reflectir dei o cartão multibanco à menina e ela, intimidada, lá me foi dizendo que não era possível, fazer assim o pagamento. Conclusão, tive que ir levantar dinheiro num ATM e as pessoas da fila dessa caixa lá tiveram que aguardar. Simples. Aquilo que depois fiquei a pensar foi na forma que os clientes do Pingo Doce poderão encontrar para tentar contrariar esta atitude e surgiram-me algumas ideias, umas mais subversivas que outras, mas que na sua essência apelariam a um sentido de resistência e até de alguma desobidiência. Pois então:
-Escolher produtos e fazer compras num valor total inferior a 20 euros, deixar registar na caixa e entregar cartão para pagar. Perante a recusa, pedir para ir levantar dinheiro, atrasando todo o processo e complicando a vida aos outros clientes;
- Escolher produtos e fazer compras num valor total inferior a 20 euros, deixar registar na caixa e entregar cartão para pagar. Perante a recusa, deixar ali mesmo os produtos e abandonar o local;
- Em compras com valor superior a 20 euros, solicitar aos funcionários das caixas, o fraccionamento dos pagamentos logo a partir desse valor mínimo. Por exemplo, numa compra de 100 euros, fazer cinco pagamentos de 20 euros, o que implicaria 5 ligações do ATM à rede;
- Por último e, para mim, a mais interessante, apesar de impraticável, seria deixar de frequentar e de comprar nesta cadeia de mercearias.
(aceitam-se mais ideias...)

de pequenino se impõe um destino *

Nos últimos dias tem andado nas bocas do mundo do nosso país, principalmente nas palavras escritas e ditas dos nossos fazedores de opinião, a mais recente proposta do ministro da educação Nuno Crato. A de impor o ensino profissional aos alunos com piores (ou maus) resultados no 2º ciclo - alunos com duas reprovações ou três chumbos intercalados até ao 6º ano serão obrigados a frequentar esta via. Ao ouvir e ler muito do que se tem dito acerca deste assunto, relembro-me de um texto de Pierre Bourdieu intitulado "O Racismo da Inteligência" escrito em 1978 e que foi uma intervenção sua num colóquio do Movimento contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos realizado em Maio desse mesmo ano. Apesar da distância temporal, a sua enunciação parece-me mais do que actual e pertinente, pois Bourdieu define esse racismo da inteligência como um racismo da classe dominante e é alguma coisa por meio da qual os dominantes visam produzir uma "teodiceia do seu próprio privilégio", como diz Weber, quer dizer uma justificação da ordem social que dominam. É qualquer coisa que faz com que os dominantes se sintam justificados na sua existência enquanto dominantes; com que se sintam uma essência superior. Bourdieu acrescenta que todo o racismo é um essencialismo e o racismo da inteligência é a forma de sociodiceia característica de uma classe dominante cujo poder assenta em parte na posse de títulos que, como os títulos escolares, são considerados garantias de inteligência e que tomaram o lugar, em muitas sociedades, e no que se refere ao próprio acesso às posições de poder económico, dos títulos antigos como os títulos de propriedade e os títulos de nobreza. Ao longo dos últimos tempos e ao escrutinar a realidade que me rodeia, é com alguma assiduidade que me ocorre este conceito, pois frequentemente o "poder" faz uso desse seu poder para manter os paradigmas actuais e para restringir ou mesmo impossibilitar qualquer permeabilidade social. Regressando ao ensino profissional e ao ministro Crato (que Daniel Oliveira descreveu como o Talibã do ensino), penso que é necessário e até uma mais-valia para a economia nacional, mas sempre como uma opção para os jovens estudantes que nele poderão encontrar um caminho e uma opção profissional válida.

* Frase roubada de um texto de José Soeiro.

a razão...

"A pergunta que a esquerda tem que fazer para merecer ser esquerda é porque é que o povo não há de governar? (…) Esse governo de esquerda, que é a grande luta que temos que travar, criará muitos debates certamente, muita contraposição, muitas dúvidas. Mas uma coisa ele fará, perante toda a oposição social ele dirá que luta pela igualdade e pelo respeito" 

"Sim senhor, nacionalizará a EDP e as redes energéticas nacionais por mais que isso incomode o Partido Comunista chinês; nacionalizará serviços financeiros por mais que isso incomode a família presidencial angolana, trará os hospitais públicos para o Serviço Nacional de Saúde por mais que isso incomode os Mellos e os Espíritos Santos"

(Francisco Louçã, excertos do seu discurso de encerramento do Socialismo 2012, ontem em Santa Maria da Feira.)

bancos de livros escolares

É notícia de hoje no jornal Público que só no mês de Agosto abriram mais de cinquenta bancos de troca de livros e manuais escolares em Portugal. Ainda no mês de Julho eu me tinha aqui referido a esta questão e é com satisfação que agora sei que esta questão está a merecer a atenção e a dedicação de muitas pessoas. Tal como refere o fundador do movimento pela reutilização dos livros escolares (ver reutilizar.org), Henrique Cunha, o sucesso do movimento é a prova de que os portugueses estão interessados na reutilização. Estão de parabéns todos os seus promotores que, voluntária e gratuitamente, disponibilizam o seu tempo para promover a troca dos livros utilizados e assim, combatem a ditadura corporativista do sector livreiro que tem vivido imune a qualquer legislação e impune para qualquer e toda a especulação.