08 maio 2019

crónicas de Barcelona - VI

O melhor, o pior e a campanha eleitoral... [18-04-2019]

Uma estadia de quatro ou cinco dias não permite conhecer toda a cidade e todos os seus pontos de interesse, nem tão pouco permite que alguém utilize o verbo conhecer. Para além daquilo que são os já referidos circuitos e polaridades turísticas, há uma cidade associada aos seus grandes nomes que gostaria de conhecer - casas, espaços públicos, cafés e restaurantes que, noutras épocas, foram frequentados por esses gigantes da cultura mundial. Seria um roteiro alternativo, personalizado e para realizar com calma e tempo, que me daria muito prazer.
Daquilo que me foi possível e dado a conhecer, destacaria como muito bom e surpreendente, o Palau De La Musica Catalã - auditório de música construído no início do século XX, projectado pelo arquitecto local Lluís Domènech i Montaner, um dos grandes representantes do modernismo catalão. Realizámos uma visita guiada e, assim, pudemos conhecer todos os pormenores associados à sua fundação, à sua arquitectura, à sua qualidade acústica e à sua importância na vida cultural, social e económica da cidade e região. É de facto impressionante e lindíssimo.
Pela negativa, ou seja, aquilo que visitei e conheci, mas que de alguma forma defraudou as minhas expectativas, eu referiria, (para além da já mencionada Sagrada Família) acima de tudo o resto, o Parque Güell - o grande parque urbano da cidade, situado no monte Carmelo, zona da Gràcia, concebido pelo arquitecto Antoni Gaudí (quem mais poderia ser?...), por encomenda do empresário catalão Eusebi Güell, na segunda década do século XX. Segundo consta na história, este parque seria um espaço privado de descanso e lazer para o empresário e sua família passarem as férias e/ou fins-de-semana. O projecto de Gaudí nunca foi terminado e em 1915/16 o arquitecto abandonou a obra para dar início à construção da catedral da Sagrada Família. Entretanto, com a morte do empresário, os seus herdeiros abandonaram a ideia e, já durante a década de 20, a cidade adquiriu esse espaço e transformou-o num espaço público para toda a população. Actualmente, o acesso a parte do parque é restrito e tem que se comprar bilhete, medida que apesar de contribuir para regular o enorme fluxo de turistas, mereceu a crítica de muitos habitantes da cidade, pois veio vedar o acesso livre a um espaço que é de todos.
Com todo o respeito que me merece o Sr. Gaudí e o reconhecimento da sua tremenda genialidade, não entendo o fascínio e a voracidade das massas por visitar uma escadaria decorada com bocados de azulejos, um enorme terraço suportado por inúmeros pilares de betão, que funciona como miradouro sobre uma pequena parte da cidade e sobre o mediterrâneo (onde a pressão dos visitantes não permite sequer tirar uma fotografia), e duas habitações com uma fisionomia estranhíssima. É isto que o bilhete comprado nos permite visitar. O resto, os enormes jardins são gratuitos e muito agradáveis, mas sinceramente estranho a ideia de alguém viajar de qualquer parte do mundo para vir visitar jardins…
Por estes dias que cá andei, decorre a campanha eleitoral para eleições gerais em Espanha. Não sei se por ser português e estar tão habituado ao ruído e à saturação destes períodos em Portugal, estranhei o silêncio e a ausência visual desses elementos de propaganda. Claro que andei essencialmente pelos circuitos turísticos, mas também pude cirandar pelas zonas habitacionais, de trabalho e comerciais, menos frequentados pelos visitantes, e mesmo aí quase não se percebe o momento político actual. Aí, para um estranho e pela primeira vez na cidade, aquilo que me chamou mais a atenção foram as bandeiras catalãs e as tarjas/faixas com a mensagem: Llibertat presos polítics! expostas em muitas janelas e varandas dos catalães.
Viva a República da Catalunha.




(fotografias: a) Palau de la Musica Catalã, b) Parque Güell, c) bandeira catalã e d) tarja ou faixa)

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