27 maio 2019

politicamente incorrecto

Por motivos alheios aos poucos leitores deste meu apurriar, só pude acompanhar a noite eleitoral de ontem já bem tarde, quando tudo estava determinado, ou quase. Os vencedores já tinham festejado e os derrotados já tinham, a custo, admitido o fracasso e a desilusão. Já muito foi dito e comentado sobre estas eleições europeias - sobre a abstenção obscena, sobre o CDS e a ex-futura primeira-ministra, sobre a CDU e o seu lento estertor, sobre o fantasma do aumento das votações dos partidos de extrema-direita e anti-europeistas, sobre a vitória "poucochinha" do PS e sobre o crescimento do BE, e por isso não vou acrescentar mais nada sobre o tanto que já foi dito e escrito. Reservo esta pequena reflexão ao PAN e à sua "vitória", por ter conseguido eleger o primeiro euro-deputado. Muito bem. Fico de alguma forma satisfeito por esse sucesso, mas ainda assim, de tudo o que ouvi na noite, retive as palavras de Miguel Sousa Tavares (MST), na TVI24, que a propósito do PAN, afirmou:

O PAN é um partido que recolhe votos nos meios urbanos, mas não nos meios rurais, onde toda a gente o detesta. O PAN não tem um voto nos meios rurais, é o partido dos urbano-depressivos, daqueles que acham que os animaizinhos não se podem comer. É o partido dos vegan, os que só comem alface e verdura. O PAN é uma bofetada de luva branca numa coisa que se chama os Verdes que é um apêndice do PCP que nunca foi a votos por si só e que não faz nenhuma política ecologista.

Para além da eterna boçalidade deslavada, trocista, trauliteira e até marialva, de MST, sou obrigado a reconhecer que esta afirmação, que desobedece ao espartilho do politicamente correcto actual, tem muito de verdade. Concordo, na essência, com esta opinião, pois também acho que a perspectiva deste novo ecologismo, enquanto ideologia, paixão e discurso, não tem como fundamento, ou inspiração, um conhecimento da realidade da vida dos cidadãos não-urbanos, ou se preferirem, da existência espartana da vida rural. Tal como já tanta gente o referiu, a perspectiva de alguém que nunca precisou de trabalhar a terra, de criar animais para a lavoura e para a sua dieta alimentar, nunca poderá compreender a relação que se estabelece entre pessoas e animais nesse habitat fora das muralhas urbanas. Para aqueles que, protegidos pelo conforto e oferta da cidade, e que apenas consomem, será sempre consideravelmente mais fácil prescindirem deste ou daquele alimento e, assim, optarem por uma narrativa alternativa. Um luxo só ao alcance de alguns...
Estou consciente da emergência de uma nova atitude face às gravíssimas alterações climáticas e quero que essa preocupação entre rapidamente nas agendas dos partidos políticos nacionais e europeus, mas, confesso-vos, tenho medo do PAN, do seu radicalismo, da sua relativa ignorância e da sua aversão à ciência. Cuidado, muito cuidado com estes senhores.

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